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O envelhecimento como problema sociológico: o caso das ILPIs de Marília

Ageing as sociological problem: the case of Marilia ILPIs

El envejecimiento como problema sociológico: el caso de las ILPMs de Marilia

 

*Unifesp

**Aluno do 4o ano do curso de Medicina da FAMEMA

(Brasil)

Adalberto dos Santos Souza*

Hector Tatsuhiro Yotoko**

Rafael Gouveia Bafuni**

Ricardo Cristovão de Souza**

Vinícius Padovese**

neysouza11@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O aumento da população idosa em nossa sociedade, faz com que seja obrigatório que repensemos o papel do idoso dentro da sociedade. Neste sentido, a nossa pesquisa teve como objetivos, apresentar alguns elementos que sirvam como suporte para que se possa debater o envelhecimento como uma questão sociológica e identificar quais os motivos que levam os idosos a serem internados nas Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs) na cidade de Marília, no interior de São Paulo. Para obter êxito nestes questionamentos, aplicamos um questionário junto as ILPIs de Marília, que posteriormente foram tabulados e analisados. Após a análise do material, identificamos que na maioria dos casos, os idosos chegaram a situação de internato em virtude da concepção de idoso que temos em nossa sociedade, em especial, o idoso de baixa renda, e que a princípio, não faz parte da “roda” de consumo de uma sociedade capitalista. Eles são institucionalizados por familiares, e na maioria dos casos são abandonados nas instituições. O fato deles não serem mais “produtivos”, neste modelo de sociedade, faz com que os sujeitos idosos, sejam “descartados” do convívio social.

          Unitermos: Idoso. Envelhecimento. Terceira idade.

 

Abstract

          The increase in the elderly population in our society, makes it mandatory to rethink the role of the elderly in society. In this sense, our research aimed to present some elements that serve as a support so that we can discuss aging as a sociological issue and identify the reasons why the elderly are hospitalized in long-stay institutions for the Elderly (ILPIs) in the city of Marilia, in São Paulo. To be successful in these questions, we applied a questionnaire with the ILPIs Marilia, which were then tabulated and analyzed. After analyzing the material, we found that in most cases, the elderly came to boarding situation because the old design that we have in our society, especially the elderly low-income, and that principle is not part of "wheel" consumption of a capitalist society. They are institutionalized by family members, and in most cases are abandoned in institutions. The fact that they are no longer "productive" in this model of society, makes the elderly subjects, are "discarded" from society.

          Keywords: Elderly. Aging, Old age.

 

Resumen

          El aumento de la población de personas mayores en nuestra sociedad, hace que sea imprescindible que repensemos el papel de la persona mayor dentro de la sociedad. En este sentido, nuestra investigación tuvo como objetivos, presentar algunos elementos que sirvan como soporte para que se pueda debatir el envejecimiento como una cuestión sociológica e identificar cuáles son los motivos que llevan a las personas mayores a ser internados en las Instituciones de Larga Permanencia para Personas Mayores (ILPMs) en la ciudad de Marilia, en el interior de Sao Paulo. Para responder a estas preguntas, aplicamos un cuestionario en las ILPMs de Marilia, que posteriormente fueron tabulados y analizados. Después del análisis del material, identificamos que en la mayoría de los casos, los ancianos llegaron a la situación de internado en virtud de la concepción de persona mayor que tenemos en nuestra sociedad, en especial, la persona mayor de baja renta, y que al principio no forma parte del "Circuito" de consumo de una sociedad capitalista. Ellos son institucionalizados por familiares, y en la mayoría de los casos son abandonados en las instituciones. El hecho de no ser más "productivos", en este modelo de sociedad, hace que los sujetos mayores, sean "descartados" de la convivencia social.

          Palabras clave: Personas mayores. Envejecimiento. Tercera edad.

 

Recepção: 27/09/2016 - Aceitação: 06/10/2017

 

1ª Revisão: 05/09/2017 - 2ª Revisão: 02/10/2017

 

 
Lecturas: Educación Física y Deportes, Revista Digital. Buenos Aires, Año 22, Nº 233, Octubre de 2017. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O envelhecimento da população brasileira é uma realidade inquestionável, e em virtude disto, o tema vem ganhando cada vez mais espaço no meio acadêmico, sendo abarcado por diversas áreas do conhecimento. Para se ter uma ideia da crescente população de idosos no Brasil, trazemos os dados do censo demográfico realizado pelo IBGE em especial no item referente aos indicadores sociais de 2015, conforme o gráfico abaixo.

Gráfico 1

    A partir do gráfico acima, podemos perceber que em 2030 a população de idosos superará a de jovens até 14 anos e, em 2060 ela já será superior à de pessoas com a idade entre 15 e 29 anos. Tais indicadores têm gestado uma série que mudanças sociais e políticas em relação ao trato com esta população. Muito embora os idosos tenham seus direitos assegurados através da Constituição e das legislações vigentes, o dinamismo característico da sociedade contemporânea faz com que seja necessário adequar os programas já existentes e implementar outros que possam suprir as especificidades desse segmento populacional. Essa adequação deve ser feita por meio de estudos que contemplem o conhecimento socioeconômico necessário desse grupo, para que as ações a ele direcionadas sejam de fato eficazes. A importância de se estudar o envelhecimento da população como um todo, levando em consideração seu significado, suas demandas e consequências, é cada dia mais reconhecida e interessa aos pesquisadores de diversos campos do conhecimento. Segundo Prado e Sayd (2006), as ciências humanas e sociais aplicadas também desempenham papel importante na produção de conhecimento relacionado ao envelhecimento, porém, essas pesquisas ainda acontecem predominantemente na área das ciências da saúde com a participação frequente das ciências biológicas.

    Para Neri (2001) e Debert (2003), o aumento de estudos sobre a população idosa se traduziu na criação de centros de estudo e de formação de profissionais voltados para trabalhar com idosos, na abertura de espaços para reuniões e discussões sobre essa temática e na criação de áreas especificamente voltadas para o estudo do envelhecimento, no interior de disciplinas acadêmicas plenamente constituídas.

    De acordo com Groisman (2002), foi depois do Ano Nacional do Idoso, em 1999, que o Brasil deu sinais de ter “descoberto” a velhice. Segundo o autor, foi depois disso que o congresso da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, realizado em junho de 2000 em Brasília, ganhou destaque, parecendo simbolizar a importância que o envelhecimento ganhou em nossa sociedade. Para Groisman (2002) depois de ser transformada em matéria de interesse público, o tema velhice ganhou destaque na mídia, abrindo espaço para um crescente número de especialistas e de serviços voltados para os idosos. A “terceira idade” torna-se uma “moda”, com a implementação de um mercado de consumo voltado para este público, e a gerontologia, se transforma em porta-voz dos discursos sobre a velhice.

    Na visão de Machado (1994), a abordagem do envelhecimento das estruturas populacionais deve apontar para uma solução transdisciplinar baseada em quatro grandes pilares, que segundo ele são: a sociologia, a demografia, a economia e a ecologia humana. Para o autor, o Estado tem um papel crucial dentro das sociedades ocidentais contemporâneas, sendo em grande parte responsável pela dinâmica social acerca do envelhecimento, já que a política que ampara o modo de vida durante a velhice é em grande medida um reflexo da forma como a velhice é socialmente concebida. Machado (1994) traz como forma de enriquecer esta discussão, as ideias de Treas e Passuth, que propõem uma classificação das questões sociológicas sobre o envelhecimento das sociedades baseados em três grandes tradições: a sociologia da idade, a sociologia do envelhecimento a sociologia da velhice.

    A sociologia da idade, segundo a concepção do autor, é centrada no estudo da idade como um princípio organizativo da sociedade. Essa tradição se baseia em uma perspectiva essencialmente macro-estrutural e concebe à estrutura etária como um estatuto de característica importante dentro das sociedades, instituições e grupos. Já a sociologia do envelhecimento, fixa-se em uma perspectiva mais microssocial, privilegiando a adaptação dos indivíduos às transformações ocorridas ao longo do ciclo de vida. Trata-se do terreno de excelência da gerontologia social. De um ponto de vista sociológico, as transições que se importa estudar são as socialmente criadas, reconhecidas, partilhadas e socialmente produzidas. A terceira tradição apresentada pelas autoras diz respeito à sociologia da velhice como problema social (Treas e Passuth apud Machado, 1994).

    O fenômeno social do envelhecimento suscita a necessidade de se entender os desafios do envelhecimento dentro de contextos urbanos, já que a maior parte da população vive dentro das cidades. Um ponto relevante acerca da discussão do modo de vida dos idosos dentro de contextos urbanos, diz respeito à possibilidade de interação do idoso com instituições e elementos exteriores ao ambiente doméstico, que só se torna possível dependendo das condições de acesso que são dadas. Por conta dessa relação, faz-se necessário pontuar os conceitos de mobilidade e acessibilidade. De acordo com Vasconcellos (2001), a mobilidade se refere à “habilidade humana de movimentar-se em decorrência de condições físicas e econômicas individuais”, ou seja, esse conceito diz respeito às pessoas e não a lugares. Em contrapartida, a acessibilidade remete aos instrumentos físicos que possibilitam a efetivação desses deslocamentos, garantindo que os lugares, dentro do espaço urbano, se tornem acessíveis e que as pessoas por sua vez tenham mobilidade.

    Segundo Moreira (1998), na visão demográfica o envelhecimento populacional é caracterizado pelo aumento da população idosa em proporção superior à taxa de crescimento populacional, de forma a ampliar sua participação relativa no total da população. Ainda segundo o autor, o aumento do peso relativo da população idosa pode advir de uma redução do grupo etário dos jovens por conta da queda de fecundidade, caracterizando o envelhecimento pela base, ou, em razão da queda da mortalidade, definindo o envelhecimento pelo topo. A ONU afirma que de acordo com a diminuição das taxas de fertilidade, o aumento da proporção de pessoas com 60 anos ou mais deve duplicar entre 2007 e 2050. Segundo ela, o seu número atual deve mais que triplicar, chegando dois bilhões no ano de 2050, e na maioria dos países, o número de idosos acima de 80 anos quadruplicará para quase 400 milhões.

    Neri (2001), destaca a importância da distinção entre expectativa de vida, e máxima duração de vida. A primeira se consiste em uma estimativa que leva em conta as condições atuais de saúde e de suporte que a população dispõe, que sofre bastante influência das condições existentes no passado, enquanto a segunda se refere ao número de anos que se espera que uma espécie viva, se as circunstâncias ambientais causadoras de doenças e morte forem controladas. A autora também apresenta os conceitos de idade biológica e Idade funcional nos seguintes termos: idade biológica é a estimativa da posição do indivíduo, com respeito ao seu potencial de vida residual, isto é, numa certa idade, e quantos anos ainda lhe restam de vida. A idade funcional é conceituada em termos da capacidade de adaptação do indivíduo ao ambiente (Neri, 2001). Com a nova configuração social por conta do aumento de idosos, cria-se também novas características dentro da sociedade de consumo, segundo Debert (2003), muitos consideram o envelhecimento como um novo mercado de consumo, principalmente nos países desenvolvidos, em que a população idosa apresenta um maior poder aquisitivo.

    De acordo com Berquó (1999), é fundamental caracterizar a população idosa segundo sexo, raça, escolaridade, renda, tipo de inserção na família, mobilidade espacial, participação no mercado de trabalho, etc., para orientar a formulação e políticas sociais que atendam suas necessidades. Para a autora, o processo de envelhecimento pode reforçar as desigualdades em face da qualidade de vida e do bem-estar do diferentes estratos sociais, homens e mulheres, brancos e não brancos, contribuindo para aumentar as chances de exclusão. Muitas dessas questões são estudadas dentro da Gerontologia, ciência que estuda os processos do envelhecimento em todos os seus aspectos: físicos, culturais, psicológicos, econômicos. A gerontologia tem como foco o estudo das características dos idosos, bem como das várias experiências da velhice e do envelhecimento, ocorrendo em diferentes contextos socioculturais e históricos (Tahan, 2009).

    Cabe enfatizar que as teorias sociológicas sobre a velhice surgiram nos últimos 40 anos, tendo sua referência no contexto norte-americano. A evolução da gerontologia social e as mudanças demográficas, ocasionaram a elaboração de microteorias, que surgiram com a proposta de focar aspectos específicos a fim de proporcionar uma compreensão mais aprofundada da velhice e do envelhecimento (Tahan, 2009). Fica claro que esse recente fenômeno do envelhecimento populacional, traz consigo uma série de questões que necessitam de reflexões, para a construção de um corpo teórico, que contribua para a contextualização e melhor compreensão dessa problemática. Dentro da sociologia há uma série de aspectos do envelhecimento que devem ser abordados tendo como base as teorias que tentam desvendar o funcionamento das relações e estruturas sociais.

    A compreensão destes aspectos ganha cada vez mais importância, principalmente, porque com o aumento da população idosa, a realidade em que nos inserimos passará por uma grande modificação, desde aspectos relacionados à saúde, até as questões previdenciárias. É neste sentido que a nossa pesquisa ganha densidade e os objetivos traçados para ela, de apresentar elementos que sirvam como suporte para que se possa debater o envelhecimento como uma questão sociológica e identificar quais os motivos que levam os idosos a serem internados nas Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs), passam a ser essenciais para a compreensão de como vem ocorrendo esta modificação.

Método

    Segundo Ludke e André (1986) a pesquisa qualitativa, é um tipo de pesquisa que possui algumas características básicas. Os autores destacam como sendo cinco estas características. A primeira é que a pesquisa qualitativa tem como fonte de dados o ambiente natural e o pesquisador sendo o instrumento; a segunda são os dados coletados, que são descritivos; a terceira característica está na preocupação com o processo que figura como mais importante do que o produto; a penúltima está relacionada ao significado que os sujeitos atribuem às coisas e a relação destas com a sua vida, a quinta, e última característica, tem destaque especial, pois está relacionada a análise dos dados, e está segue um processo indutivo.

    A pesquisa realizada por nós pautou-se nestas caraterísticas para realizar um estudo de caso sobre os motivos que levam os idosos a serem internados e residir nas Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs), na Cidade de Marília1, no Estado de São Paulo. Optamos por esta metodologia por entender que este trato metodológico permite reunir informações detalhadas visando apreender a totalidade de uma determinada situação. Além disto, ela se preocupa em mostrar a complexidade de uma situação especifica, focando o problema na sua totalidade. Autores como Lüdke & André (1986) e Triviños (1987), afirmam que o estudo de caso parte de alguns pressupostos teóricos iniciais, mas procura manter-se constantemente atento ao surgimento de novos elementos importantes para discutir o problema.

    Preocupados com estes pressupostos teóricos iniciais e, atentos ao surgimento de novos elementos que pudessem dar pistas sobre a compreensão dos motivos que levam os idosos a serem internados nas ILPIs de Marilia, realizamos a nossa pesquisa junto as três Instituições existentes na cidade no período compreendido entre outubro e novembro de 2015. Para fins de apresentação dos dados e, posteriormente, para a discussão deles, as instituições não serão identificadas por nome, serão atribuídas a elas as siglas ILPIs-a, ILPIs-b e ILPIs-c, como forma de preservar o anonimato acordado quando da permissão para a realização da pesquisa. O preenchimento dos questionários utilizados para a obtenção dos dados relativos a cada uma das instituições estudadas, foi feito pelos gestores responsáveis por elas.

    O que caracteriza uma instituição como sendo filantrópica é o fato de ela não ter fins lucrativos e os seus recursos serem provenientes de doações e subvenções. Embora ela possa cobrar pelo serviço que presta, deverá também, atender ou prestar serviços gratuitamente, o que não ocorre com uma que é eminentemente privada. Em relação ao regime de funcionamento, uma declarou que é uma instituição semiaberta e as outras duas, declararam serem instituições abertas. Em uma instituição de regime aberto, o idoso tem autonomia para entrada e saída da instituição, como por exemplo, trabalhar fora e dormir na instituição. Na de regime semiaberto, o idoso tem autonomia regulada quanto às suas entradas e saídas. Ele pode, por exemplo, sair com um acompanhante para passeios ou, participar de atividades oferecidas pela instituição durante o dia, retornando para a casa à noite.

    Em relação aos dados deste estudo, eles foram obtidos por meio de um questionário, que foi preenchido pelos responsáveis de cada Instituição. Como trata-se de um local no qual as pessoas que estão internadas estão fragilizadas em vários sentidos, optamos por não ter contato direto com os internos, apenas com os responsáveis pela gestão. A presença de um pesquisador coletando informações de documentos, e realizando entrevistas, poderia gerar desconfortos desnecessários aos idosos. Sendo assim, os pesquisadores se limitaram a entregar os questionários e aguardar o preenchimento do mesmo, procurando não interferir no cotidiano do local, salvo, quando surgia alguma dúvida em relação ao preenchimento, nestes casos, os pesquisadores auxiliavam para dirimir estas. É importante destacar que os gestores receberam uma carta explicando os objetivos da pesquisa, bem como, um termo de consentimento livre e esclarecido, além disto, O nome das Instituições, bem como dos gestores participantes serão mantidos sob sigilo, minimizando, assim, o risco de exposição dos sujeitos da pesquisa.

    Na visão de Laville & Dionne (1999), os dados como se encontram inicialmente, ou seja, na sua forma bruta, necessitam de uma análise para sua utilização, e na medida que o pesquisador os analisa, elabora percepções que o guiará para a compreensão do fenômeno estudado. A partir deste pressuposto, o questionário analisado procurou identificar além do perfil dos idosos internos, as características da instituição. Para tanto, as perguntas constantes no documento foram basicamente as seguintes: dados da Instituição, do responsável pelo preenchimento do formulário, da natureza da ILPIs, regime de funcionamento (aberto, fechado, semiaberto), no de internos, faixa etária, sexo, quantidade de quartos, leitos e outras acomodações, no de funcionários, critérios de admissão, se possui convênio com outras instituições, atividades desenvolvidas com os internos, quem institucionaliza os idosos, entre outras.

Resultados e discussão

    A criação das Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs) surge com o intuito de dar uma nova dimensão para a atenção aos idosos. Elas nasceram no Brasil em 2003, sugeridas pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia. Antes os asilos, as casas de repousos e os abrigos, agora as ILPIs. A Resolução no. 283 da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), de 2005, aprovou o Regulamento Técnico que definiu as normas de funcionamento para as ILPIs, e determinou que as secretarias de saúde estaduais, municipais e do Distrito Federal implementassem novos procedimentos para a sua adoção.

    As ILPIs são consideradas um sistema social organizacional e assim como outras organizações, desempenham uma função social determinada em nossa sociedade. Elas podem ser instituições governamentais ou não governamentais e abrigam idosos com ou sem amparo familiar. Tem como característica o oferecimento de domicílio coletivo a pessoas com idade igual ou superior a 60 anos. De acordo com estudo feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) entre 2007 e 2009, atualmente existem no Brasil pouco mais de 3.500 instituições, sendo a grande maioria de Instituições privadas.

    No caso das ILPIs de Marilia, as três instituições existentes na cidade são de caráter privado, sendo que duas delas se declararam também, como sendo filantrópicas. O número total de internos nas três instituições é de 186 idosos, sendo 104 mulheres (55,91%) e 82 homens (44,08%), assim divididos: Na ILPIs-a o número é de 63, sendo 38 mulheres (60.3%) e 25 homens (39,6%), assim divididos: (homens) 1 com menos de 60 anos, 14 entre 60 e 70 anos e 10 com mais de 80 anos. (mulheres) 2 com menos de 60 anos, 16 entre 60 e 70 anos e 20 com mais de 80 anos. Na ILPIs-b são 53 internos, sendo 27 mulheres (50,9%) e 26 homens (49%). Divididos da seguinte forma: (homens) nenhum com menos de 60 anos, 16 entre 60 e 70 anos e 10 com mais de 80 anos. (mulheres) 2 com menos de 60 anos, 15 entre 60 e 70 anos e 10 com mais de 80 anos. A ILPIs-c possui um total de 70 idosos, 39 mulheres (55,7%) e 31 homens (44,3%). A divisão etária dos internos é a seguinte: (homens) 1 com menos de 60 anos, 17 entre 60 e 70 anos e 13 com mis de 80 anos. (mulheres) 2 com menos de 60 anos, 20 entre 60 e 70 anos e 17 com mais de 80 anos. Somados todos os internos das três instituições, nós temos 104 mulheres e 82 homens, conforme gráfico abaixo.

Gráfico 2

    Para atender a esse número de internos, elas disponibilizam 107 leitos/quartos, assim divididos: a (35), b (28) e c (44). Em todas elas, o quadro funcional disponibilizado conta com cuidadores, enfermeiros, assistentes sociais, médicos e, em uma delas, existe a figura do fisioterapeuta e 2 do terapeuta ocupacional. Além destes, colaboram para o funcionamento da instituição o pessoal de apoio e serviços gerais. Os critérios de admissão estão pautados em dois itens básicos, o primeiro é ter mais de 60 anos de idade e, o segundo, estar com saúde estável. Em relação a institucionalização, ela é feita por órgãos públicos, pelo próprio idoso e, na maioria das vezes, por familiares. Sendo que eles só saem de lá, de acordo com o histórico das instituições, após o falecimento, ou seja, não existem casos de idosos que foram “resgatados” pelos familiares.

    Como forma de subsistência, as 3 ILPIs de Marilia recebem repasse de verbas da Prefeitura da cidade e do SUS. Duas delas, a ILPIs-b e ILPIs-c, relataram que recebem doações de farmácias, supermercados e algum tipo de auxílio do Rotary e do Lions regional. A IPLIs-a informou que recebe apenas o repasse do SUS e da Prefeitura. No aspecto relacionado ao lazer, as três possuem sala de tv, sala de leitura, espaço ecumênico, biblioteca, jardim e organizam festas comemorativas, passeios, bazar, eventos musicais, cinema e visitas monitoradas a outros locais. Sobre o aspecto financeiro, o peso maior cai sobe a falta de recursos, e em virtude da demanda de idosos que elas recebem, normalmente eles se tornam escassos. Os gestores informaram ainda, que a demanda de pessoas acamadas e a necessidade de atender idosos em regime de enfermaria, eleva em muito os custos da Instituição, e muitas vezes, isto dificulta o gerenciamento da verba recebida.

Conclusões

  • Evidenciamos durante a pesquisa que não existe uma de política pública voltada para os idosos, e isto faz com que muitos dos idosos que se encontram nas ILPIs não tenham perspectiva alguma de vida.

  • Em relação aos motivos que levam os idosos a serem internados na ILPIs, um dos principais está relacionado ao abandono dos familiares. Além deste, a falta de alguém que possa disponibilizar um tempo integral para os cuidados com os idosos também aparece como sendo relevante. Neste caso, o familiar mais próximo, quando há, não pode parar de trabalhar e também não tem recursos para pagar uma cuidadora, levando estes a internação. Existem também os casos em que os familiares têm recursos, que existem pessoas disponíveis para os cuidados, mas mesmo assim, eles optam pela internação.

  • No que se refere às condições de vida nas instituições, embora o direito de ir e vir não seja pleno, elas oferecem as condições básicas para minimizar o sofrimento decorrente do abandono a que eles são submetidos. São oferecidas sala coletiva com televisão, de leitura, espaço ecumênico, biblioteca, jardim, além de organizarem festas comemorativas, alguns passeios, bazar, eventos musicais, sessão de cinema e visitas monitoradas a outros locais.

  • Chegamos ao final desta pesquisa com a sensação de que muito ainda há por se fazer sobre esta questão. Desde a ampliação das discussões sobre o que é ser idoso em uma sociedade que cada vez mais preza o novo, em uma sociedade que vê o idoso como um problema para a previdência, que não é mais “produtivo” e por isso precisa ser “descartado”, que necessita de atenção e tempo, tempo este que cada vez é mais escasso na modernidade..

Nota

  1. O município de Marília está situado na região Centro-Oeste Paulista, distante da Capital do Estado cerca de 443 km, e tem sua população estimada em 220 mil habitantes, possuindo uma área territorial de 1.194 km².

Bibliografia

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