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Estudo sobre ambiente, atividade física e alterações cronobiológicas em idosos

Study on environmental, physical activity and changes in the elderly chronobiological

Estudio sobre medio ambiente, actividad física y cambios cronobiológicos en personas mayores

 

*Orientadora, Professora Doutora da UniCesumar

**Acadêmica do curso de Bacharelado em Educação Física da UniCesumar

***Professora Doutora da UniCesumar

Centro Universitário de Maringá, UniCesumar, Maringá-PR

(Brasil)

Márcia Aparecida Andreazzi*

Tatiane Cristina Veronezzi**

Rosa Maria Ribeiro***

marcia.andreazzi@unicesumar.edu.br

 

 

 

 

Resumo

          O ritmo de nossas atividades diárias depende de mecanismos auto-reguladores endógenos ou relógios biológicos, que podem ser influenciados por fatores como ambiente e idade. Os relógios biológicos produzem oscilações regulares que servem como mecanismos temporizadores do nosso organismo. Contudo, o processo de envelhecimento provoca modificações sociais, familiares, biológicas e perda do relógio biológico, fato que compromete diretamente a arquitetura do sono dos idosos. O sistema circadiano, como outros sistemas psicofisiológicos, apresenta mudanças com o aumento da idade, como redução da amplitude e diminuição dos períodos de sono, afetando a qualidade do sono. Vários trabalhos têm demonstrado que a realização de atividades físicas pode auxiliar a duração e a profundidade do sono em idosos e assim, melhorar sua qualidade de vida. Esta revisão teve como objetivo estudar os benefícios da atividade física sobre as alterações cronobiológicas em idosos.

          Unitermos: Ambiente. Envelhecimento. Exercícios físicos. Ritmos biológicos. Sono.

 

Abstract

          The operating rate of our daily activities depends on endogenous self-regulatory mechanisms and biological clocks, which may be influenced by factors such as age and environment. The biological clocks produce regular oscillations which serve as timers mechanisms of our body. However, the aging process causes social, family and biological changes; also, loss of the biological clock, which committed directly sleep architecture of the elderly. The circadian system, like other psychophysiological systems, presents changes with increasing age, such as reduction of the amplitude and decrease of sleep periods, affecting the quality of the sleep. Several studies have shown that physical activities can help the duration and the depth of sleep in the elderly and thus improve their quality of life. This review aimed to study the benefits of physical activity on the chrono biological changes in the elderly.

          Keywords: Aging. Biological rhythms. Environment. Physical exercises. Sleep.

 

Resumen

          El ritmo de nuestras actividades diarias depende de los mecanismos autorreguladores endógenos o relojes biológicos, que pueden ser influenciadas por factores como el medio ambiente y la edad. Los relojes biológicos producen fluctuaciones periódicas que sirven como mecanismos temporizadores de nuestro cuerpo. Sin embargo, el proceso de envejecimiento produce cambios sociales, familiares, biológicos y la pérdida de reloj biológico, un hecho que afecta directamente a la arquitectura del sueño de las personas mayores. El sistema circadiano, como otros sistemas psicofisiológicos, presenta cambios con la edad, como la amplitud reducida y la reducción de los períodos de sueño, que afectan la calidad del sueño. Varios estudios han demostrado que la actividad física puede ayudar a la duración y la profundidad del sueño en las personas mayores y así mejorar su calidad de vida. Esta revisión tiene como objetivo estudiar los beneficios de la actividad física sobre los cambios cronobiológicos en las personas mayores.

          Palabras clave: Medio ambiente. Envejecimiento. Ejercicios físicos. Ritmos biológicos. Sueño.

 

          Trabalho de conclusão de curso (TCC) no curso de Bacharelado em Educação Física da UniCesumar, Maringá, PR.

 

Recepção: 27/01/2016 - Aceitação: 22/03/2017

 

1ª Revisão: 01/03/2017 - 2ª Revisão: 17/03/2017

 

 
Lecturas: Educación Física y Deportes, Revista Digital. Buenos Aires, Año 21, Nº 226, Marzo de 2017. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A cronobiologia é a ciência que investiga as características temporais dos organismos vivos. Ela inclui o estado dos ritmos biológicos caracterizados pela recorrência, em intervalos regulares, de eventos bioquímicos, fisiológicos e comportamentais. Os ritmos biológicos representam a expressão dos organismos a um meio ambiente regularmente variável e os “relógios biológicos” são os produtos desse processo adaptativo de anos e que se encontram incorporados ao patrimônio genético das espécies (Marques e Menna-Barreto, 2003).

    Os ritmos cronobiológicos influenciam os fatores fisiológicos e as habilidades motoras. Dentre os fatores fisiológicos afetados estão a força, a energia e a resistência e entre as habilidades motoras estão a coordenação e o tempo de reação. Em adição a estes fatores físicos, um ciclo baixo em seu ritmo cronobiológico pode ter efeito indesejado resultando em baixos níveis de concentração, foco, movimentação, força mental e resistência à dor (Borges e Stabille, 2003).

    O ciclo vigília-sono é um ritmo biológico sincronizado por eventos temporais. A natureza endógena dos ritmos biológicos aponta para a existência de estruturas que são capazes de propiciar ao organismo esta ritmicidade, são os chamados relógios biológicos ou osciladores endógenos (Costa, 1997).

    Os relógios que orientam nossos ritmos são endógenos e autônomos e estão sincronizados com os “relógios exógenos” do ambiente (Moore-Ede et al, 1988). Com o desenvolvimento da cronobiologia, foi demonstrado que existem diferenças entre os indivíduos com relação à alocação, nas 24 horas do dia, do ciclo sono-vigília, existindo indivíduos com características cronobiológicas ou cronotipos distintos como os matutinos, os vespertinos e os intermediários (Horne e Ostberg, 1976).

    Estes ritmos diários ou ritmos circadianos são influenciados por vários mecanismos, dentre eles destacam-se as alterações hormonais, o ciclo sono-vigília e exercício físico (Atkinson e Reilly, 1996).

    O processo de envelhecimento é acompanhado por modificações sociais, familiares, biológicas e estas mudanças atingem a arquitetura do sono, tanto a qualidade de sono, quanto os ritmos biológicos (Myers e Badia, 1995). O envelhecimento normal leva à perda do relógio biológico, porém vários trabalhos têm demonstrado que a atividade física pode melhorar a duração e a profundidade do sono (Weinert, 2000).

    O objetivo desta revisão foi evidenciar as alterações cronobiológicas ocorrentes naturalmente nos idosos, que afetam a qualidade do sono, e destacar a contribuição da atividade física neste processo.

Desenvolvimento

Ritmo e Relógio Biológico

    Os ritmos biológicos se referem às mudanças cíclicas que se repetem em um determinado tempo e estão relacionadas às alterações dos processos fisiológicos. Os ritmos diários são conhecidos como ritmos circadianos. Várias funções orgânicas exibem ritmicidade circadiana, com valores máximos e mínimos ocorrendo em horários diferentes ao longo do dia. Esses ritmos diários são influenciados pelo exercício físico, alterações hormonais e o ciclo sono-vigília (Atkinson e Reilly, 1996).

    O ritmo de funcionamento de nossas atividades diárias dependem de mecanismos auto-reguladores endógenos, chamadas de osciladores endógenos, marcapassos ou relógios biológicos (Aires, 2012).

    Os relógios biológicos produzem oscilações regulares que servem como mecanismos temporizadores dos organismos (Marques e Menna Barreto, 2003). O sincronizador mais importante para o relógio biológico é a variação de iluminação do ciclo claro e escuro, sendo que a relação ocorre através do eixo retino hipotalâmico (Chiesa e Golombeck, 1999).

    O funcionamento dos relógios biológicos é determinado geneticamente, apresentando variações individuais de acordo com picos de atividade bioquímica. Baseado nessas características biológicas e, consequentemente, de acordo com as preferências individuais para horários de sono e vigília, as pessoas são classificadas quanto ao seu cronotipo em matutinas, vespertinas ou intermediárias (Regis Filho, 1998).

    Segundo Horne e Ostberg (1976), os indivíduos matutinos, cerca de 10 a 12% da população geral, acordam naturalmente bem cedo, entre às 5h00 e 7h00, em perfeitas condições para o trabalho e com um nível de alerta excelente; as pessoas vespertinas, cerca de 8 a 10% da população, tendem a acordar naturalmente por volta de 12h00 às 14h00 e preferem dormir por volta das 2h00 às 3h00; para esse indivíduos, o melhor desempenho no trabalho ocorre à tarde ou à noite. Para os indivíduos intermediários, representados pela maioria da população, é indiferente levantar-se mais cedo ou mais tarde.

    Almondes e Araújo (2003) reportaram que o relógio biológico é influenciado por fatores endógenos e exógenos. Os fatores endógenos incluem os hormônios como adrenalina, melatonina e cortisol, que promovem condições para o organismo executar suas tarefas básicas como alimentação, locomoção e repouso e os fatores exógenos ou externos são habitação, estado civil, compromissos domésticos e sociais, ocupação laboral, dentre outros.

    Alguns hormônios e neurotransmissores têm sua secreção vinculada ao ciclo vigília-sono, facilitando o estado de vigília ou o estado de sono. Nas primeiras horas da manhã, há aumento da secreção do hormônio tireoideano, de cortisol e de insulina, que são facilitadores da vigília, seja por aumento da taxa metabólica para a iniciação das atividades do dia, ou indiretamente pelo aumento da glicemia e da utilização de glicose pelas células (Aires, 2012).

    O ciclo circadiano é o ritmo de distribuição de atividades biológicas cíclicas de aproximadamente 24 horas, assim como ocorre com o ciclo sono-vigília. Esse ritmo é controlado pelo sistema nervoso central e sofre a influência de fatores ambientais, como a luz e a temperatura e os fatores sociais (Bianchin, 2000).

    A luz muda a fase do relógio circadiano por inúmeros acontecimentos no interior das células do núcleo supraquiasmático. A informação da claridade/escuridão é transmitida pelo trato retino-hipotalâmico, da retina, para o núcleo supraquiasmático e para o corpo pineal, que regula a secreção de melatonina (Weinert, 2000).

    A melatonina é um hormônio produzido pelo corpo pineal e a sua secreção está relacionada ao ciclo claro e escuro. Seu papel fundamental é regularizar o estado de sono e vigília dos processos fisiológicos, a partir do controle do relógio biológico (Koller e Turek, 2001). Esse hormônio influencia o ritmo de vários processos fisiológicos, contudo sua maior concentração acontece durante a infância, diminuindo rapidamente antes da puberdade, com importante papel durante o ciclo da vida, no crescimento, amadurecimento e envelhecimento (Macchi, 2004).

Alterações no padrão do sono em idosos

    O envelhecimento é um fenômeno fisiológico de comportamento social ou cronológico, resultando em perdas de capacidades. Segundo Brito e Litvoc (2004), é processo dinâmico, progressivo e irreversível, ligado intimamente a fatores biológicos, psíquicos e sociais.

    O termo envelhecimento refere-se a um conjunto de processos, como deteriorização da homeostase e diminuição da capacidade de reparação biológica, que ocorrem em organismos vivos, e com o passar do tempo leva à deficiência funcional e perda de adaptabilidade (Silva et al, 2006).

    O processo de envelhecimento é acompanhado por modificações sociais, familiares, biológicas e inclusive, na qualidade do sono. O sistema circadiano, como outros sistemas psicofisiológicos, apresenta mudanças com o aumento da idade, como redução da amplitude e diminuição dos períodos de sono, afetando a qualidade do sono (Myers e Badia, 1995). Geib et al (2003) afirmou que o processo de envelhecimento, normal ou usual, provoca alterações na quantidade e qualidade do sono, afetando mais da metade dos adultos acima de 65 anos de idade.

    De acordo com Shephard (2003) o envelhecimento leva às alterações subjetivas e objetivas nos padrões de sono. Pessoas idosas passam menos tempo adormecidas e normalmente têm o sono mais leve do que uma pessoa jovem. Machado et al (2008) relataram que para os idosos, o período de latência é maior, o sono é mais superficial, sem estágios profundos, e ocorrem mais despertares durante a noite.

    Koller e Turek (2001) afirmaram que as mudanças no ciclo sono-vigília que ocorrem em idosos são decorrentes da perda da qualidade da transmissão de informação ótica pela retina ou nível do marcador central, diminuindo a resposta à informação. Desta forma, o envelhecimento normal causa uma perda no relógio biológico, resultando em aumento da fragmentação do sono e da frequência de cochilos diurnos, mudanças na fase do sono, maior fadiga diurna e alteração dos sincronizadores sociais.

    O estado do sono apresenta de quatro a cinco estágios, cada um deles é constituído por dois grandes tipos de sono, o sono de ondas lentas ou sincronizadas ou não REM, e o sono dessincronizado ou sono REM, que é o mais profundo (Douglas, 2002). Segundo o autor, ao longo da vida o tempo de sono REM diminui, gerando insônia persistente ou até mesmo crônica.

Benefícios da atividade física para o sono dos idosos

    De acordo com Shephard (2003) a qualidade do sono dos idosos pode ser melhorada com o aumento do esforço físico e mental durante o dia.

    Weinert (2000) relatou que os distúrbios relacionados ao sono na velhice, podem estar relacionados à diminuição de atividade física e da exposição à luz solar. O autor afirmou que a realização de atividade física melhora a duração e a profundidade do sono, porém os exercícios devem ser adequados à saúde do idoso e devem ser realizados horas antes de dormir.

    De fato, Bianchin et al (2000) afirmou que para os idosos saudáveis, a prática de atividade física regular tem se mostrado benéfica nos problemas de sono relacionados com o distúrbio no ritmo circadiano. Como atividade física compreendem-se também, atividades como andar, subir escadas, pedalar e dançar que, notoriamente, trazem benefícios para a saúde e bem estar do idoso.

    De acordo com Driver e Taylor (2002), o exercício físico pode promover a melhoria do padrão do sono, baseado em três hipóteses: a primeira é conhecida como termorregulatória, pois o aumento da temperatura corporal, como consequência do exercício físico, facilita o disparo do início do sono, com a ativação dos mecanismos de dissipação do calor e de indução do sono, controlados pelo hipotálamo. A segunda é conhecida como conservação de energia, pois o aumento do gasto energético, promovido pelo exercício durante a vigília, aumenta a necessidade de sono para alcançar um balanço energético positivo, restabelecendo uma condição adequada para um novo ciclo de vigília. A terceira é conhecida como restauradora ou compensatória, onde a alta atividade catabólica durante a vigília reduz as reservas energéticas, aumentando a necessidade de sono e favorecendo a atividade anabólica.

    O exercício físico durante a vigília propicia um sono mais profundo e restaurador fisicamente. De fato, Horne e Moore (1985) afirmaram que o exercício físico e o sono de boa qualidade são fundamentais para qualidade de vida e recuperação física e mental do ser humano. O sono tem um papel de compensar as energias perdidas durante a vigília; portanto, quanto maior o nível de atividade durante a vigília, maior é a profundidade e duração do sono (Barbosa et al, 2008).

    Segundo Nahas (2001), a prática regular de exercícios físicos pelos idosos promove uma melhora fisiológica, psicológica e social, além da redução ou prevenção de algumas doenças. Boscolo et al (2007) afirmaram que o exercício físico regular contribui para a melhoria da qualidade de vida e da qualidade e da eficiência do sono.

    Pereira et al (2009) concluíram que se os idosos praticarem algum tipo de atividade física, podem melhorar a qualidade do seu sono.

    A intensidade e o volume do exercício físico são importantes na definição da melhor resposta na qualidade do sono. Quando a sobrecarga do exercício é alta, ocorre uma influência negativa sobre a qualidade do sono (Martins et al, 2001). Sendo assim, ressalta-se que, apesar do consenso sobre a relação positiva entre a realização de atividades físicas e melhora na qualidade do sono dos idosos, a escolha dos exercícios deve ser adequada à sua saúde e capacidade (Weinert, 2000).

    Jacob Filho (2006) sugere um programa equilibrado com exercícios aeróbios de baixo impacto, exercícios de fortalecimento muscular e exercícios de equilíbrio e coordenação. Estudo realizado por Guimarães et al (2007), evidenciou que a realização de atividades simples, como a caminhada, melhorou o comportamento do sono de idosas sedentárias, com idade mínima de 60 anos.

    Além da prática de atividades físicas, a exposição à luminosidade também contribui para a regularização do ritmo circadiano. Nessa exposição, há liberação da melatonina, que ajusta a temperatura central do corpo e a consolidação do sono. Conforme comentado anteriormente, o ciclo claro e escuro é o mais importante fator ambiental sincronizador dos ritmos biológicos.

Conclusões

    O processo de envelhecimento promove mudanças nos ritmos biológicos e circadianos, alterando o padrão e a qualidade do sono. Pessoas idosas têm o sono mais leve e fragmentado, o que muitas vezes, afeta sua qualidade de vida.

    Vários trabalhos tem demonstrado o efeito benéfico da prática de atividades físicas a fim de regular o sono. O exercício físico bem direcionado e eficiente melhora, além da capacidade física do idoso, seu padrão de sono.

Bibliografia

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 21 · N° 226 | Buenos Aires, Marzo de 2017
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