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Análise da correlação do índice de massa corporal (IMC) e do 

índice de adiposidade corporal (IAC): uma revisão bibliográfica

Correlation analysis of body mass index (BMI) and body adiposity index (BAI): a literature review

Análisis de correlación del índice de masa corporal (IMC) y el índice de adiposidad corporal (IAC): una revisión de la literatura

 

*Graduanda do curso de Educação Física

na Universidade Federal da Grande Dourados

**PhD em Fisiologia e Biofísica – UNICAMP

(Brasil)

Bárbara Cristovão Carminati*

Suelen Maiara Medeiros da Silva*

Pablo Christiano Barboza Lollo**

barbara_carminati@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O presente estudo buscou analisar os estudos que comparavam/correlacionavam o índice de adiposidade corporal (IAC) e índice de massa corporal (IMC) diretamente. Ao todo foram encontrados sete artigos no Google scholar variando a publicação de 2012 a 2014. Os resultados encontrados foram que 5 artigos obtiveram uma correlação significativa e moderada, considerando o IAC um método adequado para avaliar a gordura corporal, apresentado também vantagens sobre o IMC por não utilizar o peso corporal, mas obteve limitações ao uso clínico. Dois artigos não encontraram nenhuma correlação entre os métodos, porém não apresentaram críticas ao IAC, considerando-o com boa aplicabilidade. Concluímos que o IAC vem apresentando resultados positivos como método de avaliação da gordura corporal e sendo aceito pela maior parte dos autores que o compararam/correlacionaram com o IMC.

          Unitermos: Índice de Massa Corporal (IMC). Índice de Adiposidade Corporal (IAC). Correlação.

 

Abstract

          This study aimed to analyze studies that compared/correlated the body adiposity index (BAI) and body mass index (BMI) directly. Seven articles were found on Google scholar, from 2012 to 2014 (publication year). The results shown that 5 articles have been significant and moderate correlation, considering the BAI a suitable method for assessing body fat, also presented advantages over the BMI not to use body weight, but got limitations to the clinical use. Two articles have found no correlation between the methods, but had no criticism of the BAI, considering it with good applicability. We conclude that the BAI has shown positive results as an evaluation method of body fat and being accepted by most authors that compared/correlated with BMI.

          Keywords: Body Mass Index (BMI). Body Adiposity Index (BAI). Correlation.

 

Recepção: 19/07/2015 - Aceitação: 02/12/2015

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 20, Nº 213, Febrero de 2016. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Nos últimos anos a obesidade aumentou significativamente, tornando-se um problema da saúde pública mundial. Segundo Oliveira e Fisberg (2003), os fatores genéticos, fisiológicos e os metabólicos podem desenvolver a obesidade, porém o que parece explicar este aumento significativo são os fatores ambientais, sendo eles a mudança no estilo de vida e nos hábitos alimentares.

    Com o avanço tecnológico os seres humanos se estabeleceram em uma zona de conforto. Adotando um estilo de vida menos ativo e consumindo uma maior quantidade de alimentos industrializados, ricos em açucares e com alta quantidade calórica, como podemos observar no estudo Oliveira et al. (2003) apud Oliveira e Fisberg (2003), verificou que a obesidade infantil foi inversamente relacionada com a prática da atividade física sistemática, com a presença de TV, computador e videogame nas residências, além do baixo consumo de verduras, confirmando a influência do meio ambiente sobre o desenvolvimento do excesso de peso em nosso meio.

    Segundo Rezende et al. (2007) para que se possa realizar uma intervenção eficiente no tratamento da obesidade, é necessário primeiramente avaliar o indivíduo, de forma que se possam caracterizar a composição corporal, obesidade e sobrepeso. Há vários métodos de avaliação da composição corporal, Martin e Drinkwater (1991) classifica esses métodos em três grupos: Diretos, indiretos e duplamente indiretos. O método direto consiste na separação e pesagem dos componentes corporais separadamente; ou seja, apenas uma dissecação de cadáver. Os métodos indiretos são aqueles que por meio de princípios químicos e físicos identificam as quantidades de gordura e de massa magra e os duplamente indiretos são aqueles que a partir de um método indireto são validados.

    Os métodos duplamente indiretos são os mais utilizados devido ao seu baixo custo beneficio. A antropometria dentre eles é o mais utilizado, sendo um método não invasivo e execução fácil e rápida, consiste na avaliação das dimensões físicas e da composição global do ser humano. Recentemente Bergman e colaboradores (2011) desenvolveram mais um método antropométrico o Índice de Adiposidade Corporal (IAC), no entanto os mais utilizados e conhecidos até hoje são: O Índice de Massa Corporal (IMC) e Medidas de Dobras Cutâneas (DC).

    O índice de massa corporal é o método antropométrico mais utilizado para diagnosticar o sobrepeso e obesidade. Quételet, um pesquisador observou que o peso de adultos é proporcional a altura, determinado a partir da razão entre o peso e a estatura ao quadrado o peso ideal. O índice de massa corporal é aceito para a população em geral, devido à simplicidade de medição, dos cálculos e das tabelas padronizadas, porém alguns autores (Pinheiro e Freitas 2004, Dias et al. 2014 e Rezende et al. 2007) relatam em seus estudos que o Índice de Massa Corporal vem apresentando limitações, pois não descreve as informações da composição corporal dos indivíduos e ainda demonstra uma baixa sensibilidade na identificação do excesso de gordura corporal.

    Com bases nestas críticas e na busca de um método que pudesse substituir o IMC em suas falhas, Bergman, et al. (2011) desenvolveram um método que a partir da circunferência do quadril e da estatura fosse capaz de estimar o percentual de gordura por meio de uma equação - IAC = [Quadril/(altura x √altura)] – 18. Utilizando 1733 americanos de origem mexicana e africana, denominando o estudo desta população, o “BetaGene” estudo. Na tentativa de validar este método, o percentual de gordura corporal foi medido por meio de Dupla Energia de Absorção de Raios-x (DEXA) considerado um método "padrão ouro”.

    Com o desenvolvimento deste novo método, o IAC, Bergman et al. (2011) destacou a importância da aplicação do mesmo em uma grande diversidade da população para que pudesse ser validado, desta maneira desde 2011 estudos que verificam a fidedignidade deste método são desenvolvidos. O presente artigo tem como objetivo revisar os estudos que compararam/correlacionaram o IAC e o IMC diretamente, visando identificar a utilidade do IAC como índice verificador da adiposidade corporal em diferentes populações.

Discussão entre os artigos

    Ao todo foram encontrados sete artigos que correlacionaram diretamente o IMC e IAC, estes artigos foram publicados entre os anos de 2012 e 2014 e foram encontrados nas bases de dados do Google Scholar quando usadas as palavras-chaves: correlação, índice de adiposidade corporal e índice de massa corporal. No total, dos sete artigos encontrados, quatro encontraram correlação positiva sendo os autores Lemacks et al. (2012), Souza et al. (2013), Jucá (2013) e López et al. (2012) (Tabela 1).

    O estudo de Lemacks et al. (2012) revelou uma forte correlação entre os métodos. Buscando verificar se em mulheres pós-menopáusicas obesas o IAC poderia ser validado substituindo a utilização do IMC na determinação de gordura corporal, usando uma amostra de 187 mulheres pós-menopáusicas obesas a análise de correlação revelou uma forte concordância, não identificando diferença entre os métodos. Apesar da forte correlação, o IAC apresentou limitações para o uso clínico ao determinar a gordura corporal de mulheres pós-menopáusicas e obesas subestimou a porcentagem de adiposidade em comparação com a Dupla Energia de Absorção de Raios-x (DEXA), mas pode ser útil e prático para aplicações de pesquisas, servindo com um método fácil para estimativa de sobrepeso e obesidade em populações diferentes.

    Souza et al. (2013), ao analisar a correlação entre o IMC e o IAC em atletas de futebol, contou com a amostra de 20 atletas do sexo masculino com idade 22,25 + 3,95, obteve a correlação r = 0,734 e p = 0,002 apresentando os atletas um peso ideal nos dois métodos, tendo estes uma correlação positiva significativa. Jucá 2013 ao investigar a correlação entre IMC, IAC e do percentual de gordura corporal estimado pelas dobras cutâneas em 70 escolares de 9 a 10 anos de idade, encontrou uma correlação de (r = 0,82; p <0,01), tanto com o IMC quanto com o percentual de gordura estimado pelas dobras cutâneas (r = 0,74; p < 0,01), mostrando-se o IAC um método adequado para avaliar a gordura corporal em crianças de 9 a 10 anos de idade, além de ser prático e ter baixo custo, a não utilização do peso corporal facilita, sabendo que nem sempre há uma estrutura adequada para se utilizar a balança.

    Lopéz et al. (2012) objetivando avaliar a utilidade do IAC em homens e mulheres separadamente comparou as medidas do IAC e IMC em uma população caucasiana sendo 3200 participantes de ambos os sexos com idade média de 39,2 anos de uma área do Mediterrâneo Europeu. Além da utilização dos métodos antropométricos, a porcentagem de massa de gordura corporal foi obtida por impedância bioelétrica, a correlação encontrada entre o IAC e o IMC na população geral foi (r = 0,64, p= 0,001), considerada uma boa correlação. Ao correlacionar os métodos por sexo, os resultados encontrados foram superiores (r = 0,78 em homens e r = 0,86 em mulheres, p = 0,001), porém não encontrou diferenças significativas entre os gêneros, concluindo assim que o IAC pode ser um método utilizado para verificar a obesidade, sobre tudo principalmente pelas vantagens que demonstra sobre os outros sistemas mecânicos ou elétricos complexos, sobre o IMC a vantagem que apresenta é a não utilização do peso corporal, no entanto as limitações do IMC não são ultrapassadas pelo o IAC.

Tabela 1. Lista dos artigos que correlacionaram o IMC e IAC

Autor, ano

Correlação e valor de “p”

População

Lemacks et al., 2012 Souza, 2013

r = 0,90; p = 0,001

r = 0,734; p = 0,002

187 pós-menopáusicas obesas

20 atletas de futebol jovens adultos

Jucá, 2013

r = 0,82; p < 0,01

70 escolares de 9 a 10 anos de idade

Lopéz, 2012

r = 0,64; p = 0,001

3200 indivíduos adultos ambos os sexos de uma área do Mediterrâneo Europeu.

Sontag, 2014

r = 0,482; p = 0,003

37 pacientes adultos com doença crônica renal

De Souza et al., 2014

r = 0,345; p = 0,226

14 mulheres de treinamento resistido praticantes a pelo menos 6 meses.

Gonçalves, 2014

r = 0,408; p = 0,073

20 voluntários de 19 a 49 anos de ambos os sexos.

    Observando assim que 3477 indivíduos participantes participaram destes 3 estudos que encontraram uma correlação significativa entre o IMC e o IAC, sendo uma população heterogênea variando de crianças, atletas de futebol e adultos de uma área do Mediterrâneo Europeu.

    Sotang (2014) encontrou em seu estudo uma correlação moderada. Ao correlacionar IMC e IAC, tendo a estimativa do percentual de gordura por bioimpedância em 37 pacientes com idade média de 56 anos com doenças crônicas renais no ambulatório de Nefrologia de um Hospital Universitário encontrou uma correlação moderada (r = 0,482; p = 0,003). Observando assim que os dois métodos indiretos podem ser utilizados na avaliação dos pacientes com doenças crônicas renais, o IMC mesmo apresentando limitações mostrou bons resultados e que o IAC por não utilizar à variável peso parece mais confiável visto que nestes pacientes o acumulo de liquido resulta no peso total.

    De Souza et al. (2014) e Gonçalves et al. (2014) não encontraram correlação entre os dois métodos. De Souza et al. (2014), tendo como objetivo fazer uma relação entre o IMC e o IAC em 14 mulheres de treinamento resistido praticantes a pelo menos 6 meses com idade média de 27 ± 3,96 anos. Na classificação do IMC todas as mulheres avaliadas se apresentaram com o peso adequado e na classificação do IAC 28,57% estavam no peso ideal, 42,87% peso moderado e 28,57% com excesso de gordura, conforme a tabela desenvolvida por Bergman et al. Quando correlacionado os dois métodos, não encontrou correlação significativa (r = 0,345; p = 0,226).

    Ao analisar qual método duplamente indireto tem a maior eficácia e concordância na identificação do excesso de gordura corporal o IMC ou o IAC, Gonçalves et al. 2014 realizou um estudo com 20 voluntários de 19 a 49 anos de ambos os sexos, classificados pelo IPAQ como 50% ativos, 20% muito ativos e 30% sedentários, tendo como referencia da estimativa do percentual de gordura corporal as dobras cutâneas. Nos resultados não encontrou relação significativa quando comparado o IMC e o IAC (r = 0,408; p = 0,073) e também IMC e DC (r = -0.027; p = 0.907), obtendo relação significativa somente entre IAC e as DC (r = 0,816; p < 0,001). Concluiu-se que o IAC apresentou uma maior aplicabilidade na faixa etária analisada, apresentando ainda a vantagem de que o individuo com alto índice de massa magra não são classificados como obesos como são no IMC.

    Os estudos que não encontraram correlação entre os métodos totalizaram 34 indivíduos, sendo também uma população heterogênea variando de mulheres de treinamento resistido e voluntários de ambos os sexos classificados pelo IPAQ como 50% ativos, 20% muito ativos e 30% sedentários.

Conclusão

    Ao todo cinco estudos encontraram uma relação significativa ou moderada entre o IAC e o IMC resultando em 3514 pessoas analisadas, considerando o IAC um método adequado para avaliar a gordura corporal. Uma de suas vantagens sobre o IMC destacada pelos autores é a não utilização do peso corporal, sabendo que nem sempre nos locais de coleta de dados há uma estrutura adequada para se utilizar a balança, como destaca Sotang (2014) no caso dos pacientes com DCR o acúmulo do líquido resultaria no aumento da massa corporal, parecendo o IAC ser mais confiável. No entanto no estudo de Lemacks et al. (2012) apesar da forte correlação entre os métodos, o autor destaca que o IAC apresenta limitações para o uso clínico, mas destaca que pode ser útil e prático em pesquisas sendo um método fácil para estimar o sobrepeso e obesidade em populações diferentes.

    Os dois estudos que não encontraram nenhuma correlação analisaram 34 pessoas. Estes estudos mesmo não encontrando correlação divergem na avaliação da utilidade/eficácia do IAC, não apresentaram nenhuma crítica ao método, Gonçalves et al. 2014 considerou o IAC com boa aplicabilidade apresentando vantagens sobre o IMC.

    Ao observar conjuntamente os achados destes sete estudos, observa-se então que o IAC vem apresentando resultados positivos como método de avaliação da gordura corporal e sendo aceito pela maior parte dos autores que o compararam/correlacionaram com o IMC. Observamos que em 62.5% dos estudos houve uma boa correlação com o IMC. Mesmo quando não obteve correlação com o IMC, a correlação foi boa com o método de estimativa de gordura corporal, sendo este método quase sempre mais fidedigno que o IMC e freqüentemente considerado como padrão-ouro da estimativa de adiposidade corporal. Dentre as vantagens do IAC sobre o IMC destacamos a não utilização do peso corporal e a capacidade de evitar o erro de classificar o individuo com alto índice de massa magra como obeso, esse erro acontece freqüentemente quando se usa o IMC. Portanto concluímos que o IAC é um método que oferece vantagens em relação ao IMC, principalmente para os sujeitos como elevadas quantidades de massa magra, tais como atletas ou sujeitos fisicamente ativos.

Bibliografia

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 20 · N° 213 | Buenos Aires, Febrero de 2016
Lecturas: Educación Física y Deportes - ISSN 1514-3465 - © 1997-2016 Derechos reservados