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O Judô como atividade pedagógica desportiva complementar, em um processo
de orientação e mobilidade para portadores de deficiência visual
Walter Russo Júnior y Leonardo José Mataruna dos Santos

http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 7 - N° 35 - Abril de 2001

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    As técnicas desportivas utilizadas no Judô são estruturadas e subdivididas na concepção de KANO (1994) em:

-Técnicas de amortecimento (Ukemis)

  • Ushiro-Ukemi - Rolamento com amortecimento para trás.

  • Yoko-Ukemi - Rolamento com amortecimento para os lados.

  • Mae-Ukemi - Rolamento com amortecimento para frente.

  • Zempo-Kaiten-Ukemi - Rolamento sobre todo o corpo, com amortecimento lateral.

-Técnicas de projeção (Nage-Waza) - Derrubar a partir de uma posição de pé.

  • Te-Waza -Técnicas de projeção com o uso predominante dos braços.

  • Koshi-Waza - Técnicas de projeção com uso predominante do quadril.

  • Ashi-Waza - Técnicas de projeção com uso predominante das pernas.

-Técnicas de projeção/Sacrifício da postura (Sutemi-Waza) - Técnicas de projeção mais complexas, utilização de todos os segmentos (braços, quadril e pernas).

  • Ma-Sutemi-Waza - Projeções a partir da posição de decúbito dorsal.

  • Yoko-Sutemi-Waza - Projeções a partir da posição de decúbito lateral.

-Técnicas de solo (Ne-Waza)

  • Ossae-Komi-Waza - Imobilizações no solo.

  • Kansetsu-Waza - Chaves de braço.

  • Shime-Waza - Estrangulamentos.

-Técnicas de Luta (Randori) - Aplicações livres das técnicas de projeção, imobilizações, estrangulamentos e chaves. Executados nos moldes de uma competição, mas sem a rigidez da mesma.

    A partir das especificidades técnicas desenvolvidas, os deficientes visuais conseguem obter uma melhoria metódica e coordenada das suas capacidades.

    Contudo, de acordo com WEINECK (1986),

“embora haja melhora da capacidade de performance esportiva, o treinamento no esporte escolar e higiênico não tem como objetivo, tal como o esporte recordista, a obtenção da performance individual máxima num processo de treinamento a longo prazo e regulamentado”.

    Desta forma, mesmo não constituindo o objetivo de alcançar o resultado individual máximo, os aspectos determinantes da performance esportiva, como a resistência, a força, a velocidade, a mobilidade e a destreza, bem como, as qualidades pessoais de habilidade técnico-tática, as capacidades intelectuais e as qualidades morais e físicas, são abordadas e desenvolvidas.

    Deve-se entender que ao final de um período, os praticantes do desporto poderão estar aptos a ingressar em um processo de treinamento desportivo que vise a performance de alto rendimento, pois superada ou diminuída as defasagens psicomotoras, aliadas a um novo repertório motor que auxilie a sua orientação e mobilidade, o portador de deficiência visual terá vivenciado todas as possibilidades proporcionadas pela a luta. Sem contudo, tornar-se necessariamente um desportista de Judô, pois desde que, o objetivo de potencializar ou superar suas defasagens tenha sido alcançado, ele estará apto à performance esportiva propriamente dita em outras modalidades esportivas. Cabe neste caso o profissional que conduz a atividade, analisar se existe possibilidade, capacidade e vontade da parte do aluno em seguir uma linha de treinamento para o alto rendimento, o qual possui seus objetivos diferenciados do trabalho pedagógico, (CARMELINO; MATARUNA DOS SANTOS e RUSSO JÚNIOR, 2000).


Conclusão

    O que está posto, é que antes de se estabelecer formas, técnicas de proteção e sinalização aos deficientes visuais, ou seja, conceitos tradicionais na orientação e mobilidade, deve-se preceder este processo com a prática desportiva.

    Notoriamente, toda e qualquer prática desportiva, junto a educação especial torna-se de vital importância aos portadores de deficiência visual, contudo, o Judô tem se destacado por suas características e por ser um desporto que tem no desenvolvimento da arte tão ou mais importância que o objetivo de vencer.

    Vale destacar o Artigo 59º, do Capítulo V da Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1996, que: “assegura aos educandos com necessidades especiais: currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específica para atender às suas necessidades”

    Pode-se concluir portanto, que entre os objetivos propostos, a atuação do Judô como uma atividade pedagógica desportiva que irá complementar, um processo de orientação e mobilidade, se consolida a partir do sucesso na diminuição das defasagens psicomotoras. Destacando-se na melhoria dos comprometimentos psicomotores e na aquisição e desenvolvimento das capacidades coordenativas e condicionantes, inerentes ao desporto.

    Não esquecendo que essa prática busca estabelecer uma interface motora - cognitiva, com as demais modalidades desportivas praticadas por essa parcela da população. Onde todos que interagem com o deficiente visual, direta ou indiretamente, devem assumir papel facilitador de seu desenvolvimento, aproveitando todas as situações para possibilitar sua autonomia.

    Torna-se importante salientar que, o pressuposto teórico abordado por esse artigo procura apontar caminhos a serem investigados e comprovados, a luz da experimentação cientifica. Afim de avançarmos, Judoístas e educadores, em direção a um senso crítico profissional, onde as causas, os efeitos e as conseqüências do nosso trabalho, se afastem cada vez mais do senso comum.

    Desta forma, estabelecer o esporte como fator de promoção e exploração das possibilidades sociais, afetivas, culturais e motoras é tarefa de todos que militam na educação especial, destacando-se que, utilizar as ricas potencialidades que o Judô oferece,, pode ser um privilégio à docência especial.

“O praticante de Judô não se aperfeiçoa para lutar, ele luta para se aperfeiçoar.”
JIGORO KANO (s/d)


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