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O ensino da capoeira nas aulas de Educação Física 

escolar no município de Nova Veneza, SC

La enseñanza de la capoeira en las clases de Educación Física en Nova Veneza, SC

The teaching of capoeira in the classes of Physical Education in Nova Veneza, SC

 

*Licenciado em Educação Física

pela Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC

**Professor mestre do curso de Educação Física

pela Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC

(Brasil)

Moises Marcelino Nascimento*

m7moises@hotmail.com

Bruno Dandolini Colombo**

bruno@unesc.net

 

 

 

 

Resumo

          O presente artigo objetivou identificar se é trabalhada a capoeira e, se for, analisar como é tratada nas aulas de Educação Física da Rede Pública Estadual de Nova Veneza/SC. Foi uma pesquisa de campo realizada em todas as escolas públicas da respectiva rede de ensino. Teve como instrumento de coleta de dados um questionário aplicado a todos os professores de Educação Física, que atuam no ensino fundamental e médio das escolas em questão. Identificamos que a Capoeira não é ensinada (ao menos não foi esse ano) nas aulas de Educação Física - do ensino fundamental e médio - da Rede Municipal de Nova Veneza/SC, apesar de todos os professores de Educação Física reconheceram a importância de seu ensino. Isso se dá, segundo os próprios professores, pelo fato, que alegaram não terem recebido formação – inicial e continuada – suficientemente para encorajá-los de ensinar tal manifestação cultural. Propomos, assim, reconhecendo a riqueza dessa prática corporal, que as matrizes curriculares dos cursos de Educação Física garantam a Capoeira como disciplina obrigatória e que a Rede Pública Estadual de Nova Veneza/SC possibilite cursos de formação continuada que apresentem ensinamentos didático-metodológicos da Capoeira.

          Unitermos: Ensino da capoeira. Educação Física escolar. Crítico Superadora.

 

Abstract

          This article aimed to identify whether the poultry is crafted and, if so, to analyze how is treated in Physical Education of the State Public Network New Veneza/SC. It was a field research conducted in all public schools in its school system. We had the data collection instrument a questionnaire applied to all physical education teachers who work in primary and secondary schools in question. We identified that Capoeira is not taught (at least it was not this year) in Physical Education - elementary and high school - the Municipal Network Nova Veneza/SC, despite all physical education teachers recognized the importance of his teaching. This happens, according to the teachers themselves, because, of them claimed they had not received training - initial and continuing - enough to encourage them to teach such a cultural event. I therefore propose recognizing the richness of this body practice that curricular matrices of physical education courses ensure Capoeira as a compulsory subject and the State Public Network Nova Veneza/SC enables continuing education courses presenting didactic and methodological teachings of Capoeira.

          Keywords: School of capoeira. Physical Education. Surpassing critic.

 

Recepção: 11/12/2015 - Aceitação: 22/03/2016

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 21, Nº 215, Abril de 2016. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O presente artigo é referente ao tema: O Ensino da Capoeira nas Aulas de Educação Física Escolar. Tem como problema de pesquisa: Como é ensinada a Capoeira nas aulas de Educação Física das escolas da Rede Estadual de Nova Veneza/SC?

    O interesse pelo assunto surgiu enquanto acadêmico1 do Curso de Educação Física e atuante no ensino e na prática da Capoeira. Fui professor/estagiário de Capoeira em políticas públicas, vinculadas ao Centro de Referência e Assistência Social (CRAS) e ao Programa de Educação Integral do Governo Federal (Mais Educação), nos municípios de Nova Veneza/SC e de Criciúma/SC. Com os estágios supervisionados obrigatórios do Curso de Educação Física aflorou-se a hipótese de que a capoeira é pouco trabalhada na Educação Física escolar.

    Portanto, temos como objetivo identificar se é trabalhada a capoeira e, se for, analisar como é tratada nas aulas de Educação Física da Rede Estadual de Nova Veneza/SC.

    Quanto à metodologia optou-se por uma pesquisa de campo realizada em todas as escolas públicas da Rede Estadual de Nova Veneza/SC (três escolas), tendo como instrumento de coleta de dados um questionário, com perguntas abertas e semiabertas, aplicado a todos os professores de Educação Física (seis professores), que atuam no ensino fundamental e médio das respectivas escolas.

    Foram abordadas questões didáticas metodológicas do ensino da Capoeira, embasadas na proposta teórico-metodológica crítico superadora e, ao mesmo tempo, nas contribuições do professor Falcão frente à Unidade Didática sobre Capoeira, presentes no livro Didática da Educação Física 1, de Elenor Kunz.2

    Organizamos o texto, primeiramente, discorrendo sobre a Capoeira e a proposta Crítico Superadora, para, assim, apresentarmos os dados, análises e conclusões da pesquisa de campo.

A capoeira e a crítico superadora

    A Capoeira sendo uma manifestação cultural de marco histórico importante, que trata da luta do oprimido contra o opressor, na busca pela liberdade escravocrata no Brasil Colonial, se torna uma ferramenta essencial para se tratar de forma integra na Educação Física escolar.

    Para o Coletivo de Autores (1992, p. 53), “a Educação Física brasileira precisa, assim, resgatar a capoeira enquanto manifestação cultural, ou seja, trabalhar com a sua historicidade, não desencarná-la do movimento cultural e político que a gerou”.

    Nesse sentido o ensino da capoeira vai além do movimento pelo próprio movimento, de uma ação sem intencionalidade ou de um ato esportivizado. O ensino da capoeira deve estar ligado a um projeto de humanização.

    Esse projeto de humanização articula-se com o próprio significado que a gerou. Significado recheado do sentido da luta pela liberdade no Brasil escravocrata. A luta dos escravos contra a elite branca. De acordo com o Coletivo de Autores (1992, p. 53) “A capoeira encerra em seus movimentos a luta de emancipação do negro no Brasil escravocrata. Em seu conjunto de gestos, a capoeira expressa, de forma explícita, a "voz" do oprimido na sua relação com o opressor”.

    A capoeira surgiu no reflexo desta luta de opressor e oprimido e deve ser contextualizando em uma perspectiva crítica explanando seu impacto no mundo atual.

    Só por esse fato o ensino da capoeira se torna fundamental no Brasil, para que nos reconheçamos enquanto sujeitos históricos, produtos e produtores da prática social.

    O Coletivo de Autores (1992) ressalta, assim, a relevância social do conteúdo como um princípio curricular no trato do conhecimento3 importante na decisão sobre que conteúdo tratar nas aulas de Educação Física. Este consiste em compreender o sentido e o significado das práticas corporais – aqui em destaque a Capoeira - para a reflexão pedagógica escolar.

    Decidida a Capoeira como conteúdo, outro princípio no trato do conhecimento nas aulas de Educação Física é o do confronto e contraposição de saberes. O professor confronta o conhecimento que o aluno tem sobre a capoeira - muitas vezes atrelada ao senso comum - com um conhecimento sistematizado (científico), fazendo com que o aluno compreenda-a de forma mais bem elaborada. O conhecimento sócio histórico do aluno esta ligado diretamente com os seus ciclos de aprendizagem. (Coletivo de Autores, 1992)

    Nos ciclos, os conteúdos de ensino são tratados simultaneamente, constituindo-se referências que vão se ampliando no pensamento do aluno de forma espiralada, desde o momento da constatação de um ou vários dados da realidade, até interpretá-los, compreendê-los e explicá-los. (Coletivo de Autores, 1992, p. 23).4

    Outra abordagem que está relacionada com os ciclos de escolarização e o professor deve estar atento é o tempo pedagogicamente necessário para o processamento e assimilação do conhecimento. De acordo com Coletivo de Autores (1992) a organização e a sistematização dos conteúdos devem ser distribuídos levando em consideração o tempo para a sua assimilação.

    O ensino da Capoeira pelo professor deve estruturar pelo princípio do confronto e contraposição de saberes e de forma adequada aos ciclos de escolarização. Os conhecimentos possibilitados por meio do ensino da Capoeira se constituem no pensamento do aluno, de forma espiralada. O aluno constata, nesse movimento de incorporação, os dados da realidade até a sistematização do pensamento para a verbalização. O aluno vai ligando os conhecimentos dos conteúdos com a sua realidade e sua experiência de vida. Defronta o etapismo, que por sua vez, está impregnado no sistema escolar como a seriação. Na 1° serie é aprendido alguns conteúdos e na 2° outros que são conteúdos diferentes, nesta idéia de etapismo, que nos deparamos na educação, dificulta a percepção e o entendimento da totalidade dos conteúdos, construindo, assim, uma visão fragmentada da realidade. (Coletivo de Autores, 1992)

    Para o Coletivo de Autores (1992) o trato do conhecimento científico (sistematizado e elaborado) da Capoeira na escola, objetiva que o aluno, se aproprie dessa manifestação histórico-cultural a fim de tornar-se mais humano, mesmo porque, esta é uma das práticas corporais que melhor expressam a história da luta do oprimido brasileiro diante das injustiças sociais que, mesmo em outra relação (não mais entre escravos e senhores do café, mas entre trabalhador e proprietário dos meios de produção), ainda se encontra presente. Essa apreensão por parte do aluno o faz reconhecer-se enquanto sujeito histórico e transformador da realidade social.

    Além da importância da compreensão da dimensão histórico-política da Capoeira, a crítico-superadora preocupa-se também, numa relação total, com a dimensão prática do saber fazer (e entender o que e porque se faz).

    Assim, passamos agora a compreender um pouco essa dimensão a qual estamos chamando de dimensão prática-conceitual da Capoeira.

Conhecimento prático-conceitual da Capoeira

    Passamos nesse momento a ressaltar os conhecimentos/fundamentos prático-conceituais nos aspectos didáticos pedagógicos do ensino da Capoeira. É neste instante que nos embasamos, principalmente, em Falcão (2001).5

A Ginga

    A ginga na capoeira é a base para o desenvolvimento do jogo. É através dela que é desenvolvido todos os outros movimentos para as diversas situações de jogo. De acordo com Falcão (2001) é a movimentação básica que se caracteriza pela oposição de braços e pernas que deslizam em forma de “X” ou “V” perna direita à frente/braço esquerdo à frente; perna esquerda na frente/braço direito à frente em busca de um equilíbrio dinâmico.

    É com a ginga que o aluno entra no ritmo da capoeira e na levada de sua empolgação. Com a música, começa o envolvimento, a dança e o encanto na prática dessa manifestação da cultura corporal. Com a ginga, o professor tem como direcionamento diversas possibilidades para descontração e brincadeira fazendo com que o educando entre no jogo sem que se dê conta disso. Como ressalta Falcão (2001) é por meio da ginga que o indivíduo desloca o corpo no espaço da roda com o malícia e êxtase que os capoeiristas chamam de “mandinga”. Saber ler as intenções do outro e antecipar a ação do oponente é um dos princípios fundamentais da Capoeira.

    A malevolência, a “mandinga” e a malícia de que Falcão (2001) retrata é o ato de se deslocar com o corpo em uma cadência de movimentos no ritmo da música do corpo em que expressa a intenção ou tenta por meio de improvisação camuflar sua verdadeira intenção durante o jogo, para, brincar, desequilibrar, golpear, entre outras ações.

    A ferramenta pedagógica que pode ser usada para atingir este objetivo de interação e inicio da prática da capoeira com a ginga é a encenação. Falcão (2001) destaca algumas possibilidades pedagógicas: como a imitação em duplas. Consiste em ficar um de frente ao outro. Um imita os movimentos do outro. Depois se alterna o imitador. Após a imitação encena-se fazendo movimentos contrários um do outro. Outras possibilidades de gingar encontram-se estruturadas na imitação de animais, de figuras geométricas, de objetos etc. São algumas possibilidades para tratar o conceito de ginga em que o professor deve usar a imaginação para a sua sistematização e organização da aula não fugindo do objetivo que é o ensino da ginga, explorando a expressão do educando para a movimentação e brincadeira, para a dança e para a luta na roda de capoeira, fazendo com que esta atuação fique prazerosa na aprendizagem do aluno.

Os golpes do “jogo que dança e luta”

    Os golpes de capoeira são de esquivas e de ataques que são trocados em forma de luta, jogo e dança no momento da roda, que conseqüentemente estrutura-se a partir da ginga, como mencionado anteriormente. Como retrata Falcão (2001) os golpes de Capoeira vêm se alterando desde a época de mestre “Pastinha” que criou alguns golpes principais como a meia - lua e a cabeçada e que depois mestre Bimba acaba incorporando outros golpes de outras artes marciais e uma gama de golpes novos começam a ser usados. Os mesmos movimentos são utilizados com nomenclaturas diferentes em diferentes regiões, havendo, muitas vezes, uma grande confusão. Os próprios mestres entendem este dinamismo, pois muitos são extensões de golpes e alterações de movimentos que são populares para todos os capoeiristas. Movimentos como o au, a rasteira, a armada, apresentam variações em diversos lugares do Brasil.

    Falcão (2001) aponta que a movimentação desta arte-luta se opõe ao mundo convencional, o mundo que inverte a hierarquia com o corpo, movimentos como bananeira, meia-lua-de-compasso e pião-de-mão, por exemplo, faz-se um mundo de “pernas para ao ar” mediados pelos quadris e pés.

    Entendendo esta inversão social corporal da capoeira já é um progresso importante para o professor ensinar de forma com que seu aluno entenda suas possibilidades, não apenas ensinar através de reprodução ou imitação de golpes Falcão (2001).

    Falcão (2001) ressalta que a Capoeira é um diálogo de “perguntas” e “respostas” que é improvisado com o corpo uma conversa de acordos que caso não haja um consenso se transforma no que é pior em pancadaria, mas que o elemento principal é a surpresa utilizando a “mandinga”, a “malícia” o que sobrepõe à força física, fazendo com que o companheiro tenha um momento de “vacilo” para poder agir.

    A capoeira vai além de um padrão definido por um sistema de golpes e regras prontas, existe a ordem que deve ser respeitada pelos antepassados como a organização da roda com os instrumentos e todo seu ritual musical. Mas, em jogo de capoeira, o capoeirista se deixa levar pela sua emoção e capacidades corporais conforme sua intensidade de treinamentos e conhecimentos adquiridos durante sua vida.

    Falcão (2001) traz algumas possibilidades para tratar dos golpes; como fazer com que os alunos executem golpes sem se preocupar com modelo; após esta vivência pode se fazer em duplas tentando sincronizar os movimentos executados anteriormente; as acrobacias que por ventura algum aluno saiba, também é válido e o mesmo pode ser vivenciado pelo restante da turma; catalogar movimentos de grupos de capoeira através de vídeos e de pesquisa verificando os mecanismos que movimenta o jogo; reconstruir sistematizando os movimentos; identificar os movimentos que por questão de integridade física não poderão ser executados. Essas são algumas ações que o professor pode fazer para o entendimento do jogo e dos golpes que são executados durante uma roda de capoeira.

O som da capoeira

    Os cânticos de capoeira são características evidentes desta arte-luta, em que são usados berimbau, pandeiro, atabaque, agogô e reco-reco. Existem particularidades com relação aos instrumentos que são usados na capoeira angola e na capoeira regional. Falcão (2001) ressalta que na capoeira regional mestre Bimba retirou o atabaque, pois o mesmo argumentava que era instrumento de religião afro e não tinha relação com capoeira. Mas o berimbau é o instrumento principal da capoeira. Na capoeira angola são usados três berimbaus, o gunga, o médio e o viola. O gunga tem som grave, o médio ou berra-boi possui som intermediário e o viola apresenta som agudo. O som destes, dita o ritmo e estilo de jogo acompanhado das músicas que são organizados como ladainha, chulas ou quadras e corridas. Existem estilos de toques como São Bento Grande da Angola e da Regional entre vários outros que constitui uma roda de capoeira.

    Para o professor de Educação Física trabalhar a questão da musicalidade, uma boa pesquisa destes elementos em livros e com próprios atuantes da área é uma possibilidade para qualificar a aula. Trazer alguém que toque estes instrumentos e cante em sua aula, isso vai com certeza encantar os alunos, como também dentro das possibilidades, confeccionar algum destes instrumentos com eles em que depois irão tocar, instigando ainda mais pelo assunto, pesquisar em laboratórios de informática ou proporcionar um material didático onde possam entender e vivenciar estes elementos musicais. O professor pode ensinar os principais cânticos e toques, como também podem ser inventadas cantigas com os alunos criando um dialeto. Segundo Falcão (2001) nos castigos refletem os heróis do passado, o cotidiano dos escravos, através de metáforas, costumes e o cotidiano, outras possibilidades como encenar as antigas, executar cantigas mais clássicas, cantigas de roda ao som do berimbau, como também identificar e executar ao som e cantigas de um aparelho de som, atuar com palmas na batida do berimbau. Podem também criar cantigas do seu dia a dia, dentre outras possibilidades pedagógicas.

    Com ações como essas os alunos vivenciam a musicalidade e seus elementos históricos e passa, portanto, a entrar no mundo da capoeira.

Na roda de Capoeira

    Na roda de capoeira, que pode ser em pé ou sentados dependendo da forma de jogo, à uma comunicação verbal e corporal que se dá na expressão da musicalidade e no corpo. Há uma organização para o acontecimento do “jogo, luta e dança”. Esta organização, conforme Falcão (2001) inicia-se com o jogo na boca-de-roca ou pé do berimbau. Ali, na roda, os dois jogadores se cumprimentam e iniciam após inclinação do berimbau em forma de sinal. Então o “au” ou outro movimento acrobático é feito. Assim, começa-se o jogo. Outros dois jogadores pode abaixar no pé do berimbau para iniciar outro jogo. Outra forma de outro jogador entrar é a “compra do jogo”. O Capoeirista vai até o pé do berimbau acocora-se e em um momento oportuno interrompe se posicionando na frente de quem ele quer jogar e juntos vão ao pé do berimbau. Assim, com o “au” inicia-se um novo jogo. Para terminar eles se cumprimentam e podem saudar o berimbau e voltar para a roda.

    É neste momento que o aluno coloca em prática sua criatividade adquirida pelo seu conhecimento. Falcão (2001) destaca a importância de se privilegiar valores universais de condição humana na roda de Capoeira. O respeito, a cooperação, a responsabilidade e a solidariedade são essenciais para o andamento da roda.

    Na roda de capoeira os atuantes devem se revezar em seus papéis. O professor deve possibilitar a passagem pelo jogo, pelos instrumentos e pelo canto e palma na roda, assim o indivíduo experimenta todas as vertentes da roda se sentindo integrante efetivo destes acontecimentos. Mas, não deve ser algo forçado, mas, sim prazeroso e espontâneo. A roda pode acontecer com apenas um pandeiro ou um berimbau e um pandeiro ou só com palmas. O professor vai criando formas dentro das possibilidades de recursos e materiais, sistematizando o ensino e oportunizando aos alunos a experimentação e a aprendizagem da Capoeira.

A pesquisa de campo

    Neste momento será tratada a constatação e a análise dos dados a respeito da aplicação do questionário com os professores da Rede Pública Estadual do município de Nova Veneza/SC, em que todos os professores do ensino fundamental e médio da disciplina de Educação Física contribuíram para que o mesmo fosse realizado, perfazendo um total de 6 professores. Serão referenciados nesta análise como Prof-1, Prof-2, Prof-3, assim sucessivamente.

Questão 1. Nível de formação acadêmica.

    Cinco possuem especialização em sua formação acadêmica e apenas um somente com a graduação. Os seis professores foram formados na Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC.

Questão 2. Você trabalhou Capoeira com os alunos este ano?

    Todos os professores não tiveram em sua atuação docente o conteúdo Capoeira.

Questão 3. Você pretende trabalhar capoeira esse ano com os alunos? Se sim, o que pretende?

    De seis professores, apenas dois pretendiam trabalhar capoeira ainda este ano com os alunos. Na justificativa, o Prof-1 aponta que pretendia trabalhar a ginga, pois envolve o ritmo e a música, trazendo o principal instrumento da capoeira: o berimbau, para que o professor pudesse tocar e os alunos pudessem conhecer e tocar esse instrumento. O Prof-2 também destaca o ensino da ginga, além de golpes básicos e a história da Capoeira.

Questão 4. Você acha importante ensinar capoeira na escola? O que dela é importante ensinar?

    Todos os professores acharam importante o ensino da capoeira na escola. Cinco professores destacam o ensino da cultura e da história da capoeira. Quatro professores ainda ressaltam o ensino da luta, do ritmo, da música e do respeito. Dois professores destacam a ginga, os golpes, o jogo, a coordenação motora e as técnicas. Apenas um professor não cita elementos pois relata que é importante o ensino da capoeira, mas, não tem conhecimento suficiente para ensiná-la. Estes foram os apontamentos de elementos julgados importantes no ensino da capoeira na escola.

Questão 5. Você teve capoeira na sua formação acadêmica e profissional ou participou de algum curso, seminário ou palestra a respeito da capoeira? Justifique sua resposta.

    Nenhum dos professores teve Capoeira em sua grade curricular, como também não fizeram cursos e nem seminários. Apenas dois professores justificaram sua resposta. O Prof-1 relatou que na época era disciplina optativa, mas a turma escolheu dança. O Prof-4 relata que também fazia parte da matriz optativa e a maioria em sua classe optou por yoga.

Questão 6. Você se sente preparado para ensinar capoeira na escola? Justifique.

    Apenas dois professores se sentem preparados. O Prof-1 relata que durante sua adolescência brincou e jogou capoeira, porém tem poucos conhecimentos. Estes foram possibilitados apenas em vivências e não como um ensino. O Prof-2 relata que está preparado para ensinar o básico (não especifica). O restante dos professores não sentem-se preparados e não justificaram tal condição.

Questão 7. Em que proposta pedagógica está embasada sua aula?

    Três dos seis professores - Prof-2, Prof-4 e Prof-5 – assinalaram, apenas, a critico-superadora. O Prof-6 assinalou a critico-emancipatória. Dois professores - Prof-1 e Prof-3 assinalaram mais de uma proposta. O Prof-1 assinalou as duas opções críticas e também a tendência militarista e a esportivizada. O Prof-3 assinalou a esportivizada e a aptidão Física

A análise das questões

    Podemos perceber que os professores de Educação Física da Rede Estadual de Nova Veneza/SC, em geral, não se sentem (e não estão) preparados para ensinarem a Capoeira em suas aulas. Essa falta de conhecimento, não os motiva incluírem o conteúdo Capoeira em seus planejamentos. Isso pode ser decorrente do fato destes professores não terem aprendido Capoeira em seu processo de formação inicial e formação continuada. Acreditamos que seja esse o principal motivo: a falta de conhecimento suficientemente necessário para o ensino da Capoeira na escola. Isso impede que os professores trabalhem o mesmo.

    Salientamos a importância do ensino da capoeira no processo de formação acadêmica, pois como mostra, principalmente a questão 5, todos os professores consideram importante o ensino da capoeira, mas não a tratam na escola como conteúdo por falta de conhecimento sobre esta. O ensino da história e da cultura foram os aspectos mais mencionados quanto ao nível de importância no ensino da mesma. A proposta teórico-metodológica Crítico Superadora, como ressaltamos, enfatiza o ensino ao aluno do conhecimento sistematizado e elaborado (científico) de forma que o garanta a compreensão histórica de sua prática corporal, ou seja, retraçando o conteúdo Capoeira desde sua gênese até que estrutura-se na condição contemporânea, de modo a possibilitar articulação concreta desse significado com a vida do aluno.

    Com relação às metodologias de ensino apenas um professor não trabalhava com as propostas críticas6. Como nenhum deles ensinou a Capoeira, no respectivo ano e Rede de Educação, não faremos aqui uma análise didática. Portanto em relatos e registros do que pretenderiam trabalhar como ginga, luta, jogo, golpes, músicas e história, aparentemente, possuem um conhecimento superficial sobre essa manifestação cultural.

    Inferimos que esse desconhecimento da Capoeira por parte dos professores pesquisados se deu pelo fato de não terem em suas formações iniciais e continuadas acesso, de forma significativamente suficiente, a ela. Os professores, todos formados na UNESC, alegaram que não tiveram Capoeira como disciplina em sua formação inicial, pois a mesma estava na condição de disciplina optativa e alegaram também que suas turmas não optaram por essa disciplina.

Considerações finais

    Neste artigo apresentamos algumas possibilidades didático-pedagógicas dentro da proposta teórico-metodológica Crítico-Superadora. Estabelecemos, na dimensão prática, um diálogo breve, porém necessário, com o que consideramos o principal texto didático-metodológico sobre o ensino da Capoeira. Este se encontra presente no livro Didática da Educação Física 1, na Unidade Capoeira, e tem a autoria do professor Doutor Falcão (Ou, como é mais conhecido entre os capoeiristas, Mestre Falcão). Este debate tornou-se necessário, pelo fato, de desconhecermos, dentro da proposta que nos embasa, uma produção na dimensão que estamos chamando de “prática-conceitual no ensino da Capoeira na escola”. Ao mesmo tempo, tal aproximação se efetivou por considerarmos as contribuições significativas desse texto e de seu autor para o ensino da Capoeira escolar numa perspectiva crítica.

    Este embasamento nos possibilitou ir a campo mais seguros a fim alcançarmos, de forma mais qualificada, nosso objetivo de pesquisa, o de identificar se é trabalhada a capoeira e, se for, analisar como é tratada nas aulas de Educação Física da Rede Estadual de Nova Veneza/SC.

    Identificamos que a Capoeira não é ensinada (ao menos não foi esse ano) nas aulas de Educação Física - do ensino fundamental e médio - da Rede Municipal de Nova Veneza/SC, apesar de todos os professores de Educação Física reconheceram a importância de seu ensino. Isso se dá pelo fato, que alegaram não terem recebido formação – inicial e continuada – suficientemente para encorajá-los de ensinar tal manifestação cultural.

    Propomos, assim, reconhecendo a riqueza dessa prática corporal, que as matrizes curriculares dos cursos de Educação Física garantam a Capoeira como disciplina obrigatória e que a Rede Pública Estadual de Nova Veneza/SC possibilite cursos de formação continuada que apresentem ensinamentos didático-metodológicos da Capoeira.

Notas

  1. Nos referimos ao Moisés.

  2. Aceitamos desde o princípio tais contribuições advindas da proposta teórico metodológica crítico emancipatória, por considerarmos este texto o mais avançado na dimensão didático-metodológica do ensino da Capoeira na escola.

  3. Sobre os princípios curriculares no trato do conhecimento ver em Coletivo de Autores (1992).

  4. Sobre os ciclos de escolarização ver Coletivo de Autores (1992).

  5. Destacamos também que, por conta das experiências de Moisés como professor de Capoeira, apresentaremos algumas possibilidades prático-pedagógicas no decorrer do texto.

  6. Fizemos alusão as propostas crítico superadora e crítico emancipatória.

Bibliografia

  • Coletivo de autores (1992). Metodologia do ensino de educação física. São Paulo: Cortez.

  • Falcão, J. L. C. (2001). Capoeira. In: E. Kunz (org.). Didática da Educação Física. 2ª ed. Rio Grande do Sul: Unijuí, p. 55-94.

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