Deficiência mental e a atividade física
Jônatas de França Barros, Odiel Aranha Cavalcante e Ricardo Jacó de Oliveira

http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 5 - N° 23 - Julio 2000

     PAFFENBARGER (1993) pesquisou a relação entre o exercício e a longevidade, onde tem demonstrado que os indivíduos fisicamente ativos apresentam menor deterioração da aptidão física. O mesmo autor estudou durante 22 anos 14.000 ex-alunos de Harvard, e observou que os indivíduos que pararam de praticar esportes tiveram 35% de incremento no risco de morte sobre aqueles que continuaram sedentários. Porém aqueles que começaram a praticar esportes experimentaram índice de 21% menor de morte que aqueles habitualmente sedentários. Aqueles que se tornaram mais ativos experimentaram um índice 28% menor de morte e os que sempre se mantiveram ativos, um índice 37% menor que os que nunca fizeram exercícios vigorosos. Com a mesma amostra dividida em três grupos de acordo com a energia gasta em atividades como caminhar, subir escadas e praticar esportes, o autor achou um incremento na expectativa de vida maior nos indivíduos que eram mais jovens quando entraram no estudo e nos mais velhos (2.000 kcal/semana) quando comparados aos menos ativos (500 kcal/semana) e moderadamente ativos (501-1.999 kcal/semana). O aumento na expectativa de vida quando os mais ativos foram comparados aos pouco ativos foi em média de 2,51 anos para indivíduos de 35-39 anos de idade no início do estudo e de 0,42 anos nos indivíduos de 75-79 anos. O autor conclui que a porcentagem de indivíduos maiores de 80 anos foi maior entre indivíduos mais ativos (69,7%) do que nos menos ativos (59,8%).

     WANNAMETHEE et al., (1998) estudaram 5.567 homens de 40 a 59 anos de idade e concluíram que o hábito de realizar atividades físicas leves ou moderadas reduz a taxa de mortalidade por causa cardiovascular em homens de idade avançada.

     Para MATHEWS & FOX (1983) uma atividade física só fará efeito se atingir um limiar mínimo de intensidade. Este limiar varia de indivíduo para indivíduo, e está diretamente relacionado com o nível de aptidão.

     Quando se aplica uma carga de esforço, desde que ela seja de uma intensidade capaz de produzir adaptações, o organismo se comporta de uma maneira típica e bem definida ao recebê-la. A intensidade e duração do esforço não afetam apenas o gasto energético total, mas, também, o substrato energético utilizado no metabolismo celular (MATHEWS & FOX, 1983).

     DUARTE (1986) nos mostra ainda, que o exercício isométrico resulta em sobrecarga de pressão ao miocárdio, aumentando a massa muscular, sem trazer benefícios ao sistema cardiovascular.

     KATCH & McARDLE (1990) afirmam que para adquirir a aptidão física ou o aperfeiçoamento de um dos componentes desta aptidão, o organismo precisa ser submetido a esforços cada vez mais intensos, provocando reações de adaptação, que impliquem em transformações de seu metabolismo.

     Todos possuem capacidade para metabolismo energético anaeróbio e aeróbio, porém a capacidade de cada um de transferência de energia varia consideravelmente entre os indivíduos (McARDLE, 1998). Isto é comprovado quando se analisa vários estudos que mostram que o VO2mãximo e as aptidões cardiovasculares das crianças e adolescentes com deficiência mental são menores que nas crianças sem deficiência mental (CORDER,1966; FINDLAY,1981; HALLE,1983; SENGSTOCK,1966; MAKSUD,1975).

     KATCH & McARDLE (1990) consideram que existem dois grandes objetivos no condicionamento aeróbio, são eles: 1) melhorar o débito cardíaco máximo; 2) desenvolver a máquina metabólica para o consumo de oxigênio no interior de determinados músculos. E, ainda, enfatizam cinco fatores que devem ser considerados para atingir o sucesso em condicionamento aeróbio, são eles: 1) nível inicial da capacidade cardiovascular individual; 2) freqüência de treinamento, 3) duração de treinamento; 4) intensidade de treinamento; 5) aplicação de sobrecarga necessárias em determinados músculos para funcionar sob condições aeróbias mais perfeitas e mais intensas.

     Portanto para elaboração de um programa de atividade física deve considerar as diferenças individuais, observar os aspectos limitantes de cada deficiência, bem como a sua potencialidade. Somente assim poderemos estar reconhecendo os valores salutogênicos do exercício físico enquanto agente de promoção de saúde.

     Não podemos alterar a genética da pessoa, mas podemos alterar seus hábitos de cotidianos de forma a construir uma vida mais ativa com bons resultados físicos e psicológicos, uma melhor qualidade de vida.


Referências bibliográficas

  • ANDREWS, G. O .; J. G. REID; S. BECK, And W. McDONALD. - Training of the developmentally handicapped adult. Can J. Appl. Sport Sci., (4): 289-93, 1979.

  • ARAÚJO, W. B. de. - Ergometria & cardiologia desportiva. Rio de Janeiro, Cultura Médica, 1986. 557p.

  • BARBANTI, V. J. - Aptidão física: um convite a saúde. São Paulo, Manole Dois, 1990. 146 p.

  • BAR-OR, O. - Training considerations for children and adolescents with chronic disease. In:________ - Clinical exercise physiology. St. Louis, Mosby Year Book, 1994. p.266-74.

  • BARROS NETO, T.L. - Fisiologia do exercício aplicada ao sistema cardiovascular. Rev. Soc. Cardiol. Estado São Paulo., 6(1): 6-10, 1996.

  • BASSEY, E. J., M. J. BENDALL, and M. PEARSON. - Muscle strength in the triceps surae and objetively measured customary walking activity in men amd women over 65 years of age. Clin. Sci., (74): 85-9, 1988.

  • BEASTLEY, C. R. - Effects of jogging program on cardiovascular fitness and work performances of mentally retarded persons. Am. J. Ment. Defic., (6): 609-13, 1982.

  • BURKETT,L.N. & N. EWING. - Max VO2 uptake on five trainable mentally retarded high school students. Reston, VA: AAHPERD Abstracts, W. Kroll (Ed.),1983. 73p.

  • CAMPBELL, J. - Improving the physical fitness of retarded boys. Ment. Retard., (12):31-35, 1974.

  • CAMPBELL, D. T. & STANLEY, J. C. - Experimental and quasi-experimental designs for research. Chicago: Rand McNally, 1971. 84p.

  • COOPER, K. H.; M. L. POLLOCK; R.R. MARTIN; J.R. WHITE; A . C. LINNERD, AND A . JACKSON. - Physical fitness levels vs. Selected coronary risck factors: a cross sectional study. JAMA., (236): 166-69, 1976.

  • CLIMSTEIN, M.; PITETTI K.H.; BARRET, P.J.; CAMPBELL, K.D., - The accuracy of predicting treadmill VO2max for adults with mental retardation, with and without Down’s syndrome, using ACSM gender and activity-specific regression equations. J. Intellect. Disabil. Res.,(37):521-31, 1993.

  • COLÉGIO AMERICANO DE MEDICINA ESPORTIVA. - Guia para teste de esforço e prescrição de exercício. 3.ed. Rio de Janeiro: MEDSI, 1987. 195p.

  • CORDER,W. O . - Effects of physical education on the intellectual, physical, and social development of educable mentally retarded boys. Excepcional Children., (32): 357-64. 1966.

  • CULLUM, C. T.; LIEBMAN, J. - The association of congenital heart disease with down syndrome (mongolismo). Am. J. Cardiol.(24): 354-357, 1969.

  • DURNIN, J. V. G. A.; J. M. BROCKWAY; WHITCHER, H. W. - Effects of a short period of training of varying severity on some measurements of physical fitnes. J. Appl. Physiol., 15(1): 161-5, 1960.

  • DUARTE, G. M. - Ergometria: bases da reabilitação cardiovascular. Rio de Janeiro: Cultura Médica, 1986. 285p.

  • EDERHARD, Y. & ETERRADOSI, J. - Effects of physical exercise in adolescents with Down’s Syndrome. In: ________ - Adapted physical activity: na interdisciplinary approach. Berlin, Springer-Verlag, 1990. p 281-8.

  • FERNHALL, BO - Physical fitness and exercise training of individuals with mental retardation. Med. Sci. Sports Exerc. 25(4): 442-50, 1993.

  • FERNHALL, B, L. Millar, G. Tymeson & L. Burkett. Adapt. Phys. Activity Q. (5):12-28, 1988.

  • FINDLAY. H. I. J. - Adaptation of canada fitness award for the training mentally handicapped. Can. Assoc. Health Phys. Ed. Rec. (48):5-12. 1981.

  • FLEG, J. L. and B. L. EDWARD. - Role of muscle loss in the age-associated in VO2max. L. Appl. Physiol., (65): 1147-51, 1988.

  • FOX, R. & A . F. ROTATORI. - Prevalence of obesity among mentally retarded adults. Am. J Ment. Defic., (87):228-30, 1982.

  • GETTMAN, L. R., J. J. AYRES, M. L. POLLOCK, and JACKSON. - The Effect of circuit weight on strength cardiorespiratory fuction, and body composition of adult men. Med. Sci. Sports., (10): 171-76, 1978.

  • GLAT, R. - Somos iguais a você: depoimentos de mulheres com deficiência mental. Rio de Janeiro: Agir, 1989.

  • GLAT, R. - A Integração dos Excepcionais: Realidade ou mito? Mensagem da APAE, Integração., 15 (49): 11-4, 1988.

  • GUIMARÃES, FERNANDO J. S. P. - Estudo dos efeitos de um programa de reabilitação cardíaca sobre a s variáveis cardio-respiratórias e somáticas de cardiopatas. Santa Maria, 1993. 86p. [Tese Mestrado - Universidade Federal de Santa Maria]

  • HASSON, S.M. - Progressive and degenerative neuromuscular diseases and severe muscular atrophy. In:________ - Clinical exercise physiology. St. Louis, Mosby Year Book, 1994. p.178-95.

  • HALLE, J. W., N. A . Silverman. & L. Regan. ED. Traning Ment. Retard. (18):221-225, 1983.

  • KATCH, F. I. & McARDLE, W. D. - Nutrição, controle de peso e exercício. 3.ed. Rio de Janeiro: MEDSI, 1990. 327p.

  • MAKSUD, M. G. And L. H. HAMILTON. - Physiological responses of EMR children to strenvous exercise. Am. J. Ment. Defic., (79): 32-8, 1975.

  • MARTINS, L. A . R. - Educação integrada do portador de deficiência mental: alguns pontos para reflexão. Integração, (7):16:27-32, 1996.

  • MATHEWS, D. C. & FOX, E. L. - Bases fisiológicas da educação física e dos desportos. 3.ed. Rio de Janeiro, Interamericana, 1983. 488p.

  • MOREHOUSE, L. E. & MILLER, Jr. A. T. - Fisiológia del ejercício. 4 ed. Buenos Aire, Aidos, 1978. p.241-55.

  • MURPHY, M. H.; HARRDMAB, A ., - Training effects of short and long bouts of brisk walking in sedentary women. Med. Sci. Sports Exerc. , (30): 152-7, 1998.

  • NORDEREN, B. - Physical capacity and training in a froup of young adult mentally retarded persons. A Paediatr. Scan., 217 (suppl.): 119-21, 1971.

  • PAFFENBARGER, R.; HYDE R.; WING, A ., et al. - The association of changes in physical-activity level and o ther life style characteristics with mortality among men. N. Engl. J. Med., (328):538-45, 1993.

  • PITETTI, K. H. & K. D. CAMPEBELL. - Mentally retarded individuals - A population at risck?. Med. Sci. Sports Exerc., (23):586-93. 1991.

  • PITETTI,K. H., J. A . JACKSON, N. B. STUBBS, K. D. CAMPEBELL. & S. S. BATTAR. - Fitness levels of adult special olympics participants. Adapt. Phys. Activity Q. (6):354-70, 1989.

  • PITETTI, K. H. - Introduction: exercise capacities and adaptations of people with chronic disabilities - current research, future directions, and widespread applicability. Med Sci. Sports Exerc., 25(4):421-2, 1993.

  • POLLOCK, M. L.; DIMMICK, J.; MILLER, Jr. H.; KENDRICK, Z. ; LINNERUD, A. C. - Effects of mode of training on cardiovascular function and body composition of adult men. Med. Sci. Sports,7(2):139-45, 1975.

  • REID, G., D. Montgomery, & C. Seidl. - Performance of mentally retarded adults on the canadian stardardized test of fitness. Can. J. Public Health., (76):187-90,1985.

  • ROSADAS, S. de C. - Educação Física para deficientes. 2.ed. Rio de Janeiro, Atheneu, 1986. 214p.

  • SASSAKI, R. K. - Inclusão, construindo uma sociedade para todos. Integração, 8(20): 9-10, 1998.

  • SCHURRER, R. ; A . WELTMAN; H. BRAMMEL. - Effects of physical training on cardiovascular fitness and behavior patterns of mentally retarded adults. Am Ment. Defic., 9(2):167-70, 1985.

  • SENGSTOCK, W. L. - Physical fitness of mentally retarded boys. Res. Q., (37): 113-20, 1966.

  • SIEGEL, S. & CASTELLAN, JR. N. J. - Nonparametrics Statistics. 2ed. New York, Mc Graw-Hil, 1988. 399 p.

  • SIRI, W. E. - Body composition from fluid spaces and density: analysis of methods. In: Brozek, J. E. Hanschel, A. Technique for measuring body composition. Washington, National Academy of Science, 1961. p. 223-244.

  • TELFORD, C. W.; Sawrey, J.M. - O individuo excepcional. Rio de Janeiro: Zahar, 1984.

  • WANNAMETHEE, G.; SHAPER, G.; WALKER, M.; - Physical activity alterations mortality and coronary disease prevalence in older men. Lancet., (351): 1603-8, 1998.

  • WASSERMAN, K.; HAUSEN, J.E.; SUE, D.Y.; WHIPP, B. P. -Pathophysiology of disorders limiting exercise. In:WASSERMANN, K., ed. - Principles for exercise testing. Philadelphia, Lea Fibiger, 1987. p. 47-67.

  • WATSON, A. W. S. - Aptidão física e desempenho atlético. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986. 144p.

  • WHIPP, B. J. - The bionergetic and gas exchange basis of exercise testing. Clin. Chest Med., (15):173:91, 1994.

  • WILMORE, J. H., DAVIS, J. A., O’Brien, R., WALDER, V. G. ; AMSTERDAM, E. A. - A comparative investigation of bicycling, tennis and jogging as modes for altering cardiovascular endurance capacity. Med. Sci. Sports, 7(1):83, 1975.


Outros artigos de Jônatas de França Barros | de Ricardo Jacó de Oliveira
sobre
Actividad Física y Salud | Em Portugués

  www.efdeportes.com/
http://www.efdeportes.com/ · FreeFind
   

revista digital · Año 5 · N° 23 | Buenos Aires, julio 2000  
© 1997-2000 Derechos reservados