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Avaliação da imagem corporal de mulheres praticantes de musculação

Evaluation of body image of women muscle training practitioners

Evaluación de la imagen corporal de mujeres practicantes de musculación

 

*Instituto Benjamin Constant

**Universidade Federal do Rio de Janeiro

***Centro de Excelência de Avaliação Física

Rio de Janeiro, RJ

(Brasil)

Glauber Lameira de Oliveira*

lameiraglauber@gmail.com

Patrícia Soares de Pinho Gonçalves*

patydepinho@hotmail.com

Talita Adão Perini de Oliveira**

talitap.perini@gmail.com

Paula Roquetti Fernandes***

paularoquettifernandes@ceaf.com.br

José Fernandes Filho**

jff@eefd.ufrj.br

 

 

 

 

Resumo

          O presente estudo tem por objetivo verificar a presença de insatisfação com a autoimagem corporal bem como sua distorção e seus graus de desenvolvimento em praticantes de musculação. Para tanto, foi selecionada uma amostra composta por 50 mulheres com idades entre 18 e 30 anos, todas oriundas da cidade do Rio de Janeiro. Para obtenção dos dados referentes à presença da distorção da autoimagem corporal e seus graus de desenvolvimento foi aplicado o Body Shape Questionnaire (BSQ), na sua versão traduzida e validade para o português. A fim de complementar através da avaliação da satisfação corporal optou-se pela aplicação Escala de Silhuetas de Stunkard. A análise das prevalências dos dados foi realizada no programa Excel (2000). Foi observado que 78% das entrevistadas estão insatisfeitas com a sua imagem corporal, dentre as quais 70% desejam perder peso e reduzir sua silhueta. As praticantes de musculação avaliadas neste estudo apresentaram maior prevalência (54%) para a presença de distorção da autoimagem corporal nos graus leve(34%), moderado(18%) e grave(2%).

          Unitermos: Imagem corporal. Mulheres. Musculação.

 

Abstract

          This study aims to verify the presence of dissatisfaction with body self-image as well as its distortion their degrees of development practitioners in muscle training practitioners. To this end, we selected a sample of 50 women aged between 18 and 30, all from the city of Rio de Janeiro. To obtain data on the presence of distorted body self-image and their degree of development it applied the Body Shape Questionnaire (BSQ) in its translated version and validity of the Portuguese. To complement by assessing body satisfaction opted for the application Stunkard silhouettes Scale. Analysis of the prevalence data was performed in Excel software (2000). It was observed that 78% of respondents are dissatisfied with their body image, among which 70% want to lose weight and reduce your silhouette. The muscle training evaluated in this study were higher prevalence (54%) for the presence of distorted body self-image as mild (34%), moderate (18%) and severe (2%).

          Keywords: Body image. Women. Muscle training.

 

Resumen

          El presente estudio tiene por objetivo verificar la presencia de insatisfacción con la autoimagen corporal así como su distorsión y sus grados de desarrollo en practicantes de musculación. Para ello, se seleccionó una muestra compuesta por 50 mujeres con edades entre 18 y 30 años, todas oriundas de la ciudad de Río de Janeiro. Para obtener los datos referentes a la presencia de la distorsión de la autoimagen corporal y sus grados de desarrollo fue aplicado el Body Shape Questionnaire (BSQ), en su versión traducida y validada para el idioma portugués. Con el fin de complementar mediante la evaluación de la satisfacción corporal se optó por la aplicación Escala de Siluetas de Stunkard. El análisis de las prevalencias de los datos se realizó en el programa Excel (2000). Se observó que el 78% de las entrevistadas están insatisfechas con su imagen corporal, de las cuales el 70% desean perder peso y reducir su silueta. Las prácticas de musculación evaluadas en este estudio presentaron mayor prevalencia (54%) para la presencia de distorsión de la autoimagen corporal en los grados leve (34%), moderado (18%) y grave (2%).

          Palabras clave: Imagen corporal. Mujeres. Musculación.

 

Recepção: 20/04/2017 - Aceitação: 14/08/2017

 

1ª Revisão: 18/07/2017 - 2ª Revisão: 11/08/2017

 

 
Lecturas: Educación Física y Deportes, Revista Digital. Buenos Aires, Año 22, Nº 231, Agosto de 2017. http://www.efdeportes.com

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Introdução

    O conceito de imagem corporal é baseado na busca incessante pelo corpo perfeito e está cada vez mais presente na sociedade, já que nas últimas décadas a supervalorização da aparência corporal tem contribuído para que muitas pessoas, principalmente mulheres, façam sacrifícios em busca do corpo padrão imposto à sociedade (Araújo et al., 2012).

    Para Oliveira (2003) na busca do corpo perfeito as mulheres são as mais vulneráveis às pressões e influências da sociedade, pois para alcançá-lo têm assumido atitudes que podem comprometer sua saúde, tais como dietas radicais, exercícios físicos em excesso e utilização de anabolizantes.

    Segundo Anjos et al. (2015) o corpo é um importante marcador no cenário social, mas não o principal, é ele que vai influenciar no cenário mercantilizado e influenciador de modelos imaginados e desejados, na busca do corpo “perfeito”. A imagem corporal se configura como componente de um complexo mecanismo de identidade pessoal. De acordo com Saur et al. (2008), a mídia e o imaginário coletivo estabelecem uma relação entre a forma do corpo e a saúde, como se todos os métodos em busca do modelo de corpo ideal pudessem ser utilizados no intuito do indivíduo cuidar-se melhor e tornar-se mais saudável. No entanto, nos últimos anos, transtornos alimentares acabaram gerando diagnósticos específicos no tratamento médico e psicológico, dos indivíduos que buscam incessantemente o modelo de corpo ideal.

    Alguns dos artifícios utilizados por pessoas, principalmente mulheres, que apresentam transtornos alimentares, distorção da forma corporal e preocupação com o peso e o medo incessante de engordar acabam gerando quadros de anorexia e bulimia, assim prejudicando a própria saúde (Fortes et al., 2013).

    Segundo Silva (2005) a vigorexia é um dos outros artifícios resultantes da busca da perfeição do corpo, geralmente esta síndrome afeta em sua maioria homens, que se impõem em uma drástica mudança alimentar, desenvolvendo transtornos psicológicos, mas na sua maioria, não apresentam um grau de magreza extrema.

    O presente estudo tem por objetivo verificar a presença de insatisfação com a autoimagem corporal bem como sua distorção e seus graus de desenvolvimento em praticantes de musculação.

Materiais e métodos

Amostra

    Foi realizado um estudo transversal optando-se intencionalmente por uma amostra composta de mulheres com idade entre 18 a 30 anos, totalizando 50 avaliadas, todas residentes e frequentadoras de academia de diferentes bairros da Zona Norte, Oeste e Sul da cidade do Rio de Janeiro.

Instrumentos

    Para avaliar a presença e o grau de distorção com a autoimagem corporal, foi aplicado o questionário de auto relato Body Shape Questionnaire – BSQ validado por Di Pietro (2002), composto de 34 questões apresentando 6 possibilidades de respostas variando de ”sempre” a ”nunca”. Resposta 1 (nunca), 2 (raramente), 3 (às vezes), 4 (frequentemente), 5 (muito frequente) e 6 (sempre). De acordo com a resposta marcada, o valor do número correspondente à opção feita no item é computado como escore para a questão, logo os escores são: nunca =1, raramente =2, às vezes= 3, frequentemente= 4, muito frequentemente = 5 e sempre = 6. O total de escore do instrumento BSQ é computado, a partir do somatório de escores obtidos de todos os 34 itens respondidos. A classificação dos resultados é feita pelo total de escores obtidos, e reflete os níveis de preocupação com a autoimagem corporal (AIC). Obtendo resultado menor ou igual a 80 pontos é constatado um padrão de normalidade e tido como ausência de distorção da AIC. Resultado entre 81 e 110 pontos é classificado como grau leve de distorção da AIC, entre 111 e 140 é classificado como grau moderado de distorção da AIC e acima de 140 pontos a classificação é de presença de grave grau de distorção da AIC. Ressalta-se este instrumento foi utilizado na versão traduzida para o português e validada (Cordás, 1994). Esclarecemos que este é um instrumento de auto relato, utilizado na clinica médica para triagem e definição de quadro de síndromes precursoras de comportamento alimentar e de outras co-morbidades psiquiátricas, porém, os participantes do estudo não foram submetidos à entrevista com fins de diagnóstico clínico (American Psychiatric Association, 1994).

    A fim de complementar a análise da distorção da imagem corporal, foi aplicado uma questionário juntamente com o BSQ, referente à satisfação coma “massa corporal “das avaliadas com três opções de respostas que retratam seus desejos e necessidades referente a sua forma física (desejo de manter, perder ou ganhar massa corporal).

    A análise da satisfação corporal foi realizada por meio da Escala de Silhuetas de Stunkard (1983) que avalia: 1. a preocupação do tamanho e formas corporais: modo como o indivíduo enxerga e percebe seu tamanho ou sua figura mental do corpo atual; 2. o ideal de tamanho e formas corporais: o que é considerado um “ideal” de beleza; e 3. a insatisfação com o tamanho e as formas corporais: diferença entre a percepção reconhecida e o que considera ideal (desejada). A versão para mulheres, adaptada e validada no Brasil (Scagliusi et al., 2006) constitui-se de uma escala simples, de fácil aplicação e avaliação. Para proceder a análise, cada figura recebe uma pontuação que varia de 1 para a mais magra, até 9, para a mais obesa.

    Dentre as figuras, a avaliada escolhe aquela que representa, na sua percepção o seu corpo atual (reconhecida): quanto maior a pontuação, mais a pessoa se percebe obesa, quando menor mais se percebe magra. Também escolhe uma figura para o corpo que desejaria ter como ideal (desejada). O grau de insatisfação corporal é dado pela diferença entre as figuras, atual e ideal (nº da imagem atual – nº da imagem desejada). Os valores variam entre -8 e 8 (valores positivos expressam o desejo de ser mais magro, valores negativos o desejo de ser mais gordo e ”zero” corresponde à satisfação com a imagem corporal atual).

Aspectos éticos

    O presente estudo, devidamente encaminhado para apreciação do Comitê de Ética da Universidade Castelo Branco e aprovado sob número de protocolo 0020/08, o que nos garantiu que os procedimentos aplicados não causaram nenhum dano à saúde da amostra investigada cumprindo as determinações da resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (1996). Foi realizado com a assinatura de um termo de consentimento livre e esclarecido por todos os participantes O anonimato e a privacidade das participantes foram resguardados no estudo. A adesão dos participantes foi de forma espontânea, isenta de qualquer forma de remuneração, podendo o voluntário abandonar as avaliações em qualquer etapa da pesquisa.

Análise estatística

    A estatística descritiva dos dados, os cálculos dos parâmetros, e as prevalências das variáveis e questionário foram realizados no programa Excel (Microsoft, 2000).

Resultados e discussão

    A Tabela 1 abaixo dispõe os valores de prevalência para normalidade e distorção com a autoimagem corporal em seus diferentes graus entre as avaliadas.

Tabela 1. Distorção da autoimagem corporal

    É possível observar que grande parte das avaliadas (54%) apresenta algum tipo de distorção da imagem corporal distribuídas em diferentes graus, 34% das mesmas possuem uma leve, 18% possuem uma moderada insatisfação e 2% uma grave insatisfação com sua imagem corporal.

    A prevalência de respostas que retratam a satisfação ou insatisfação com a autoimagem corporal para variável massa corporal total= “peso” é disposta na Tabela 2, abaixo:

Tabela 2. Satisfação ou insatisfação com a autoimagem corporal

    Constata-se que mais da metade das mulheres avaliadas neste estudo desejam perder massa corporal total (78%), retratando uma insatisfação com a autoimagem e desejo de emagrecimento. Esse descontentamento pode ser resultante da distorção da autoimagem corporal como observado na Tabela 1, como um reflexo de busca incessante pela beleza, e desejo de obter um “corpo perfeito”. Isto impossibilita que estas mulheres tenham consciência de sua real imagem, levando-as a um grande confronto interno, ou psíquico, causado pelo distúrbio de sua verdadeira imagem corporal (Morgan et al., 2002). A existência deste processo é reafirmada por Tosatti e colaboradores (2007) que destacam que a distorção da imagem corporal impede uma percepção real de si mesma.

    A Prevalência de respostas que retratam a auto percepção das avaliadas quanto à imagem corporal que as mesmas reconhecem ter é disposta na Tabela 3.

Tabela 3. Imagem corporal reconhecida

    Em relação à posição das silhuetas na Escala de Stunkard, as mulheres entrevistadas neste estudo escolheram em sua maioria a Figura 2 (32%) como representativa do seu corpo atual (reconhecida), seguida da Figura 4(22%), 3(18%) e 5(14%).

    Na Tabela 4, é disposta a prevalência de avaliadas neste estudo para a imagem corporal que desejam ter.

Tabela 4. Imagem corporal desejada

    Através da análise da Tabela 4 nota-se que a média da escala e silhueta desejada pela maior parte do grupo foi a de número 2 (56%), mais próxima da magreza. Por meio da análise comparativa das Tabelas 3 e 4 observa-se que grande parte do grupo desejava como ideal retratado por uma Figura de silhueta menor que aquela apontada como atual, ou seja, que reconhecia ter.

    Quando feita a análise da diferença entre a silhueta que a avaliada se vê (Reconhecida) e aquela que a mesma gostaria de ter (Desejada) foram verificados resultados com uma amplitude de -1 a +4 para o grupo. Do total de atletas avaliadas, 70% apresentaram resultados com valores positivos (+) o que demonstra insatisfação com a autoimagem corporal e necessidade de reduzir posições na escala de silhuetas. Entre as demais, 22% apresentaram-se satisfeitas e apenas 8% obtiveram valores negativos (-), retratando desejo de aumentar posições na escala de silhuetas, ou seja, engordar.

    Segundo Ferreira (2008), o ambiente das academias pode favorecer a disseminação de padrões corporais ideais, como o corpo magro (para as mulheres) e o musculoso (para os homens). Um estudo realizado por Damasceno e colaboradores (2005) com mulheres praticantes de atividade física, constatou que o tipo de físico ideal divergia do reconhecido pela maior parte do grupo avaliado (76%) retratando insatisfação e distorção com a imagem corporal, resultados semelhantes ao do presente estudo. De igual modo, Zenith et al. (2012) comprovaram em seu estudo realizado com mulheres praticantes de musculação de academias de Belo Horizonte que mais da metade das mulheres apresentam insatisfação com sua imagem corporal embora apresentassem índice de massa corporal saudável.

    Para Ricciardelli et al. (2001), a necessidade de perda de peso faz com que as mulheres sejam motivadas a praticar atividade física. Além disso, segundo Perini et al. (2012) as influências socioculturais interferem nesse processo como um fator a pré dispor certas grupos à prática de exercício extremos e condutas de controle de peso corporal (massa corporal total) de modo a adequarem-se aos modelos pressupostos pela sociedade como ideias. Entre esses grupos, os autores apontam: população adolescente feminina, atletas praticantes de esportes que preconizam baixo peso corporal, praticantes de dança, praticantes de modalidades que valorizam a estética corporal como ginástica rítmica, ginástica artística e nado sincronizado, conforme constatados em diferentes estudos (Perini et al., 2012; Pereira et al., 2010; Perini et al., 2009). Tais condutas podem prejudicar a saúde e possibilitar o desenvolvimento de transtornos alimentares, como anorexia e bulimia. Em se tratando da população de atletas onde há uma necessidade energética adicional decorrente do treinamento ao qual são submetidos, quando presentes, essas condutas podem desencadear a instalação da tríade da mulher atleta, uma síndrome composta pela presença dos transtornos alimentares, disfunções menstruais e ósseas.

    Segundo Conti et al. (2005), o modelo ideal de corpo disseminado na sociedade moderna exige das mulheres um perfil magro e esbelto. Sendo assim, é notório que tais mulheres sofrem igualmente pressão social quanto a busca do “corpo perfeito” e respondem a esta, direcionando suas atitudes no sentido de atender tais influências culturais da sociedade na qual estão inseridas.

    Sugere-se que outros estudos sejam realizados para avaliar a insatisfação com a autoimagem corporal em diferentes grupos e populações, de modo a sinalizar e alertar sobre os efeitos de uma imagem corporal distorcida nas condutas dos avaliados, tais como desenvolvimento de transtornos alimentares.

Conclusão

    O estudo constatou que as mulheres praticantes de musculação mostraram-se em sua maioria insatisfeitas com sua imagem corporal (78%), dentre as quais 70% desejaram reduzir pelo menos 1 figura na escala de silhuetas, retratando a necessidade de emagrecer (70%). As praticantes de musculação avaliadas neste estudo apresentaram igualmente maior prevalência (54%) para a presença de distorção da autoimagem corporal nos graus leve (34%), moderado (18%) e grave (2%).

Bibliografia

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