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Avaliação dos fatores de risco relacionados a quedas em idosos ativos

Evaluación de los factores de riesgo para las caídas en adultos mayores activos

Assessment of risk factors for falls in active elderly

 

*Acadêmicos do Curso de Medicina da Universidade Federal

de São João Del-Rei/Campus Centro-Oeste Dona Lindu

**Enfermeira e Técnica de Laboratório do Departamento de Medicina

da Universidade Federal de São João del-Rei/Campus Dom Bosco

***Fisioterapeuta/Professora de Anatomia e Neuroanatomia do Curso de Educação Física

e Medicina da Universidade Federal de São João del-Rei/Campus Dom Bosco

(Brasil)

Brisa Marina de Meireles Monteiro*

Caio Augusto Santana Lopes*

Cícero Gonzaga Santos*

Letícia Gouthier Bicalho*

Pablo Augusto Silva de Assunção*

Paulo Henrique Barcelos*

Priscila da Silva Heleno*

Nathália Nascimento Vasconcelos**

Laila Cristina Moreira Damázio***

lailacmdamazio@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Objetivo: avaliar os fatores de risco relacionados a quedas em idosos ativos no Centro de Convivência do Idoso (CCI) em Divinópolis-MG. Método: pesquisa original e experimental realizada no Serviço Social e Transporte (SEST e SENAT) de Divinópolis no período de agosto a dezembro de 2013. Um questionário estruturado foi aplicado a 43 idosos praticantes de atividade física e análise dos dados foi realizada pelo teste qui-quadrado. Resultados: 22 idosos sofreram quedas no CCI e 12 idosos sofreram quedas fora do CCI no período de estudo. Não foi identificada associação significativa entre a incidência de quedas e os fatores intrínsecos e nem foi possível encontrar associação entre os medicamentos utilizados pelos idosos e as quedas. Conclusão: a prática regular de atividade física tem sido evidenciada como benéfica pela literatura, porém, quando a causa da queda tem forte influência ambiental, a prática de atividade física não promove prevenção das quedas.

          Unitermos: Acidentes por quedas. Idoso. Exercício.

 

Resumen

          Objetivo: Evaluar los factores de riesgo de caídas en los mayores activos en el Centro de Convivencia de Persona Mayor en Divinópolis-MG. Método: Investigación original y experimental realizada en el Servicio Social y Transporte de Divinópolis, durante Agosto - Diciembre de 2013. Un cuestionario estructurado fue aplicado a 43 personas mayores activas y el análisis de datos se realizó mediante Chi-cuadrado. Resultados: Durante el periodo de estudio, 22 personas mayores sufrieron caídas en el CCI y los otros 12 las presentaron fuera del mismo. No se encontró una correlación significativa entre la incidencia de caídas y los factores intrínsecos; al mismo tiempo, las caídas acontecidas no denotaron una correlación causa-efecto debido a los fármacos utilizados por los ancianos. Conclusión: La actividad física de forma regular ha sido indicada como beneficiosa en la literatura; sin embargo, cuando la causa del accidente tiene una fuerte influencia del medio ambiente, la actividad física no parece impedirlo.

          Palabras clave: Accidentes por caídas. Persona mayor. Ejercicio.

 

Abstract

          Objective: To evaluate the risk factors for falls in active elderly at the Social Center for the Elderly in Divinopolis-MG. Method: Original and experimental research was conducted at the Social Service and Transport in Divinopolis, from August to December of 2013. A structured questionnaire was applied to 43 elderly physically active and the data was analyzed by chi-square test. Results: 22 elderly suffered from falls inside the CCI and 12 elderly suffered from falls outside the CCI during the period of this study. No significant correlation was found between the incidence of falls and the intrinsic factors, and there was also no correlation of cause-effect between drugs used by the elderly and falls suffered by them. Conclusion: Regular physical activity has been shown to be beneficial in the literature, however, when the cause of the falls has a strong environmental influence; the physical activity may not prevent it.

          Keywords: Accidental falls. Aged. Exercise.

 

Recepção: 09/06/2015 - Aceitação: 20/09/2015

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 20, Nº 209, Octubre de 2015. http://www.efdeportes.com/

1 / 1

Introdução

    No Brasil é considerada pessoa idosa os indivíduos que possuem 60 anos de idade ou mais. Nos países desenvolvidos a idade para ser considerado idoso é acima de 65 anos A Organização Mundial de Saúde (OMS) prevê que, em 2025, existirão 1,2 bilhões de pessoas com mais de 60 anos, sendo que as pessoas com 80 anos ou mais constituem o segmento populacional que mais cresce. No Brasil, a previsão é de que, em 2020, existirão 30,8 milhões de idosos, ou seja, 14,2% de todos os brasileiros.

    As quedas são definidas como eventos agudos não intencionais que resultam em alteração inesperada de posição, onde o indivíduo passa para nível inferior à posição inicial, com incapacidade de correção em tempo hábil. As quedas em idosos constituem um dos principais problemas clínicos e de saúde pública devido a sua alta incidência, trazendo consequências e complicações para a saúde do idoso e para instituições assistencialistas (Cruz, 2012; Ferreira, 2010; Ministério da Saúde 2000).

    Dados epidemiológicos apontam que no Brasil aproximadamente 30% dos idosos caem ao menos uma vez ao ano e 13% caem de forma recorrente. A prevalência de quedas aumenta com a idade, chegando a 51% na faixa etária acima dos 85 anos. Essas quedas ocorrem mais nas mulheres do que nos homens da mesma faixa etária. De todas as quedas, 5% provocam fraturas e 5 a 10% geram ferimentos importantes que necessitam de cuidados médicos. As quedas assim possuem um impacto importante na mortalidade de idosos. (Ferreira, 2010; Fonseca, 2013; Padoin, 2010; Sá, 2012).

    As quedas em idosos possuem uma etiologia multifatorial, envolvendo uma interação simultânea entre fatores intrínsecos ao indivíduo, relacionados à diminuição das habilidades funcionais, e extrínsecos, associados às características ambientais (Costa 2012; Cruz, 2012).

    Os principais fatores de risco apontados na literatura, para quedas em idosos, são: alterações visuais, medicações, alterações no equilíbrio, fraqueza muscular, ambiente físico, déficit auditivo, diminuição de mobilidade, doenças crônicas, hipotensão postural, sedentarismo, entre outros. Sendo que, os fatores de risco podem incidir simultaneamente (Costa, 2012; Rezende, 2012).

    A prática de atividade física pode prevenir ou retardar os efeitos do envelhecimento, por isso os idosos devem praticar exercícios físicos de uma maneira sistematizada, regular e organizada a fim de aumentar sua longevidade. A literatura cita que a prática de exercícios físicos melhora a capacidade funcional, força, equilíbrio e coordenação motora, contribuindo para uma maior segurança e prevenção de quedas entre as pessoas idosas (Constantini, 2011; Costa, 2012; Padoin, 2010; Rezende, 2012; Streit, 2011).

    A literatura carece atualmente de maiores investigações sobre os fatores que desencadeiam quedas entre os idosos considerados ativos e o impacto desses fatores de risco na saúde desses idosos. Diante disto, o presente estudo tem como objetivo analisar os fatores de risco relacionados a quedas em idosos ativos no centro de convivência do idoso em Divinópolis-MG (Constantini, 2011; Rezende, 2012).

Método

    O estudo foi realizado no Serviço Social e Transporte (SEST e SENAT) de Divinópolis (MG) no período de agosto a dezembro de 2013. O SEST/SENAT é uma instituição que possui o Centro de Convivência do Idoso (CCI), onde ocorrem atividades voltadas para o bem estar da pessoa idosa. O Centro de Convivência do Idoso possui um espaço adequado para realização do programa de atividade física. Nesse setor existem colchões, halteres, bastões e bolas para a execução dos exercícios físicos. O espaço é amplo, coberto e ventilado. Existem vários profissionais que trabalham no setor, como: psicólogos, enfermeiros, fisioterapeutas, educadores físicos e técnicos que auxiliam os idosos. O programa de atividade física e a avaliação dos fatores de risco à quedas foram realizados em conformidade às normas éticas estabelecidas pela Resolução 466/2012. Este trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ) sob o número de protocolo 427.366/2013.

    No centro de convivência do idoso de Divinópolis (MG) são assistidos 187 idosos, sendo que, 137 idosos não realizam atividades físicas, mas estão integrados em atividades artísticas como: música, artesanato, pintura, teatro e terapias psicológicas em grupo. Dos 187 idosos, cerca de 50 idosos realizam alguma modalidade de atividade física. Dessa forma, a amostra da pesquisa constou de 43 idosos, pois, sete idosos não aceitaram participar do estudo. Todos os idosos ativos com idade entre 60 a 85 anos de idade foram avaliados.

    Os idosos realizavam exercícios de coordenação motora e equilíbrio e exercícios localizados com alongamentos e fortalecimento. Os critérios de inclusão foram idosos, com idade superior a 60 anos e menor que 85 anos, que consentiram e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido e que realizavam atividade física com exercícios de coordenação motora, equilíbrio, alongamentos e fortalecimento por pelo menos 3 meses. Os critérios de exclusão foram os idosos sedentários, com déficits cognitivos graves, patologias cardiorrespiratórias graves, déficits neurológicos e psiquiátricos, problemas osteomusculares que comprometesse a execução dos exercícios e os idosos que se exercitaram por um período inferior a 3 meses.

    Para avaliação dos fatores de risco relacionados a quedas foi aplicado um questionário estruturado contendo perguntas fechadas elaborado pelos pesquisadores. No questionário constam perguntas sobre os dados pessoais do idoso, presença de doenças, medicamentos utilizados, história familiar e o tipo de atividade física realizada. Os dados foram analisados através de estatística descritiva e inferencial com a utilização do teste qui-quadrado, considerando-se um nível de significância de 5%. Os cálculos estatísticos foram realizados no software SPSS.

Resultados e discussão

    O envelhecimento é um processo dinâmico e progressivo, no qual há alterações morfológicas, funcionais e bioquímicas tornando o organismo mais susceptível às agressões intrínsecas e extrínsecas As quedas podem vir como consequência dessas alterações e elas são relativamente frequentes. No Brasil, cerca de 30% (mesma informação colocada na introdução) dos idosos sofrem quedas ao menos uma vez ao ano. Em geral, as quedas são limitantes e podem indicar perda de saúde e fragilidade. Embora não seja consenso na literatura alguns estudos apontam as mulheres, a idade avançada e a ausência de um cônjuge como fatores de risco para as quedas em idosos. (Cruz, 2012; Gonçalves, 2009; Guimarães, 2004; Mazo, 2007; Prata, 2011).

    Assim, quando se estuda a população idosa, alguns fatores sociodemográficos como o gênero, a idade e a situação conjugal parecem ser de extrema relevância de acordo com Cruz (2012). A amostra deste estudo contou com 43 idosos, sendo que houve uma maior prevalência de indivíduos do sexo feminino (81,40%), com média de idade de 70,42 anos e situação conjugal bem heterogênea. A Tabela 1 ilustra a freqüência dessas e de outras características sociodemográficas da população estudada.

Tabela 1. Características sociodemográficas da amostra estudada.

Variáveis

n

%

Sexo

 

 

Feminino

Masculino

35

8

81,40%

18,60%

Extrato etário

 

 

60 a 64

65 a 69

70 a 74

75 a 79

Mais de 80

4

14

18

6

1

9,30%

32,56%

41,86%

13,95%

2,33%

Cor

 

 

Branco

Negro

Pardo

Indígena

Amarelo

31

6

4

0

2

72,10%

13,95%

9,30%

0%

4,65%

Escolaridade

 

 

Analfabeto

Primeiro Grau Incompleto

Primeiro Grau Completo

Segundo Grau Incompleto

Segundo Grau Completo

Terceiro Grau Incompleto

Terceiro Grau Completo

1

29

5

2

5

0

1

2,33%

67,44%

11,63%

4,65%

11,63%

0

2,33%

Situação Conjugal

 

 

Casado (a)

Solteiro (a)

Viúvo (a)

Divorciado (a)

16

12

12

3

37,21%

27,91%

27,91%

6,97%

    A prática regular de atividade física tem sido demonstrada como protetora para diversas comorbidades. Sabe-se que ela minimiza os declínios da capacidade funcional, deixando o idoso mais independente e conferindo ao mesmo uma melhor condição de saúde. Além disso, a atividade física regular é uma forma de minimizar quedas em pessoas idosas. Um estudo desenvolveu um programa de atividade física com idosos e verificou que 10 sessões de atividade física já foram suficiente para melhorar o desempenho dos idosos em testes de equilíbrio, força e flexibilidade. Tais resultados permitiram que os autores recomendassem a adoção de programas de prevenção de quedas baseados em exercícios regulares. Conforme apresentado na Tabela 2, os 43 idosos realizavam algum tipo de atividade física como exercícios de flexibilidade e alongamentos (62,79%), alongamentos associados a caminhadas (18,60%) e caminhadas (16,28%). A maior parte, 72,10% praticava as atividades regularmente, com uma frequência semanal igual ou superior a quatro vezes, seguido por 13,95% que praticavam atividade física duas vezes na semana e 13,95% três vezes na semana (Cornilon, 2002; Cruz, 2012; Guimarães, 2004; Mazo, 2007).

Tabela 2. Distribuição dos idosos conforme o tipo de atividade física e frequência semanal de realização da atividade

Tipo de atividade física

N

%

Caminhada

Bicicleta

Esteira

Alongamentos

Caminhadas e alongamentos

7

0

1

27

8

16,28

0

2,33

62,79

18,60

Frequência semanal

N

%

Uma vez

Duas vezes

Três vezes

Quatro ou mais vezes

0

6

6

31

0

13,95

13,95

72,10

    Os idosos deste estudo frequentavam o Centro de Convivência do Idoso onde faziam atividades lúdicas, recreativas e exercícios físicos. Alguns desses idosos sofreram quedas dentro do Centro de Convivência enquanto outros sofreram quedas fora do Centro de Convivência. Dos 43 idosos, 22 idosos sofreram quedas dentro do Centro de Convivência do Idoso (Tabela 3). Em relação às quedas fora do Centro de Convivência, 12 idosos que correspondem a 28% da amostra relataram que sofreram alguma queda durante o período em que iniciaram a prática regular de atividade física. Embora todos os idosos estudados realizassem atividade física regular, sabe-se que o envelhecimento por si só já representa fator de risco para quedas (Gonçalves, 2009; Guimarães, 2004; Mazo, 2007).

    As alterações advindas com o envelhecimento levam o idoso a apresentar instabilidade postural, alterações nos sistemas somato-sensorial, visual e vestibular o que aumenta muito a chance de quedas. Além disso, os medicamentos utilizados pelos idosos podem contribuir para as quedas. No presente estudo não foi identificado correlação significativa entre a incidência de quedas e os fatores intrínsecos dos idosos. Na Tabela 3 é possível observar que não houve diferença estatisticamente significativa entre a incidência de queda e a presença de doenças (p= 0,58), uso de medicamentos (p= 0,52), auxílio para caminhar (p= 0,32), uso de óculos ou deficiência visual (p= 0,77) e problemas auditivos (p= 0,59). É importante lembrar que todos os idosos do estudo praticavam algum tipo de atividade física regular e isso pode explicar a falta de correlação entre a incidência das quedas e algumas variáveis. A atividade física reduz a incidência das quedas na medida em que interfere positivamente nos déficits desencadeados por algumas doenças, medicamentos ou mesmo pelas próprias alterações da senescência14. Porém, ela não impede que as quedas ocorram já que as mesmas podem ter outras causas, como as ambientais, não prevenidas pela atividade física (Cruz, 2012; Guimarães, 2004; Mazo, 2007; Prata, 2011).

Tabela 3. Associação entre as variáveis de condições de saúde dos idosos com a existência de quedas

Condições de saúde

Quedas

 

Sim

Não

 

Apresenta alguma doença

SIM

NÃO

X2(valor e p)

Utiliza algum medicamento

SIM

NÃO

X2(valor e p)

Precisa de auxílio para caminhar

SIM

NÃO

X2(valor e p)

Como avalia sua saúde

Muito boa

Boa

Regular

X2(valor e p)

Usa óculos ou tem deficiência visual

SIM

NÃO

X2(valor e p)

Apresenta problemas auditivos

SIM

NÃO

X2(valor e p)

Apresenta desmaios ou tonturas

SIM

NÃO

X2(valor e p)

Total

n

 

20

2

v= 2,88

 

21

1

v= 3,22

 

3

19

v= 4,73

 

0

8

14

v= 9,22

 

17

5

v= 1,83

 

8

14

v= 2,84

 

7

15

V=2,99

22

%

 

95

5

 

 

100

0

 

 

15

85

 

 

0

35

65

 

 

80

20

 

 

35

65

 

 

30

70

 

100

n

 

20

1

p= 0,58

 

19

2

p= 0,52

 

1

20

p= 0,32

 

3

8

10

p=0,16

 

17

4

p= 0,77

 

6

15

p= 0,59

 

5

16

p= 0,56

21

%

 

94,44

5,56

 

 

88,89

11,11

 

 

5,56

94,44

 

 

16,67

44,44

38,89

 

 

83,33

16,67

 

 

27,78

72,22

 

 

16,67

83,33

 

100

* p<0,05; gl= (n de colunas – 1) x (n de linhas – 1)

    As causas das quedas em idosos podem ser intrínsecas, ou seja, decorrentes de alterações fisiológicas relacionadas ao envelhecimento, ou fatores extrínsecos que dependem de circunstâncias sociais e ambientais que criam desafios ao idoso. Geralmente, problemas com o ambiente são causados por eventos ocasionais que trazem risco aos idosos. Devem ser consideradas situações que propiciem escorregar, tropeçar, pisar em falso, trombar (em objetos ou pessoas e animais). No presente estudo, os idosos que sofreram quedas, dentro ou fora do Centro de Convivência do Idoso, foram questionados sobre os motivos que provavelmente os teriam levado às quedas e 2 relataram que a visão escureceu, 14 disseram que tropeçaram e 5 que escorregaram, 2 associaram a à queda com a redução da pressão arterial, 8 idosos responderam “outros motivos” e alguns não souberam responder. Em geral as quedas não são provocadas por uma única causa, mas sim pela associação de vários fatores, intrínsecos e extrínsecos. Assim, o relato dos idosos refere às alterações mais relevantes observadas e predisponentes as quedas, no entanto, esses fatores não estavam dissociados, mas sim integrados as alterações orgânicas e as negligências do ambiente (Fabrício, 2004).

    Os medicamentos representam um dos itens mais importantes na atenção à saúde do idoso, devido principalmente ao aumento da prevalência de doenças crônicas com a idade No Brasil, estudos populacionais sobre o consumo de medicamentos evidenciam o uso crescente com a idade, tanto em pequenos povoados do interior, quanto em grandes centros urbanos (Andrade, 2004; Flores, 2008; Mosegui, 1999).

    A amostra de medicamentos utilizados pelos idosos do presente estudo equivale a 31 tipos de medicamentos, divididos em cinco classes principais, sendo: 13 anti-hipertensivos (41,94%), 4 anti-inflamatórios (12,90%), 8 anti-depressivos (25,80%), 2 anti-lipêmicos (6,46%) e 4 anti-diabéticos (12,90%). O total de medicamentos utilizados pelos 43 idosos no estudo foi de 87, o que vai ao encontro da tendência atual, que leva em consideração a maior demanda de medicamentos nessa faixa etária e possível ocorrência de polifarmácia (Andrade, 2004; Mosegui, 1999).

    A utilização de fármacos é um fator de risco intrínseco que determina o surgimento de quedas em idosos. As causas intrínsecas compreendem as alterações fisiológicas, as condições patológicas e o uso de medicamentos. Os medicamentos desencadeiam efeitos colaterais adversos que propiciam as quedas (Costa, 2012).

    O aumento da prevalência de doenças crônico-degenerativas como hipertensão arterial e diabetes mellitus tem contribuído para o elevado número de medicamentos utilizados entre os idosos. Essas doenças são reconhecidas como fatores de risco para doenças cardiovasculares, que configuram importantes causas de óbito na população idosa Essa necessidade de controle das doenças faz com que seja comum a associação de medicamentos o que pode ser demonstrado pelo fato de que entre os 43 idosos, existe um relato total do uso de 48 anti-hipertensivos (Gontijo, 2012; Ribeiro 2009; Sociedade Brasileira de Cardiologia, 2010).

    Ao considerar o total de medicamentos utilizados, os anti-hipertensivos são os que representam a maior parcela, aproximadamente 55,17% do total, corroborando com os resultados de estudos que demonstram que estes estão entre os remédios mais utilizados pelos idosos. Existe uma estreita associação entre o uso de anti-hipertensivos, como o captopril, clonazepan, hidroclorotiazida, cinarizina, flunarizina e às quedas Estes podem acarretar o surgimento de sintomas, como bradicardia, sonolência, hipotensão e fadiga, reduzindo, dessa forma, o estado de atenção dos idosos, o que pode levar às quedas (Costa, 2012; Ferreira, 2010; Flores, 2008; Rezende, 2012).

    Em segundo lugar está a classe dos anti-diabéticos, que correspondem a 14,95% do total de medicamentos utilizados. Foi encontrado o mesmo número de usuários de medicamentos anti-depressivos e anti-lipêmicos, o que leva essas classes de medicamentos a constituírem aproximadamente 11,49% do total de medicamentos utilizados. A classe de medicamentos com menor relato de uso no grupo de idosos estudado foi a de anti-inflamatórios que representam aproximadamente 6,90%.

    Os anti-depressivos são frequentemente envolvidos em causas de quedas, principalmente os benzodiazepínicos, que apresentam uma atividade sedativa tornando o indivíduo mais vulnerável aos acidentes Os anti-inflamatórios, assim como qualquer outro medicamento que possa causar o aumento da pressão arterial merecem atenção especial. Esta condição é percebida em inúmeros casos de idosos que sofreram quedas. No presente estudo foi observado que alguns indivíduos que fazem uso de variadas classes de medicamentos sofreram quedas (Tabela 4), porém devido ao baixo número amostral não foi possível encontrar associação entre os fármacos e as quedas (Costa, 2012; Ferreira, 2010; Fonseca, 2013; Flores, 2008; Rezende, 2012,).

Tabela 4. Relação entre medicamento utilizado e incidência de quedas

Quedas

Tipo de medicamento

Sim

N

Não

N

Anti-hipertensivos

Anti-inflamatórios

Anti-depressivos

Anti-lipêmicos

Anti-diabéticos

2

2

3

3

1

18

7

1

7

3

Conclusão

    O envelhecimento é um processo fisiológico, ativo e as alterações sucessivas desse processo promovem alterações em diversos sistemas do organismo do idoso. Existem alterações no sistema visual, sensorial e vestibular que alteram a estabilidade postural do idoso. Essas mudanças por si só já propiciam ao idoso uma maior probabilidade de se expor às quedas e são fatores intrínsecos do individuo, assim como a utilização de medicamentos.

    Embora as quedas sejam comuns entre os idosos, a prática regular de atividade física tem sido evidenciada como benéfica no sentido de desenvolver a coordenação motora e o equilíbrio desses indivíduos. Porém, este estudo demonstrou que a prática de atividade física não foi capaz de prevenir a ocorrência das quedas quando as causas foram ambientais.

    Porém, programas de atividade física como os realizados no Centro de Convivência do Idoso em Divinópolis-MG são importantes na promoção e prevenção de possíveis quedas na população idosa, diminuindo os fatores intrínsecos, aumentando a interação interpessoal e a qualidade de vida do idoso. Incentivos políticos e sociais que visem melhorar o acesso do idoso aos ambientes públicos sem causar acidentes e quedas são ainda necessários.

Bibliografia

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 20 · N° 209 | Buenos Aires, Octubre de 2015
Lecturas: Educación Física y Deportes - ISSN 1514-3465 - © 1997-2015 Derechos reservados