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A Capoeira na escola e a Lei 10.639: um relato de experiência

Capoeira in the school and the Law 10.639: an experience report

La Capoeira en la escuela y la Ley 10.639: un relato de experiencia

 

Licenciatura em Educação Física

Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC)

Especialização em Psicomotricidade

Pontifícia Universidade Católica (PUCRS)

Mestranda em Educação pela UNISC

Rita de Cassia Quadros da Rosa

ritaquadrosdarosa@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          A lei federal 10.639/03, que altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB - Lei 9.394/96), torna obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e africana nas instituições de ensino. Em face das demandas que emergem da implementação desta lei, na perspectiva de um currículo intercultural a capoeira surge como possibilidade. O presente trabalho tem por finalidade, descrever uma experiência pedagógica com o ensino da capoeira como elemento de incentivo à valorização da história e cultura afro-brasileira e africana, em uma escola do município de Lajeado – RS - Brasil. O projeto foi desenvolvido durante os meses de abril a dezembro, com a frequência de uma vez por semana. Participaram meninos e meninas com idade entre 8 e 11 anos, os quais puderam vivenciar a Capoeira em seus elementos históricos, filosóficos, ritualísticos, atléticos, de expressão corporal e musical. Ao término do ano letivo foi proposto aos alunos que elaborassem um pequeno texto sobre sua experiência no projeto. Os resultados foram observados ao longo da realização das atividades, no ambiente de respeito e valorização das diferenças cultivado pelo grupo durante os encontros. Por meio do depoimento de familiares, percebeu-se melhora nos aspectos relacionados à autoestima, autoconfiança e senso de responsabilidade dos participantes. Os textos produzidos pelos alunos, refletiram o quanto os ensinamentos contidos nesta manifestação cultural afro-brasileira, tão distante de seu cotidiano até então, haviam auxiliado a superar suas dificuldades pessoais.

          Unitermos: Lei 10.639/03. Interculturalidade. Capoeira. Educação.

 

Abstract

          In Brazil, a federal law mandating the study of history and african-Brazilian and African culture in educational institutions, it's in effect from the year 2003. Given the demands that emerge from the implementation of this law, in the context of an intercultural curriculum, capoeira emerges as a possibility. This study aims to describe a pedagogical experience with capoeira teaching, as part of encouraging appreciation of history and african-Brazilian and African culture in a school of Lajeado - RS, Brazil. The project was developed during the months from April to December, with the frequency of once a week. Participated boys and girls aged 8 to 11 years, that could experience Capoeira in its historical elements, philosophical, ritualistic, athletic, body expression and music. At the end of the school year was proposed to students to draw up a short essay on their experience in the project. The results were observed during the conduct of activities, in the environment of respect and appreciation of differences cultivated by the group during the classes. Through the testimony of family members, it was perceived improvement in aspects related to self-esteem, self-confidence and sense of responsibility of the participants. The texts produced by students, had reflected how the teachings contained in this african-Brazilian cultural manifestation, had helped to overcome their personal difficulties, and promote a respect for diversity.

          Keywords: Interculturalism. Capoeira. Education. Law 10.639/03.

 

Resumen

          La Ley Federal 10.639/03, que modifica la Ley de Directrices y Bases de la Educación Nacional (LDB - Ley 9.394/96), ordena el estudio de la historia y la cultura afrobrasileña y africana en las instituciones educativas. Dadas las demandas que surgen de la aplicación de esta Ley, emerge como una posibilidad en el contexto de un plan de estudios de la capoeira intercultural. Este estudio tiene como objetivo describir una experiencia pedagógica con la capoeira como parte del fomento de valoración de la historia y la cultura afrobrasileña y africana en una escuela de Lajeado – RS, Brasil. El proyecto fue desarrollado durante los meses de abril a diciembre, con una frecuencia de una vez por semana. Niños y niñas de edades comprendidas participado 8 a 11 años, pudieron experimentar la Capoeira en sus elementos históricos, de expresión corporal, filosóficos, rituales, deportivos y musicales. Se observaron los resultados durante la realización de actividades en el contexto del respeto y valoración de las diferencias cultivadas por el grupo durante las reuniones. A través del testimonio de los miembros de la familia, se percibió una mejora en aspectos relacionados con la autoestima, la confianza en uno mismo y sentido de la responsabilidad de los participantes. En los textos producidos por los alumnos se refleja cómo las enseñanzas contenidas en este evento cultural africano-brasileño, tan lejos de su vida cotidiana hasta entonces, ha ayudado a superar sus dificultades personales.

          Palabras clave: Ley 10.639/03. Interculturalidad. Capoeira. Educación.

 

Recepção: 15/06/2016 - Aceitação: 04/11/2016

 

1ª Revisão: 22/10/2016 - 2ª Revisão: 01/11/2016

 

 
Lecturas: Educación Física y Deportes, Revista Digital. Buenos Aires, Año 21, Nº 222, Noviembre de 2016. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A história brasileira, desde o chamado “descobrimento”, acumula séculos de desigualdades raciais. Tais desigualdades que afetaram indígenas, negros e pardos, materializaram-se inicialmente pelo genocídio literal e cultural dos povos indígenas e pelo trabalho escravo dos povos africanos. Com respeito aos brasileiros negros e pardos, especificamente, após a abolição da escravidão, a dificuldade de inserção no mundo do trabalho e outros impedimentos legais, como a impossibilidade da aquisição de terras e de acesso à escolarização, contribuíram para manter esta parcela da população à margem da sociedade (Silva, 2007).

    Atualmente a constituição federal não faz distinção entre pessoas de diferentes origens étnicas e assegura a toda a população, igualdade de direito. No entanto, distorções podem ser observadas ao compararmos por exemplo, a presença de pessoas brancas, pardas e pretas nas universidades. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (Brasil, 2010), 50,7% da população brasileira se declara preta ou parda, porém, sua presença nas universidades é de apenas 26,2%, contrastando com a grande maioria branca. Além disso, a herança do discurso escravista e das políticas de branqueamento da população, ainda hoje favorecem concepções de inferioridade étnica e de racismo em nossa sociedade, muito embora, na maioria das vezes de forma velada (Rodrigues, 2010).

    Em meio a discussões sobre esta realidade, surge a necessidade da implantação das chamadas medidas “afirmativas”, que tem por objetivo reduzir tais desigualdades. Destaca-se entre estas medidas, a política de cotas para afro descendentes nas universidades públicas, e a reforma curricular por meio da lei federal 10.639/03, que altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB - Lei 9.394/96), tornando obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana nas instituições de ensino públicas e privadas. Mais tarde incluiu-se também a história e cultura dos povos indígenas, através da emenda 11.645/08.

    No que diz respeito à reforma curricular e à inclusão do estudo da cultura e história africana e afro-brasileira, especificamente, algumas barreiras para sua real implantação têm sido observadas. Um estudo sobre práticas pedagógicas de trabalho com relações étnico-raciais, verificou que o mito da democracia racial, o desinteresse dos educadores por questões de ordem política e social, o preconceito com as religiões de matizes africanas e o conhecimento por vezes superficial dos educadores sobre o tema, são as principais dificuldades para a efetivação da lei, no ambiente escolar (Gomes e Jesus, 2013).

    Em face das demandas que emergem da implementação desta lei, na perspectiva de um currículo intercultural, e buscando aproximação com a Educação Física escolar, o ensino da capoeira surge como possibilidade. Ressalta-se que a opção pela aproximação com a disciplina de Educação Física, se dá por conta de seu potencial educativo e não por sugestão das referidas leis, as quais recomendam equivocadamente (Rodrigues, 2010), apenas as disciplinas de artes, história e literatura, como responsáveis pelo ensino destes conteúdos, conforme trecho: “em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História Brasileiras” (Art. 26-A da lei 10.639/03).

    A Capoeira, criada por africanos e descendentes de africanos no Brasil, como forma de resistência, de autodefesa e de divertimento, atravessou décadas de mudanças sociais e políticas (Soares, 2001; Moreira; Moreira, 2007). De um passado marginal, como pratica ilegal, realizada em guetos e terreiros de candomblé, tornou-se “esporte” nacional. Acompanhou as transformações da sociedade e transformou-se com ela. Em virtude destas mudanças, há estudiosos que afirmem que a Capoeira se distanciou de suas raízes; contraditoriamente, há os que justifiquem ser esta capacidade de adaptação, sua grande riqueza. Atualmente a Capoeira existe sob duas formas distintas, chamadas “Capoeira Regional” e “Capoeira Angola”, que se diferenciam quanto a alguns aspectos práticos e filosóficos, mas mantém em comum muitos destes. Angola ou Regional, a Capoeira se faz presente atualmente em centenas de países, e é considerada representante genuína da cultura afro-brasileira.

    O município de Lajeado está localizado na região central do estado do Rio Grande do Sul, no Vale do Taquarí, região marcada pela forte presença da colonização italiana e alemã. Segundo o IBGE (Brasil, IBGE, 2010), no último censo demográfico, a população do município era de 71.481 habitantes, sendo que destes, 8.062 (11,3%) se declararam pardos ou pretos.

    O presente trabalho tem por objetivo, descrever uma experiência pedagógica com o ensino da capoeira como elemento de incentivo à valorização da história e cultura afro-brasileira e africana, em uma escola do município de Lajeado – RS. Além de contemplar a lei 10.639 as aulas de Capoeira foram propostas pelo desejo de proporcionar um espaço de integração entre os alunos, através da pratica de atividades corporais.

Metodologia

    A escola onde foi realizado o trabalho está localizada a aproximadamente oito quilômetros do centro comercial do município de Lajeado - RS. Integra a rede municipal de ensino, recebendo alunos de pré-escola à nono ano das séries finais do ensino fundamental, num total de 230 escolares.

    Alunos das turmas de terceiro, quarto e quinto ano, com idades variando entre 8 e 11 anos, foram convidados a participar.

    O projeto foi desenvolvido durante os meses de abril a dezembro de 2014. As aulas foram realizadas uma vez por semana, com duração de 1 (uma) hora e 30 (trinta) minutos, no turno inverso às atividades escolares regulares. Ao longo do período, os participantes, num total de 19, puderam vivenciar a Capoeira em seus elementos históricos, filosóficos, ritualísticos, atléticos, de expressão corporal e musical.

    Após o término de cada encontro foram feitos registros das impressões e situações consideradas relevantes, bem como de contatos com familiares. No final do ano letivo foi proposto aos alunos que elaborassem um pequeno texto sobre sua experiência com a Capoeira.

    Para interpretar o significado dado pelos alunos, à participação no projeto de Capoeira, utilizou-se a análise de conteúdo, segundo a qual, a produção textual dos alunos foi interpretada e organizada em cinco categorias (Bardin, 2002). A partir desta análise juntamente com as impressões registradas em diário de campo, ao longo do ano, foi possível observar em que medida os objetivos do trabalho foram ou não contemplados.

    A fim de manter em sigilo a identidade dos participantes, foram utilizadas letras do alfabeto como identificação fictícia.

Apresentação dos resultados

Sensação de superação de dificuldades relacionadas à dimensão afetiva

    Segundo as produções dos alunos, a melhora ou a transposição de obstáculos de caráter afetivo foi o impacto mais significativo de sua participação no projeto de Capoeira. Os aspectos mencionados foram, o senso de responsabilidade, a sensação de auto realização, a coragem e a percepção de ter mais calma e mais tranquilidade no dia a dia. Estas falas vão ao encontro do que afirma Santos (Santos, 1990), sobre os benefícios de caráter afetivo, como uma das principais justificativas para a inserção da Capoeira no currículo escolar. No trecho abaixo, observa-se a relação entre prática da Capoeira e superação da timidez.

    Minha vida mudou quando entrei na capoeira (...) ganhei mais habilidade com o corpo, sou amigo do chão, eu era tímido, agora não. (Aluno “A”)

    Um dos elementos marcantes na pratica da Capoeira é sua organização em círculo, ou seja, em roda. A roda de Capoeira é o momento em que os capoeiristas, em dupla, expõem suas habilidades e inabilidades para os demais que observam atentamente. É possível que o confronto sistemático com esta situação tenha contribuído na superação desta dificuldade. Alia-se a isto, também a melhora no controle corporal e consequentemente na melhora da confiança em suas próprias capacidades.

Aspectos relacionados à convivência e pertencimento a um grupo

    Nesta categoria, elementos relacionados à melhora na convivência foram observados em alguns textos. Chamamos a atenção para o trecho abaixo:

    Antes da Capoeira eu brigava muito, batia nos colegas e não respeitava as professoras. Depois de alguns meses mudei de atitude. Estou mais feliz, amigo e não brigo mais. (aluno “H”)

    O aluno “H” vinha sendo acompanhado por um psicólogo do município após encaminhamento escolar, em razão de inúmeros registros de ocorrência, por agressão à colegas. O aluno começou a frequentar o projeto de Capoeira no mês de maio. Entre os meses de junho e dezembro, nenhuma ocorrência foi registrada. No final do ano letivo, o psicólogo encarregado de atender o aluno “H”, entrou em contato com a escola para reafirmar a participação no projeto de Capoeira, como um marco na superação de suas dificuldades de convivência (o conteúdo deste contato foi registrado em diário de campo do dia 13 de novembro de 2014).

    A Capoeira, que possui aspectos de luta e de dança, pode ser mais facilmente definida como uma manifestação cultural. Embora possua movimentos de ataque e de defesa, originados e acompanhados pela ginga, não se usa dizer que capoeiristas lutam entre si, mas que “jogam” um com o outro. O jogar com o outro, é uma das representações simbólicas mais importantes da Capoeira. O outro, como elemento indispensável, precisa ser respeitado. No início e no final de cada “jogo”, o cumprimento em forma de aperto de mãos, reafirma o respeito entre os capoeiristas.

    A sensação de pertencimento ao grupo, foi relatada em algumas produções, a exemplo do que foi observado entre os alunos de um projeto de Capoeira similar, desenvolvido no município de Rio Claro – SP (Sabino; Benites, 2010). A valorização do conhecimento dos mais velhos, na figura do Mestre e da professora também foram mencionados, como se pode perceber no trecho abaixo:

Nossa roda é uma família,

nós não lutamos e sim fazemos folia.

Por nossa professora temos respeito,

ela nos ensina o que é direito. (Aluno “B”)

Percepção inicial da Capoeira como prática alheia à sua cultura

    A Capoeira como manifestação da cultura afro-brasileira, em um município marcado pela influência da colonização alemã e italiana, causou estranheza inicial a alguns alunos, como se pode observar abaixo:

    Quando comecei a lutar capoeira achei estranho, só que com o passar dos dias achei muito legal, divertido e muito bacana. (aluno “E”)

    A impressão de complexidade da prática, pode também estar associada com a não familiaridade dos alunos com os elementos desta cultura. Tomamos como exemplo fazer “embaixadinhas” com a bola, gesto dominado pela maioria das crianças. Para realiza-lo é necessário grande controle do corpo e do objeto. Já realizar um giro elevando uma das pernas por exemplo (movimento de Capoeira), seria mais complexo? Pensamos que não. Ainda assim, a impressão de estar diante de uma prática de complexa realização, foi identificada repetidas vezes. Estas falas representam o quanto a cultura afro-brasileira se apresenta distante para essa parcela da população.

Quando eu comecei na aula de capoeira eu já pensei que ia ser tão difícil, mas eu fui aprendendo os golpes e a ginga. (Aluno “C”)

No meu primeiro dia de capoeira achei que não ia conseguir, mas depois eu consegui e foi legal. (Aluno “D”)

Me senti meio sem jeito para fazer os golpes de capoeira. (Aluno “Q”)

Melhora no controle corporal e aptidões físicas

    Outra fala em comum dos participantes, foi percepção de melhora no controle corporal e aptidões físicas, como força, flexibilidade e agilidade.

A capoeira mudou o meu reflexo e minha agilidade e melhorou minha flexibilidade. (Aluno “D”)

Tenho que ir na escola pela manhã para treinar. Estou mais atenta, tenho mais coragem e estou mais ágil. (Aluno “F”)

Também fiquei mais ágil e até consegui levantar mais as pernas. Mas no primeiro dia de capoeira me senti muito enferrujado. (Aluno “L”)

    De fato, ainda que não seja dada total ênfase a estes aspectos em um projeto de Capoeira na escola, como prática corporal que combina movimentos de equilíbrio dinâmico e estático, inversões do eixo do corpo, trocas de direção, giros, rotações, saltos e deslocamentos, ela contribui fortemente para o desenvolvimento das capacidades físicas e coordenativas. Elementos psicomotores como o equilíbrio, organização espacial e temporal, lateralidade, motricidade ampla e fina (ao tocar instrumentos), também são exercitados profundamente durante a pratica, favorecendo o desenvolvimento destas capacidades (Lussac, 2004; Silva; Heine, 2008).

Reconhecimento da Capoeira como elemento da cultura afro-brasileira

    Ao longo da realização do projeto, procurou-se oferecer informações sobre a história da Capoeira no Brasil. Sobre seu passado escravo, as motivações de sua criação e os períodos atravessados até sua legalização. Buscou-se também, explicar as significações de seus rituais, expressões e ritmos.

    A análise das produções dos alunos nos mostraram que houve o reconhecimento, da Capoeira como um legado de origem afro-brasileiro e sua prática foi associada a sentimentos positivos, de alegria e felicidade.

O som e a ginga africana,

trouxe ao novo continente a ginga mais bacana.

Hoje fazemos parte desta história. (Aluno “I”)

    A prática desta manifestação cultural de origem afro-brasileira foi associada muitas vezes com a alegria, a felicidade e o prazer.

Na capoeira todo mundo é feliz, aqui aprendemos muitas coisas. (Aluno “J”)

A capoeira é muito legal. Nesta trajetória aprendi mais uma dança nova e uma bela diversão. (Aluno “K”)

Depois de realizar as atividades na capoeira me sinto melhor, mais calmo, mais atencioso, mais estudioso e mais feliz. (Aluno “N”)

    A participação no projeto de Capoeira, pareceu repercutir também na afirmação da identidade de uma aluna negra que passou a usar as chamadas “tranças afro” como penteado. Em conversa informal registrada no dia 9 de setembro de 2014, sua mãe relatou que até então ela não admitia ter “cabelo de negro”, mas que “a Capoeira fez ela mudar de ideia”. Houve ainda, o caso de um aluno branco, ter passado a usar um penteado afro conhecido como “dreads”, para, segundo o próprio aluno, em conversa registrada no dia 5 de agosto de 2014, “ficar parecido com o Mestre”.

    Autores relacionam a prática da Capoeira com a compreensão das contribuições do povo africano e afro-brasileiro na sociedade, bem como a apropriação de elementos de sua cultura, como aspecto fundamental para a incorporação de novos valores relacionados a descendência africana, de adolescentes negros. Ressaltam também que tal compreensão é fundamental para a superação do preconceito racial e conquista da igualdade de condições (Bonfim, 2010).

Considerações finais

    De acordo com o apresentado, pôde-se observar que os participantes do projeto reconheceram a prática da Capoeira como responsável pela aquisição de capacidades afetivas, corporais e de pertencimento a um grupo, embora sua prática tivesse sido inicialmente percebida como diferente, complexa, “estranha” àquilo com o qual estavam habituados.

    O fato da prática da Capoeira ter sido associada à sentimentos positivos e de ter sido reconhecida como elemento da cultura afro brasileira, nos permitiu concluir que os objetivos estabelecidos neste trabalho foram alcançados.

    Entretanto, cabe ressaltar que sua abrangência foi de apenas 19 alunos, em um universo de 230 escolares. Destaca-se que o desejável seria que o projeto houvesse ocorrido no horário regular de aula, para abranger todos os estudantes da instituição, concretizando assim, de maneira irrestrita, a aplicação da lei 10.639.

Bibliografia

  • Bardin, L. (2002). Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70.

  • Bonfim, G. C. S. (2010). A prática da capoeira na educação física e sua contribuição para a aplicação da lei 10.639 no ambiente escolar: a capoeira como meio de inclusão social e da cidadania. Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte (CBCE). 12 pg. III Congresso Nordeste De Ciências Do Esporte. Corpo e Cultura/ Anais.

  • Brasil. (2010). IBGE, CENSO 2010. Brasília. Acesso em 25 Mar. 2016. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/caracteristicas_da_populacao/tabelas_pdf/tab3.pdf

  • Gomes, Nilma Lino; Jesus, Rodrigo Ednilson de (2013). As práticas pedagógicas de trabalho com relações étnico-raciais na escola na perspectiva de Lei 10.639/2003: desafios para a política educacional e indagações para a pesquisa. Educar em Revista, Curitiba, n. 47, p. 19-33.

  • Lussac, R. M. P. (1996) Estudo da metodologia do ensino da capoeira. Sprint magazine, Rio de Janeiro. ano 15. n. 84. p. 36-38.

  • Moreira, R.; Moreira, N. (2007). Capoeira: sua origem e sua inserção no contexto escolar. Lecturas: Educación física y deportes, n. 114. p. 27. http://www.efdeportes.com/efd114/capoeira-sua-origem-e-sua-insercao-no-contexto-escolar.htm

  • Rodrigues, A. C. L. (2010). Educação Física e LDB: assumindo a responsabilidade na aplicação das leis 10.639/03 e 11.645/08. Reflexão e Ação (Online). v. 18. p. 125-150.

  • Sabino, T. F. P; Benites, L. C. (2010). A capoeira como uma atividade extracurricular numa escola particular: um relato de experiência. Motrivivência, Florianópolis, n. 35, p. 234-246.

  • Santos, L. S. (1990). Educação: Educação Física: Capoeira (2ª ed.). Maringá: Fundação Universidade Estadual de Maringá.

  • Silva, G. O.; Heine, V. (2008). Capoeira: um instrumento psicomotor para a cidadania. São Paulo: Phorte.

  • Silva, M. L. (2007). Educação, etnicidade e preconceito no Brasil. Santa Cruz do Sul: EDUNISC.

  • Soares, C. E. L. (2001). A capoeira escrava e outras tradições rebeldes no Rio de Janeiro (1808-1850). Campinas: Ed. da UNICAMP.

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