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Infecção do trato respiratório superior e atividade imune em atletas

Infección del tracto respiratorio superior y actividad inmune en deportistas

Upper respiratory tract infection and immune activity in athletes

 

*Graduanda em Enfermagem da Faculdade Unigran Capital

**Doutorando em Saúde pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

Professor. Adjunto da Faculdade Unigran Capital

(Brasil)

Marlize Soares Martins*

Brunno Elias Ferreira**

bruelifer@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O presente estudo teve como finalidade destacar a relação existente entre o exercício físico intenso e as infecções do trato respiratório superior em atletas de alto nível. O objetivo principal foi compreender a possível relação existente entre o estresse físico, na atividade imune, gerado em atletas de alto nível submetidos a treinamento físico intenso e a competições, e, principalmente, a relação existente entre a atividade física intensa e as infecções no trato respiratório superior. O método utilizado caracteriza-se por seus objetivos em um estudo bibliográfico, visto que, investiga os conhecimentos existentes entre a relação exercício físicos intensos e as infecções do trato respiratório superior em atletas de alto nível. Logo, constatou-se que não há dúvidas que a prática de atividade física possui influência sobre o comportamento do sistema imunológico, e que o estudo dessa variável em atletas de alto nível torna-se interessante e viável.

          Unitermos: Imunologia. Exercício. Infecção do trato respiratório. Atividade física. Infecção.

 

Abstract

          This study aimed to highlight the relationship between strenuous exercise and infections of the upper respiratory tract in high-level athletes. The main objective was to understand the possible relationship between physical stress, the immune activity, generated in high-level athletes subjected to intense physical training and competitions, and especially the relationship between intense physical activity and infections in dealing upper respiratory. The method is characterized by its objectives in a bibliographic study, since investigates the existing between the intense physical exercise ratio and infections of the upper respiratory tract in high-level athletes. Soon, it was found that there is no doubt that physical activity has influence on the immune system behavior, and that the study of this variable in high level athletes becomes interesting and viable.

          Keywords: Immunology. Exercise. Respiratory tract infection. Physical activity. Infection.

 

Recepção: 29/08/2015 - Aceitação: 07/12/2015

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 20, Nº 212, Enero de 2016. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Nos últimos anos, o ritmo de treinamentos e a busca por novos recordes vêm exigindo dos atletas de alto nível um aumento no volume, intensidade e frequência de treino, com a finalidade de conquistar resultados expressivos nas competições (Costa e Samulski, 2005).

    De acordo com Mortatti (2011):

    Sabe-se que a prática de atividade física regular é amplamente divulgada como um mecanismo de melhoria dos sistemas funcionais do organismo, dentre eles o sistema imunológico. Porém, quando o estresse gerado pela prática é relativamente intenso, as respostas neuroendócrinas do organismo podem desencadear um processo de supressão do sistema imunológico, gerando um maior risco de adquirir algum tipo de infecção, principalmente do trato respiratório superior (ITRS) (Mortatti, 2011, p. 12).

    Conforme Andrade (2009), do ponto de vista neuroendócrino, as alterações negativas sofridas pelo sistema imune, possivelmente são causadas pelas alterações hormonais impostas pelo aumento do estresse, físico e mental, imposto pelo treinamento físico intenso e pelas competições. Assim, há evidências de que o exercício físico, seja ele moderado ou intenso, tem uma influência natural no sistema imunológico. Logo, essas alterações sofridas nas funções imunológicas atuam diretamente na imunidade das mucosas (intestinal e trato respiratório), inibindo a produção das imunoglobulinas, especialmente a IgA, levando o praticante de exercício físico intenso a uma maior incidência de infecções do trato respiratório superior – ITRS (Andrade, 2009, p. 11).

    Por esse motivo, de acordo com Silva et al. (2009), tem sido observado um aumento significativo nas pesquisas que indicam a relação entre os exercícios físicos e a imunidade da mucosa, pois existe um consenso que os atletas de alto nível são mais suscetíveis a infecções gastrointestinais e no trato respiratório superior, causadas pelo processo de imunossupressão gerado pela alta intensidade dos treinamentos e de competições enfrentadas por esses atletas.

    Para Andrade (2009):

    Os atletas de elevado nível defrontam-se normalmente com um “dilema bioquímico”, para atingirem sucesso nas competições, devem treinar muito. Contudo, a sujeição dos atletas a cargas de treino muito intensas, está relacionada com uma resposta neuroendócrina que, em caso de solicitação excessiva, pode conduzir a profundas alterações do sistema neuroendócrino (Andrade, 2009, p. 9).

    Para identificar a relação existente entre infeção e exercício estudiosos baseiam-se em modelos, tais como o modelo da curva em forma de “S” (MALM, 2006), que seria a variação de outro modelo que estabelece a relação entre o exercício físico e as ITRS pela curva em forma de “J”, sugerindo que praticantes de exercícios moderados regulares têm um menor risco de infecções. Logo, durante os períodos de treinamento intenso, há uma probabilidade no aparecimento de infecções que podem estar relacionadas com uma diminuição da atividade imunológica (Mortatti, 2011 apud Nieman, 1994).

    Conforme Mortatti (2011):

    Esse possível incremento da probabilidade de se contrair infecções e/ou doenças decorrentes de períodos de treinamento intensivo e rigoroso levou, entre outras, à formação da “teoria da janela aberta” (Pedersen e Ullum, 1994) da imunossupressão. Tal teoria propõe que esportistas submetidos a regimes rigorosos de treinamento e/ou a competições têm incrementada a probabilidade de contraírem doenças por conta da repetida diminuição da função de seus sistemas imunes como consequência do vigoroso programa de treinamento (Mortatti, 2011, p. 12).

    Assim, o objetivo deste estudo foi compreender a relação entre o estresse do esforço físico sobre a atividade imune em atletas submetidos ao treinamento físico intenso e competições, e a relação com as infecções do trato respiratório superior.

Materiais e métodos

    Para a realização do presente estudo, foram consultadas bibliografias na base de dados SCIELO, no período de 2005 a 2015, levando em consideração a relação existente entre os exercícios físicos intensos e as infeções do trato respiratório superior (ITRS) em atletas de alto nível. Foram utilizados para a pesquisa os seguintes termos aplicados de forma isolada: Imunologia, Exercício, Infecção do Trato Respiratório, Atividade Física e Infecção.

    Todos os artigos obtidos na busca eletrônica tiveram seus resumos extraídos e analisados de acordo com a sua relação com o tema proposto, levando em consideração os que continham informações sobre a relação existente entre o exercício físico intenso e as infeções do trato respiratório superior em atletas de alto nível. Para atingir o objetivo do estudo, foram lidos e analisados os resumos de todas as obras encontradas e excluídos aqueles que apresentavam informações não relacionadas para o presente estudo. A partir da obtenção dos artigos e a leitura dos mesmos, suas referências bibliográficas foram analisadas com a finalidade de obter outros trabalhos potencialmente utilizáveis.

    Após a leitura dos artigos, foi realizada a análise do conteúdo, do tipo temática, proposta por Minayo (2004), que aponta um conjunto de técnicas de análise de comunicação visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (qualitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção destas mensagens.

    Não foram realizadas restrições durante a pesquisa, como por exemplo a faixa etária e sexo, contudo, estudos envolvendo atletas e pessoas saudáveis foram considerados fundamentais para o sucesso dessa pesquisa, assim como estudos cujo modelo metodológico fosse voltado a seres humanos. Dessa forma foram excluídos todos os artigos, que mesmo apresentando as palavras chaves utilizadas para a pesquisa, não contemplavam a relação entre o exercício físico intenso e as infecções do trato respiratório superior, e que, por sua vez, não atendiam o objetivo proposto por esse estudo.

Resultados e discussões

    No Quadro 1 estão apresentadas as publicações sobre a temática.

Quadro 1. Classificação dos estudos identificados na base de dados SCIELO sobre a relação existente entre o exercício físico intenso e as infecções 

do trato respiratório superior, no período de 2005 a 2015 segundo caracterização de publicação, autores, título e resultados. Campo Grande - MS, 2015

Artigo / Autor / Revista

Resultados

Monitoramento e prevenção do supertreinamento em atletas.

ALVES, Rodrigo Nascimento et al. (2005).

Revista Brasileira de Medicina do Esporte.

Concluiu que a melhor ação de treinadores e profissionais relacionados ao esporte, como médicos, nutricionistas, fisioterapeutas e psicólogos, é a implantação de um programa sistematizado de prevenção aos efeitos nocivos no desempenho, na saúde e consequentemente no bem-estar do atleta.

Processo de validação do questionário de estresse e recuperação para atletas (RESTQ-Sport) na língua portuguesa.

COSTA, L. O. P.; SAMULSKI, D. M. (2005).

Revista Brasileira de Ciência e Movimento.

Concluiu que é recomendável a utilização do RESTQ-Sport em estudos diagnósticos e de acompanhamento de atletas, uma vez que esse instrumento atingiu os critérios iniciais de validação propostos neste trabalho, mas cuidados especiais devem ser tomados na interpretação das escalas Sucesso, Conflitos/Pressão e Aceitação Pessoal.

Efeitos do exercício físico sobre o sistema imune.

PRESTES, Jonato; FOSCHINI, Denis; DONATTO, Felipe Fedrizzi. (2006).

Revista Brasileira de Ciências da Saúde.

Mostrou que proporcionar a prática de treinamento físico com benefícios e promoção da saúde, tanto em atletas como em indivíduos sedentários, é de primordial importância para os profissionais da área da fisiologia do exercício.

A suplementação de glutamina não reverte à imunossupressão induzida pelo exercício.

ROMANO, Luciana; BORGES, Isabela Peixoto. (2007).

Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício.

Concluiu que apesar das evidências demonstrarem que em situações clínicas a glutamina é um marcador efetivo em algumas funções do sistema imune, ainda não há evidências convincentes de que as prevenções em pequenas reduções nos níveis plasmáticas produzem efeitos benéficos na imunidade do atleta.

Análise da percepção de estresse e recuperação e de variáveis fisiológicas em diferentes períodos de treinamento de nadadores de alto nível.

SIMOLA, Rauno Álvaro de Paula. (2008).

Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal de Minas Gerais.

Concluiu que uma melhora do perfil de percepção de estresse e recuperação, além da redução da atividade enzimática da creatina quinase, podem indicar reduções nas cargas de treinamento de nadadores bem treinados imediatamente antes de uma competição;

Projeto de Investigação sobre o comportamento da IgA salivar entre jovens atletas e não atletas.

ANDRADE, Ricardo. (2009).

Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura) – Universidade de Coimbra, Faculdade de Ciência do Desporto e Educação Física.

Mostrou a relação existente entre a prática de exercício físico, o sistema imunitário e as infecções do trato respiratório superior (ITRS), nos jovens. Mais especificamente, o objetivo deste estudo é apurar o efeito do exercício físico, nos níveis de IgA salivar, concentração e taxa de secreção, em jovens atletas e não atletas.

Esforço percebido, estresse e inflamação do trato respiratório superior em atletas de elite de canoagem.

MOREIRA, Alexandre et al. (2009).

Revista Brasileira de Educação Física e Esporte.

Concluiu que o comportamento da percepção das alterações dos sintomas de estresse e inflamação do trato respiratório superior estivesse no mesmo nível das diferentes magnitudes de esforço percebido foi corroborada.

Imunoglobulina A salivar (IgA-s) e exercício: relevância do controle em atletas e implicações metodológicas.

SILVA, Rafael Pires da et al. (2009).

Revista Brasileira de Medicina do Esporte [online].

Concluiu que cabe aos estudos futuros, utilizando-se de novas tecnologias, sobretudo do avanço de técnicas laboratoriais em investigação molecular, elucidar os mecanismos biológicos que regulam ou modulam as alterações na IgA frente aos diversos modelos de exercício e de que forma uma condição facilitadora de infecção seria presenciada.

Modelos sobre a relação entre o exercício físico e o risco de infecção do trato respiratório superior.

BORGES, Grasiely Faccin; RAMA, Luís Manuel Pinto Lopes; TEIXEIRA, Ana Maria Miranda Botelho. (2010).

Revista de Ciências Médicas e Biológicas.

Concluiu que existe dificuldade em se comprovar o impacto ou a relação entre o exercício físico e as infecções do trato respiratório superior devido o facto que muitos estudos não controlam fatores como os genéticos, aptidão física, condição nutricional, atopia, ou não utilizam um grupo controlo.

Controle da carga de treinamento em curto prazo marcadores hematológicos, psicológicos, enzimáticos e imunológicos.

NUNES, Rogério Tasca. (2010).

Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal de Juiz de Fora.

Concluiu que estudos desta natureza são de grande importância para que a busca contínua pelo alto rendimento sempre venha a ocorrer a partir de treinamentos de qualidade, baseados na perfeita e delicada relação estresse-recuperação, sem comprometer a saúde e a integridade psicofisiológica e social do atleta, o foco principal do processo.

Níveis de IgA e cortisol salivar associados à incidência de infecções do trato respiratório superior em jovens futebolistas de alto nível.

MORTATTI, Arnaldo Luiz. (2011).

Tese (Doutorado) – Universidade Estadual de Campinas.

Concluiu que os resultados do presente estudo sugerem que a diminuição da concentração salivar de IgA pode afetar a imunidade da mucosa, levando, possivelmente, a uma maior incidência de ITRS.

Síndrome do Overtraining.

PEREIRA, Carolina Santos Medeiros. (2011).

Trabalho de Conclusão de Curso (Pós-Graduação Lato-Sensu) – Centro Universitário Católico Salesiano Auxiliun – Unisalesiano.

Concluiu que a busca permanente por resultados mais expressivos e recordes quase sobre-humanos pode expor os atletas, com mais frequência, à síndrome do overtraining. Respeitar os limites individuais e cuidar do planejamento do treinamento para a obtenção desses resultados pode fazer toda a diferença para a saúde do atleta e garantir o sucesso de toda equipe.

Overreaching e síndrome do overtraining: da caracterização ao tratamento.

TOMAZINI, Fabiano et al. (2014).

Revista Acta Brasileira do Movimento Humano.

Concluiu que a melhor forma de tratamento da síndrome é a prevenção, uma vez que o tratamento pode levar de algumas semanas a meses sem treinos. Além disso, é relevante a presença de um profissional de educação física, a fim de planejar o treinamento com recuperação adequada e respeitando a individualidade biológica do atleta. Além disso, é muito importante o auxílio de uma equipe multidisciplinar como, médico, fisioterapeuta, fisiologista, nutricionista e psicólogo para atuar principalmente de forma preventiva.

    De acordo com Moreira et al. (2009) o treinamento é uma atividade sistemática que tem como objetivo proporcionar alterações morfológicas, metabólicas e funcionais que influenciam diretamente no incremento do rendimento. Assim, durante este processo as ações estabelecidas, com a finalidade de aumentar o rendimento, podem ser entendidas como fonte de estresse.

    Conforme Moreira et al. (2009):

    O estresse no treinamento de alto rendimento também se revela como respostas psiconeurofisiológicas que designam o estado mental e sentimental / emocional dos atletas ao tomar conhecimento das barreiras competitivas que os obrigam a concentrar e canalizar energias excessivas. Doses moderadas de estresses podem produzir efeitos positivos, auxiliando nos treinamentos e nas ações dos atletas para lidar de forma mais natural com os estados de ansiedades. Por outro lado, podem levá-los ao “burnout” que é produzido por respostas psiconeurofisiológicas de esgotamento por esforços frequentes e excessivos (Moreira et al., 2009, p. 355).

    Pereira (2011) afirma que o excesso relativo às mais variadas formas de estresse tem sido associados a fenômenos discutidos em diversas literaturas. Dessa forma, cargas intensas de exercício em conjunto com o insuficiente tempo de recuperação têm sido relacionadas como causadores da síndrome do “overtraining” ou do “overreaching”. Logo, essa carga intensa de exercício aumenta o risco do atleta em contrair infecções, levando então a formação de diversas teorias e/ou modelos utilizados para estabelecer a relação entre a intensidade da atividade física e as infecções do trato respiratório superior.

    O possível incremento da probabilidade de contrair infecções levou, segundo Borges et al. (2010), a formulação de diversas teorias e/ ou modelos, tais como, o modelo da curva em forma de “J” (Figura 1) que defende que exercícios físicos moderados são benéficos para o sistema imunológico enquanto os intensos são prejudiciais (Borges et al., 2010 apud Nieman,1994).

Figura 1. Modelo da curva em forma de “J” da relação entre a carga 

de exercício e o surgimento de infeções. Fonte: Borges et al (2010)

    A partir do modelo da curva em forma de “J”, foi criado o modelo da curva em forma de “S” (Figura 2) que sugere que atletas com elevadas cargas de treinamentos são suscetíveis às infecções do trato respiratório (Borges et al., 2010 apud Malm, 2006).

Figura 2. Modelo da curva em forma de “S” que apresenta a relação entre

a carga de exercícios e o surgimento de infecções. Fonte: Borges et al (2010)

    O modelo neuroendócrino propõe que exercícios de nível baixo e moderado, podem melhorar a função imunológica através da ação do hormônio de crescimento nos mecanismos celulares e imunológicos. Enquanto o exercício de alta intensidade anularia esse beneficio devido à produção do hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) (Borges et al., 2010; Smith e Weidemann, 1990).

    A teoria da “janela aberta” defende que após exercícios intensos e de longa duração, o atleta seria induzido à imunossupressão, deixando uma abertura para a entrada de vírus e bactérias no organismo, aumentando assim a possibilidade de contrair infecções, principalmente, do trato respiratório superior (Borges et al., 2010 apud Pedersen e Ullum,1994)

    Essas alterações, conforme Moreira et al. (2009), estão diretamente relacionadas as mais diversas modificações que ocorrem no organismo devido ao aumento do nível de estresse. Assim, o sistema imunológico demonstra-se sensivelmente abalado pelo estresse psicológico e fisiológico.

    Para Silva et al. (2009):

    O exercício físico pode resultar em respostas tanto positivas como negativas à imunidade, dependendo do modelo de estresse a que o corpo é submetido. Em situações de atividade física extenuante, como no caso dos atletas envolvidos em longos períodos de treinamento intenso, o aumento da suscetibilidade a infecções é amplamente observado. A redução de IgA-s pode ser verificada tanto durante o período de treinamento exaustivo como logo após a sessão de treino (Silva et al., 2009, p. 460).

    De acordo com Mortatti (2011), as infecções virais do trato respiratório superior representam a forma de maior prevalência de doenças infecciosas, sendo responsável por um número considerado de óbitos entre idosos e crianças, devido a algum comprometimento do sistema imunológico. Os vírus causadores das ITRS invadem a mucosa respiratória e se multiplicam dentro do hospedeiro. Dessa forma, os anticorpos antivirais representam a linha de frente da imunidade adquirida, evitando a entrada do vírus na célula do hospedeiro. Logo, a integridade dos mecanismos de defesa humoral (concentração de IgA-s) é fundamental, por ser um fator preponderante na imunidade da mucosa, ou seja, a porta de entrada de patógenos virais no sistema respiratório (Mortatti, 2011 apud Leandro et al., 2007)

    Assim, Silva et al. (2009) afirma que a influência da atividade física sobre sistema imune merece atenção especial, principalmente na relação entre o exercício e a incidências de infecção do trato respiratório superior, que associa-se à região da mucosa salivar, cuja a responsabilidade de defesa pertence a imunoglobulina A (IgA-s).

Considerações finais

    Ao final desse estudo podemos concluir que não há dúvidas que a prática de atividade física possui influência sobre o comportamento do sistema imunológico, e que o estudo dessa variável em atletas de alto nível torna-se interessante e viável.

    Entretanto, devido à variação metodológica entre os trabalhos, há uma grande dificuldade em estabelecer a relação entre o exercício físico, principalmente o intenso, e as infecções do trato respiratório superior, pois os diversos estudos não levam em consideração diversos fatores, tais como os fatores genéticos, aptidão física, condição nutricional, e, além disso, não se referem ou não utilizam um grupo específico para a avaliação metodológica.

    Conforme Silva et al. (2009), os dados apresentados nos estudos que relacionam o exercício, a imunossupressão e o surgimento de infecções não são conclusivos, devido, principalmente, à variação metodológica entre os trabalhos, a não padronização dos dados ou, ainda, à falta de controle desses dados, o que dificulta as comparações entre as pesquisas.

    Para Walsh et al. (2011), existem muitas discordâncias que envolvem a prática de exercícios com as infecções do trato respiratório superior, ou seja, há mais incertezas do que provas na associação entre os exercícios, particularmente os de alta intensidade, e as ITRS.

    Assim, foi constatado outro fator importante, reveleando a falta de clareza na medida imunológica utilizada, ou na definição e/ou denominação do tipo de infecção adquirida com o treinamento físico intenso, ou mesmo na confirmação por meio de diagnóstico clínico do episódio de infecção.

    De acordo com Alves et al. (2005):

    Muitos sintomas de infecções do trato respiratório superior, que podem ser reportados pelos indivíduos participantes da investigação, podem ser causados por inflamações nas vias aéreas não infecciosas. A definição dos níveis de atividade física ou mesmo especificações sobre o exercício físico como frequência, duração ou intensidade são também problemas frequentes que confundem e dificultam na confirmação desses modelos (Alves et al., 2005, p. 294).

    Logo, podemos concluir que os diversos tipos de modelos (Neuroendócrino, em forma de “J”, em forma de “S” e Janela Aberta) criados para explicar a relação existente entre os exercícios físicos e o aumento do risco de infecções do trato respiratório superior e que foram apresentados nesse estudo, ainda permanecem em uso e evoluindo com o tempo, sendo aprimorado e inserindo novos fatores na tentativa de explicar essa relação. Atualmente, faz parte das mais diversas discussões entre os estudiosos do assunto, que tentam explicar ou entender as variações imunológicas ocorridas devido à prática de exercícios físicos.

Bibliografia

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