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Os hábitos e conhecimentos sobre hidratação de praticantes 

de futebol americano do município de Fortaleza, CE

Los hábitos y conocimientos sobre la hidratación de practicantes de fútbol americano de la ciudad de Fortaleza, CE

The habits and knowledge about hydration of American football practicing in the city of Fortaleza, CE

 

*Especialista em Fisiologia do Exercício (UECE)

**Mestrado em Computação Aplicada (UECE)

***Professor Titular do Instituto Superior de Teologia Aplicada

(Brasil)

Diogo Queiroz Allen Palacio*

Genilson César Soares Bonfim**

Patricio Autobelly Paulino da Silva***

autobelly88@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O estudo traz em seu escopo a verificação dos conhecimentos e hábitos dos praticantes de futebol americano no município de Fortaleza-Ce. Por tanto, para o presente trabalho foi utilizado questionário adaptado e fechado de outros estudos e a abordagem quantitativa e freqüência simples. Objetivamos assim analisar o nível de conhecimento e os hábitos sobre as práticas de hidratação dos praticantes de FA no município de Fortaleza-Ce. Sendo respondido por 72 atletas de futebol americano do município de fortaleza. Dentre os resultados pode-se verificar que existe uma preocupação com a hidratação independente da estação do ano (77%), e com o hábito de ingerir água antes da sensação de sede (71,84%). Ao serem questionados se existia a preocupação com o tipo de líquido ingerido, 69,01 disseram ingerir água antes, 60,56% ingerem água durante e 69,01% depois da prática esportiva, tendo os valores de 12,67% para antes, 52,11% durante e 16,90% para depois da ingestão de isotônico na prática esportiva. Contudo, podemos verificar a existência de um conhecimento teórico e hábitos diários condizentes com a literatura, porém é existente uma falha nos hábitos de hidratação do treinamento e competição. Sendo viável a intervenção, para que sejam evitados quadros graves de desidratação nos atletas e para que o desempenho seja melhorado e/ou mantido durante os treinos e competições.

          Unitermos: Hidratação. Esporte. Exercício. Desidratação.

 

Abstract

          The study brings in its scope to check the knowledge and habits of American football players in Fortaleza-Ce. Therefore, for this study was used questionnaire adapted and closed other studies and the quantitative approach and simple frequency. So we aimed to analyze the level of knowledge and habits of hydration practices of FA practitioners in Fortaleza-Ce. It is answered by 72 football players of the city fortress. Among the results it can be seen that there is a concern with the independent hydration of the season (77%), and the habit to drink water before thirst sensation (71.84%). When asked if there was concern for the type of liquid ingested, 69.01 said drink water before, 60.56% ingest water during and 69.01% after sports practice, and the values ​​of 12.67% for before, 52.11% for and 16.90% for after the isotonic intake in sports. However, we can verify the existence of a theoretical knowledge and daily habits consistent with the literature, but it is a fault existing in hydration habits of training and competition. Intervention, to severe cases of dehydration in athletes is avoided and that performance is improved and/or maintained during training and competitions being feasible.

          Keyword: Hydration. Sport. Exercise. Dehydration.

 

Recepção: 16/10/2015 - Aceitação: 23/02/2016

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 20, Nº 214, Marzo de 2016. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A hidratação é um assunto bem comum entre a sociedade, pois já é de costume beber água somente no estímulo de sede (Hernandes, 2009). Wilmore (2010) afirmam que durante a sede já nos encontramos 2% desidratados, seja no dia-a-dia ou na prática de Exercício Físico (EF). Em locais de clima quente e/ou úmido a sudorese aumenta, (National Athletica Trainers’ Association, 2000), podendo citar como exemplo o Brasil, que tem grande parte do seu território contida nessas especificações (Guerino, 2010; Moreira e Sene, 2008). Logo os cuidados com a hidratação, nesses ambientes, devem ser redobrados (Santos, 2008).

    Isso nos leva a desidratação proporcionada pelo EF, responsável pela elevação da temperatura corporal, oriunda de inúmeros fatores, entre eles: as reações químicas que ocorrem no organismo, à má dissipação de calor através da pele entre outras formas (Carvalho e Mara, 2010; Guyton e Hall, 2006). Carvalho (2010) informa-nos que a produção de suor não é o gerador principal do arrefecimento/esfriamento do corpo em ambientes quentes e/ou secos, sendo o gerador de tal ação a evaporação da água, seu principal constituinte.

    O clima é um fator externo contribuinte, porém, podemos citar também as vestimentas e outros fatores que venham a perturbar o equilíbrio hídrico na prática esportiva (American College of Sports Medicine, 2007; McArdle, Katch e Katch, 2013). Levando a um cuidado maior frente à prática dessa modalidade no Brasil, devido à prática de Futebol Americano brasileiro ter rompido o amadorismo e iniciado o seu profissionalismo, segundo a Confederação Brasileira de Futebol Americano (2014).

    O FA teve seu início em novembro de 1869 nos EUA, com uma partida entre as universidades Rutgers e Princeton, utilizando-se de regras modificadas da London Football Association, baseado no soccer (futebol jogado com os pés). Sendo praticado assim por sete anos, até chegar ao conhecimento dos americanos o rugby, esporte bastante difundido na Europa, dando assim a sua parcela e contribuição na evolução de uma forma geral no FA (National Football League, 2013).

    Segundo a Confederação Brasileira de Futebol Americano (2014), o esporte começou a ganhar adeptos brasileiros em meados da década de 90 por intermédio da Band®, primeira emissora brasileira a transmitir os jogos da temporada regular, entre os anos de 1994-1998, transmitidos, atualmente pela ESPN® e BANDSPORTS®.

    No FA, os atletas usam inúmeros equipamentos e vestimentas complementares, que os recobrem dos pés à cabeça, equipamentos estes que chegam a pesar aproximadamente 7 kg (McArdle, Katch e Katch, 2013; Confederação Brasileira De Futebol Americano, 2013). Estes se tornam barreira entre o atleta e o ambiente que o circunda, dificultando assim o resfriamento do organismo, fatores estes que somados a uma hidratação inadequada levará o indivíduo a níveis preocupantes de desidratação (American College Of Sports Medicine, 2007). Assunto esse importantíssimo, causador de mortes no século passado no FA norte americano (McArdle, Katch e Katch, 2013).

    Os atletas ou meros praticantes de EF, devem se hidratar de forma correta, pois o Brasil e seu clima é favorável a instalação de quadros de desidratação. Quadros estes que vão desde leves alterações na pressão arterial e podem levar ao óbito (quando em níveis elevados de desidratação). Os praticantes de FA com seus equipamentos e afins devem ter os cuidados redobrados. Sendo assim o trabalho trás algumas recomendações sobre hidratação e conselho capazes de evitar os problemas oriundos da má hidratação.

    Objetivamos assim analisar o nível de conhecimento e os hábitos sobre as práticas de hidratação dos praticantes de FA no município de Fortaleza-Ce.

Metodologia

    O estudo foi construído na forma descritivo-exploratória e os dados foram adquiridos através de questionário objetivo. As equipes de futebol americano e seus respectivos praticantes treinam em campos de futebol, públicos e privados. A pesquisa foi aplicada em loco de treino das equipes.

    O grupo participante da pesquisa é composto por praticantes de Futebol americano do município de Fortaleza-Ce, escolhidos de forma não probabilística, em um total de 72 atletas participantes, todos do sexo masculino. Os fatores de inclusão da pesquisa foram: atletas de FA no município de Fortaleza e que o praticassem a mais de dois meses, idade igual ou maior a 18 anos, ambos os sexos e que aceitem participar do estudo. Os participantes que não se enquadraram nos fatores acima, se encontram dentro dos fatores de exclusão.

    A pesquisa foi realizada no período de janeiro a março de 2015.

Resultados e discussão

    Os atletas quando indagados dos seus hábitos nos treinos e competições geraram os seguintes dados: 2,81% se hidratam somente durante as competições e 5,63% somente durante os treinos, sendo uma parcela pequena do grupo pesquisado. Os demais, isto é, 76,05% sempre ingerem líquidos durante as competições e 78,87% sempre durante o treino, outros 15,49% e 12,67%, às vezes, respectivamente, conforme gráfico 1. Podendo, então, verificar a importância dada a hidratação pelos atletas, frente à realidade climática vivida no município de Fortaleza-Ce, um ambiente de temperaturas elevadas, assim, como a umidade relativa do ar (URA) e não somente isso, o esporte em si é de intensidades elevadas, requerendo dos praticantes um cuidado maior em relação a hidratação.

    Sendo assim, questionou-se aos atletas sobre seus costumes dentro de cada fase em cada período específico. Contabilizando-se os seguintes valores: 4,22% se hidratam antes do treino e 5,63% antes das competições, 57,74% dos atletas se hidratam durante o treino e 54,92% durante as competições, 19,71% depois dos treinos e 14,08% depois das competições, 35,21% foi a parcela dos atletas que afirmaram se hidratar durante todas as fases, seja estas nos treinos ou competições, apresentado no gráfico 2.

    Uma parcela significativa dos atletas, 74,29%, mostraram hábitos inadequados. Segundo McArdle (2013), uma boa hidratação deve constar de ingestão líquida em todas as fases do treino e competição com água e/ou isotônicos a depender do momento.

    Quando questionados se tinham preocupação com o tipo de roupa que usavam durante o exercício, destes, 87% se mostraram preocupado com a roupa e 13% não mostraram nenhuma preocupação. E dos que se mostraram preocupados, 70,96% tinham preocupação de verificar o tipo de tecido, 4,83% quantidade de tecido, 11,29% com cor e tecido, 9,67% marcaram todas as opções e 4,83% tipo e quantidade de tecido.

    Os valores para cor e tecido podem ter se mostrado baixo pelo fato de as cores do uniforme serem estipuladas pelas cores do time ou pela temática aplicada nos treinos, isto é, time de defesa usar uma cor e ataque outra, sobrando assim, utilizar roupas ou alguns equipamentos com determinados tipos de tecido, buscando evitar a perda excessiva de líquidos pelo suor e seus componentes hidroeletrólitico.

    Posteriormente foi questionado se existia a preocupação com o tipo de líquidos ingeridos, água ou isotônico, nas fases do treino e da competição: 74,64% informaram que sim e 25,36% dos demais demonstraram não se importar. Porém, logo em seguida foi indagado quais os tipos de líquidos e em que fases eles ingeriam, produzindo os dados a seguir: 33,80% informaram não tomar isotônico em nenhuma fase e nenhum atleta ingere isotônicos em todos os momentos, já 38,02% informaram beber água em todos os momentos, contudo, 7,04% informaram tomar isotônico somente antes e 9,85% afirmaram ingerir água somente antes, 39,43% informaram tomar isotônico somente durante, enquanto 15,49% disseram tomar água somente durante e 4,22% tomaram isotônico e 2,81% água somente depois da prática esportiva (Gráfico 3).

    Os isotônicos são importantes para o organismo por disponibilizar carboidratos e eletrólitos, evitando a depleção dos mesmos e dá água nas competições e treinos, podendo suprir qualquer falta que possa vir a ter quando ingerido antes da prática e de acelerar o processo de recuperação quando tomados depois (American College of Sports Medicine, 2007; National Athletica Trainers’ Association, 2000).

    Quando perguntados sobre os benefícios de isotônico, obteve-se os dados a seguir: 4,22% acreditam só repor líquidos, 19,71% repõe eletrólitos e energia, 7,04% informam ter a mesma função da hidratação com água, 8,45% repõe só eletrólitos, 63,38% hidrata e repõe eletrólitos e energia (resposta correta), 2,81% informaram não saber.

    Os atletas de FA mostram saber, mas por algum motivo eles não colocam em prática os conhecimentos. Podendo ser pela temática do jogo, ou por alguma rigidez da comissão técnica e outros fatores que impedem que eles se hidratem de forma correta.

    Questionou-se aos entrevistados se já tinham tido alguma orientação sobre a melhor maneira de se hidratar, 41% destes informaram que sim, sendo os cálculos dos dados a seguir feitos em cima desse número, gerando os seguintes valores para os itens a seguir: Médico (24,13%), preparador físico (51,72%), treinador (44,82%), livros (31,03%), entre outros (gráfico 5).

    Quando questionados sobre quando se deve beber líquidos: 71,84% consomem água antes da sensação de sede, 25,35% somente depois de sentir sede e 2,81% quando se sente muita sede (Gráfico 6). Corroborando com estudos de Ferreira (2009); Carmo (2011); Brito e Marins (2005), que obtiveram, respectivamente, os valores de 63%, 73,06% e 66,42% para ingestão antes da sensação de sede, números bem próximos do obtido no atual estudo, demonstrando que entre os praticantes o consumo de líquidos se mostra de forma satisfatória quando feita antes da sensação de sede.

    A literatura atual é controversa frente a este ponto, sendo assim, serão necessários mais estudos para elucidação do mesmo. Porém, Greenleaf (1992) e Shirreffs (2005), afirmam que frente a um clima quente e/ou temperado a sede é um fator de risco para a instalação dos quadros de desidratação.

    Quando perguntados qual solução líquida era ingerida de costume, 78,87% dos entrevistados responderam água, seguido de 32,39% que responderam isotônicos, 33,80% informaram tomar sucos naturais, os demais valores podem ser observados no gráfico 7. Números importantes, pois os atletas vivem em um local com clima propício a sudorese profusa e a perda de eletrólitos diariamente como mostrada anteriormente, sendo assim, repostos quando ingeridos os sucos naturais e os isotônicos e sendo mantido o euhidratado com a ingestão de água.

    Sendo mantidos esses hábitos a probabilidade do atleta ser acometido por quadros de desidratação é diminuída nas fases do treino, como veremos a seguir. Então quando os entrevistados foram questionados sobre suas preocupações em se hidratar nas estações do ano, 77% se mostraram hidratar-se da mesma forma independente da estação, 6% não demonstrou preocupação e 17% se mostram preocupados somente no verão e nenhum atleta marcou a opção no inverno (Gráfico 8). Se mostrando um dado de suma importância para o esporte em Fortaleza-Ce, pois nosso clima é tropical com alternância da URA, entre úmido e seco (Moreira e Sene, 2008), dois fatores relevantes para acelerarem a perda líquida pelo organismo (McArdle, Katch e Katch, 2013; Carvalho e Mara, 2010).

    Perguntou-se aos participantes como eles achavam que deveria ser feita a hidratação, sendo respondido da seguinte forma, 50,71% responderam de forma correta, segundo o American College of Sports Medicine (2011) (Gráfico 9).

    Sendo perguntado se os mesmos já tinham sentido algum dos sintomas referido na tabela 1, com a finalidade de fortificar a concepção de que há um problema entre o conhecimento e sua aplicabilidade.

    Segundo McArdle (2013), Wilmore (2010) e Silverthorn (2010) os tecidos cerebrais são sensíveis ao calor, com isso elevações da temperatura central pode levar a alterações do estado mental que explica a dificuldade de concentração, assim, como a de realização de um movimento técnico facilmente executado em outros momentos e explicando os demais sintomas.

Tabela 1. Durante uma competição ou treinamento, você já apresentou algum destes sintomas?

Fonte: Elaborado pelo autor

    As respostas obtidas no questionamento de qual a temperatura, preferida, do liquido a ingerir, obteve-se, 21,12% em temperatura normal, 71,83% moderadamente gelada, 7,04% extremamente gelada.

    Segundo, Hernandez (2009); Silva; Altoé; Marins (2009), a temperatura do liquido ajuda na palatabilidade do liquido e não na sua absorção, devendo ser levado em consideração para uma rápida ou não absorção do mesmo é o seu teor calórico. Porém, a literatura se mostra sem uma afirmação concreta sobre tal assunto.

    Posteriormente perguntou-se qual o isotônico ele conhecia e qual o de sua preferência, sendo obtidos os dados mostrados na tabela 2. Sendo verificado que o de maior conhecimento é o Gatorade® com 91,54% do conhecimento e 77,46% da preferência dos pesquisados, seguido pelo Red Bull® com 43,66% e 22,53%.

Tabela 2. Tipo de isotônico

Fonte: Elaborado pelo autor, tabela referente a oitava e nona questão

    O Red Bull® foi o segundo entre os mais conhecidos (43,66%) e entre os mais preferidos (22,53%). Contudo seus valores são bem distantes do que os relatados na literatura para uma bebida ideal.

    Segundo, Bonci (2002) e McArdle (2013), o uso de cafeína, componente principal do Red Bull, se mostrou benéfica em alguns experimentos de laboratório, pela sua atuação no sistema nervoso central e pela facilitação na liberação de adrenalina pela suprarrenal. Porém, segundo Carmo (2011), os fatores contra podem estar relacionados com o elevado teor de carboidrato na bebida que pode levar a uma má ingestão do líquido e acumulo deste no sistema intestinal, fator não favorável a boas performances.

Considerações finais

    O trabalho chega à conclusão de que os atletas possuem um conhecimento teórico sobre os moldes corretos de hidratação, possivelmente relacionados com os sintomas apresentados pelos atletas que, supostamente, tenha os levados a buscar tal conhecimento.

    Consciência esta que refletiu no dia-a-dia dos atletas, pois, seus hábitos diários se mostram de forma satisfatória.

    Contudo, quando verificados para a prática de exercício físico, seja ele treino ou competições, se mostraram ter hábitos insuficientes para a manutenção do euhidratado, incluindo a reposição de outros componentes (carboidratos e eletrólitos).

    Levando a hipótese que a temática do esporte ou mesmo o regimento de treinamento dos times, pode ser o fator principal e condicionante desses hábitos errôneos de hidratação nas fases dos treinos ou competições, isto é, antes, durante e depois.

Bibliografia

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 20 · N° 214 | Buenos Aires, Marzo de 2016
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