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A busca de um novo paradigma para organização técnica
e funcional do desporto de elevado rendimento
Elio Carravetta

http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 5 - N° 25 - Setiembre de 2000

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    A interdisciplinaridade propõe, entre os integrantes das equipes técnicas, o grupo de apoio técnico e dirigentes, uma relação efetivamente humana, de abertura, de participação, de senso de partilha, de cooperação, de humildade e de consciência da interdependência. Desenvolve mecanismos que buscam a integração entre os indivíduos. E facilitam a ultrapassagem das barreiras (psicológicas, relacionais, humanas), favorece a reflexão, e propicia a utilização do feedback para a regulagem do exercício do poder, evitando que este não se torne um instrumento do saber.


3. Análise a partir de uma experiência concreta

     No campo das ciências do esporte, na última década do século XX, João Paulo Medina (1996) publica um estudo inédito intitulado "Reflexões Sobre a Fragmentação do Saber Esportivo", adiantando uma construção teórica que tem por base a crítica ao modelo hegemônico da organização técnica - funcional do esporte de elevado rendimento. Seu estudo estabelece, um novo conceito de interdisciplinaridade aplicável à estrutura técnica - funcional dos clubes de futebol (comissões técnicas e comissões de apoio técnico), estabelece também a busca de uma construção teórica globalizante, o trabalho cooperativo de diferentes profissionais de áreas específicas, a interação do conhecimento, sem, no entanto, destruir a autonomia dos especialistas e das respectivas áreas que participam no desenvolvimento técnico. Em 1997, J.Medina participa ativamente da experiência coordenando tecnicamente o Departamento de Futebol do Sport Club Internacional e colocando em prática um projeto inovador, que transforma em um programa de ruptura e ação, pelo fato de ter que mudar, em uma unidade funcional que se funda na tradição de um paradigma imperante no modelo organizacional e funcional do futebol brasileiro.

     Na construção do programa participaram ativamente todos os setores envolvidos (Comissões técnicas: técnicos, assistentes técnicos, preparadores físicos, assistentes de preparação física, treinadores de goleiros. Comissão de apoio técnico: fisioterapeutas, médicos, nutricionistas, dentistas, psicólogos e assistentes sociais), com uma clara definição das metas de curto, médio e longo prazos em termos técnicos e humanos.

    O projeto comprometeu todos os setores nos processos de decisões, planejamento, condução de ações e no confronto das idéias com a realidade. Buscou a conciliação da fundamentação teórica com as possibilidades efetivas de aplicação integrada de procedimentos técnicos no desenvolvimento da performance esportiva.

    No plano da organização dos programas de treinamento elaborados entre as comissões técnicas, caracterizou-se por uma unidade interdependente, sendo que os objetivos e as metas são propostos em harmonia e são integrados dentro da funcionalidade das inter-relações existentes entre cada uma das categorias.

    Finalmente, no que se refere aos processos de ensino - aprendizagem - treinamento, estão abertos à incorporação de novos conhecimentos, metodologias e contestações por parte das comissões técnicas e das comissões de apoio técnico. Possibilita ao atleta a compreensão dos objetivos, conteúdos e etapas de treinamento, fomenta a co-responsabilidade por parte dos atletas nos processos de treinamento, estimula a elaboração de novos comportamentos centrada nas características individual dos atletas de analisar os sinais do meio, saber interpretar e saber tomar decisões motoras cada vez mais ajustadas as suas necessidades, potencialidades e as etapas de desenvolvimento e maturação.

     Neste artigo desenvolveu-se o conceito de que a filosofia do treinamento desportivo está baseada nas teorias condutivistas, além de compreender a repetição estereotipada de movimentos, e se fazer predominante no sistema desportivo federado.

    No estereótipo criado, os parâmetros motores, espaciais e temporais, se repetem homogênea e imutavelmente, o que ocasiona a passagem da atitude motora para o hábito motor. O atleta é visto como um conjunto de componentes ordenados mecanicamente que se adapta ao modelo construído segundo as necessidades do esporte e sua especialidade.

    Por outro lado, as teorias cognitivas que começam a surgir na aplicação do treinamento desportivo contemporâneo, buscam a melhoria da interpretação do atleta, para que ocasione uma modificação da conduta externa. Não se centra no produto, mas no processo, objetivando conseguir uma maior disponibilidade motora. Buscam-se atitudes que são esquemas motores aplicáveis a situações variáveis, não adquirindo modelos de conduta, mas criando uma motricidade mais coerente com a situação interpretada. Predominam as motivações intrínsecas, o senso crítico, a satisfação pessoal pelo trabalho para a abordagem da complexidade no desenvolvimento da performance esportiva, tentando atingir a mente do atleta cognoscente.

    É fundamental entender que na tentativa de buscar a transformação de um paradigma hegemônico na organização técnica e funcional do desporto de elevado rendimento, não queremos nos limitar somente a reflexão e a uma experiência pratica isolada de operacionalização de uma nova proposta metodológica.

    Buscamos, principalmente, que o leitor compartilhe uma nova filosofia de trabalho, isto é, uma nova visão e compreensão da organização do desporto de elevado rendimento de se radicar na realidade.


Notas

  1. A principal referência econômica da comunicação no espetáculo esportivo é a que proporciona a televisão. As grandes empresas são os anunciantes que destinam recursos elevados para chegar aos telespectadores destas manifestações esportivas.

  2. Valorização excessiva dos recursos técnicos.

  3. Tornar semelhante a uma máquina.

  4. KUHN, T. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Ed. Perspectiva, 5ª ed., 2000

  5. SANVISENS, A. Cibernética de lo humano. Barcelona: Oikos-tau, 1984. Sanvisens aplicou o método sistêmico - cibernético a Ciências Humanas e em especial à pedagogia.

  6. Método analítico para a descoberta de verdades científicas.

  7. HABERMAS, J. O discurso filosófico da modernidade. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

  8. Doutrina filosófica que encara a experiência sensível como única fonte fidedigna de conhecimento.

  9. Racionalismo enfatiza a razão como fonte de conhecimento, começa com princípios a priori, ou verdades evidentes, e usa o método dedutivo.


Bibliografia

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