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O futsal sob uma perspectiva crítica nas aulas de Educação Física

El futsal bajo una perspectiva crítica en las clases de educación física

The futsal under a critical perspective in Physical Education classes

 

*Licenciado em Educação Física pela Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC

**Mestre em Educação e professor do Curso de Educação Física

da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC

(Brasil)

Bruno de Aguiar Daniel*

bruninho_sangao@hotmail.com

João Fabrício Guimara Somariva**

joaofabricio@unesc.net

 

 

 

 

Resumo

          O presente trabalho parte da necessidade de discutir a prática pedagógica do futsal fazendo uso de metodologias de ensino de Educação Física ligadas à teoria crítica. O problema chave de nosso estudo foi: como desenvolver o conteúdo Futsal nas aulas de Educação Física numa perspectiva crítica. Na busca por respostas tivemos como objetivo analisar possibilidades metodológicas para o ensino do Futsal baseados em abordagens críticas da Educação Física. A partir de uma revisão bibliográfica, buscamos responder estas questões discutindo duas abordagens que consideramos mais representativas na atualidade, as pedagogias crítico-superadora e crítico-emancipatória, com o intuito de evidenciar suas principais características e procurando aliá-las ao ensino do futsal.

          Unitermos: Educação Física. Pedagogia crítica. Ensino do futsal.

 

Abstract

          This study of the need to discuss the pedagogical futsal practice making use of teaching methods of physical education linked to critical theory. The key to our study problem was: how to develop futsal content in physical education classes in a critical perspective. In the search for answers we had to analyze methodological possibilities for teaching futsal based on criticism of Physical Education approaches. From a literature review, we seek to answer these questions by discussing two approaches that we consider most representative today, surpassing the critical-and critical-emancipatory pedagogy, in order to show their main characteristics and looking link them to the futsal teaching.

          Keywords: Physical Education. Critical pedagogy. Futsal teaching.

 

Recepção: 10/07/2015 - Aceitação: 04/10/2015

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 20, Nº 209, Octubre de 2015. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A forma com que a prática da Educação Física se realiza na escola ainda é palco para grandes discussões. Desde o momento em que se tornou disciplina curricular diversos caminhos para sua efetivação já foram tomados com o intuito de legitimá-la. Exemplo disso é a variedade de objetivos e propostas educacionais que já foram concebidas ao longo deste último século e que de algum modo ainda hoje influenciam a formação do profissional e as práticas pedagógicas dos professores de Educação Física (Darido, 2003).

    Podemos perceber nas tentativas de legitimação da disciplina no decorrer dos anos, as diferentes formas com que seus conteúdos já foram tratados, sempre correspondendo aos interesses da classe social hegemônica do período histórico em questão (Coletivo de Autores, 1992).

    Dentre as várias práticas sociais que a Educação Física tematiza, o esporte nos surge como a que possui maior prestígio social e, conseqüentemente, a que mais é desenvolvida na escola de 1º e 2º graus (Betti, 1999). É nesse contexto que o futebol ganha papel destacado entre os esportes na Educação Física, uma vez que a paixão nacional por essa modalidade o coloca como o conteúdo esportivo mais realizado nas escolas.

    Portanto, escolher o futebol como tema desta discussão vem da necessidade de discutir algumas dúvidas que aparecem desde nossa época de estudante do ensino fundamental e médio e que se intensificaram com as discussões acadêmicas. Hoje, percebemos a forma excludente e descompromissada com que era realizada a prática deste esporte onde, na maioria das vezes, largava-se a bola instaurando-se o caos entre os participantes. Obviamente não era um espaço para a presença feminina. Transmitia-se pouco conhecimento para os alunos e, o que era ensinado, resumiam-se muitas vezes as regras oficiais sem que se pudesse questioná-las.

    É sobre esse conteúdo intrigante que trataremos neste artigo onde iremos abordar seu trato pedagógico, com o intuito de contribuir com sua prática pedagógica na escola. Desta forma, justificamos a escolha do tema pela necessidade de ligar concepções pedagógicas críticas da Educação Física, ao ensino do Futsal.

    Diante dos fatos levantados, realizamos a seguinte pergunta: Como desenvolver o conteúdo Futsal nas aulas de Educação Física numa perspectiva crítica?

    O objetivo geral deste trabalho foi, por meio de uma revisão bibliográfica, analisar possibilidades metodológicas para o ensino do Futsal baseados em concepções críticas da Educação Física. Especificamente, nos propomos a atingir os seguintes objetivos:

  • Identificar e caracterizar as pedagogias críticas da Educação Física.

  • Caracterizar elementos das pedagogias críticas dentro da prática pedagógica do Futsal.

    No primeiro momento iremos realizar um estudo baseando-se nas duas concepções críticas da Educação Física que acreditamos serem as mais influentes e discutidas no campo acadêmico, que são: a abordagem crítico superadora e a abordagem crítico emancipatória. No segundo instante, apresentaremos, a partir das concepções abordadas no presente trabalho, elementos importantes para o ensino crítico do Futsal.

As abordagens críticas da Educação Física

Abordagem Crítico- Emancipatória

    Esta abordagem tem suas bases idealizadas por Kunz (2004), que tem como função, a experimentação das atividades, através do mundo vivido da criança, onde a capacidade de comunicação e reflexão são características fundamentais para a formação de um sujeito emancipado.

    Segundo Assunção e Xavier (2005, p.23) “sua finalidade é o movimento humano - o esporte e suas transformações sociais. O esporte como conteúdo hegemônico impede o desenvolvimento de objetivos mais amplos para a Educação Física”.

    De acordo com Kunz (2004), esta pedagogia se dá na necessidade de criar uma abordagem crítica de forma que fornecessem elementos para mudanças. A partir disso Kunz em 1991, lança algumas idéias de problematizações na perspectiva prática da Educação Física, com o intuito de possibilitar ao aluno a transformação do esporte.

    Para Kunz (2004, p. 18 e 19):

    Para ensinar os esportes aos alunos deve-se observar, pelo menos: as experiências anteriores dos alunos nas modalidades que se pretende ensinar, as influências e as expectativas do esporte normatizado e clubístico, as condições locais e materiais da escola para o ensino da modalidade e, ainda, a própria organização do ensino e da escola.

    De acordo com Kunz (2004, p.22) “Fica evidente que o esporte é em todas as sociedades atuais um fenômeno extremamente importante. Defrontamo-nos com ele a toda hora e em todos os instantes, mesmo sem praticá-lo”. O esporte está inserido na sociedade de uma forma gigantesca, e mesmo o sujeito que não o pratica, está fadado a sua influência por meio da mídia, da economia que obviamente se reflete na escola, transformando a vida do aluno em toda a sua trajetória.

    Kunz (2004) explica que uma teoria crítico emancipatória precisa estar interligada na prática com uma didática comunicativa, pois é através desta que irá se fundamentar o esclarecimento e a prevalência racional de todo meio educacional.

    O aluno enquanto sujeito do processo de ensino deve ser capacitado para sua participação na vida social, cultural e esportiva, o que significa não somente a aquisição de uma capacidade de ação funcional, mas a capacidade de conhecer, reconhecer e problematizar sentidos e significados nesta vida, através da reflexão crítica. (Kunz, 2004, p. 31)

    Ainda nesse contexto, Kunz (2004) discorre sobre a maioridade ou emancipação, onde explica que o aluno tem que sair de sua “zona de conforto”, ou seja, a partir de seu mundo vivido, ele deve aprimorar seus conhecimentos, e criar elementos através da linguagem comunicativa, a fim de que possa evoluir na criação de proposições nas práticas das aulas de Educação Física.

    Neste sentido, é pela interação e pela linguagem que o conhecimento técnico, cultural e social do esporte é compreendido sem ser "imposto" de fora, e na sua "transformação didática" devem ser respeitados os conteúdos do "mundo vivido" dos participantes para que as condições de um entendimento racional, que se dá no nível comunicativo da intersubjetividade, possa ser alcançado. (Kunz, 2004, p. 37 e 38)

    De acordo com Kunz (2004), esta concepção se dá a partir do desenvolvimento de três competências: objetiva, social e comunicativa.

    Na competência objetiva, o aluno precisa receber informações e conhecimentos de forma teórica e prática, precisa treinar de forma técnica e eficiente. Essa categoria, portanto objetiva qualificar o aluno dentro de suas limitações de forma individual e coletiva, para obter sucesso no mundo do trabalho, na sua profissão, e também no esporte.

    Na competência social o aluno deve ter um esclarecimento e conhecimento para entender seu contexto social, atuando no desvelamento de todo tipo de discriminação, como, por exemplo, evidenciando a forma com que meninas e meninos praticam o esporte e os preconceitos que por ele podem se manifestar.

    Já a competência comunicativa explica que no jogo ou atividades lúdicas da Educação Física, o aluno deve, sobretudo desenvolver sua linguagem verbal, uma vez que ela é pouco usada, ou seja, através do desenvolvimento desta competência a criança terá através da linguagem a possibilidade de passar da fala comum para o nível de discurso.

    Para o desenvolvimento da competência educacional crítico-emancipatória como aqui pretendo, o desenvolvimento da competência comunicativa exerce um papel decisivo. Saber se comunicar e entender a comunicação dos outros é um processo reflexivo e desencadeia iniciativas do pensamento crítico. (Kunz, 2004, p. 41)

    Kunz (2004) explica que o professor ao ensinar o esporte deve sensibilizar o aluno de forma reflexiva, para que o mesmo traga problematizações para discutir e resolver diante de situações adversas encontradas em outros momentos da aula.

    Para o autor:

    O ensino na concepção crítico-emancipatória deve ser um ensino de libertação de falsas ilusões, de falsos interesses e desejos, criados e construídos nos alunos pela visão de mundo que apresentam a partir de "conhecimentos" colocados à disposição pelo contexto sociocultural onde vivem. (Kunz, 2004, p. 121)

    Kunz (2004) explica estratégias didáticas para o ensino crítico-emancipatório, em que os conteúdos definidos pelo professor devem se basear em passos, denominados de “transcendência de limites”, no qual o aluno é confrontado com a realidade de ensino e conteúdo de forma gradual. Uma aula nessa perspectiva se estruturaria baseada na seguinte forma:

  • “transcendência de limites pela experimentação”: se dá através do professor permitir que o aluno tenha o contato de forma direta com a realidade simplesmente pelo fato de manusear, experimentar, vivenciar possibilidades, descobrir relações sócio- emocionais, entre outras;

  • transcendência de limites pela aprendizagem”: se dá de acordo com a apresentação verbal e prática do movimento e do jogo, em que o aluno deverá obter o conhecimento para reproduzir o que o professor ensinou, e propor soluções;

  • “transcendência de limites criando”: nesta última se dá a oportunidade de o aluno através de sua capacidade e imaginação criar movimentos e soluções diferentes das propostas pelo professor em sua apresentação.

    Em resumo as transcendências de limites devem agir de modo concreto sobre o aluno, primeiramente permitindo que este descubra através de seu mundo vivido elementos que tragam sucesso na realização de movimentos e jogos; posteriormente que este seja capaz de se manifestar, tanto de forma comunicativa quanto de forma cênica, o que experimentou e aprendeu de forma clara. Por último que o aluno aprenda a questionar sobre aquilo que aprendeu, entendendo assim seu significado cultural e seu valor prático, podendo estimulá-los na busca daquilo que ainda não aprenderam (Kunz, 1994).

Abordagem Crítico-Superadora

    De acordo com o Coletivo de Autores (1992) a Abordagem Crítico Superadora objetiva a reflexão teórico metodológica da Educação Física no trato pedagógico nos conteúdos como os jogos, a ginástica, as lutas, as acrobacias, a mímica, o esporte e outros. Estes conteúdos fazem parte da realidade social em que alunos e alunas estão inseridos e que denominamos de cultura corporal.

    Para o Coletivo de Autores (1992, p. 25) a reflexão pedagógica tem algumas características específicas: é diagnóstica, judicativa e teleológica”. É diagnóstica porque se faz necessária uma leitura da realidade. A forma com que será feita essa interpretação dependerá da classe a que o sujeito está inserido, já que estamos inseridos em uma sociedade de classe. É judicativa, pois, a partir da reflexão anterior, o sujeito pensante passa a julgar através de valores representativos de acordo com cada classe social. É teleológica porque determina um foco a ser atingido de maneira que reflita na perspectiva de classe, tanto de forma conservadora quanto de forma transformadora, de acordo com a realidade diagnosticada e julgada.

    O Coletivo de Autores (1992) explica também alguns princípios curriculares no trato do conhecimento, que reflete alguns requisitos para a sua direção epistemológica que são: selecionar, organizar e sistematizar os conteúdos a serem desenvolvidos, ou seja, pode- se dizer que os conteúdos vêm de elementos culturais universais, podendo ser discutidos de acordo com a situação de cada meio de ensino.

    O princípio da relevância social do conteúdo busca entender o sentido e o significado para a reflexão da pedagogia. Este princípio está ligado com a explicação da realidade social efetiva e com a oferta de elementos capazes de compreender o contexto sócio- histórico do aluno, e principalmente sua condição de classe na sociedade.

    Outro princípio que ganha destaque é a contemporaneidade do conteúdo, ou seja, o conteúdo de ensino selecionado deve garantir aos aprendizes o conhecimento sobre o que há de mais moderno e avançado perante tal conteúdo, mantendo- os atualizados das informações nacionais e internacionais da cultura corporal.

    Outro princípio é o de adequação às possibilidades sócio-cognoscitivas do aluno no qual há de se ter competência e coerência no momento de selecionar o conteúdo, a fim de que o mesmo respeite a capacidade cognitiva e prática do aluno, objetivando suas possibilidades de compreensão enquanto sujeito histórico.

    Os princípios da seleção do conteúdo remetem à necessidade de organizá-lo e sistematizá-lo fundamentado em alguns princípios metodológicos, vinculados à forma como serão tratados no currículo, bem como à lógica com que serão apresentados aos alunos. Inicialmente ressalta-se o princípio do confronto e contraposição de saberes, ou seja, compartilhar significados construídos no pensamento do aluno através de diferentes referências: o conhecimento científico ou saber escolar é o saber construído enquanto resposta às exigências do seu meio cultural informado pelo senso comum (Coletivo de Autores 1992, p. 31)

    O princípio curricular da simultaneidade dos conteúdos enquanto dados da realidade, explica que o conteúdo não pode ser tratado por etapas, assim sendo deve ser de forma simultânea. Os autores explicam que a idéia de etapismo está presente na organização curricular conservadora, que tem como objetivo trabalhar os “pré- requisitos” do conhecimento, o que acaba dificultando o aprendizado do aluno.

    Já o principio da espiralidade da incorporação das referências do pensamento, tem como conceito desenvolver o conhecimento de forma espiral, rompendo com a idéia de linearidade e ampliando as diferentes formas de pensar do aluno.

    Por fim, a provisoriedade do conhecimento é o princípio que vem para romper com a idéia de terminalidade, ajudando o aluno a perceber a partir de si mesmo como sujeito histórico.

    Após tratar dos princípios curriculares, o Coletivo de Autores (1992) traz como seqüência da abordagem crítico superadora, os ciclos de escolarização, no qual os conteúdos são tratados de forma simultânea para a ampliação do conhecimento do aluno, como explicado anteriormente, ou seja, não são tratados os conteúdos por etapas, mas sim por ciclos de escolaridade.

O ensino do futsal baseado numa perspectiva crítica

    Os pressupostos apresentados anteriormente nos dão suporte para que possamos neste momento trazer alguns apontamentos que caracterizam a prática do futsal dentro de um enfoque crítico. Nosso objetivo será estruturar o trato do conteúdo futsal aproximando-o das abordagens crítico emancipatória e crítico superadora, como tentativa de superação de práticas tradicionais de ensino que visam a apenas a performance individual.

    Se tratando de futsal numa perspectiva crítica, tratamos o conteúdo de forma abrangente, esboçando o máximo de conhecimento que o futsal pode trazer e enriquecer nas aulas de Educação Física, desde o histórico até os fundamentos técnicos, trazendo elementos deste esporte que comumente são ignorados. Deve- se objetivar que os alunos participem de forma ativa, tanto dentro de quadra, quanto fora dela para a discussão de problemas ou de construções de novas idéias.

    O estudo histórico do futsal é uma marca da pedagogia crítica. Proporcionar aos alunos o entendimento de sua origem, estudar sua história faz o aluno se perceber como sujeito histórico, um agente de transformação que é responsável por estas mudanças e com o papel de continuar essas transformações.

    A visão de historicidade esta ligada ao princípio da provisoriedade do conhecimento, pois rompe com a idéia de terminalidade.

    É fundamental para o emprego desse princípio apresentar o conteúdo ao aluno, desenvolvendo a noção de historicidade retraçando-o desde a sua gênese, para que este aluno se perceba enquanto sujeito histórico (Coletivo de Autores, 1992, p. 33)

    É importante destacarmos também a ressignificação do ensino dos fundamentos. O futebol como qualquer outro jogo com bola, tem como semelhança fundamentos que se adéquam em vários jogos diferentes, seja ele jogado com os pés ou com as mãos. Ao se passar a bola, materializam vários sentimentos, por exemplo, a criança que realiza o passe está se dispondo a oferecer algo ao colega que ao mesmo tempo está se dispondo a receber. Cabe ao professor transmitir o conhecimento de que se trabalhe em equipe, e de forma solidária desde as séries iniciais. (Coletivo de Autores, 1992)

    Os fundamentos vão além do gesto técnico e não servem apenas para a qualidade individual. De fato é importante compreender como se realiza o passe, o chute, o cabeceio, o domínio de bola, entre outros, porém, utilizamos estes fundamentos para construção de novos movimentos. Cabe ressaltar que jogos ou atividades lúdicas que se assemelham ao esporte, são aconselháveis para o desenvolvimento de habilidades que se apresentam nos jogos esportivos (Coletivo de Autores, 1992).

    Para realização de uma aula do futsal numa perspectiva crítica o professor deve ter em mente as capacidades sócio-cognoscitivas de cada faixa etária para que conduza as aulas de forma adequada com o seu nível de aprendizagem. O conteúdo trabalhado deve ter aspectos que tragam de fato o conhecimento para os alunos, de forma que os transforme enquanto sujeitos críticos.

    Santos (1999) elaborou algumas aulas sobre o futebol baseadas nos ciclos de escolarização1 proposto pelo Coletivo de Autores (1992):

Primeira aula

    O primeiro tema é o: chute ao gol de várias posições; sendo que o objetivo é: aprimoramento do fundamento do chute.

    Construir 3 traves com 4 estacas, ou seja, uma ao lado da outra, dividir a turma em 3 grupos iguais, sendo que quem fizer o gol passa a ser goleiro, de forma com que todos vivenciem a prática do futebol, objetivando a aprendizagem do chute. Os chutes podem ser feitos de posições variadas de acordo com cada aluno, o objetivo da aula não é vencer, e sim de todos participarem e superando suas dificuldades. Cabe ao professor, abrir questionamentos: onde devemos chutar para maior dificuldade do goleiro? Qual o melhor jeito de bater na bola?

Segunda aula

    O segundo tema é o: chute no alvo; sendo que o objetivo é: compreender as exigências técnicas e táticas do Futebol.

    O professor irá delimitar um campo retangular de acordo com o número de alunos e irá demarcar uma zona a 3 metros da linha de fundo onde os alunos não poderão entrar e que serão posicionados os alvos (latas ou garrafas). Com a turma dividida, as duas equipes terão o objetivo de defender seu alvo e atacar o alvo do adversário. A partir disso, surgirão problematizações: Que estratégia pode usar para facilitar o objetivo do jogo? Quais as possibilidades de melhorar o jogo?

    Para o Coletivo de Autores (1992, p.72) ensinar o Futebol deve se analisar diferentes aspectos:

  • “O futebol enquanto jogo com suas normas, regras, e exigências físicas, técnicas e táticas”. Neste elemento cabe ao professor, ensinar o futebol de forma teórico-prática para o aluno obter o conhecimento geral sobre o esporte.

  • “O futebol enquanto espetáculo esportivo”. Explicar ao aluno a audiência gigantesca que tem o futebol, sua função de entretenimento e, a partir disso, discutir a influência do futebol na sociedade.

  • “O futebol enquanto processo de trabalho que se diversifica e gera mercados específicos de atuação profissional”. Revelar junto aos alunos o que se passa por trás do gramado, qual a rotina dos jogadores, treinadores, dirigentes, e todos os membros que estão inseridos no futebol, com o intuito de explicar o que é o futebol num processo de mercantilização.

  • “O futebol enquanto jogo popularmente praticado”. Mostrar ao aluno o fenômeno chamado futebol, o porquê de sua popularidade tão grande, e através disso despertar a reflexão no aluno para realidade do futebol.

  • “O futebol enquanto fenômeno cultural que inebria milhões e milhões de pessoas em todo o mundo e, em especial, no Brasil”. Explicar às crianças a forte cultura enraizada no futebol brasileiro, o fato de atingir todas as classes sociais e o porquê da paixão por este esporte.

    Uma característica negativa que podemos observar da prática do futsal na escola, diz respeito à exacerbação da competitividade em contraposição a solidariedade que Kunz (2006) denominou de princípio da sobrepujança, ou seja, alguns valores acabam deixados de lado, pelo fascínio em vencer a qualquer custo. A intenção é minimizar o individualismo e a competitividade enraizada em nossa cultura. Ao trabalhar estes elementos o professor auxilia o aluno a compreender que “jogar com o outro” e jogar “contra o outro” depende da forma com que entende o ato de competir.

    O futebol e o futsal sem dúvida nenhuma estão presente na vida dos brasileiros a ponto de cada cidadão se considerar conhecedor profundo desse esporte. Na escola não é diferente, pois nosso aluno já vem com um histórico muito rico de experiências e, cabe ao professor, saber ensinar da melhor forma possível evidenciando a este, informações que venham a somar e que o faça perceber que jogar futebol é muito mais do que simplesmente jogar bola.

Considerações finais

    A escola é um meio que está aberto à sugestão, aprendizagem, conhecimento, socialização, e sobre tudo também é o local privilegiado na formação do ser humano. A educação transforma a vida da criança e nós como professores temos de estar preparados para a transformação de vidas, e para isso acontecer devemos entender de fato todos os elementos da Educação Física.

    A pesquisa realizada nos proporcionou entender a importância do professor que vê na perspectiva crítica da Educação Física a possibilidade de mudanças na forma de tratar o conteúdo esporte, no caso aqui representado pelo ensino do futsal. Nossa intenção foi evidenciar uma possibilidade metodológica que já há algumas décadas está presente na literatura acadêmica, mas que encontra a pedagogia tecnicista como maior obstáculo para sua efetivação.

    Assim, esperamos que esta pesquisa possa ter contribuir metodologicamente para a superação das práticas não/críticas do ensino do futsal e que possa auxiliar nossos educandos a agir e pensar criticamente.

Notas

  1. Os autores dispõem os ciclos da seguinte forma: 1°: (pré a 3ª série) - ciclo de organização da identificação dos dados da realidade; 2°: (4ª a 6ª série) - ciclo de iniciação à sistematização do conhecimento; 3°: (7ª a 8ª série) - ciclo de aplicação da sistematização do conhecimento; 4°: (ensino médio) - ciclo de aprofundamento da sistematização do conhecimento.

Bibliografia

  • Santos, A. S. B. dos. (1999). O ensino do futebol da escola: a perspectiva da cultura corporal. Revista Motrivivência. nº 13. 185-204.

  • Coletivo de Autores. (1992). Metodologia do Ensino de Educação Física. São Paulo: Cortez.

  • Darido, S. (2003). Educação Física na Escola: questões e reflexões. RJ: Ed. Guanabara

  • Kunz, E. (2001). Educação Física- Ensino & Mudanças. 2ª Ed. Ijuí, RS: UNIJUÍ.

  • Kunz, E. (2004). Transformação didático pedagógico do esporte. 6ª Ed. Ijuí, RS: UNIJUÍ.

  • Kunz, E. (2005). Didática da Educação Física- futebol. 2ª Ed. Ijuí- RS: Ed. UNIJUÍ.

  • Navarro, A. C. & Almeida. R. de (2008). Futsal. São Paulo: Phorte, 166p.

  • Xavier Neto, L. P. & Assunção, J. R (2005). Educação Física (saiba mais). RJ: Ed. Âmbito Cultural.

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