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A educação física na ou da escola. Uma tentativa de apresentar
parâmetros de discussão entre as práticas tradicional e nova.
Ana Cristina Arantes

http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 5 - N° 25 - Setiembre de 2000

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    Apresentados de maneira analítica, intencionam levar o leitor a refletir sobre as diferenças entre as práticas de Educação Física Escolar já amplamente conhecidas com aquela que denominamos de “nova abordagem”, inspirada nas atuais propostas pedagógicas nacionais.


Estratégias e Estilos de ensino

    Na nova abordagem: aulas em que se utilizam frases do tipo “Quem é capaz de .... ?” ou diálogos baseados em incitações, em provocações em forma de desafio . Tais procedimentos dão ao aluno a oportunidade de cada um desenvolver -se e de executar a seu modo, “da forma que achar melhor “ ou, mais academicamente, no nível que a sua maturidade permite.

    As atividades embora planejadas pelo docente são muitas vezes “votadas” pelos alunos, adaptadas segundo as suas sugestões. É respeitada a vontade do aluno e as suas contribuições auxiliam o crescimento do grupo.

    O que pode e o que não pode devem ser ponderados conjuntamente As regras estabelecidas deverão ser cumpridas ou reformuladas quando o grupo (inclui-se o professor) perceberem que elas não funcionam ou que podem ser mais simples ou mais complexas.

    A disposição do grupo normalmente é circular ou semi circular o que confere posição de igualdade entre todos os envolvidos no processo de ensinar e de aprender.

    As turmas são mistas pois todos deverão desenvolver noções de coletividade, igualdade e de diferença sem distinção ou sexismo. Ademais até os 08 anos de idade os alunos apresentam comportamentos motores bastante semelhantes podendo-se propor as mesmas atividades tanto para meninos quanto para meninas.

    Todos deverão jogar, praticar as atividades à sua maneira, não se valorizando modelos por que cada um tem uma história de vida e é fruto das experiências passadas. Portanto, não há “erro”. É permitido apresentar ou haver comportamentos diferentes e as comparações, que são quase que inevitáveis, devem ser discutidas e orientadas pelo professor.

    O poder de decidir geralmente é distribuído entre todos professor e alunos. O que foi vivido é significativo.

    Na abordagem antiga: A frase “ao meu sinal“ e outras semelhantes são muito utilizadas, “agora todos juntos saltem a corda da forma como mostrei” . Não está previsto criar ou fazer de outro jeito.

    As atividades e as regras são pouco discutidas - muitas vezes são impostas à revelia da maioria dos alunos; daí comportamentos de evasão, de desânimo, de descaso de cumprir a tarefa e “logo enjoar dela”.

    O professor se coloca frente ao bloco de alunos sentados e explica o exercício sem justificar o porque nem antes nem depois da sua execução. Parece não dar atenção àquilo que os alunos possam perguntar. Na maioria das vezes, passa-se da explicação puramente teórica e/ou técnica para a prática sem que se pare para refletir, adaptar ou prosseguir com outro exercício. As atividades podem não estar ligadas umas às outras.

    As turmas são separadas por gênero. Normalmente o professor é o modelo, ou solicita que espelhem-se no aluno mais hábil. Há a busca a cópia do modelo dito ser o melhor ou o perfeito. Valoriza-se portanto aquele que apresentar melhores condições de execução. Há certa avaliação por parte do professor, certa não compreensão do por quê o aluno não consegue realizar as tarefas por ele planejadas. É analisado o rendimento, havendo certa preocupação com uma uniformidade de comportamentos e “performances”.

    O poder está centrado no professor.


O professor

    Na nova abordagem: apresenta um comportamento de investigador. Conduz a classe de maneira flexível podendo intervir quando julgar necessário ou em momentos cuja segurança estiver em perigo.

    Explora situações, possibilidades de ação e de reflexão conjunta. Ainda que tenha os objetivos definidos previamente, coloca-os à prova. Pode aceitar novos objetivos ou novas formas de se fazer sem, entretanto, perder a meta pretendida. Promove, incentiva a autonomia dos alunos. Supervisiona e pode sugerir que o aluno “faça diferente”. Vê o aluno como um todo integrado e em contínuo processo de crescimento e de desenvolvimento. Motiva, desafia, acompanha e cria um ambiente físico e emocional de segurança e de trocas de experiência e opiniões, leva à formação de conceitos não somente motores.

    Na abordagem antiga: Controla a classe com disciplina explicitamente rígida baseada no prêmio e castigo “errou, cai fora”. Muitas vezes exclui os que não correspondem às suas expectativas de disciplina ou de rendimento. As regras criadas por ele, muitas vezes não apresentam razão ou coesão entre uma e outra. O ambiente muitas vezes se torna competitivo, individualizado, intimidatório. Importa-lhe o resultado, mormente o resultado de ordem motora, a produção, o rendimento. Cria situações `as vezes de constrangimento entre os alunos.

    Define previamente os objetivos do curso e das aulas (os quais não serão alterados anos a fio). Não prevê individualidades, inabilidades, a princípio todos são iguais já que possuem idade biológica igual ou semelhante.

    Preocupa-se sobremaneira com a demonstração e com a sua boa explicação e execução pessoal já que o aluno é resultante daquilo que lhe for passado pelo mestre.


Resultados possíveis e esperados

    Na nova abordagem: Desenvolvimento integral e de forma integral do aluno. A compartimentalização dos conteúdos não deve existir, a interdisciplirariedade deve ser pensada coletivamente.

    Embora haja especificidade de cada componente curricular não se ignora ou desconhece o conteúdo dos demais. Pode haver assim certa economia de abordagens de esforços e uma não superposição de conteúdos além de tratarem dos assuntos sem divergir absolutamente gerando por parte do aluno grandes confusões conceituais (de modo a “dançarem conforme a música” tocada pelo professor).

    A escola e a Educação Física preocupam-se em oferecer um ensino significativo de modo a formar conceitos e oferecer aplicabilidade (saber pensar, fazer, criar, solucionar).

    Objetiva-se oferecer experiências múltiplas de atividades motoras inclusive aquelas que eles escolherem (capoeira, danças) e que são de certa forma, culturalmente determinadas, por exemplo, o futebol no Brasil, o basebol no Japão.

    Busca-se, neste oferecimento, o desenvolvimento pleno, a autonomia do aluno de forma que ele, de posse destes conhecimentos, escolha atividades compatíveis com as suas possibilidades e gosto podendo-se exercitar permanentemente sem o auxílio do professor quando sair da escola.

    Desenvolvem a responsabilidade, o senso crítico, o senso de colaboração e nas séries finais uma competição entre iguais e “não fortes contra fracos”

    Como o poder é distribuído, o professor deve ser competente, quanto ao conteúdo (competência técnica - “saber fazer”) e quanto à relação humana. O seu conhecimento e a sua sabedoria levam-no a assumir uma autoridade conferida, emergente. Poderão surgir “talentos turbulentos”, indisciplinados, entretanto, as suas aulas são pensadas de acordo com os alunos. Como tem auto-conhecimento, sabe a importância da sua pessoa e do seu trabalho, valoriza-o e pode chamar o aluno à compreensão dos fatos.

    Os conflitos poderão fazer parte do processo e deverão ser democraticamente administrados, sustentados até que se chegue a um resultado de consenso. As regras estabelecidas (adaptadas ) em comum acordo deverão ser cumpridas e/ou discutidas

    O aluno é levado ao auto-conhecimento e ao reconhecimento da cidadania. O aluno pode conquistar formas próprias de expressão sem estar preso a ideais, modelos ou desempenhos. Se bem que, para as crianças, a figura do herói, o apelo da mídia, a cópia de super homens, a imitação e a fantasia somados a uma sociedade que valoriza o belo e o campeão exerce forte influência.

    Na abordagem tradicional: Os componentes curriculares são implementados sem que haja um planejamento feito de forma articulada.

    Cabe a Educação Física passar exercícios práticos e cuida-se eminentemente da “parte” motora. O aluno embora se apresente na totalidade, não é visto desta forma.

    O aluno desenvolve-se fisicamente sem muitas vezes, saber para que serve o exercício, que níveis de envolvimento existem naquele ato (prática cultural, músculos que trabalham etc). Favorece-se o senso da competitividade.

    Quanto ao clima de aula, desenvolve-se sem tumulto porque os alunos não tem muita chance de manifestarem-se nem tampouco entrar em contato com o que sentem. A dependência é um fato, impera a heteronomia. O poder está com o outro, qual seja, o professor.

    Pode gerar um clima de certa instabilidade psíquica ou insegurança ao proceder as tarefas. Ministra-se nas séries iniciais uma recreação sem objetivos ou segue-se a célebre orientação: “futebol para meninos e corda para as meninas”. Alguns jogos, embora assumam forma lúdica, são altamente seletivos (“errou, saiu”, “choca”, “vai pro castigo” “paga multa” etc.) eliminando os mais lentos, aqueles que pela sua dificuldade deveriam praticar as atividades com vistas a superá-las

    Desconhecem que as atividades tem uma ligação histórica fazendo parte do acervo cultural do povo.

    Nas aulas de Educação Física, os valores, o domínio social-afetivo e cognitivo não são priorizados. Na maioria das vezes os movimentos são executados sem significância e de forma mecânica como aprenderam copiando do professor que, por sua vez, copiou-os do livro ou do seu antigo professor.


Considerações finais

    Buscamos, com este artigo, chamar a atenção dos atuais e futuros professores de Educação Física a respeito da necessidade urgente de repensar as práticas desenvolvidas por este componente curricular no interior da escola no sentido de adequá-lo às exigências sócio-culturais atuais de formação integral dos educandos .

    Para isto, não podemos ignorar as práticas passadas e simplesmente substituí-las por outras sem que se realize a necessária reflexão a respeito de seus fundamentos filosóficos e de suas pretensões educativas. Esperamos ter colaborado para que a discussão a respeito do assunto possa continuar...


Referências Bibliográficas

  • ARANTES, A. C. A educação física e o processo de alfabetização nas 1as. séries do 1o. grau. Tese (Doutorado). São Paulo: Faculdade de Educação. 1996. 334p.

  • FREIRE, J. B. Educação de corpo inteiro: teoria e prática da educação física. São Paulo, Scipione. 1989. 224p.

  • GALLAHUE, D. L. Development movment experiences for children. New York.: John Wley: Sons. 1982. 655p.

  • PIAGET, J. O nascimento da inteligência na criança. Rio de Janeiro; Zahar. 1978. 389p.

  • SÃO PAULO (ESTADO) Secretaria da Educação. Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas. Educação Física. Legislação básica (Federal e Estadual). Organizada e compilada por Leslie M. J. Da S. Rama e José Álvaro P. dos Santos. São Paulo SE/CENP. 1985. p. 157-158.

  • SÃO PAULO (ESTADO) Proposta curricular para o ensino de educação física 2o. grau. São Paulo. SE/CENP, 1992. 53p.

  • TYLER, R. W. Princípios de currículo e ensino. Porto Alegre: Globo, 1986. 119p.


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