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Relação entre o posto de trabalho e o surgimento

de DORTs em costureiros do distrito de Taperuaba

Relación entre el puesto de trabajo y la aparición de EMRT de los costureros en el distrito de Taperuaba

Relationship between the job and the appearance of MSDs's seamstresses in the Taperuaba district

 

*Acadêmica do curso de Fisioterapia das Faculdades INTA

**Professora do curso de Graduação em Fisioterapia das Faculdades INTA

Especialista em Gerontologia, Especialista em Saúde, Trabalho e Ergonomia nas Empresas

(Brasil)

Ana Kamila Teófilo Gomes*

Fernanda Magda Borges Rodrigues**

anakamilatgomes@outlook.com

 

 

 

 

Resumo

          Os distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho são caracterizados como uma síndrome que ocorre devido ao uso excessivo e contínuo de um músculo ou grupos musculares sem que ocorra tempo suficiente de repouso para sua recuperação. A indústria têxtil apresenta um alto índice de afastamento por DORTs no Brasil, com uma grande prevalência dos sintomas nas regiões da coluna e membros superiores. Este estudo tem como objetivo analisar a relação entre as condições do posto de trabalho e o surgimento de DORTs em costureiras do distrito de Taperuaba Sobral - Ceará. Trata-se de um estudo observacional, analítico de corte transversal com abordagem quantitativa realizado com 21 costureiros de uma empresa fabricante de roupas infantis do distrito de Taperuaba, realizado no período de agosto a outubro de 2015. Foi aplicado o Censo Ergonômico de Couto e Cardoso e o Método EWA (Ergonomic Workplace Analysis). Os resultados mostraram que existe uma forte relação entre as condições do ambiente de trabalho com o surgimento de DORTs nos profissionais de costura.

          Unitermos: DORTs. Posto de trabalho. Costureiros.

 

Abstract

          The work-related musculoskeletal disorders are characterized as a syndrome that occurs due to excessive and continued use of a muscle or muscle groups though without enough rest for your recovery. The textile industry has a high removal rate for RSI's in Brazil, with a high prevalence of symptoms in the lumbar spine and upper limbs. This study aims to analyze the relationship between the job conditions and the appearance of MSDs's seamstresses in the Taperuaba district - Sobral - Ceara. This is an observational, analytical cross-sectional with a quantitative approach carried out with 21 tailors a manufacturer of children's clothes Taperuaba district, conducted from August to October 2015. It was applied Ergonomic Census Couto and Cardoso and EWA Method (Ergonomic Workplace Analysis). The results showed that there is a strong relationship between the conditions of the working environment with the emergence of WRMD in sewing professionals.

          Keywords: MSDss. Workstation. Dressmakers.

 

Recepção: 16/11/2015 - Aceitação: 05/04/2016

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 21 - Nº 216 - Mayo de 2016. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Os distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (DORT’s) são umas das principais causas de afastamento e absenteísmo no trabalho, e podem ser caracterizados como uma síndrome que ocorre devido ao uso excessivo e contínuo de um músculo ou grupos musculares sem que ocorra tempo suficiente de repouso para sua recuperação (Oliveira et al., 2015).

    Estes distúrbios podem ser classificados segundo a gravidade de seus sintomas em quatro graus (Veronesi Júnior, 2013).

    No grau I o paciente apresenta sensação de peso e desconforto nas regiões afetadas, dor localizada com intensidade leve e sem irradiação. No grau II a dor é mais localizada, intensa e persistente, porém tolerável, piorando com a realização de algumas atividades. O grau III é caracterizado pela presença de dor irradiada, persistente e forte, que não é atenuada com o repouso, já o grau IV é o mais grave, pois apresenta atrofia muscular, dor forte, intensa e contínua irradiando para todo o membro, o que impossibilita o paciente de realizar suas atividades laborais e domiciliares (Silva, 2011).

    A indústria têxtil apresenta um alto índice de afastamento por DORT’s no Brasil, com uma grande prevalência dos sintomas nas regiões da coluna e membros superiores. Isto se deve a exposição freqüente destes trabalhadores aos fatores de riscos ergonômicos dos quais podemos citar o uso da força, movimentos repetitivos, posturas inadequadas, jornada de trabalho prolongada com ausência de pausas, fatores psicossociais e posto de trabalho em condições inadequadas (Comper & Padula, 2013).

    Geralmente nestes locais o mobiliário não está ergonomicamente adequado para a função a ser exercida, as cadeiras comumente são de madeira e sem forro, o tampo das bancadas são revestidos por material brilhante que provoca fadiga visual, são locais ruidosos, o espaço além de ser pequeno e desorganizado é dividido com caixotes ou caixas e peças que serão costuradas ou finalizadas (Mazini Filho et al., 2014).

    Além disso, as jornadas de trabalho são longas e cansativas chegando a 11 horas diárias, com realização de tarefas monótonas e repetitivas que ocorrem durante todo período na posição sentada, sendo esta associada a posturas inadequadas como torções, lateralizações e flexões da coluna associada à abdução de ombros e desvio radial e ulnar, além da ausência de pausas pré-definidas e de realização de ginástica laboral (Praia, Arêas, Arêas, Leite & Freire Júnior, 2013).

    Diante do exposto e ao perceber que esta temática tem sido pouco estudada principalmente no que se refere a estudos de campo com esta classe de trabalhadores, surgiu o interesse em realizar esta pesquisa que tem como objetivo analisar a relação entre as condições do posto de trabalho e o surgimento de DORT’s em costureiros do distrito de Taperuaba – Sobral - Ceará.

Metodologia

    Estudo observacional, analítico de corte transversal com abordagem quantitativa realizado no setor de costura de uma empresa fabricante de roupas infantis no distrito de Taperuaba, Sobral, Ceará. A população foi composta por 25 costureiros (as), sendo a amostra de 21 pessoas.

    Foram incluídos no estudo os trabalhadores que atuam somente no setor de costura independente do sexo, que assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido, e que estavam no local no momento da aplicação dos questionários. Foram excluídos os que estavam na função por tempo inferior a seis meses e os que se recusaram a participar do estudo.

    A coleta foi desenvolvida no período de agosto a outubro de 2015, mediante a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e aplicação do Censo Ergonômico de Couto e Cardoso e do Método EWA (Ergonomic Workplace Analysis).

    O Censo Ergonômico de Couto e Cardoso embora não tenha sido validado é bastante usado e descrito em livros, monografias, teses e artigos, sendo citado por Veronesi Júnior (2008), Freitas (2009), Martins, Baú, Marziale e Franco (2011), Nogueira (2012) e Silva et al. (2014), nele o trabalhador é questionado sobre seu posto de trabalho e atividade que executa, informando se sente algum desconforto, em que região corporal, com que intensidade e se esta sintomatologia está relacionada com o trabalho.

    O Método EWA (Ergonomic Workplace Analysis) foi respondido pelos trabalhadores e pelo pesquisador. Através dele se pode realizar uma avaliação detalhada do posto de trabalho uma vez que ele possui questões que enfocam fatores relacionados com o mobiliário, repetitividade, relacionamento com colegas e chefes, condições ambientais, levantamento de cargas, postura de trabalho e movimentos, riscos de acidentes, restrições no trabalho, tomadas de decisões e organização do trabalho. Ele foi criado pelo FIOH - Finnish Institute of Occupational Health (Instituto Finlandês de Saúde Ocupacional), tendo como autores Ahonen et al. (1989) e sendo traduzido em 2004 sob licença por Camarotto.

    Após a aplicação dos questionários os dados foram analisados e os resultados descritos em forma de porcentagem sendo apresentados por meio de gráficos e tabelas construídas através do programa Microsoft Office Excel 2010.

    O trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisas com seres humanos da Universidade Estadual Vale do Acaraú com o CAAE nº 45456015.9.0000.5053.

Resultados e discussão

    A pesquisa foi realizada com 21 costureiros o que representa 84% da população inicial, destes 76% era do sexo feminino e 24% do sexo masculino, com idade variando entre 19 e 32 anos.

    Para a análise do posto de trabalho no setor de costura usou-se o Método EWA (Ergonomic Workplace Analysis) que avaliou as seguintes variáveis: espaço de trabalho, atividade física geral, levantamento de cargas, posturas de trabalho e movimentos, riscos de acidente, conteúdo do trabalho, restrições no trabalho, comunicação entre trabalhadores e contatos pessoais, tomada de decisão, repetitividade do trabalho, nível de atenção, iluminação, ambiente térmico e ruído.

    O resultado da avaliação realizada pelos trabalhadores e pelo pesquisador está descrita na tabela 1 e na tabela 2 respectivamente, onde o sinal de ++ representa que o posto de trabalho está em excelentes condições, + em boas condições, - em condições ruins e - - em péssimas condições.

Tabela 1. Resultado da analise do posto de trabalho de acordo com os trabalhadores

Variáveis

Escore

+ +

+

-

- -

Espaço de trabalho

23%

34%

43%

0%

Atividade física geral

33%

58%

9%

0%

Levantamento de cargas

100%

0%

0%

0%

Posturas de trabalho e movimentos

0%

38%

62%

0%

Riscos de acidente

43%

57%

0%

0%

Conteúdo do trabalho

5%

81%

14%

0%

Restrições no trabalho

14%

14%

67%

5%

Comunicação entre trabalhadores e contatos pessoais

24%

76%

0%

0%

Tomada de decisão

67%

24%

9%

0%

Repetitividade do trabalho

0%

0%

43%

57%

Atenção

0%

0%

52%

48%

Iluminação

14%

47%

39%

0%

Ambiente térmico

0%

14%

58%

23%

Ruído

5%

19%

66%

10%

Fonte: Autor, 2015

 

Tabela 2. Resultado da analise do posto de trabalho de acordo com o pesquisador

Variáveis

Escore

Espaço de trabalho

-

Atividade física geral

+

Levantamento de cargas

+ +

Posturas de trabalho e movimentos

-

Riscos de acidente

+

Conteúdo do trabalho

+

Restrições no trabalho

-

Comunicação entre trabalhadores e contatos pessoais

+

Tomada de decisão

+ +

Repetitividade do trabalho

- -

Atenção

-

Iluminação

-

Ambiente térmico

-

Ruído

-

Fonte: Autor, 2015

    Analisando a tabela 1 e 2 nota-se que não existem grandes diferenças entre a avaliação dos trabalhadores e do pesquisador, havendo divergência apenas no item que corresponde à iluminação, pois foi observado que devido ao tampo das bancadas não ser revestido por material fosco existe a presença de muita luz refletida.

    A maioria dos pesquisados avaliaram que as condições do posto de trabalho são ruins, obtendo este resultado em seis variáveis. Classificaram como ótimas em duas variáveis, boas em cinco variáveis e péssimas em uma variável. Este resultado condiz com o encontrado pelo pesquisador que também classificou o posto de trabalho destes profissionais como ruim, obtendo este escore em sete variáveis.

    Os maiores problemas encontrados estão no mobiliário inadequado que leva o trabalhador a adotar posturas erradas. As cadeiras utilizadas por estes profissionais são de madeira, sem estofado e os mesmos precisam improvisar almofadas com o intuito de torná-las mais confortável, a maioria não é giratória, no entanto tem regulagem de altura, as bordas são arredondadas e existe um espaço entre o encosto e o assento, como demonstra a figura 1.

Figura 1. Tipo de assento

Fonte: Autor, 2015

    Em estudo realizado por Mazini Filho et al. (2014) com 13 funcionárias em uma facção de roupas ele observou que o ambiente de trabalho nestes locais é desorganizado, com o espaço sendo dividido com caixotes contendo peças que serão costuradas, e as cadeiras são de madeira e sem forro, assim como o relatado em nossa pesquisa.

    Segundo a Norma Regulamentadora 17 – NR 17 (1978) as cadeiras devem apresentar apoio para as costas, o tecido que as reveste deve ser antiderrapante e promover a dissipação do calor, tem que ser giratória, o assento deve possuir as bordas arredondadas, regulagem de altura e um espaço entre ele e o apoio para as costas.

    Com relação às bancadas onde estão fixadas as máquinas o material que reveste o tampo é brilhante o que promove muito reflexo que causa fadiga visual, contrariando o que diz a NR 17.

    De acordo com essa norma o local de trabalho deve ser bem iluminado garantindo ao trabalhador uma boa visibilidade, aliada a isto o mobiliário também deve estar em condições ergonômicas adequadas, com o tampo das bancadas sendo fabricado em material fosco para evitar reflexos (Norma Regulamentadora 17, 1978).

    No que diz respeito à repetitividade os ciclos de trabalho ocorrem em um tempo inferior a 30 segundos. Figueiredo (2014) define como trabalho repetitivo a realização de movimentos idênticos por mais de duas a quatro vezes por minuto, com ciclo de trabalho menor que 30 segundos pelo período mínimo de uma hora, sendo esta repetição um fator predisponente para o surgimento de lesões.

    Outro fator que pode predispor o surgimento deste distúrbio é a postura adotada por estes profissionais durante a realização de suas atividades laborais.

    Durante a atividade laboral destes trabalhadores o braço é mantido em flexão com ângulo entre 20°-45°, o antebraço segundo o ângulo do cotovelo mantem-se em flexão de 100°, o punho em flexão de aproximadamente 15°, o pescoço mantem uma flexão de até 20°, o tronco realiza uma flexão de cerca de 20° associada a uma flexão lateral e a uma rotação, que acontecem quando o costureiro tem que pegar as peças para serem costuradas, já com relação a posição das pernas este se mantem em uma postura sentada com os pés apoiados.

    Medeiros e Costa (2013) afirmam que a postura sentada quando mantida por um longo período pode causar redução da curvatura lombar fisiológica, aumento da tensão nos discos intervertebrais, gerando dor e desconforto, e compressão de nádegas e coxas, dificultando o retorno venoso e propiciando o surgimento de edemas em tornozelos e pés.

    Nesta posição o peso do corpo é suportado pelas tuberosidades isquiáticas e tecidos moles adjacentes, promovendo uma carência de mobilidade articular e fadiga dos músculos extensores espinhais, comprometendo assim a estabilidade da coluna podendo causar dores nesta região (Freitas, Barros, Ângelo & Uchôa, 2011).

    Na analise do Censo Ergonômico de Couto e Cardoso no qual se questiona sobre as regiões corporais mais acometidas por dor ou desconforto, houve grande prevalência de dor na coluna vertebral, com 91% dos trabalhadores referindo dor e/ou desconforto nesta região, sendo que 24% relatou sentir este sintoma somente na região da coluna e 67% na coluna e em outras regiões corporais, como mostra o gráfico 1.

Gráfico 1. Locais mais acometidos por dor e/ou desconforto

    Em estudo realizado por Maciel, Fernandes e Medeiros (2006) com 162 profissionais da costura, 37,7% relataram não sentir dor ou a sentir em apenas uma região corporal, enquanto que 62,3% referiram senti-la em mais de um local, com maior prevalência nas porções cervical e torácica da coluna vertebral, nas pernas e nos ombros, o que condiz com nosso estudo onde a maioria dos entrevistados relatou sentir dor e/ou desconforto em mais de uma região corporal, tendo como locais mais citados a coluna, os ombros, as pernas e os joelhos.

    Comper e Padula (2013) em seu estudo com 107 costureiros mostrou que as regiões da coluna cervical, ombros e braços estão expostos a riscos ergonômicos moderados enquanto que a coluna lombar, os punhos e as mãos estão expostos a riscos de alto nível, o que corrobora com o estudo atual no qual a coluna vertebral aparece como a região mais acometida por dor e/ou desconforto.

    A adequação das ferramentas, equipamentos e do ambiente de trabalho para o trabalhador é de suma importância, pois o mesmo irá passar longos turnos executando suas atividades laborais nestes locais (Leolatto, Brehmer & Miranda, 2013).

    Quando questionados se o trabalho no setor atual tinha relação com o surgimento dos quadros de desconforto e/ou dor a maioria dos entrevistados respondeu que sim, como mostra o gráfico 2.

Gráfico 2. Relação entre DORT’s e o trabalho no setor atual

    Relatam que o tipo de desconforto que sentem é: dor (24%), cansaço (19%), formigamento ou adormecimento (14%), estalos (9%) e dolorimento (5%), e 29% dos trabalhadores relatou sentir mais de um tipo de desconforto.

    Quando questionados sobre a intensidade do que sentiam, a maioria dos trabalhadores descreveu como moderado, conforme mostra o gráfico 3.

Gráfico 3. Classificação dos sintomas quanto à intensidade

    Com relação à piora dos sintomas 66% dos trabalhadores dizem que os sintomas relatados aumentam durante sua jornada normal de trabalho, 5% que os sintomas pioram durante a realização de horas extras, 5% relata piora durante a noite e 24% consideram não piorar do desconforto durante sua jornada de trabalho.

    O gráfico 4 mostra a relação das condições de trabalho com o surgimento de DORT’s nesta classe de trabalhadores, nele podemos perceber que quanto pior as condições do ambiente de trabalho, maior é a probabilidade do profissional adquirir algum tipo de lesão.

Gráfico 4. Relação entre as condições de trabalho e o surgimento de DORT’s

Considerações finais

    Diante do exposto, e considerando a metodologia adotada e os resultados obtidos, podemos concluir que o objetivo proposto foi alcançado. Conseguimos mostrar que as condições do posto de trabalho determinam o surgimento de DORT’s nos profissionais de costura.

    É preciso que se faça mais estudos com essa população para que os profissionais e estudantes da área da saúde possam nortear suas práticas buscando a prevenção destes distúrbios, evitando assim o adoecimento destes trabalhadores e melhorando sua qualidade de vida.

Bibliografia

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