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Reflexões acerca da terapia do esquema

Reflexiones sobre la terapia del esquema

 

Psicóloga, Mestre em Neurociências pela PUCRS. Especialista em Neuropsicologia

pelo Centro Cultural e de Formação-Projecto, Porto Alegre, RS

(Brasil)

Roberta de Figueiredo Gomes

robfg@bol.com.br

 

 

 

 

Resumo

          Atualmente, sabe-se que muitos pacientes apresentam diagnóstico de transtorno de personalidade. Modelos cognitivos foram propostos, assim como a terapia cognitivo-comportamental abrange inúmeras técnicas e entendimentos sobre os processos mentais desses pacientes. No entanto, muitas vezes precisa-se de um aprofundamento de tais processos, o que leva o terapeuta a um nível de funcionamento inconsciente dos pacientes. A terapia do esquema surgiu para trabalhar estruturas cognitivas rígidas, que são acompanhadas de distorções de pensamentos. É uma terapia que expande o modelo tradicional da terapia cognitivo-comportamental e reconhece um processamento inconsciente no funcionamento cognitivo. Este artigo visa contribuir para o entendimento da terapia do esquema, fazendo a relação cérebro, mente e processamento inconsciente sobre os esquemas.

          Unitermos: Terapia Cognitiva. Esquemas. Funcionamento inconsciente.

 

Resumen

          Actualmente, se sabe que muchos pacientes padecen un diagnóstico de trastorno de la personalidad. Se han propuesto modelos cognitivos, así como la terapia cognitivo-conductual que incluye varias técnicas y comprensión de los procesos mentales de estos pacientes. No obstante, a menudo se necesita una profundización de este tipo de procesos, lo que conduce el terapeuta a un nivel de operación inconsciente de los pacientes. La terapia del esquema llegó para trabajar estructuras cognitivas rígidas, que son acompañadas de distorsiones de pensamiento. Es una terapia que expande el modelo tradicional de la terapia cognitivo-conductual y reconoce un procesamiento inconsciente en el funcionamiento cognitivo. Este artículo tiene como objetivo contribuir para la comprensión de la terapia del esquema, relacionando cerebro, mente y procesamiento inconsciente de los esquemas.

          Palabras clave: Terapia Cognitiva. Esquemas. Funcionamiento inconsciente.

 

Recepção: 22/09/2015 - Aceitação: 08/12/2015

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 20, Nº 212, Enero de 2016. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A terapia cognitiva postula que os indivíduos são psicologicamente compostos por um conjunto de crenças. Essas podem ser crenças centrais ou intermediárias, onde os mesmos agem comportamentalmente e emocionalmente conforme essas crenças.

    De acordo com Rangé e Souza citado por Cordioli (1998), a terapia cognitiva é fundamentada na emoção e no comportamento, onde estes são determinados pela forma como o indivíduo interpreta o mundo. Esta é uma terapia ativa, diretiva, educativa, estruturada, que utiliza técnicas cognitivas e comportamentais para a modificação de crenças do paciente. As crenças seriam passíveis de mudanças, uma vez que a reestruturação cognitiva fosse o objetivo do tratamento.

    Quando essas crenças são mudadas, o indivíduo passa a modificar o comportamento e a carga emocional que acompanha a crença é diminuída ou até extinguida. Porém, as crenças centrais são muito rígidas e muitas vezes o indivíduo não consegue modificar seus pensamentos frente a elas, trazendo um grande sofrimento para o mesmo. Assim, pode-se observar que as mesmas foram adquiridas muito precocemente, e formou-se uma memória de longa duração.

    As memórias de longa duração muitas vezes não são acessadas conscientemente e o indivíduo não consegue ter acesso a pensamentos racionais, pois forma-se uma rede estruturada e inter-relacionada de crenças que são ativadas em situações de estresse. Conforme a neurociências, a amígdala é a estrutura responsável pelos comportamentos primitivos e pelo descontrole de uma carga emocional frente a uma situação. O hipotálamo também faz esse papel, visto que a amígdala é a memória ativada juntamente com a emoção e o hipotálamo traz a reação fisiológica frente às situações, principalmente de estresse.

    Para Duran, Venâncio e Ribeiro (2004), as emoções são processos psicofisiológicos caracterizados por rupturas súbitas no equilíbrio afetivo de curta duração, com perturbações consecutivas sobre a integridade da consciência e sobre a atividade funcional de vários órgãos. Dentre estas estão as emoções primárias, ligadas ao extinto de sobrevivência; as emoções secundárias, que são estados emocionais mais complexos ligados a sensações; as emoções mistas, que seriam os conflitos pela característica contrastante da mistura de estados afetivos; e sentimentos anímicos e espirituais, que caracterizam a qualidade do eu com os valores da sociedade.

    No ano de 2000, Ellis e Beck participaram de uma convenção anual em Washington, onde reconheceram o valor de algumas idéias de Freud, em particular o papel de destacar a importância dos processos mentais inconscientes na determinação do comportamento (Chamberlin, 2000). Procurando enfatizar um nível mais aprofundado de cognição, Young, Klosko e Weishaar criaram a terapia do esquema, um modelo integrativo de terapia que busca ampliação do entendimento da complexidade humana.

    A terapia do esquema traz grandes contribuições para a terapia cognitivo-comportamental, pois identificou os esquemas, que são estruturas cognitivas distorcidas que filtram, codificam e avaliam os estímulos que o organismo se submete. Como são estruturas que apresentam distorções de pensamento, o indivíduo passa a interpretar os acontecimentos conforme estes esquemas, gerando sofrimento.

    De acordo com Young (2003), os esquemas referem-se a um padrão extremamente estável e duradouro desenvolvido na infância que é aperfeiçoado durante a vida do indivíduo. Essas são crenças e sentimentos sobre si mesmo que são aceitos sem questionamentos, resistentes a mudança e autoperpetuadores. Assim, os esquemas mentais são inconscientes e não se tem acesso aos conteúdos ligados a eles, ou seja, eles são acionados sem que o indivíduo tenha consciência cognitiva. Young (2003) postula que os esquemas nem sempre são conscientes, pois operam de forma sutil fora da consciência do indivíduo e quando são acionados, desencadeiam emoções negativas extremas e pensamentos disfuncionais.

    O inconsciente por muito tempo foi evitado pelos terapeutas cognitivos, mas analisando o funcionamento cerebral e seus mecanismos, sabe-se que existem memórias que não são acessadas pela consciência, pois desde criança o sujeito forma novas conexões através de estímulos ambientais e da nutrição, desenvolvendo assim o pensamento e os comportamentos. Conforme Flores citado por Knapp (2004), as experiências durante o desenvolvimento produzem padrões únicos de neurônios para cada cérebro, e os diferentes sistemas cerebrais categorizam os estímulos conforme a sua importância. Ainda, sabe-se que a memória consolidada geralmente está acompanhada de uma grande carga emocional, sendo que, se for uma memória traumática, vai para o engrama, passando a ser permanente e inconsciente.

    Para Bear, Connors e Paradiso (2002), o engrama é uma representação física ou a localização de uma memória, que também é conhecida como traço de memória. Ainda para os autores, as memórias de longa duração são aquelas que se podem recordar dias, meses ou anos após terem sido armazenadas. Já as memórias de curta duração duram de segundos a horas e são vulneráveis a perturbações. Assim, algumas memórias de curta duração são gradualmente convertidas para a forma permanente através da consolidação da memória.

    Os esquemas mentais estão ligados a pensamentos automáticos e seguem um padrão comportamental rígido, onde o indivíduo retroalimenta esses esquemas para confirmar a veracidade de suas crenças através de um comportamento negativo, gerando um sofrimento que o mesmo não tem consciência. O estilo de enfrentamento torna-se disfuncional e a situação que gera desconforto emocional é vista como uma ameaça. A amígdala tem grande papel neste processo, pois a mesma é responsável pelo comportamento de autopreservação, onde o organismo apresenta três respostas básicas que são a luta, a fuga e o congelamento.

    Dependendo do esquema apresentado, o indivíduo passará a ter um modo de enfrentamento que não fugirá de um dos três comportamentos. Assim, para Young (2003), os esquemas parecem ser o resultado do temperamento, que interage com experiências ambientais disfuncionais. Em vez de serem traumas isolados, provavelmente são causados por padrões continuados de experiências nocivas cotidianas que reforçam o esquema.

    Como os esquemas geram muito sofrimento, geralmente o padrão que se segue é retroalimentá-lo. Young (2003) traz que os esquemas iniciais desadaptativos são crenças e sentimentos incondicionais implícitos sobre si mesmo, muito resistentes à mudança, constituindo o núcleo do autoconceito da pessoa e de sua concepção do ambiente, sendo significativamente disfuncionais e recorrentes, levando a um sofrimento psicológico. Esses são ativados por acontecimentos relevantes para o esquema específico, ligados a altos níveis de afeto. Porém, o indivíduo que evita o esquema não irá deixar de ter as reações fisiológicas e agirá de forma a autopreservar-se. Assim, a amígdala e o hipocampo são automaticamente acionados, onde o hipocampo avaliará a situação atual, fazendo uma comparação com a experiência dolorosa anterior e a amígdala fará com que o indivíduo tenha o comportamento de fuga.

    Conforme Duran, Venâncio e Ribeiro (2004), a amígdala é uma estrutura cerebral essencial para a autopreservação. Ela está ligada ao hipocampo e a outras estruturas, caracterizando o controle das atividades emocionais do indivíduo como amizade, amor, afeição, exteriorizações do humor, medo, raiva e agressividade. Já o hipocampo está ligado aos processos de memória, em especial a memória de longa duração, permitindo que haja uma comparação das condições de ameaça atual com experiências anteriores semelhantes, possibilitando a tomada de decisão.

    De acordo com Callegaro (2005), existe a hipótese de que as experiências traumáticas seriam enfraquecidas pela memória consciente através da liberação de cortisol frente à reação de estresse, provocando assim o esquecimento por danificação do hipocampo e regiões associadas. Acredita-se que não há um esquecimento das experiências traumáticas, mas um desenvolvimento de mecanismos para que estas não sejam evocadas. Analisando a teoria dos esquemas, o processo de consolidação de memória estaria intimamente ligado aos esquemas iniciais desadaptativos. Para Izquierdo (2002), as memórias extintas permanecem latentes e não são evocadas, a menos que uma apresentação do estímulo usado para a aquisição dessa memória seja feito de uma forma mais precisa e com intensidade muito aumentada.

    Conforme Izquierdo e Cammarota citado por Knapp (2004), nas memórias associativas a omissão de estímulo incondicionado causa uma inibição progressiva da resposta condicionada, isto é, causa a extinção, que do ponto de vista adaptativo, cumpre um papel fisiológico superior ao do esquecimento, pois não é útil nem adaptativo lembrar todas as experiências cognitivas, aversivas ou prazerosas cada vez que se recorda uma experiência cognitiva. Fazendo um paralelo das neurociências com a terapia cognitivo-comportamental, a extinção de memórias traumáticas e da carga emocional associada a um evento estressor traz bons resultados na terapia, visto que a reestruturação cognitiva tem eficácia quando o processo de fortalecimento de memórias mais fracas do autoconhecimento faz com que o paciente tenha uma nova visão sobre si mesmo e aos poucos, consiga desenvolver estratégias de enfrentamento com menor carga emocional associada ao evento estressor.

    A teoria de esquemas traz um enfoque bem estruturado de um sistema inconsciente, que está intimamente ligado com as memórias. Os transtornos de personalidade são estruturas desenvolvidas através de um substrato biológico e ambiental, onde desde criança, o indivíduo recebe estímulos que podem vir a desenvolver ou não a psicopatologia. Uma vez desenvolvidos os esquemas mentais, passa-se a ter um déficit na sua vida em vários contextos e sem ter a consciência, aciona estes esquemas de uma maneira que conforme o seu pensamento disfuncional. Conforme Flores citado por Knapp (2004), a consciência é um conjunto de processos cerebrais, como percepção sensorial, imagens, pensamentos, sentimentos, familiaridade, entre outras, que se perde ao dormir e se recorda ao acordar, sendo esta uma parte da mente pessoal, pois só o próprio sujeito tem acesso direto a ela. O tálamo e o córtex cerebral são fisicamente importantes para a existência da consciência.

    A terapia de esquemas é eficaz por identificá-los e reestruturar cognitivamente o paciente, fazendo com que o mesmo desenvolva estratégias para um enfrentamento eficaz. O esquema inicial desadaptativo sempre é acionado através da amígdala enquanto que o pensamento racional e a reflexão consciente são produtos de um processamento que envolve os córtices superiores e o hipocampo. Assim, acredita-se que a memória traumática não é esquecida, mas com um trabalho para o fortalecimento de novas memórias através de uma reconfiguração dos circuitos cerebrais que controlam a amígdala, isto é, o córtex pré-frontal, o tratamento pode vir a controlar conscientemente esses esquemas, fazendo com que o paciente apresente uma melhora. De acordo com Knapp (2004), o processo de reestruturação de memórias tem o intuito de reinterpretar uma experiência para promover a reestruturação do significado do evento na memória.

Considerações finais

    A terapia focada no esquema reconhece o funcionamento inconsciente, onde as memórias de longo prazo nem sempre serão acessadas. Através do conhecimento dos esquemas e do sofrimento que os mesmos geram quando são acionados, o paciente vai aprender a identificá-los e a manejar de uma forma consciente tais esquemas, evitando de retroalimentá-los com pensamentos disfuncionais. O fortalecimento de novas conexões cerebrais e de novos aprendizados fará com que o paciente enfraqueça os pensamentos mal adaptativos e modifique o seu comportamento frente aos eventos estressores.

    Os avanços dos estudos da psicologia cognitiva e das neurociências trazem grandes contribuições para o tratamento dos transtornos mentais. Antigamente, técnicas psicológicas eram utilizadas para a eficácia do tratamento, mas somente em longo prazo se obtinham resultados favoráveis.

    A terapia cognitiva aborda que o indivíduo é composto por um conjunto de crenças que nada mais são do que as memórias de longo prazo. A neuropsicologia estuda a interface entre o cérebro e o comportamento humano, utilizando-se de técnicas psicológicas para elaborar intervenções através do conhecimento do funcionamento cerebral. Essa terapia é a mais eficaz para o trabalho neuropsicológico, visto que através da utilização da avaliação neuropsicológica e a identificação de déficits comportamentais e cognitivos, as técnicas cognitivo-comportamentais contribuem para a reabilitação do paciente, pois há uma junção de técnicas eficazes para modificação de comportamento, intimamente ligadas à reestruturação cognitiva e exercícios para o fortalecimento dessas reestruturações.

Bibliografia

  • Bear, M.F.; Connors, B.W. & Paradiso, M.A. (2002). Neurociências: Desvendando o sistema nervoso. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed.

  • Cordioli, A.V. (1998). Psicoterapias: Abordagens atuais. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed.

  • Chamberlin, J. (2000). An historic meeting of the minds. Monitor on Psychology, v.31, n.9.

  • Duran, K.M, Venancio, L.R. & Ribeiro, L. S. (2008). Influência das emoções na cognição. Disponível em: http://www.dcc.unicamp.br/~wainer/cursos/906/trabalhos/Trabalho_E1.pdf. Acesso em Fev. de 2008.

  • Izquierdo, I. (2002). Memória. Porto Alegre: Artmed.

  • Knapp, P. e cols. (2004). Terapia cognitivo-comportamental na prática psiquiátrica. Porto Alegre: Artmed.

  • Young, J.E. (2003). Terapia cognitiva para transtornos de personalidade: Uma abordagem focada em esquemas. 3ª ed. Porto Alegre: Artmed.

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