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A contribuição das atividades lúdicas no 

desenvolvimento de habilidades sociais na infância

La contribución de las actividades lúdicas en el desarrollo de habilidades sociales en la infancia

The contribution of playful activities in the development of social skills in childhood

 

*Graduanda do Curso de Psicologia da Universidade Federal de Rondônia

**Doutorado em Psicologia

Professor do Departamento de Psicologia/UNIR

(Brasil)

Yesica Nunez Pumariega*

Paulo Renato Vitória Calheiros**

rnunezcardenas@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          As habilidades sociais referem-se aos comportamentos sociais no repertório do indivíduo para lidar com demandas das situações interpessoais. Quando se verifica baixo índice de habilidades sociais, as relações interpessoais se tornam críticas, podem se tornar restritas e conflitivas, interferindo de maneira negativa no grupo em que o indivíduo está inserido. A importância do estudo das habilidades sociais vem sendo reconhecida, como um componente crucial para a aprendizagem e o sucesso escolar, bem como para o desenvolvimento sócio-emocional e o ajustamento na escola. Considerando o exposto, esta pesquisa teve como objetivo geral identificar e analisar publicações que fazem referência á contribuição do lúdico no desenvolvimento de habilidades sociais na infância. Como objetivos específicos determinaram-se os seguintes: a) Identificar as habilidades Sociais no que diz respeito ás abordagens de pesquisa; b) Distinguir a relação de pais e filho e o brincar; c) Abordar os jogos recreativos como forma de aprendizagem de conceitos básicos em crianças; d) Analisar os estudos voltados ás habilidades sociais com enfoque na infância. Realizou-se uma pesquisa do tipo Bibliográfica. Foram consultadas as bases de dados Scielo, Capes e Google acadêmico, sendo selecionadas 18 bibliografias; e utilizadas para a análise apenas 11; todas em Português.

          Unitermos: Lúdico. Habilidades sociais. Infância.

 

Abstract

          Social skills refer to social behavior on the individual's repertoire to deal with demands of interpersonal situations. When there is low level of social skills, interpersonal relationships become critical, can become limited and conflicting, interfering negatively in the group in which the individual is inserted. The importance of the study of social skills has been recognized as a crucial component for learning and school success, as well as for socio-emotional development and adjustment in school. Considering the above, this research aimed to identify and analyze publications that will make reference playful contribution in the development of social skills in childhood. As specific goals were determined as follows: a) Identify the social skills with regard ace research approaches; b) distinguish the parent-child relationship and the play; c) Address the recreational games as a way of learning basic concepts in children; d) To analyze the studies focused ace social skills with a focus on childhood. Foi realizada uma pesquisa do tipo bibliográfica. Bases de dados foram consultadas SciELO, Capes e do Google Scholar, sendo selecionado bibliografias 18; e utilizado para análise apenas 11; tudo em Português.

          Keywords: Playful. Social skills. Children.

 

Recepção: 01/07/2015 - Aceitação: 26/09/2015

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 20, Nº 209, Octubre de 2015. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    O princípio norteador deste estudo orienta-se pela premissa de que grande parte do conhecimento humano é adquirido na interação do sujeito com o meio social. O tema foi definido como "A contribuição do lúdico no desenvolvimento de habilidades sociais na infância". O termo Habilidades Sociais remete a uma área da Psicologia e se refere à existência de diferentes classes de comportamentos sociais no repertório do indivíduo para lidar de maneira adequada com demandas das situações interpessoais (Del Prette & Del Prete apud Pinheiro & Haasse, 2006). Quando se verifica baixo índice de habilidades sociais, as relações interpessoais se tornam críticas, podem se tornar restritas e conflitivas, interferindo de maneira negativa no grupo em que o indivíduo está inserido, e, sobretudo, na saúde psicológica (Del Prete & Del Prete apud Pinheiro & Haasse, 2006). Por outro lado, o trabalho lúdico durante a infância, através de jogos, é uma ferramenta preciosa para educar e ensinar as crianças a interagir com os outros se divertindo e desenvolvendo Habilidades Sociais.

    A literatura aponta vários conceitos e definições para habilidades Sociais (HS). De acordo com Del Prete & Del Prete (2001) as HS aplicam-se à noção de existência de diferentes classes de comportamentos sociais no repertório do individuo para lidar com as demandas das situações interpessoais. Segundo Caballo (1987) o termo comportamento socialmente hábil pode ser considerado como definição de HS. O autor conceitua o termo como o conjunto de comportamentos emitidos por uma pessoa em um contexto interpessoal. Esses comportamentos se expressam através de sentimentos, atitudes, desejos, opiniões ou direitos adequados à situação, respeitando-se os demais.

    Del Prete & Del Prete apud Bolsoni (2002) apresentam uma taxonomia, mas completa, quando comparada com a de Caballo. Essas taxonomias são organizadas pelos autores em categorias amplas e específicas, dentre elas estão: habilidades sociais de comunicação, civilidade, assertividade de enfrentamento, de empatia, de trabalho, e de expressão de sentimento positivo.

    As habilidades sociais de comunicação relacionam-se a comportamentos de fazer e responder a perguntas; gratificar e elogiar; pedir e dar feedback nas relações sociais; iniciar, manter e encerrar conversação. As habilidades de civilidade dizem respeito a pedir, por favor; agradecer, apresentar-se, cumprimentar, despedir-se. As habilidades sociais assertivas de enfrentamento diz respeito a manifestar opinião, concordar, discordar; fazer, aceitar e recusar pedidos, desculpar-se e admitir falhas, estabelecer relacionamento afetivo/sexual, encerrar relacionamento, expressar raiva e pedir mudança de comportamento, interagir com autoridades; lidar com críticas. A capacidade de parafrasear, refletir sentimentos e expressar apoio faz parte das habilidades sociais empáticas. Quanto às habilidades sociais de trabalho, envolvem atitudes de coordenar grupo, falar em público, resolver problemas, tomar decisões e mediar conflitos, além de aspectos relativos ás HS educativas. Por fim, as HS de expressão de sentimento positivo se relacionam com o comportamento de fazer amizade, expressar a solidariedade e cultivar o amor.

    Caballo (2003) cita diversos outros autores que apresentam definições de comportamento socialmente hábil. Uma das referências deste autor é a obra de Libert & Lewinsohn. Estes últimos autores conceituam comportamento socialmente hábil como a capacidade complexa de emitir atitudes que são reforços positivos ou negativos, e de não emitir comportamentos que não são punidos ou extintos pelos demais. Hersen & Bellack compõe o segundo grupo de autores mencionados por Caballo (2003), embora estes não acrescentem grandes alterações nas suas posturas em relação ao tema. Hersen & Ballack diferem dos autores anteriormente citados quando afirmam que o comportamento socialmente hábil são emitidos através de atitudes positivas.

    O presente trabalho tem como objetivo principal identificar e analisar publicações que fazem referência á contribuição do lúdico no desenvolvimento de habilidades sociais na infância. Determinaram-se os seguintes objetivos específicos: a) Identificar as abordagens de pesquisas voltadas à área de habilidades Sociais; b) Distinguir a relação de pais e filho e o brincar; c) Abordar os jogos recreativos como forma de aprendizagem de conceitos básicos em crianças; d) Analisar os estudos voltados às habilidades sociais com enfoque na infância.

2.     Metodologia

    Foi realizada uma pesquisa do tipo bibliográfica, consultadas as bases de dados Scielo, Capes e Google acadêmico, sendo selecionadas 18 bibliografias; e utilizadas para a análise apenas 11; todas em Português. Os critérios utilizados para a seleção dos manuscritos foram os seguintes: a) Artigos reconhecidos a partir dos seguintes identificadores: habilidades sociais e infância, avaliação de habilidades sociais; b) materiais em língua portuguesa.

3.     Habilidade social: conceitos e definições

    Hargie et al & Kelly apud Caballo (2003) abordam a temática das habilidades sociais (HS) como conceitos importantes para a área de educação. O primeiro autor defende que HS envolve comportamentos sociais dirigidos a um objeto inter-relacionados; podem ser aprendidos e mantidos sob o controle do indivíduo. Ao referir-se a temática em pauta, o segundo autor considera que se trata de comportamentos identificáveis, aprendidos, empregados pelos indivíduos nas situações interpessoais para obter ou manter o reforço de seu ambiente.

    Caballo (2003) ao apresentar as idéias de Linehan, demonstra que este autor adota um conceito complexo para emissão de comportamentos ou padrões de respostas. Estes, por sua vez aperfeiçoam a influência interpessoal e a resistência á influência social não desejada (eficácia nos objetivos). Ao mesmo tempo, aperfeiçoam os ganhos, minimizam as perdas na relação com o outro (eficácia na relação) mantendo a própria integridade e sensação de domínio (eficácia no respeito próprio).

    Em análise aos conceitos de HS apresentados anteriormente verificam-se algumas discordância entre os autores. Del Prete & Del Prete (2001), por exemplo, avançam na apresentação de uma taxonomia, que entende HS como um repertório de comportamentos, deixando de modo implícito que as classes de comportamentos podem ser tanto positivas ou negativas socialmente. Os elementos da taxonomia apresentados por esses autores, como por exemplo, enfrentamento e comunicação, dão a entender que se trata de repertórios que podem ser identificados no indivíduo tanto com graus positivos (hábil socialmente); como com graus negativos (déficit). Também os autores dão margem para o entendimento de que um indivíduo pode apresentar-se hábil socialmente em uma determinada situação e pouco habilidoso em outra.

    Já Caballo (1987) assume uma postura distinta de Del Prete & Del Prete (2001) quando entende que HS é um comportamento socialmente habilidoso. Este primeiro autor deixa uma lacuna sobre a nomenclatura a ser aplicada para um indivíduo com déficit nas inter-relações pessoais. Caballo (2003), entretanto ao citar diversos autores que abordam esta temática demonstra que não há unanimidade sobre o conceito de HS. Dos autores citados por Caballo (2003), apenas Hersen & Bellack seguem a sua linha de raciocínio. Os demais assumem uma postura que se assemelha aquela defendida por Del Prete & Del Prete (2001).

    Diante o exposto defende-se que uma compreensão ampla do conceito de HS é fundamental para o desenvolvimento de estudos nessa área. Assim, parece ser que um conceito amplo desta expressão envolve tanto um repertório de comportamentos adequados quanto inadequados. O papel dos valores como critérios de escolha e como padrões de comportamento suscitam questões relativas a valores adequados e emitidos. Valores inadequados são incorporados e assimilados, através de mecanismos e estratégias distintas, no comportamento e atitudes das pessoas. Trower et al (apud Caballo, 2003) afirmam que uma pessoa pode ser considerada socialmente inadequada se for capaz de afetar o comportamento e os sentimentos dos demais do modo como tenta e a sociedade aceita. Para Carneiro & Falcone (2004) as deficiências e comportamentos de Habilidades Sociais estão geralmente associados a dificuldades nas relações interpessoais e a diversos tipos de transtornos psicológicos como, por exemplo, a timidez, o isolamento social, o suicídio e a depressão.

    Do que foi dito até agora, conclui-se que as HS podem variar entre níveis mais adequados e menos adequados socialmente. Assim, existem indivíduos socialmente habilidosos e aqueles que apresentam deficiências e/ou comprometimentos no seu repertório de comportamento interpessoal. Além disso, há que considerar as diversas situações de inter-relações, ou dito de outro modo, há que considerar a diversidade de manifestações de comportamento. Conforme já foi mencionado anteriormente, um indivíduo pode, por exemplo, ser socialmente habilidoso na categoria "comunicação" e ao mesmo tempo apresentar comportamento social inadequado na variável "enfrentamento".

4.     Relação de pais e filho e o brincar

    Goldfeld (2000) observa que, ao dar significado ás ações e sons do filho, a mãe propicia a formação de conceitos pela criança e, por representar a sociedade para a criança, estabelece um importante elo entre ela e o mundo. Para Calderon e Greenberg (1999), as habilidades maternas de resolução de problemas estão diretamente ligadas ao ajuste e aprendizagem da criança.

    MacDonald e Pien (1982) pesquisaram, em 12 mães e crianças menores de cinco anos, sem doenças, o modo peculiar de a mãe se dirigir à criança, e também as características da fala materna. O objetivo era identificar até que ponto estes aspectos podem refletir em diferentes efeitos sobre o desenvolvimento da criança. Investigaram formas de brincar em um ambiente lúdico, e concluíram que a prevalência de questionamentos e frases imperativas, e a escassez de declarações, parecem inadequadas para a comunicação mãe-criança.

    Moyles (2002) afirma que, em todas as idades, o brincar é realizado por puro prazer e diversão, criando no sujeito uma atitude alegre em relação à vida e à aprendizagem. Para a autora, a estimulação, a variedade, o interesse pela atividade, a concentração e a motivação podem ser proporcionados por atividades lúdicas.

    Poletto (2005) investigou como o lúdico se manifesta no contexto diário da vida de 40 crianças, entre sete e dez anos de idade, em situação de pobreza econômica. desenvolveu seu estudo por meio de entrevistas, brinquedos, brincadeiras, dando-lhes tempo e espaço para brincar; verificou quais as companhias preferidas pelas crianças, bem como a visão de seus familiares com relação a estes aspectos. Constatou que os familiares compreendem a necessidade das crianças de brincar e assim propiciam tempo, espaço e companhia para o desenvolvimento de tais atividades, quando solicitado e possível. Em grande parte, os pais conseguem ter prazer nas atividades lúdicas realizadas com os filhos, utilizando jogos e conversas. O autor sugeriu programas que beneficiem as interações entre os familiares e as crianças, a fim de que o lúdico possa servir como instrumento de mediação nas diversas relações.

    Desta forma, o brincar pode ser considerado fonte prazerosa de aprendizagem de regras sociais. Para os pais, além de proporcionar oportunidade de conhecer as potencialidades e limites de sua criança, ao se depararem com o real estágio de desenvolvimento da mesma, pode adequar sua atuação, favorecendo o processo de desenvolvimento.

    Já a criança, com base em ações sobre os objetos que usa para brincar, passa a ter consciência dos mesmos, a se relacionar ativamente com eles e a imitar situações do mundo adulto, criando um mundo de faz de conta, como norteador das suas experiências. As situações abstratas de mundo que ela cria proporcionam um meio para o desenvolvimento do pensamento e a constituição dos comportamentos.

    Como brincar é a atividade básica para todas as crianças e pode ser explorado no sentido educativo, Silva (2002) explica que o brincar assume a finalidade de possibilitar a compreensão e interpretação de uma cultura marcada pela oralidade.

    O brincar é, portanto, uma rica atividade, que pode ser explorada, proporcionando meios de desenvolvimento das habilidades sociais para as crianças de maneira geral. Paralelamente, a motivação da criança é guiada justamente pelo interesse e necessidade de apropriar-se de um universo do qual ela quer fazer parte: o universo do adulto. Esse universo requer habilidades que ela precisa desenvolver para adequar-se ao meio social, e, consequentemente, obtendo êxito em sua trajetória.

5.     Os jogos recreativos infantis na aprendizagem de conceitos básicos em crianças

    Orientado pelo grau de escolaridade, segundo Serapião (1997), durante o 1º grau (atualmente denominado Ensino Fundamental), a ênfase nos jogos recreativos recai em processos verbais, principalmente palavras, símbolos e códigos. No nível pré-escolar há acordo entre os estudiosos quanto a se ensinar conceitos por intermédio de atividades lúdicas, mediadas pela linguagem oral, gestual (motora), de objetos e figuras. Há também consenso de que a pré-escola e os primeiros anos da escola do Ensino Fundamental constituem a época por excelência para a aquisição de repertórios conceituais considerados básicos ou pré-requisitos para aquisições acadêmicas posteriores. É o caso, por exemplo, do domínio de certos conceitos relativos à orientação no tempo, como antes, após e durante, e à duração dos intervalos, como tempo longo e tempo curto. Estes conceitos irão, certamente, ter seus reflexos em aprendizagens posteriores.

    O jogo é reconhecido como meio de fornecer à criança um ambiente agradável, motivador. Quando planejado possibilita a aprendizagem de várias habilidades. Na idade pré-escolar, mediante a brincadeira e a fantasia, a criança adquire a maior parte de seus repertórios cognitivos, emocionais e sociais. Platão ensinava matemática às crianças em forma de jogo e preconizava que os primeiros anos da criança deveriam ser ocupados com jogos educativos, praticados em comum pelos dois sexos, sob a vigilância de adultos e em jardins de crianças (Platão 348 a. C, apud Almeida, 1987). Froebel, que foi o primeiro pedagogo a incluir o jogo no sistema educativo, acreditava que a personalidade da criança pode ser aperfeiçoada e enriquecida pelo brinquedo, e que a principal função do professor, neste caso, é de fornecer situação e materiais para o jogo. Para o autor, as crianças aprendem através do brincar, admirável instrumento para promover a sua educação (Froebel apud Bomtempo, 1974). Claparéde (1940) afirma que a criança é um ser feito para brincar e que o jogo é um artifício que a natureza encontrou para envolver a criança numa atividade útil ao seu desenvolvimento físico e mental. Sugerem os educadores que se use o jogo no processo educativo para realizar o ensino mais no nível da criança, fazendo, de seus instintos naturais, aliados, e não, inimigos. Jacquin (1963) enfatiza que o jogo tem sobre a criança o poder de um exercitador universal. Diz que o jogo facilita tanto o progresso da personalidade integral da criança como o progresso de cada uma de suas funções psicológicas, intelectuais e morais.

    Partindo da consideração de que as atividades lúdicas podem contribuir para o desenvolvimento intelectual da criança, Cratty (1975) sugere a utilização de atividades motoras sob a forma de jogos para o domínio de conceitos (como, por exemplo, de linhas retas, de curvas, de círculo, de triângulo, de letras minúsculas e maiúsculas, de para cima/para baixo e de esquerda/direita) e para o desenvolvimento de algumas capacidades psicológicas, tais como: memória, avaliação e resolução de problemas.

    Piaget (1962 e 1976) diz que a atividade lúdica é o berço obrigatório das atividades intelectuais da criança, sendo, por isso, indispensável à prática educativa. È pelo fato de o jogo ser um meio tão poderoso para a aprendizagem das crianças que em todo lugar onde se consegue transformar em jogo a iniciação à leitura, à escrita ou à matemática, observa-se que as crianças apaixonam-se por essas ocupações, geralmente tidas como maçantes. Os jogos não são apenas uma forma de desafogo ou de entretenimento para gastar a energia das crianças, mas se constituem meios que contribuem e enriquecem o desenvolvimento intelectual.

6.     Estudos voltados ás habilidades sociais com enfoque na infância

    Nas ultimas décadas, um corpo consistente de conhecimentos vem sendo produzido em psicologia do desenvolvimento, psicopatologia e psicologia clínica acerca das relações entre habilidades sociais, desenvolvimento sócio-emocional e saúde (Arón & Milicic, 1994; Cox & Schopler, 1995; Del Prette & Del Prette, 1996, 2003a; Lemos & Meneses, 2002; Marinho, 2003).

    Tais habilidades dizem respeito a comportamentos necessários a uma relação interpessoal bem-sucedida, conforme parâmetros típicos de cada contexto e cultura, podendo incluir os comportamentos de iniciar, manter e finalizar conversas; pedir ajuda; fazer e responder a perguntas; fazer e recusar pedidos; defender-se; expressar sentimentos, agrados e desagrados; pedir mudança no comportamento do outro; lidar com críticas e elogios; admitir erro e pedir desculpas e escutar empaticamente, dentre outros (Caballo, 2003; Falcone, 2002). Além do conteúdo da oralidade, são igualmente relevantes na determinação da habilidade social, outros aspectos concomitantes ao falar, a exemplo dos conteúdos inseridos nos tipos não verbais de comunicação (Ex: postura e contato visual); aspecto cognitivo-afetivo (Ex: auto-eficácia e leitura do ambiente); no âmbito fisiológico (Ex: respiração e taxa cardíaca); e na vertente da aparência pessoal e atratividade física (Del Prette & Del Prette, 1999).

    Autores afirmam (Gomide, 2003; Pacheco, Teixeira & Gomes, 1999) que a construção de um repertório socialmente habilidoso pode ocorrer em interações e contextos naturais, ou seja, sem treinamento formal, como no relacionamento entre pais e filhos, irmãos, colegas de escola, amigos e cônjuges. Entretanto, comumente falhas ocorrem neste processo de aprendizagem, ocasionando déficits relevantes em habilidades Sociais.

    Um estudo realizado por Dominges; Motti e Palamin (2008), sobre o brincar e as habilidades sociais da criança com deficiência auditiva e mãe ouvinte, mostra a necessidade de modelos para a criança aprender sobre os comportamentos aceitos socialmente. A dificuldade na comunicação impede que ela receba explicações precisas, coerentes e completas para desenvolver a percepção do que lhe é exigido. Por outro lado, a mãe, diante da dificuldade de comunicação, precisa de auxílio e orientação para exercer o papel de educadora e evitar atitudes equivocadas, que não auxiliam a aprendizagem. Foram observados condições e empenho para que o brincar aconteça na interação da mãe ouvinte com seu filho deficiente auditivo severo e/ou profundo. Os resultados deste estudo podem ser utilizados mais eficientemente no preparo das mães. O estudo trouxe esclarecimentos para os profissionais da área, demonstrando a necessidade de informação e orientação para as mães atuarem com seus filhos. Um exemplo desta necessidade reside no conhecimento e otimização das formas possíveis de comunicação, visando que ambos alcancem melhores níveis de desenvolvimento e adequação social.

    Em outro estudo realizado por Prebianchi (2002), sobre a importância do aspecto Psicomotor na avaliação e tratamento das dificuldades sociais infantis, a autora enfatiza que quando a criança chega à clínica, o terapeuta entende que aquele comportamento é resultado de múltiplos eventos ambientais e contextuais. Além disso, considera que a criança, como indivíduo em processo de crescimento e desenvolvimento, atravessa uma variedade de estágios ou níveis nos quais o seu desenvolvimento biológico, cognitivo e comportamental se associa reciprocamente e se influencia de modo dinâmico (Prebianchi, 2000).

    Assim como Hops e Finch (1985) acreditamos que a avaliação da competência social em crianças deve incluir uma consideração de todos os fatores que contribuem para as relações com os companheiros. Concordamos com a sua sugestão de que para uma intervenção devem ser avaliadas as seguintes variáveis: a) as habilidades sociais específicas para estabelecer contatos sociais; b) as habilidades de linguagem que são pré-requisitos para a comunicação social efetiva; c) as habilidades de seus pais em lhes fornecer comportamentos socialmente adaptativos necessários ás situações sociais; e as habilidades motoras que permitem às crianças explorarem mais eficazmente o mundo dos objetos junto com seus companheiros. Entretanto, é importante destacar que a capacitação para essa tarefa demandará do terapeuta comportamental infantil um conhecimento sólido do processo de desenvolvimento psicomotor e de técnicas para a avaliação.

7.     Conclusão

    Ao concluir este trabalho, recorre-se aos objetivos pretendidos:

    Identificar as abordagens de pesquisas voltadas à área de habilidades Sociais; b) Distinguir a relação de pais e filho e o brincar; c) Abordar os jogos recreativos como forma de aprendizagem de conceitos básicos em crianças; d) Analisar os estudos voltados às habilidades sociais com enfoque na infância.

  • Com relação às abordagens de pesquisas voltadas à área de habilidades Sociais foi possível extrair distintos enfoques nomeados como "Clínica", "Clínica-Educacional", "Educacional", "Organizacional" e "Mista". Esta classificação decorre de uma análise pessoal já que os autores consultados não explicitam esta questão em suas publicações. Deduzem-se deste modo, que outras investigações podem sugerir distintas nomenclaturas de abordagens e classificações.

  • A relação de pais e filho que beneficiem o processo de desenvolvimento das interações da criança entre os familiares e a sociedade em geral requer dos pais, a ampliação de suas próprias habilidades sociais. Tais conhecimentos, quando aliados às atividades lúdicas serão fatores motivacionais e estimuladores da aprendizagem infantil. Entretanto, um dos materiais bibliográficos consultados para a elaboração deste trabalho, mostrou em um estudo, que a comunicação mãe-criança se manifestou de modo inadequado.

  • As atividades lúdicas são valiosos instrumentos para a aquisição de repertórios cognitivos, emocionais e sociais. Na fase infantil, tais atividades são estratégias importantes de aprendizagem de conceitos básicos que podem ser recrutados durante toda a vida. Esta fase, que é acompanhada das etapas escolares iniciais são as melhores épocas para o ensino e a aprendizagem de conceitos que serão requeridos ao indivíduo pela sociedade.

  • Do ponto de vista quantitativo, verificou-se predomínio de estudos de abordagem educacional. Do ponto de vista quantitativo, não se observou destaque em nenhuma abordagem em especial. Em todos os casos verificaram-se trabalhos com aprofundamento teórico-metodológico satisfatório e aqueles considerados superficiais quanto à variável HS. Entre os conceitos de HS identificados verificaram-se duas tendências: a) disposição a entendê-lo como um comportamento socialmente habilidoso; b) abranger HS como repertório de comportamentos, que podem ser tanto positivos (habilidoso socialmente) como negativos (com déficit em alguma habilidade social).

Bibliografia

  • Caneiro, R.S. & Falcone, E.O. (2004). Um estudo das capacidades e deficiências em habilidades sociais na terceira idade. Psicologia em Estudo, v.9, n. 1.

  • Caballo, V.E. (2003). Técnicas de avaliação das habilidades sociais. Em V.E. Caballo (Org.), Manual de avaliação e treinamento das habilidades sociais (pp.113-180). São Paulo: Editora Santos.

  • Caballo, V.E. (1987). Teoria, evaluación y entrenamiento de lãs habilidades sociales. Valencia: Promolibro.

  • Del Prette, A. & Del Prette, Z.A. (2006). Psicologia Educacional, forense e com adolescente em risco: prática na avaliação e promoção de habilidades sociais. Avaliação psicológica, v.5, n.1.

  • Del Prette, Z.A.P. & Del Prette, A. (2001). Inventário de habilidades sociais: manual de aplicação, apuração e interpretação (IHS - DelPrette). São Paulo: Casa do Psicólogo.

  • Del Prette, Z.A.P. & Del Prette, A. (2002). Avaliação de habilidades sociais de crianças com um inventário multimídia: indicadores sociométricos associados à frequência versus dificuldade. Psicologia em Estudo (Maringá), v.7, n.1.

  • Goldfeld, M. (2000). O brincar na relação entre mães ouvintes e filhos surdos. Tese de doutorado não publicada, Escola Paulista de Medicina. Universidade Federal de São Paulo.

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