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A inclusão das lutas nas aulas do ensino fundamental: 

a opinião dos profissionais de Educação Física

The inclusion of the struggles in the classroom of elementary school: the opinion of Physical Education professionals

La inclusión de las luchas en las clases de nivel primario: la opinión de los profesionales de Educación Física

 

*Graduando do curso de Educação Física do Centro Universitário Celso Lisboa, RJ

**Professora do Centro Universitário Celso Lisboa, RJ

Universidade Gama Filho, RJ

Laboratório de imaginário e Representação Social – LIRES – UGF/RJ

(Brasil)

Davidson Bruno Gonçalves de Souza Castro*

Lúcio Flávio Mattos de Oliveira*

Yara Lacerda**

davidson_castro@ymail.com

 

 

 

 

Resumo

          Atualmente, podemos observar que o conteúdo de Educação Física Escolar ainda é voltado para o esporte e isto parece ser um resquício da Educação Física competitivista, voltada para o desempenho físico e técnico desportivo do aluno. A pesquisa foi de natureza aplicada, de campo, qualitativa, descritiva e exploratória. A população envolvida foi composta por professores de Educação Física atuantes no segmento escolar, perfazendo uma amostra de 17 sujeitos. O instrumento de coleta de dados utilizado foi um questionário validado. Os resultados mostraram que 47% dos professores entrevistados afirmaram ter dificuldade para ministrar aulas de lutas, enquanto 53% conseguem. Levando em consideração o fato de que muitos se formaram antes da criação do documento que norteia as aulas de educação física, os parâmetros curriculares nacionais, tal fato nos remete a sugerir a leitura minuciosa e tê-lo como ferramenta para consulta. Também fica evidente o fato de não haver na fala dos entrevistados diferença entre os conceitos de luta e arte marcial, sendo com freqüência utilizado um no lugar do outro. O objetivo deste estudo é identificar a visão do profissional de Educação Física do Ensino Fundamental em relação à inserção das lutas no conteúdo trabalhado na aula.

          Unitermos: Lutas. Ensino fundamental. Opinião profissional.

 

Abstract

          Nowadays, we can observe that the content of Physical Education in Schools is still dedicated to sports and it seems to be the remnants of the Competitive Physical Education, oriented to the physical and technical performance of the student in sports. The research was of a studious, field, qualitative, descriptive and explanatory nature. The people involved were made of Physical Education teachers working in the school segment, with an average of 17 subjects. The data collection instrument used was a validated questionnaire. The results showed that 47% of teachers interviewed stated that they had difficulty teaching classes of struggles, while 53% of them did. Taking into consideration the fact that many have graduated before the creation of the document that guides the physical education classes, the national curricular parameters, such fact suggests a thorough reading and to have it as a tool for query. It is also evident the fact that, in the speech of the interviewees, there are not difference between the concepts of wrestle and martial art, those being often used in place of the other. The goal of this study is to identify the professional vision of the Physical Education on Elementary School towards the insertion of the wrestles in the contents worked in class.

          Keywords: Wrestles. Basic education. Professional opinion.

 

Resumen

          En la actualidad, podemos observar que el contenido de Educación Física Escolar todavía está orientado hacia el deporte y esto parece ser un resabio de la Educación Física competitivista, orientada hacia el rendimiento físico y técnico deportivo del alumno. Esta investigación fue de naturaleza aplicada, de campo, cualitativa, descriptiva y exploratoria. La población involucrada estuvo compuesta por profesores de Educación Física que intervienen en el ámbito escolar, totalizando una muestra de 17 sujetos. El instrumento de recolección de datos utilizado fue un cuestionario validado. Los resultados mostraron que el 47% de los profesores entrevistados afirmaron tener dificultad para dictar clases de luchas, mientras que el 53% consigue hacerlo. Teniendo en cuenta el hecho de que muchos se formaron antes de la creación del documento que orienta las clases de educación física, los parámetros curriculares nacionales, tal hecho nos remite a sugerir la lectura minuciosa y tenerlo como herramienta de consulta. También queda evidente el hecho de no se percibe en el discurso de los entrevistados la diferencia entre los conceptos de lucha y arte marcial, siendo frecuentemente utilizados como sinónimos. El objetivo de este estudio es identificar la visión del profesional de Educación Física del nivel primario en relación a la inclusión de las luchas en el contenido trabajado en clase.

          Palabras clave: Luchas. Nivel primario. Opinión profesional.

 

Recepção: 02/02/2016 - Aceitação: 07/06/2017

 

1ª Revisão: 14/05/2017 - 2ª Revisão: 01/06/2017

 

 
Lecturas: Educación Física y Deportes, Revista Digital. Buenos Aires - Año 22 - Nº 229 - Junio de 2017. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Atualmente, podemos observar que o conteúdo de Educação Física escolar ainda é voltado para o esporte, e isto se faz crer que seja um resquício da Educação Física Competitivista, a qual era voltada para o desempenho físico e técnico desportivo do aluno (Ghiraldelli, 2004). Mesmo assim, apenas alguns esportes são ensinados, como o futsal, handebol, basquetebol e voleibol. Assim podíamos dizer que o professor era um treinador e o aluno um atleta. Todavia, é sabido que materiais e estudos mostram as variedades de possibilidades que a Educação Física pode contribuir para a formação do aluno, de maneira a transcender o espaço escolar.

    O entendimento contemporâneo pode começar pelo estabelecido na Lei de Diretrizes e Bases (LDB) em seu artigo 2º:

    A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (Brasil, 1996).

    Em concomitância os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) propõem diferentes atividades corporais, com ênfase em uma atitude cooperativa e solidária, sem discriminações sociais, físicas, sexuais ou culturais por parte das escolas e dos educadores (Brasil, 1998). Um dos temas transversais proposto pelo documento supracitado é a Pluralidade Cultural, que valoriza as diferentes práticas corporais advindas das mais diversas manifestações culturais. Este documento destaca que “no Brasil, as danças, os esportes, as lutas, os jogos e as ginásticas, das mais variadas origens étnicas, sociais e regionais, compõem um vasto patrimônio cultural que deve ser valorizado, conhecido e desfrutado” (Brasil, 1998, p.39).

    O documento coloca ainda que um dos três blocos de conteúdos, que deverão ser desenvolvidos ao longo de todo o ensino fundamental, abarca as lutas como uma das possibilidades para enriquecer o planejamento do professor de Educação Física. Sabendo disto, é interessante abordarmos um pouco da história das lutas para entendermos suas contribuições em nossa cultura e suas possibilidades para nossa profissão.

    As lutas remontam toda a historicidade do Homem. “O advento da luta tradicional é um processo histórico universal e lógico. A luta apareceu paralelamente com a criação das primeiras sociedades” (Oliveira; Santos, 2006, s/p). Precisar a origem das lutas não é possível, pois muitos povos têm vestígios de artes primitivas para as guerras. Dos gregos podemos destacar o “pancrácio”, dos romanos as técnicas dos gladiadores, mas acredita-se que na Índia e na China, surgiram os primeiros indícios de formas organizadas de combate (Ferreira, 2006).

    Algumas Artes Marciais, do termo japonês buguei – guei: artes; bu: marcial, bélico (Zoughari, 2005) ganharam bastante força em nossa cultura, como é o caso das orientais (Judô, Karatê-dô, Tae Kwon do), e também a Capoeira, que é nosso patrimônio cultural imaterial. O judô Kodokan, mais conhecido como seu primeiro nome Judô, foi fundado por Jigoro Kano em 1882. Em 1911, foi introduzido no currículo das escolas do Japão e começou a ser difundido pelo país (Kano, 2008, p. 7). O Karatê-do foi introduzido no Japão em 1922 por Gichin Funakoshi, e propagou-se por todo o mundo (Lage; Gonçalves Junior; Nagamine, 2007). Ambas as Artes foram desenvolvidas com caráter educacional e com princípios e filosofias que despertaram o interesse dos sistemas de ensino do Japão. Assim, na pratica do karatê-do, Sasaki (1978) nos diz que a pratica do karatê nas escolas visa formar o caráter do homem. Ademais benefícios, segundo Funakoshi (1975, p.14) o karatê-dô não é apenas um esporte que ensina a bater e dar ponta pés; é também uma defesa contra a doença e as moléstias.

    Estas também foram introduzidas no Brasil com a chegada da migração japonesa na primeira metade do século XX, sendo o judô a primeira, por volta de 1915. O Tae Kwon Do é uma Arte coreana que foi criada em 1955 pelo segundo-tenente Choi Hong Hi. Chegou ao Brasil em 1970. É característica também desta Arte a filosofia voltada para a formação de um Homem mais controlado, crítico e pacífico. (Marta, 2000).

    A Capoeira pode ter sua origem em diversos movimentos de dança oriunda da África. A partir de 1930 mostram-se duas manifestações: Angola e Regional. A Capoeira de Angola era praticada pelos escravos e tem como características o jogo lento e baixo, os praticantes brincam, dançam e não utilizam a violência. Teve como principal personagem o mestre Pastinha. A Capoeira Regional foi criada em 1930 pelo mestre Bimba e tem como características a incorporação de golpes de outras lutas, movimentos rápidos tornando-a mais violenta (Neto et al., 2008).

    Os PCN definem lutas como “disputas em que o(s) oponente(s) deve(m) ser subjugado(s), com técnicas e estratégias de desequilíbrio, contusão, imobilização ou exclusão de um determinado espaço na combinação de ações de ataque e defesa” (Brasil, 1998, p. 70). Com esta definição podemos transcender as modalidades tradicionais e buscar outras formas de atividades que se encaixam nas características segundo os PCN, como: luta de braço; o cabo de guerra com corda e humano; mini-sumô (dentro do círculo na posição de canguru, o aluno deve tirar o outro e/ou fazê-lo tocar uma das partes do corpo no chão); luta de cócoras (os alunos de cócoras devem tentar fazer com que o outro coloque uma das partes do corpo no chão); a garrafa é minha (uma faixa de judô, ou outra modalidade, é amarrada nos tornozelos de dois alunos e estes devem tentar pegar a garrafa que se encontra em lados opostos); a bola é minha (dois alunos abraçam a mesma bola e tentam tirar do outro); pé com pé (dois alunos sentados no chão com os pés encostados, tentam fazer com que o outro toque com as costas ou as mãos no chão); e muitas outras que tenham as técnicas recreativas de empurrar, de puxar, de deslocar o parceiro do local.

    Há uma diferença entre lutas e Arte Marcial, “as lutas são práticas que possuem embates corporais. As Artes Marciais por sua vez, têm como significado método de guerra ou conjuntos de preceitos que um guerreiro deve ter e fazer uso” (Lourenço; Silva; Teixeira, 2006 s/p). Temos a impressão que esta filosofia incorporada nas Artes Marciais seja o grande motivo de sucesso em seus países de origem e, posteriormente, em outros países onde foram incorporadas. Vale destacar alguns pontos das filosofias das Artes Marciais orientais, como por exemplo, as atitudes de respeito; autocontrole; disciplina; formação do caráter do praticante; entre outros.

    Neste sentido, as lutas fazem parte da cultura corporal e representam um meio eficaz de educação e um conjunto de conteúdos altamente valiosos para serem trabalhados na Educação Física escolar, além de proporcionarem o trabalho corporal, a aquisição de valores e princípios essenciais para a formação do ser humano em um aspecto mais ampliado (Oliveira; Santos, 2006), incluindo sua dimensão subjetiva.

    Entendemos como competência da Educação Física assumir a tarefa de apresentar e/ou re-construir as relações dos alunos com os temas da cultura corporal de movimento, dando a oportunidade para que eles possam descobrir e questionar os diversos sentidos que possam orientar as vivências destas práticas (Kunz, 1994). Assim, a intervenção das relações professor-aluno deve exercer ao “ser humano a irrecusável prática de inteligir, desafiar o educando com quem se comunica e a quem comunica produzir sua compreensão do que vem sendo comunicado” (Freire, 1996, p.38) respeitando os saberes de experiência feitos do educando.

    Saberes de experiência feito entendido como conhecimento que os educandos trazem consigo, saberes socialmente construídos na prática comunitária. É necessário que os educadores não só respeitem esses saberes, mas que discuta com os educandos a razão de ser desses saberes em relação com o ensino dos conteúdos (Freire, 1996).

    Neste sentido, Ferreira (2006) indica as lutas como instrumento de auxílio pedagógico ao profissional de educação física, ressaltando o valor histórico-sócio-cultural para homem. Segundo o autor, o ser humano luta, desde a pré-história, pela sua sobrevivência. O mesmo autor também mostra a importância da Educação Física resgatar a Capoeira como parte da manifestação da cultura dos negros no período escravocrata, pois esta modalidade de luta envolve a dança, a música e um gestual carregado de historicidade (Ferreira, 2006).

    De modo geral, percebemos nos profissionais um desconhecimento dos PCN, falta de atualização ou reciclagem, uma vez que não utilizam as possibilidades variadas desse documento, conforme verificado por Ferreira (2006). A visão deturpada do que seja a luta, reforçando o mito de que a prática das lutas relacionada à violência e agressividade ainda é presente entre os profissionais de Educação Física (op. cit.). Se a falta de conhecimento específico for um dos obstáculos para o trabalho com lutas, Lourenço, Silva e Teixeira (2006) afirmam ser possíveis trabalhar vários elementos das lutas com o mínimo do conhecimento específico. Podemos acrescentar como já citamos anteriormente, que as lutas consistem em várias possibilidades, sobre tudo na Educação Física, podendo ser trabalhadas por qualquer profissional, sem que se tenha uma especialização em uma luta tradicional (judô, karatê, capoeira, etc.).

    Considerando as opiniões dos autores supracitados, as propostas dos PCN acerca das diferentes atividades corporais, a pluralidade cultural e, entendendo que as lutas fazem parte dos blocos de conteúdos propostos por este documento, o presente estudo volta-se para a opinião do profissional de Educação Física quanto á inclusão das lutas nas aulas do ensino fundamental.

    A ênfase deste trabalho recai sobre as lutas e/ ou artes marciais como um possível conteúdo a ser desenvolvido nas aulas de Educação física escolar, oferecendo mais possibilidades de debates, neste sentido, esperamos propor novas reflexões para a área acerca de princípios que possam ser incorporados ao projeto pedagógico da escola e ampliar as possibilidades de experiências para os educandos. Além de contribuir para uma nova visão das lutas nas escolas, no que diz respeito à quebra de paradigma de que as lutas contribuem para o aumento da violência entre os educandos e/ou que apenas profissionais especializados podem estar trabalhando com as lutas em âmbito escolar.

    Ruffoni e Motta (2005) indicam que um dos pontos relevantes na abordagem das reflexões pedagógicas seria “uma proposta de mudança de paradigma, de uma disciplina de lutas tradicional, ortodoxa, para uma atividade voltada para a cultura corporal do movimento”, reforçando nosso pensamento, pretensões com este estudo. Sendo assim, corroborando com o principio da diversidade, que busca legitimar diversas possibilidades de aprendizagem que se estabelecem com a consideração das dimensões afetivas, cognitivas, motoras e socioculturais dos alunos (Brasil, 1998, p. 19). O objetivo deste estudo é identificar a visão do profissional de Educação Física do Ensino Fundamental em relação à inserção das lutas no conteúdo trabalhado na aula.

Metodologia

    A pesquisa foi de natureza aplicada, abordagem qualitativa, o objetivo é de caráter descritivo, do tipo de pesquisa de levantamento de campo, na medida em que se pretendeu a interrogação direta dos professores, cujo comportamento e opinião pretendemos conhecer. Assim, buscamos entender e descrever as características da população e do fenômeno em questão (utilização das lutas), e gerar conhecimentos de aplicações práticas direcionados à solução deste problema específico, visando compreender a lógica sem, entretanto, desvalorizar a cultura e os processos históricos da população e instituições envolvidos no presente trabalho.

    Para tal, os sujeitos do estudo foram 17 professores de Educação Física que atuam no Ensino Fundamental. Interrogamos os professores participantes do estudo através de questionários composto por questões fechadas e abertas, validado. Os questionários foram respondidos mediante a assinatura do termo de consentimento, caracterizando a participação voluntária.

    As questões abertas possuem maior subjetividade e aprofundamento do fenômeno, permitindo, assim, uma conclusão mais ampla sem que se direcione as respostas com opções pré-determinadas. Os dados coletados foram analisados e interpretados com análise do conteúdo (Bardin, 1977).

Resultados

    A partir do objetivo que deu origem a este estudo, identificar a visão do profissional de Educação Física do Ensino Fundamental em relação à inserção das lutas no conteúdo trabalhado na aula, inúmeras observações foram feitas.

    Em relação às dificuldades houve equilíbrio dos que tiveram e os que não tiveram (Figura 1).

Figura 1. Dificuldades para ministrar aulas de Lutas

    O que nos chama a atenção é que suas justificativas apontam à falta de espaço e falta de formação adequada ou especializada como os principais empecilhos. Acreditamos que deva ser pelo tempo de formação dos professores, pois ainda acreditam ou entendem que lutas e artes marciais sejam a mesma coisa, o que vai de encontro às definições de Lourenço et al. (2006), que faz distinção entre ambas, já citada neste artigo. Acreditamos que falte atualizações através de cursos de extensão que abordem as lutas de forma prática para aplicação na escola.

    Sabemos por documentos recentes ou atualizados que não mais existe esta abrangência do termo lutas. As lutas são caracterizadas como “disputas em que o(s) oponente(s) deve(m) ser subjugado(s), com técnicas e estratégias de desequilíbrio, contusão, imobilização ou exclusão de um determinado espaço na combinação de ações de ataque e defesa” (Brasil, 1998, p. 70). Baseados nesta definição percebemos que não se precisa de espaço adequado ou formação especializada, uma vez que qualquer espaço e apenas com a graduação já se pode ter pelo menos noção de atividades básicas, como por exemplo cabo-de-guerra e luta de braço entre outras possibilidades já citadas neste artigo que se enquadram nas definições supracitadas pelo documento em questão.

    Os resultados mostram que a maior parte dos professores percebe nos alunos receptividade ao conteúdo das lutas (Figura 2).

Figura 2. Receptividade dos alunos para a aula de lutas

    Mais um reforço para que se pense efetivamente em incluir as lutas nos planos de aula, pois além das qualidades físicas e das potencialidades trabalhadas, pode-se ter satisfação por parte dos alunos em executarem os exercícios propostos, o que leva uma maior qualidade do trabalho.

    Quase todos os professores entendem que devem trabalhar os preceitos éticos, o que foi mais apontado é a questão de se trabalhar os valores como respeito e formação do caráter, assim como Oliveira e Santos (2006) trazem em seus estudos. Temos opiniões de professores, por exemplo: professor 1 “... reforçar e valorizar os atributos morais...” e professor 5 “...formação do caráter e respeito ao próximo...” Alguns professores em que percebemos o menor conhecimento, talvez devido ao pouco ou nenhum contato com as lutas no curso da vida, apresentaram a mesma opinião, no entanto de uma forma mais voltada para educação, sem apresentar termos supracitados que são característicos dos praticantes de lutas e artes marciais (Figura 3).

Figura 3. Importância de se trabalhar os preceitos éticos nas aulas de lutas

    Busca-se uma formação moral, mas o que se percebe em conjunto com as outras respostas, e dando uma visão ampla, é que estão entendendo como uma arte marcial e que vai gerar violência.

    Quando se trata dos conteúdos dos PCN, apenas 30 % dos professores responderam de forma adequada relacionando a resposta à concepção do PCN, indicando algum conhecimento sobre o tema. Apenas um professor não trabalha com o documento em questão. Dos que responderam dentro do questionado, os esportes ficaram em evidência. Percebemos que apesar de 65% dos professores participantes estarem estudando, não estão se atualizando conforme os PCN, o que reforça os achados de Ferreira (2006) quando diz que os profissionais desconhecem os PCN.

    É importante salientar que não há obrigação de se trabalhar com base neste documento, mas dada à importância do mesmo e visto que é um dos elementos para estudo nos concursos públicos do município e Estado, deve-se dar mais importância ao mesmo. A concepção dos profissionais em relação às lutas ainda é deturpada, palavras como: respeito, disciplina, limites, regras, controle da violência, reflexão da violência, opressão, vitória e derrota surgiram nas respostas. Estas palavras também apareceram em outras perguntas sobre como o professor percebe a inclusão das lutas no contexto escolar, como a contribuição das lutas para a formação do educando, se há mudanças no comportamento do educando e a possibilidade das lutas desenvolverem valores positivos. Como já foi dito ainda há vínculo à concepção das Artes Marciais. As lutas como conteúdos escolares podem estar sofrendo uma discriminação, pois professores qualificados por formação na Educação Física se julgam desqualificados a ministrarem aulas de lutas por não terem formações específicas em uma determinada Arte Marcial.

    Professor 1 “...A luta tem muitas possibilidades, mas vai depender do professor Trabalhá-las para o bem ou não ...” professor 2 “...Excelente, dependendo dos profissionais. Não se prender aos conteúdos técnicos...” professor 4 “... Depende da orientação do professor. As lutas desenvolve positivamente ...”

    Professores disseram ter preocupação com a segurança dos alunos em relação às práticas de alguns movimentos e com a violência que se pode gerar, fato que Ferreira (2006) já havia encontrado e qualificado como visão deturpada. Foi também respondido que dependia de qualificação específica e da atuação do profissional para que não haja uma promoção da violência.

Discussão

    De acordo com os dados analisados, os professores entrevistados em sua maioria, ainda não sabem como inserir as lutas no contexto escolar e não tem plena ciência dos PCN. Levando em consideração o fato de que muitos professores se formaram antes da criação do documento, tal fato nos remete a sugerir a leitura minuciosa e tê-lo como ferramenta para consulta. Pois entendemos ser este documento importante para justificar a importância das aulas educação física devido a gama de manifestações culturais que contribuem para formação biopsicosocial discente.

    Foi identificado que os alunos são bem receptivos ao conteúdo, fato que fortalece a idéia de que se podem tirar muitos benefícios para o educando, uma vez que ele está disposto a realizar a atividade. Ressaltamos mais uma vez que o professor precisa aproveitar as experiências culturais de expressão corporal de cada aluno e de cada comunidade adjacente ao local da escola. A vivência proposta por eles traz autonomia e assim o aluno é percebido como ser cultural que vai se beneficiar através da transversalidade, da sua motricidade.

    Compreendendo o tamanho da importância do tema e sabendo que a nossa amostra ainda é pequena para uma conclusão mais abrangente, sugerimos novos estudos nesta perspectiva, além de cursos de atualização, para que os profissionais de Educação Física possam ter mais conhecimento e empoderamento no conteúdo de lutas.

Conclusão

    Lutas e artes marciais ou apenas uma destas, podem ser incluídas no conteúdo de educação física escolar, conforme experiência que o professor tenha a oferecer. O que foi marcante e relevante é a confirmação de que não se precisa de muito espaço, materiais ou conhecimento específico para que haja inclusão das lutas. Fato que pode encorajar muitos profissionais que estão atuando em escolas públicas, sem recursos, podendo, assim, enriquecer seus conteúdos, dando mais opções de vivências corporais aos seus alunos. Também fica evidente o fato de não haver na fala dos entrevistados diferença entre os conceitos de luta e arte marcial, sendo com frequência utilizado um no lugar do outro.

Bibliografia

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 22 · N° 229 | Buenos Aires, Junio de 2017  
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