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A comunicação da mulher catadora e a conquista de credibilidade a partir de um audiovisual divulgado nas redes sociais

La comunicación de la mujer recicladora y la conquista de credibilidad a partir de un audiovisual divulgado en las redes sociales

Communication of gleaner woman and credibility of conquest from an audiovisual disclosed in social networks

 

*Doutora em Educação (UNISINOS/RS). Mestre em Educação (UPF). Especialista em Fundamentos

Teórico-Metodológicos do Ensino (UNICRUZ). Integra o corpo docente do Programa de Pós-Graduação

em Práticas Socioculturais e Desenvolvimento Social – Mestrado – da UNICRUZ. Coordenadora

do Núcleo de Conexões Artístico-Culturais (NUCART) e Líder do Grupo de Pesquisa em Estudos Humanos

e Pedagógicos, ambos da UNICRUZ. Coordenadora do Projeto “Cidadania e Democracia Viabilizadas

através da Sétima Arte”, que conta com o apoio PAPCT/UNICRUZ. Artista Plástica

**Mestrando do Curso de Práticas Socioculturais e Desenvolvimento Social da Universidade

de Cruz Alta e Assessor de Comunicação do Projeto Profissão Catador II

Maria Aparecida Santana Camargo*

cidascamargo@gmail.com

Diones da Silveira Biagini**

dionescobain@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          No presente artigo, busca-se analisar um audiovisual simples a respeito de uma catadora que conquistou popularidade e credibilidade perante a comunidade de Cruz Alta/RS. O referido vídeo obteve ampla repercussão nas redes sociais e um grande feedback no contexto virtual. Trata-se de uma divulgação do Projeto Profissão Catador da Universidade de Cruz Alta (UNICRUZ/RS), que procurou fazer uma reflexão sobre o Dia Mundial da Água, a qual foi compartilhada no perfil do Facebook do citado Projeto de Extensão da UNICRUZ, mais precisamente no domingo, dia 22 de março de 2015.

          Unitermos: Cidadania. Imagem. Inclusão. Meio Ambiente.

 

Abstract

          In this article, we seek to analyze a simple audiovisual about a gleaner who won popularity and credibility in the community of Alta / RS Cruz. That video got widespread repercussions on social networks and a great feedback in the virtual context. This is a release of the Project Job Catador the University of Cruz Alta (UNICRUZ/RS), which sought to reflect on the World Water Day, which was shared on the Facebook profile of that of UNICRUZ Extension Project, more precisely on Sunday, March 22, 2015.

          Keywords: Citizenship. Image. Inclusion. Environment.

 

Recepção: 25/03/2016 - Aceitação: 30/04/2016

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 21 - Nº 216 - Mayo de 2016. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A presente análise não é em cima de uma mega produção de cinema e nem é sobre o conhecido filme “Estamira” que demonstra a luta diária de uma mulher brasileira e guerreira que trabalha em um lixão. Cabe, aqui, analisar um audiovisual simples a respeito de uma catadora que conquistou popularidade e credibilidade perante a comunidade de Cruz Alta/RS. O referido vídeo obteve ampla repercussão nas redes sociais e um grande feedback no contexto virtual.

 

Estamira

    Trata-se de uma divulgação do Projeto Profissão Catador da Universidade de Cruz Alta (UNICRUZ/RS), que buscou fazer uma reflexão sobre o Dia Mundial da Água, a qual foi compartilhada no perfil do Facebook do citado Projeto de Extensão da UNICRUZ, mais precisamente no domingo, dia 22 de março de 2015. Ao mostrar uma grande quantidade de garrafas pets doadas por escolas e empresas, por meio de duas Gincanas do PET 2014, a catadora protagonista deixa um questionamento: “Se estas garrafas não tivessem sido doadas para os catadores, onde elas estariam?”.

    Com cerca de 14 mil litros de plástico à sua volta, a trabalhadora agradece a sensibilização das 10 escolas municipais, estaduais e particulares e das 10 empresas doadoras que contribuíram com esta matéria-prima, a qual é utilizada para a confecção de vassouras pets na Associação de Catadores do Bairro Jardim Primavera, em Cruz Alta. Tais imagens em movimento tiveram, nos últimos oito meses, 2.767 visualizações, 88 compartilhamentos e 62 curtidas.

    Esse fato comprova o retorno social e ambiental, uma vez que a comunidade virtual respondeu por meio de curtidas e compartilhamentos. O vídeo em foco e em discussão é inédito. Apesar de não ter caráter comercial e de não ter concorrido a algum prêmio na categoria curta-metragem, traz uma importante reflexão sobre a vida dos seres humanos e os cuidados com o meio ambiente, assim como os grandes clássicos trouxeram ao longo da história do cinema, conforme apontam Teixeira e Lopes (2005, p. 08):

    Filmes e figuras em movimento foram desenvolvidos cientificamente muito antes de suas possibilidades artísticas ou comerciais serem desenvolvidas e exploradas. Em 1824, um inglês publicou um artigo no qual anunciava que o olho humano retinha a imagem por uma fração de segundo além do momento em que ela estava presente. Isto levou muitos cientistas a inventarem variadas maneiras de demonstrar esse princípio. Um deles foi Thomas Alva Edison, que patenteou Kinetoscope em 1891. Na Europa, em 1895, os irmãos Lumière, Louis e Auguste, introduziram o cinematógrafo, combinando impressor, câmera e projetor. A partir daí, produziram vários filmes curtos sobre situações de rua e situações de portas de fábrica; o mais famoso deles o de um trem que, entrando em uma estação, causou pânico na platéia. Era como se estivesse, ao vivo, atropelando a todos.

A imagem em movimento

    Vê-se que, no princípio da história do cinema, as produções fílmicas eram curtas e demonstravam situações de rua e do cotidiano do trabalho, assim como o vídeo em análise aqui apresentado, ou seja, a experiência reflexiva de uma catadora que no enquadramento de 1 minuto e 28 segundos, coloca, diante das lentes, uma mulher idosa, natural da cidade de Ibirubá/RS. Seus cabelos brancos indicando sabedoria, prática, trabalho e autonomia de gênero, retratam uma trabalhadora que articula frases puras, que soam como pétalas na mente dos que colaboram com ações sustentáveis, mas que também podem soar como uma bomba no inconsciente daqueles que dizem estar conscientes sobre o possível fim dos recursos naturais do planeta. Ao encontro dessa idéia, Rocha (2010, p. 10) afirma que:

    Estamos no dilema entre proporcionar uma vida repleta de parafernálias “maravilhosas” para uma minoria, os mais abastados, usufruir de modernos equipamentos indefinidamente, automóveis velozes e com motores cada vez mais potentes, casas aconchegantes e confortáveis, banhos demorados e quentinhos e muitos etcs mais; ou revemos a distribuição de riquezas, acabamos com a indústria automobilística (como a maioria dos industrializados), proibimos a construção de usinas hidrelétricas e todos (todos mesmo) viveremos uma vida menos veloz, sem o brilho das luzes das cidades, sem o conforto dos automóveis sem parafernálias eletrônicas, e sem muitos e muitos mais benefícios, que fazem muito bem a uma classe média cada vez mais consciente, mas sem a mínima disposição para mudanças do status quo.

    Nesse sentido, entende-se que não basta ser consciente do ponto de vista ambiental e sim ser sensível às causas sociais do cotidiano como, por exemplo, cada um fazendo a sua parte, por meio do simples ato de separar e ter responsabilidade pelo próprio resíduo sólido ou orgânico que consome. No áudio do vídeo em questão, essa lógica é abordada de forma implícita na linguagem coloquial da catadora, quando esta pergunta sobre onde poderiam estar as garrafas pets doadas para as associações de catadores de Cruz Alta.

    De imediato percebe-se nesse audiovisual, interessante relação de desenvoltura comunicacional com boa interação entre imagem e linguagem, mesclando-se com uma atuação causando impacto no receptor que é chocado pela persuasão da fala e do sentimento. Estes argumentos põem em xeque os paradigmas estereotipados de linguagem e estética, que parecem ser direcionados para aqueles que vivem às margens da sociedade elitista. As posições sociais ainda classificam e separam as pessoas pelo status de escolaridade, utilizando-se do preconceito lingüístico, que insiste em ser disseminado, mesmo na contemporaneidade.

    As imagens em movimento aqui analisadas, além de terem um olhar para a classe trabalhadora, ampliam o debate sobre questões de gênero e da luta histórica da mulher brasileira. Ainda colocam esse audiovisual como ferramenta educativa em prol de uma reflexão sobre o trabalho, o meio ambiente, os aspectos sociais e econômicos que estão nas entranhas de um sistema capitalista que parece “vender” uma sustentabilidade teórica, que foge da vivência prática aqui apresentada. Esse material evidencia a emancipação e o empoderamento da catadora que no vídeo fala em língua alemã e que, ao traduzir o dialeto aprendido com a família, afirma querer usar o “brasileiro” ao invés do português, mostrando que apesar de ter uma forte ligação com a Alemanha, acima de tudo tem a brasilidade tupiniquim. Como destacam Teixeira e Lopes (2006, p. 11):

    Cada vez mais tomamos consciência, em maior ou menor grau, de que estamos inseridos em contextos perpassados pelas diferenças culturais, e, se algo deve ser consensual nesta problemática, é a compreensão de que tais peculiaridades e a multiplicidade das culturas, em todos os seus domínios, territórios, abrangência e formas, são um bem da humanidade a ser preservado. Estas diferenças dão naturalmente lugar à diversidade de olhares, de valores, de crenças, de linguagem que merecem respeito à dignidade. Contribuem para a reinvenção do mundo, da vida e das próprias culturas, nunca estanques ou imutáveis, mas feitas de misturas e renovações constantes.

    Nesse contexto, as redes sociais possuem papel fundamental para disseminar idéias, crenças, propósitos, causas e histórias de vida. Dentro do contexto do multiculturalismo das diversas identidades sociais, estas contribuem para que se possa ter uma nova sociedade, que não só caminhe, mas avance nas discussões teóricas e práticas no campo da diversidade de gênero, na comunicação e no âmbito das intervenções socioculturais. Teixeira e Lopes (2006) ampliam a abordagem, pois acreditam que “o que importa reter é que, mesmo no quadro interno de cada país a diversidade cultural não constitui uma rua de mão única para a autoafirmação de grupos com identidade própria”.

    Compreende-se, deste modo, que apesar de cada indivíduo ter uma só identidade, fatores como as influências européias no Brasil e a miscigenação das culturas produzidas pelas imigrações, juntamente com a chegada da Internet e das redes sociais, podem transformar a relação entre identidade, diversidade cultural e interações sociais. Na análise em questão, por meio dos contextos das imagens e sincronia dos gestos e palavras da catadora é possível perceber uma construção de sentidos identitários.

    A produção em foco demonstrou reflexos de uma identidade construída por uma história de vida que aponta, na nitidez de sua face, as raízes de uma mulher que antes de ser catadora, não desistiu da luta pela sobrevivência e “segurou o rojão”, como se diz coloquialmente. A protagonista em questão reside no Bairro Acelino Flores, onde foi proprietária de um frigorífico que decretou falência e onde criou um filho com deficiência, com muita determinação e dignidade. E comprou uma camioneta denominada de “Rebeca”, a qual adquiriu após ter coletado alumínio em inúmeros eventos sociais que o Projeto Profissão Catador da UNICRUZ participou em 2014. Conforme Oliveira (2011, p. 02):

    Parte dos resíduos descartados deixa de ser objeto sem importância, e passa a ter valor agregado, o que o torna um insumo de valor econômico, quando reutilizado, reciclado, reaproveitado ou mesmo quando descartado adequadamente, pois reduz os impactos negativos ao meio ambiente, à saúde, economiza energia, recursos não renováveis e produz renda aos que atuam com essa atividade.

Os resíduos sólidos

    Nota-se que, com o passar dos anos, o olhar da sociedade contemporânea em relação aos resíduos sólidos no Brasil, foi se transformando. A partir da organização do Movimento Nacional dos Catadores, nos anos 2000, os catadores começaram a se organizar enquanto movimento social, através de associações e cooperativas e logo surgem as primeiras conquistas junto aos governantes. Como revela Pereira (2011, p. 32):

    A partir de 2003 foram conquistadas algumas ações governamentais voltadas para a inclusão social e produtiva de catadores. Em setembro de 2003, por decreto presidencial, foi criado o Comitê Interministerial de Inclusão Social de Catadores de Materiais Recicláveis. O Comitê é formado pelos seguintes órgãos do governo federal: Ministério do Desenvolvimento Social (MDS); Ministério das Cidades (MDC); Ministério do Meio Ambiente (MMA); Ministério do Trabalho e Emprego (MTE); Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT); Ministério da Educação (MEC); Ministério da Saúde (MS); Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC); Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República (SEDH); Casa Civil da Presidência da República; Ministério da Previdência Social; Ministério de Minas e Energia; Caixa Econômica Federal; Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Banco do Brasil, Petrobrás e Eletrobrás (CIISC, 2010). Por meio do Comitê Interministerial são apoiadas ações voltadas para catadores de materiais recicláveis, como o edital do BNDES para disponibilização de recursos para cooperativas e associações, o apoio da Petrobrás à rede de organizações de catadores, a disponibilização pelo Ministério das Cidades do Programa PAC – Resíduos Sólidos, e doação de recursos financeiros da Fundação Nacional de Saúde e MTE em parceria com a Fundação Banco do Brasil (FBB) para organizações de catadores de todo o país.

    Todavia, visualiza-se que, a partir desse olhar inclusivo em relação aos catadores e catadoras de materiais recicláveis, os avanços e o reconhecimento da classe começaram a surgir, através da criação da Lei nº 12.305, de 2010, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos, matéria construída pelos grupos e movimentos organizados pelos catadores e catadoras, a partir do Movimento Nacional dos Catadores (MNCR):

    A Lei nº 12.305/10, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) é bastante atual e contém instrumentos importantes para permitir o avanço necessário ao País no enfrentamento dos principais problemas ambientais, sociais e econômicos decorrentes do manejo inadequado dos resíduos sólidos.

    Prevê a prevenção e a redução na geração de resíduos, tendo como proposta a prática de hábitos de consumo sustentável e um conjunto de instrumentos para propiciar o aumento da reciclagem e da reutilização dos resíduos sólidos (aquilo que tem valor econômico e pode ser reciclado ou reaproveitado) e a destinação ambientalmente adequada dos rejeitos (aquilo que não pode ser reciclado ou reutilizado). Institui a responsabilidade compartilhada dos geradores de resíduos: dos fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes, o cidadão e titulares de serviços de manejo dos resíduos sólidos urbanos na Logística Reversa dos resíduos e embalagens e pós-consumo. Cria metas importantes que irão contribuir para a eliminação dos lixões e institui instrumentos de planejamento nos níveis nacional, estadual, microrregional, intermunicipal, metropolitano e municipal; além de impor que os particulares elaborem seus Planos de Gerenciamento de Resíduos Sólidos.

    Também coloca o Brasil em patamar de igualdade aos principais países desenvolvidos no que concerne ao marco legal e inova com a inclusão de catadoras e catadores de materiais recicláveis e reutilizáveis, tanto na Logística Reversa quando na Coleta Seletiva.

    Percebe-se, na citação acima, o quanto é enfocada a logística reversa, tendo em vista que essa questão não pode passar despercebida. As contribuições que os catadores passaram a obter a partir da criação da lei dos resíduos sólidos gerou responsabilidade para as empresas. A partir de então, elas precisam destinar corretamente os resíduos produzidos, a ponto de não terem seus alvarás ambientais renovados pelos órgãos públicos.

    Logo, é perceptível que parte das doações de garrafas pets feitas pelas empresas, as quais receberam o agradecimento da catadora na imagem do audiovisual analisado, deve-se a conveniências e interesses, embora grande parte tenha sido doada, por meio da vontade das crianças e adolescentes que entregaram mais de nove mil garrafas nas gincanas escolares. Nessa perspectiva, é crescente o número de entidades, órgãos públicos, empresas e escolas que procuram o Profissão Catador para o encaminhamento correto dos resíduos.

Considerações finais

    De 2013 até o primeiro semestre de 2015, conforme o blog do projeto (www.profissaocatador.blogspot.com.br), o número de empresas doadoras de resíduos para as quatro Associações de Catadores de Cruz Alta cresceu de 25 para 80. Aquilo que antes da nova lei era tido como lixo pelas empresas, sociedade e órgãos públicos, passou a ter uma imensa valia para os catadores, no âmbito da geração de trabalho e renda. Indo além, trouxe a emancipação dos trabalhadores e trabalhadoras que não são mais meros receptores no contexto da comunicação, negociações e articulações. Eles passam a ser sujeitos midiáticos que interagem com as diferentes camadas sociais e passam a desmistificar a imagem do catador. Hoje também estão no enquadramento de diferentes espaços e, inclusive, são protagonistas no contexto dos audiovisuais, nas redes sociais ou nas reportagens de televisão que influenciam diferentes interpretações aos olhos de quem vê e aos ouvidos de quem escuta, de acordo com suas vivências e olhares socioculturais. Para Gardies (2006, p. 23):

    Designa-se por enquadramento o acto, bem como o resultado desse acto, que delimita e constrói um espaço visual para o transformar em espaço de representação. Acto de nascimento de qualquer imagem midiática, o enquadramento não produz uma cópia do real, ainda que o carácter analógico da imagem tenda a fazer esquecer que ela não é o mundo, mas sim um discurso sobre o mundo. Transforma a própria natureza daquilo que registra. Num plano cognitivo, este estatuto de representação inscreve o filme no interior de uma narrativa (a imagem conta) ou de um discurso (a imagem explica e demonstra), ao mesmo tempo que, no plano sensível, induz emoções pelo tema (o riso e as lágrimas) e pelos significantes (formas plásticas, qualidade do desempenho de um actor, ritmo...).

    Verifica-se o conceito de enquadramento que logo remete à construção da imagem do audiovisual analisado em questão: uma catadora, que apesar de não ter estudos na área da comunicação social, é midiática, pois consegue narrar os fatos com espontaneidade e transmitir emoções capazes de sensibilizar os receptores. Tais características de comunicação talvez tenham sido adquiridas pelo constante contato de relação social que a catadora possui com as pessoas, inclusive quando busca material reciclável nos almoxarifados das lojas do comércio, onde possui a confiança conquistada junto aos gerentes e proprietários cruz-altenses.

    Esse fator de crédito tornou-se evidente em uma determinada ocasião, em que a trabalhadora da reciclagem encontrou um valioso quadro em frente à lixeira de uma loja do comércio e logo fez a devolução para a proprietária, que a gratificou com combustível para a sua casa. A gerente contou que sua funcionária havia colocado o quadro errado em frente ao estabelecimento central, local onde a catadora é conhecida, seja pela fama conquistada pelo audiovisual divulgado nas redes sociais ou pelas entrevistas veiculadas na televisão local. É nesta Cruz Alta – RS, na região dos dois “calçadões centrais”, que a camioneta “Rebeca”, de propriedade da catadora, chega e logo chama a atenção dos transeuntes, seja pelo carisma da motorista que sempre sorri ou pelo barulho da buzina corneta que, de forma criativa, é acionada por um sopro. Teixeira e Lopes (2006, p. 08) ressaltam que:

    O Cinema nos dá acesso à experiência da alteridade, revelando costumes e cenários nunca dantes visitados. Os filmes nos revelam as sociedades em suas diversidades, gerando perplexidades e permitindo que nos olhemos de outra maneira. Em outras palavras, ver filmes, discuti-los, interpretá-los é uma via para ultrapassar as nossas arraigadas posturas etnocêntricas e avaliações preconceituosas, construindo um conhecimento descentrado e escapando às posturas “naturalizantes” do senso comum. Ver filmes, ler e falar sobre eles nos conduz a imaginar outras formas de sociabilidade e socialização, assim como a nos interrogar sobre outras relações entre os indivíduos e a sociedade.

    Constata-se, assim, que as imagens em movimento que são divulgadas nas redes sociais, podem desconstruir preconceitos, dando voz aos excluídos que saem do anonimato. Foi assim que uma pequena parcela populacional da região central de Cruz Alta/RS passou a conhecer uma realidade que vem da periferia, mas que, acima de tudo, traz ensinamentos de vida e de educação ambiental para os que vivem na agitação do cotidiano.

Bibliografia

  • Brasil, MMA. Política Nacional de Resíduos Sólidos. Disponível em: http://www.mma.gov.br/pol%C3%ADtica-de-res%C3%ADduos-s%C3%B3lidos. Acesso em: 15 mar. 2016.

  • Gardies, R. (2006). Compreender o cinema e as imagens. São Paulo: Saraiva.

  • Oliveira, D. A. M.. (2011). Percepção de riscos ocupacionais em catadores de materiais recicláveis: estudo em uma Cooperativa em Salvador-Bahia. Dissertação (Mestrado em Saúde) Faculdade de Medicina da Bahia, Universidade Federal da Bahia, Salvador.

  • Pereira, M. C. G. (2011). Luta por reconhecimento e desigualdade social: uma análise da experiência dos catadores da Asmare em Belo Horizonte (MG). Disponível em: http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/8224/62090100012.pdf?sequence=1. Acesso em: 20 mar. 2016.

  • Rocha, J. M. da (2011). Sustentabilidade em questão: Economia, Sociedade e Meio Ambiente. São Paulo: Paco Editorial.

  • Teixeira, I. A. de C.; Lopes, J. de S. M. L. (2006). A diversidade cultural vai ao cinema. São Paulo: Autêntica.

  • Teixeira, I. A. de C.; Lopes, J. de S. M. (2005). A mulher vai ao cinema. São Paulo: Autêntica.

  • UNICRUZ. Projeto Profissão Catador. Disponível em: www.profissaocatador.blogspot.com.br. Acesso em: 21 mar. 2016.

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