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Diferentes modelos de ensino de jogos esportivos na educação física escolar
Maria Elizete Pozzobon y Alan Asquith

http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 7 - N° 37 - Junio de 2001

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    Conforme o programa vai se desenvolvendo, os alunos entenderão que cada jogo possui: um conjunto de regras; um método de começo e recomeço e um método de pontuação.

    É essencial o professor reconhecer que uma intervenção não deve levar o grupo a escolher uma solução apresentada por ele. O papel do professor é crucial em permitir que os grupos aceitem a responsabilidade pela tomada de decisões e providenciar soluções sozinhos. Entretanto, ele deve intervir imediatamente quando perceber que a falta de segurança está expondo os alunos ao perigo.

    Haverá momentos em que o jogo parece decair, então o professor deve expor a questão: como pode o jogo ser desenvolvido? Normalmente a resposta está na capacidade tática do jogo, e é isto que faz o jogo existir.

    Existem duas importantes recomendações para o desenvolvimento de um programa de jogos baseado no modelo de BUNKER & THORPE (1982):

  1. As técnicas devem ser ensinadas somente quando necessário, geralmente quando um jogo tranca. Neste momento o professor salienta os problemas constatados no desenvolvimento do jogo e os alunos usando sua experiência em jogar, resolvem os problemas.

  2. A progressão do jogo é possibilitada através da resolução de uma série de problemas, não podemos esquecer que diferentes alunos, encontrarão diferentes soluções para um mesmo problema. Por exemplo: como registrar uma pontuação ou como ajustar a área de jogo.

    Com alunos que possuem poucas experiências esportivas é importante que o professor siga as seguintes instruções: ensine do conhecido para o desconhecido ou do concreto para o abstrato; promova confiança e entusiasmo; simplifique o jogo; todos os alunos da turma devem fazer parte do jogo; dentro do jogo desenvolvido sempre deve haver um conteúdo educacional e não esquecer dos aspectos agradáveis do jogo, estas são as razões para se jogar o jogo em primeiro lugar.

    POZZOBON (2000), ao realizar um estudo com 60 alunos de ambos os sexos e idade entre 10,50 e 12,49 anos, com o objetivo de investigar o interesse e a participação de escolares em um programa de jogos esportivos modificados, constatou, que a maioria dos alunos que participou do mesmo, mostrou-se interessada e ativa durante a realização do programa de jogos esportivos.

    Para ajudar os professores a entender o processo de ensino dos Jogos Esportivos Modificados, BUNKER & THORPE (1982), desenvolveram o seguinte modelo:


Modelo de Bunker & Thorpe


  1. Jogo - Nesta etapa, são apresentados aos alunos uma variedade de jogos, de acordo com a idade e experiência. Cuidadosa observação deve ser dada às áreas e superfícies dos jogos, número de crianças envolvidas e a apresentação de problemas que os jogos envolvem, como a criação de espaço para ataque e negar espaço para defesa.

  2. Apreciação do jogo - Os alunos devem entender as regras dos jogos, o fato de elas darem ao jogo a sua forma, por imposição de tempo, espaço, pontuação e habilidades exigidas.

  3. Consciência tática - Maneiras e meios de criar e negar espaço. As táticas devem ser vistas como elementos mutáveis em um jogo, a fim de atender as necessidades do momento.

  4. Tomada de decisões - O reconhecimento de pistas e previsões de possíveis resultados, é de suma importância para a tomada de decisões durante os jogos.

  5. Execução das habilidades - A real produção do movimento pretendido, tendo em mente o presente nível de habilidade do aluno e suas limitações. A execução de habilidades é realizada, quando o professor observar que um jogo não se desenvolve devido a deficiência de determinada habilidade. A partir disso, deve-se preparar atividades que possibilitem a execução da habilidade pretendida, para poder dar seqüência no jogo.

  6. Desempenho - Resultado observado dos processos anteriores, medidos sob critérios, que são independentes do aluno.

    Ao utilizar-se o modelo de Bunker & Thorpe (1982), o professor deverá conscientizar seus alunos que fatores, tais como, a segurança nas áreas de jogo, o uso e posse do espaço, o estabelecimento de regras e métodos de registro de pontuação, jogar de maneira justa e acatar as regras, são importantes durante a realização do jogos.

    Estando envolvidos no processo de tomada de decisões, como decidir a área de jogo ou o ajuste das regras que regerão o grupo, espera-se que os alunos comecem a entender e apreciar as condições necessárias para se jogar organizadamente.

    É importante que os alunos entendam os conceitos básicos do uso de espaço, em conseqüência os conceitos de defesa e ataque. Com alunos de menor faixa etária, este processo deve ser introduzido da maneira mais simples possível, como por exemplo:

  • Ataque - Criar espaço para o uso das habilidades aprendidas.

  • Defesa - Negar espaço de modo que os adversários não possam usar suas habilidades.

    Segundo ASQUITH (1995), a abordagem de construção e/ou criação de jogos, não é uma abordagem fácil de ser trabalhada no ensino fundamental. Certamente, muito tempo será despendido discutindo estratégias e métodos, conteúdos e respostas, e geralmente combatendo os muitos problemas surgidos em cada tentativa de colocar mais a responsabilidade de aprender nas mãos dos alunos. As implicações de desenvolvimento identificadas e discutidas devem ser cuidadosamente interpretadas, pois as experiências individuais podem variar, assim como as situações em que são usadas.

    De acordo com ASQUITH (1995), precisa-se pensar também na socialização que ocorre quando é dada às crianças este tipo de responsabilidade. É comum os professores esquecerem este valioso processo que sempre ocorre em um programa de construção e/ou criação de jogos, eles preferem a eficiência quieta, que sempre acompanha uma lição de jogos organizada pelo professor.

    Pelo fato do modelo de BUNKER e THORPER ter sido desenvolvido para a escola secundária, autores como ASQUITH (1994) e POZZOBON (2000), realizaram estudos para averiguar se este modelo poderia ser aplicado em programas de educação física escolar, com escolares pertencentes a faixa etária de 8 a 13 anos, concluindo que o mesmo, pode ser utilizado com grande êxito nesta faixa etária.


Conclusão

    Após a realização da revisão de literatura sobre os diferentes modelos de ensino de jogos esportivos, pode-se concluir, que o modelo dos Jogos Esportivos Tradicionais deve ser utilizado quando uma aula de jogos objetiva enfatizar a parte técnica de um determinado esporte. No entanto, ao utilizar-se este modelo, deve-se estar ciente de que o mesmo limita a ação dos alunos, pelo fato, de trabalhar o movimento de forma isolada, sem se preocupar como engajá-lo no jogo, tornando-o desta maneira descontextualizado, e em muitos casos ineficiente. Isto não significa que a maioria dos Jogos Esportivos Tradicionais não devam ocupar lugar na escola primária. Ao contrário, eles fazem parte do legado nacional dos alunos e, como tal, devem ter seu desenvolvimento oportunizado. Sendo assim, os professores devem preocupar-se com o processo educativo como um todo, com o completo desenvolvimento do aluno, e não meramente com o ensino de habilidades mecânicas que envolvem um jogo em particular.

    O modelo dos Jogos Esportivos modificados, é desenvolvido através de uma abordagem que permite modificações na estrutura dos jogos esportivos, sendo possível adequá-los facilmente às condições de aprendizagem dos alunos. Os conceitos vão sendo adquiridos à medida em que os jogos são desenvolvidos, onde as trocas de experiências e as oportunidades que os alunos vivenciam durante o processo de ensino e aprendizagem, os prepara para o mundo exterior. Este modelo deve ser utilizado quando a aula objetiva enfatizar as habilidades táticas de um jogo.

    Fundamentando-se em THORPE (1992), pode-se dizer, que os Jogos Esportivos Tradicionais raramente são apropriados para trabalhar com crianças e adolescentes, necessitando de uma certa modificação. O processo de modificação dos mesmos, representará uma noção simplificada, o qual, consiste principalmente na redução das exigências técnicas.

    A diferença entre os Jogos Esportivos Tradicionais e Jogos Esportivos Modificados, pode ser facilmente observada desde a introdução do jogo, onde os Jogos Esportivos Tradicionais, iniciam com execuções de habilidades técnicas e visam principalmente o resultado da realização das mesmas. Enquanto que os Jogos Esportivos Modificados, começam com o jogo e suas regras, preparando terreno para o desenvolvimento da consciência tática e a tomada de decisões.

    Para ASQUITH (1995), deve-se ter consciência de que qualquer inovação envolvendo a troca de abordagens convencionais por abordagens baseadas em novos conceitos, tais com a de construção e/ou criação de jogos esportivos, implicará em novos e diferentes problemas.

    Ao concluir este estudo, deve-se ressaltar que nenhum modelo de jogos esportivos é tão eficiente que possa ser aplicado em todas as situações, desta maneira cabe aos professores de Educação Física a escolha do modelo adequado de acordo com a situação em questão.


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