efdeportes.com

Flexibilidade nas artes marciais

Flexibilidad en las artes marciales

Flexibility in martial arts

 

*Faculdades Integradas do Norte de Minas – Funorte

*Programa de Doctorado en Educación Universidad Católica de Santa Fe, Argentina

Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri – UFVJM

***Programa de Pós-Graduação em Neonatologia – Instituto Fernandes Figueira – Fio Cruz

****Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde – PPGC/Unimontes

*****Universidade Federal de Alagoas – UFAL

******Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes

(Brasil)

Juliano da Conceição dos Santos*

Raquel Schwenck de Mello Vianna**

Priscilla Kálisy Duarte Soares***

Kimberly Marie Jones* ****

Daniel Antunes de Freitas*****

Wellington Danilo Soares* *** ******

wdansoa@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          Com o surgimento das competições entre as artes marciais mistas conhecidas mundialmente pela sigla MMA (Mixal Marts Arts) a prática deste e outros esportes de luta têm crescido de forma significativa a todos os públicos (crianças, mulheres, jovens, adultos e até idosos). Nas lutas a flexibilidade está entre as qualidades físicas mais utilizadas. O presente artigo objetivou avaliar a influência da Capoeira, Karatê, Judô e Jiu Jitsu sobre o nível de flexibilidade dos seus praticantes. Trata-se de um estudo descritivo, com abordagem quantitativa, comparativo e transversal. A amostra foi composta por 40 sujeitos, sendo 10 indivíduos de cada arte marcial (Capoeira, Karatê, Judô e Jiu Jitsu), sexo masculino, idade de 20 a 30 anos, selecionados de forma aleatória, praticantes (mínimo de seis meses de prática) da cidade de Montes Claros – MG. Como instrumentos foram utilizados o protocolo de três dobras cutâneas para avaliação da composição corporal e goniometria para mensuração da flexibilidade. Os resultados mostraram que os praticantes das artes marciais pesquisadas apresentam níveis considerados “bons” para as qualidades físicas, composição corporal e flexibilidade. Na capoeira foi evidenciado melhores níveis de flexibilidade quando comparado com o Jiu Jitsu, Judô e Karatê. Conclui-se que as artes marciais parecem contribuir de forma positiva para otimização e manutenção da composição corporal e flexibilidade de seus praticantes, com um evidência maior para a Capoeira no que diz respeito à flexibilidade.

          Unitermos: Flexibilidade. Artes marciais. Avaliação.

 

Abstract

          With the emergence of mixed martial arts competitions between known worldwide by its acronym MMA (Mixal Marts Arts), the practice of martial arts and fighting sports has increased significantly in all audiences (children, women, youth, adults and seniors). The flexibility is among the most commonly used physical qualities in fighting sports. The objective then evaluate the influence of Capoeira, karate, judo and Jiu Jitsu on the level of flexibility of its practitioners. This is a descriptive study, with quantitative, comparative and transverse approach. The sample was composed of 40 subjects (10 individuals of each martial art), masculine sex, 20 to 30 years, selected at random, practitioners (minimum of practice six months) in a martial arts researched (Capoeira, karate, judo and Jiu Jitsu), in the city of Montes Claros-MG. The Protocol was used as instruments of three skin folds for body composition assessment and goniometry for measurement flexibility. The results showed that the martial arts practitioners researched feature levels considered ¨ Good ¨ for the physical qualities and flexibility body composition. In capoeira was evidenced best levels of flexibility when compared with the Jiu Jitsu, Judo and karate. It is concluded that the martial arts seem to contribute positively to optimization and maintenance of body composition and flexibility of its practitioners, with a greater evidence for Capoeira as regards flexibility.

          Keywords: Flexibility. Body composition. Martial arts. Evaluation.

 

Recepção: 22/10/2015 - Aceitação: 11/03/2016

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 21, Nº 215, Abril de 2016. http://www.efdeportes.com/

1 / 1

Introdução

    Atualmente, o engajamento na implantação de programas de atividades físicas com uma visão holística, observando-se o bem-estar físico, social, intelectual, emocional, vocacional e espiritual (Armbruster & Gladwin, 2001), tem proporcionado ao geronte a energia necessária, harmoniosamente equitativa, para desempenhar perfeita funcionalidade psicofisiológica (Dantas, 2002).

    A ausência de flexibilidade razoável conduz o indivíduo à maior possibilidade de lesões e a problemas funcionais, sobretudo em se tratando de sedentários, sujeitos em idade madura ou anciões. Estudos revelaram que grupos etários em idade madura apresentam redução da flexibilidade devido à maior perda da mobilidade articular do que da elasticidade muscular, mas, no entanto, à medida que a idade avança, a tendência é a inversão da ordem desses fatores. As alterações na capacidade de flexibilidade decorrem das variações etárias, e de outros fatores endógenos e exógenos (Dantas, 2002).

    A flexibilidade é a qualidade física responsável pela execução voluntária de um movimento de amplitude angular máxima, por uma articulação ou conjunto de articulações, dentro dos limites morfológicos, sem o risco de provocar lesões (Dantas, 2002).

    Dessa maneira, é certamente a qualidade física utilizada pelo maior número de desportistas. (Dantas, 2003; Platonov & Bulatova, 2003; Pitanga, 2004). No jiu-jitsu a flexibilidade é bastante solicitada em diversas articulações, dependendo do posicionamento de luta em que os atletas se encontram. Uma das articulações mais solicitadas é a articulação do quadril, o atleta que está de costas para o solo aplicando uma técnica de queda raspagem, realiza neste gesto esportivo uma flexão de quadril com uma extensão de joelhos simultânea, provocando assim, um encurtamento do reto da coxa em ambas as extremidades, enquanto os jarretes se alongam também em suas extremidades. Tanto o reto da coxa, quanto os jarretes são músculos biarticulares, agonista e antagonistas entre si, e quando atingem amplitudes extremas sofrem tensões em suas extremidades. (Rasch, 1991; Kapandji, 1990).

    Neste posicionamento em particular, a musculatura posterior de coxa sofre um alongamento que ultrapassando os limites de seu arco articular podendo levar a uma tensão músculo-tendínea excessiva, considerando o músculo como um dos principais componentes limitantes da amplitude de movimento articular, seria indesejável uma flexibilidade extremamente limitada, porque se os tecidos colágenos e os músculos que atravessam esta articulação estiverem tensos, aumentam a probabilidade de sua laceração ou ruptura quando a articulação é forçada além de sua amplitude de movimento (Dantas, 2003; Hall, 2000).

    Para Shankar (2002) o músculo, a fáscia, o tendão e o ligamento podem exibir um grau de rigidez aumentado - que conduz a um funcionamento não-ótimo em uma determinada articulação.

    Todo o músculo tem seu cumprimento normal desejado para a sua função, exceder este cumprimento realizando amplitudes extremas podem predispor tal musculatura a lesões.
    Para Zito apud Achour Júnior (1997), é na amplitude final do movimento que geralmente ocorrem lesões. A utilização da flexibilidade como profilaxia para a diminuição de riscos de lesões, decorrentes da execução de movimentos que exigem amplitude máxima de uma articulação, ainda são pouco investigados. Muitos autores defendem a utilização da flexibilidade na prevenção de lesões por acharem necessária a inclusão desta qualidade física em todos os períodos de treinamento de um atleta, independente da sua modalidade esportiva. (Dantas, 2003; Farinatti, 2000; Platonov; Bulatova, 2003)

    É importante relembrar que a flexibilidade embora não seja uma qualidade física de importância prioritária no desempenho, se comparada com a força, à velocidade ou a resistência, ela está presente em quase todos os desportos. (Dantas, 1999).

    Castro (2001) sugere a prática constante de exercícios de flexionamento, procurando dar ênfase nos grupos musculares mais solicitados durante a prática de alguma modalidade esportiva, respeitando o princípio da especificidade, os exercícios para manter ou aumentar a flexibilidade, seriam aplicados para prever encurtamentos e possíveis contraturas para otimização do desempenho muscular.

    As lesões, para Farinatti (2000), decorem de fatores múltiplos, não somente pela influência de uma má flexibilidade. Segundo o manual do American College Sports Medicine (ACSM) as qualidades físicas inerentes a aptidão física relacionada à saúde são a composição corporal, força, resistência muscular, resistência cardiorrespiratória e a flexibilidade (ACSM, 2003).

    Para Guimarães e Guimarães (2002) as artes marciais possibilitam a seu praticante uma otimização das capacidades físicas. Gracie e Gracie (2004) coadunam com essa afirmação e acrescentam que as artes marciais como Jiu Jitsu, Karatê, Capoeira e Judô melhoram a força, flexibilidade e resistência cardiorrespiratória de seus adeptos.

    Messias e Pelosi (1997) afirmam que a prática das artes marciais e esportes de lutas, produz resultados favoráveis ao desenvolvimento social, promovendo benefícios psicológicos positivos tanto em indivíduos sadios como em patológicos. As lutas são disputas em que os oponentes devem ser subjugados, com técnicas e estratégias de desequilíbrio, contusão, imobilização ou exclusão de um determinado espaço combinando ações de ataque e defesa. Ele ainda cita como exemplos de lutas desde brincadeiras de cabo de guerra até as praticas mais complexas da Capoeira ou Judô. Ainda são caracterizadas por uma regulamentação especifica a fim de punir atitudes de violência e de deslealdade (Parâmetros Curriculares Nacionais, 1998).

    Dentro deste contexto o presente estudo objetivou analisar os níveis de flexibilidade entre praticantes de diferentes artes marciais na cidade de Montes Claros – MG.

    Assim sendo o presente estudo se justifica na possibilidade de, através dos seus resultados, demonstrar os reais efeitos que a prática das artes marciais possibilita com relação a ganhos nas capacidades físicas ligadas que compõem a aptidão relacionada à saúde.

Materiais e métodos

    O presente foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes e aprovado através do parecer consubstanciado nº 851.745/ 2014. Trata-se de um estudo que apresenta caráter descritivo, com abordagem quantitativa, comparativo e transversal (França; Vasconcelos, 2014).

    A amostra foi composta por 40 sujeitos, sendo 10 indivíduos de cada arte marcial (Capoeira, Karatê, Judô e Jiu Jitsu), sexo masculino, idade de 20 a 30 anos, selecionados de forma aleatória, praticantes (mínimo de seis meses de prática) da cidade de Montes Claros – MG. Foram incluídos no grupo amostral aqueles praticantes de arte marcial que aceitaram participar da pesquisa de forma voluntária e que praticavam uma das artes marciais pesquisada pelo tempo mínimo de seis meses. E excluídos aqueles que não aceitaram assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) ou não estiveram presentes no dia da coleta de dados após três tentativas.

    Para aferição da composição corporal foi utilizado o protocolo de dobras cutâneas (tríceps, peitoral e subescapular) propostas por Jackson e Pollock (1985). As medidas de dobras cutâneas foram feitas em triplicata, utilizando um compasso (adipômetro) científico da marca LANGE® (Cambridge Scientific Industries Inc, USA), com precisão de 1 mm. Os procedimentos para a coleta das dobras cutâneas foram realizados de acordo com procedimentos padronizados (Harrison, 1988).

    Já para avaliação dos níveis de flexibilidade foi utilizado o protocolo de Goniometria proposto por LABIFIE (Dantas, 2005) que mensura os ângulos articulares, sendo amplamente aceito e utilizado pela comunidade científica como método capaz de avaliar níveis de flexibilidade. O instrumento utilizado foi um goniômetro de aço de 180º da marca Lafayete de fabricação Norte-Americana.

    Os movimentos articulares avaliados foram a Extensão Horizontal do ombro (EHO), Flexão da Coluna Lombar (FCL) e Flexão do Quadril (FQ).

    Para a coleta de dados, inicialmente foi feito um contato com a liga Norte Mineira de Artes Marciais para solicitar a autorização para realização da pesquisa. A partir da autorização por parte desta, foi realizada uma busca ativa nas academias pelos praticantes dessas artes marciais investigadas que fossem filiados à liga. Todos que foram incluídos na amostra, após receberem as informações pertinentes sobre a pesquisa, assinaram o TCLE. Foi agendado com os participantes um dia e local para coleta dos dados, que foi feita pelos próprios pesquisadores, sempre na mesma hora do dia, entre os meses de março e abril de 2015.

    Através dos dados coletados foi feita uma análise descritiva com valores de mínimo, máximo, média e desvio padrão, com o intuito de caracterizar o grupo amostral. Posteriormente foi realizado o teste de Shapiro Wilk para verificar a homogeneização dos dados. Para comparação das variáveis entre os grupos pesquisado foi utilizado ANOVA com post host Scheffe.

    O presente estudo observou as condições básicas para a manutenção da cientificidade da pesquisa. O nível de significância considerado foi p ≤ 0,05. (Thomas e Nelson, 2002).

    Todo o procedimento estatístico foi realizado através do programa estatístico SPSS (Statistical Pachage for Social Sciences) 19.0 para Windows.

Resultados e discussão

    A amostra foi composta de 40 participantes de artes marciais divididos em 4 grupos, tendo 10 participantes em cada grupo (G1 – Karatê/G2 – Judô/ G3 – Jiu Jitsu/G4 – Capoeira) na faixa etária de 20 a 30 anos (26,1 ± 3,06 anos) e tempo de treino no esporte de luta de seis meses a 23 anos.

Tabela 1. Demonstra os dados descritivos do grupo amostral

    Conforme pode ser verificado na tabela 1 a composição corporal apresentou médias que se enquadram dentro da classificação “bom” conforme os padrões de referência proposto por Jackson e Pollock (1978). De acordo com Fogelholm (1994) existe uma preocupação com o controle da composição corporal nos praticantes de artes marciais, sendo essa preocupação justificada pelas competições, no qual os atletas se preocupam com questões de pesagem nas competições. De qualquer forma ficou evidente que a prática das artes marciais otimiza a melhora na composição corporal dos seus praticantes.

    Com relação aos níveis de flexibilidade, todos os movimentos articulares investigados apresentaram média classificadas normais de acordo com os padrões estipulados pela American Medical Association (Norkin & White, 1997). Apesar de apresentar médias diferentes entre os movimentos articulares, mesmo porque a flexibilidade não se caracteriza de modo uniforme nas várias articulações e nos movimentos corporais, sendo normal, em um indivíduo, que sua amplitude máxima seja qualificada como boa para determinados movimentos e limitada para outros, representando o que se convencionou denominar especificidade da flexibilidade (Araújo, 2008).

    Os resultados encontrados no nosso estudo com relação à composição corporal e flexibilidade coadunam com um estudo de revisão realizado por Fong e Shamay (2011) no qual foram examinados estudos que tiveram por objetivo, a caracterização dos benefícios da prática de artes marciais em indicadores de estado de treinamento aeróbio, composição corporal, força muscular, resistência geral e específica e flexibilidade. Os autores encontraram evidências da melhora do estado de treinamento da condição aeróbia, composição corporal e força muscular.

Tabela 2. Apresenta as variáveis investigadas comparadas entre as diferentes artes marciais (n=40)

    Os dados apresentados na tabela 2 deixaram evidente que não existe diferença estatisticamente significativa na composição corporal das artes marciais pesquisadas. Já com relação aos níveis de flexibilidade, nos três movimentos articulares avaliados, não foram encontradas diferenças estatísticas para a Flexão da Coluna Lombar (FCL). Nas amplitudes de movimento da Extensão Horizontal do Ombro (EHO) a Capoeira apresentou médias estatisticamente superiores quando comparados com o Karatê, Judô e Jiu Jitsu. Como também para a amplitude de movimento da Flexão do Quadril (FC), mais uma vez os praticantes da Capoeira mostraram possuir médias superiores estatisticamente comprovadas, na comparação com o Karatê e Judô, e iguais as médias apresentadas pelo Jiu Jitsu.

    Para a comparação dos arcos articulares avaliados entre as artes marciais Jiu Jitsu e Karatê, os resultados apontaram que mesmo apresentando diferenças metodológicas nos seus treinamentos, não foram verificadas diferenças estatisticamente significativas nos níveis de flexibilidade dessas duas artes marciais. Esses resultados coadunam com Soares (2005) que avaliou e comparou níveis de flexibilidade de atletas de Jiu Jitsu (n=12) e Karatê (n=12), também através do protocolo de goniometria, não encontrando diferenças significativas para essa qualidade física entre as modalidades de luta. Os movimentos articulares avaliados foram os mesmos da pesquisa aqui apresentada.

    Schwartz (2011) objetivou avaliar a aptidão física relacionada á saúde em praticantes de lutas e modalidades de combate de 965 indivíduos, sexo masculino, praticantes de cinco modalidades de esportes de luta (Karatê, Jiu jitsu, Judô, Kung fu e Taekwendô), por meio da bateria de avaliação física. Os resultados mostraram que tanto a composição corporal quanto a flexibilidade dos investigados estavam dentro dos padrões considerados “média”. Esses achados diferenciam dos nossos, essa diferença pode ser justificada pela disparidade no tempo de prática dos participantes, no qual nosso estudo mostrou valores médios superiores neste tempo de pratica.

    Importante lembrar que a flexibilidade apesar de ter seu papel preponderante na prática das artes marciais, a mesma tem sido destacada nos movimentos diários para uma melhor qualidade ou prevenção de lesões (Sacco et al., 2009).

Conclusão

    Os resultados encontrados nos permitem concluir que as artes marciais pesquisadas promovem uma boa manutenção na composição corporal e otimiza os níveis de flexibilidade de seus praticantes. Para a amostra pesquisada a Capoeira foi a modalidade de luta que apresentou as maiores médias nos movimentos articulares avaliados.

    Recomendamos que sejam feitos novos estudos para poderem embasar ou não os resultados encontrados.

Bibliografia

Outros artigos em Portugués

www.efdeportes.com/

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 21 · N° 215 | Buenos Aires, Abril de 2016
Lecturas: Educación Física y Deportes - ISSN 1514-3465 - © 1997-2016 Derechos reservados