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Atividade física e nível de depressão em mulheres idosas

Actividad física y nivel de depresión en mujeres mayores

Physical activity and depression level in elderly women

 

Profissionais de Educação Física

Universidade Estadual do Piauí/UESPI

(Brasil)

Adélia Maria Viana Pinheiro Vieira do Nascimento

Dra. Patrícia Uchôa Leitão Cabral

adeliapinheiro-21@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Introdução: Estudos têm mostrado uma relação positiva entre a prática de atividade física e a boa saúde mental. Objetivo: avaliar o nível de depressão em mulheres idosas fisicamente ativas e sedentárias. Metodologia: Realizou-se um estudo transversal que compreendeu uma amostra de 60 mulheres idosas, sendo 30 fisicamente ativas e 30 sedentárias freqüentadoras do Centro de Convivência da Terceira Idade, na cidade de Teresina/PI. Aplicou-se um questionário referente às características sociodemográficas, clínicas e comportamentais. Utilizou-se o questionário de depressão de Beck (BDI) para avaliar os o nível de depressão. Resultados: Observou-se que a depressão mostrou diferenças significativas (p<0,01) entre os grupos das fisicamente ativas e sedentárias. Quando analisadas as médias referentes ao nível de depressão, observaram- se menores níveis das mesmas nas mulheres fisicamente ativas (p<0,01).Através da análise de regressão linear observou-se que as mulheres ativas tinham uma tendência a ter 9,94 menos chances de ter depressão, quando comparadas às sedentárias (p<0,001). Conclusão: os exercícios físicos regulares parecem contribuir positivamente para a redução dos níveis de depressão em mulheres idosas.

          Unitermos: Depressão. Idosas. Atividade física.

 

Abstract

          Introduction: Studies has showed a positive relationship between physical activity practice and a good mental health. Objective: To assess the level of depression in physically active and sedentary elderly women. Methods: It was conducted a cross-sectional study that included a sample of 60 older women, 30 of them were physically active and others 30 were sedentary women. All these women were goes of “Centro de Convivência da Terceira Idade-CCTI” from Teresina – PI. It was applied a questionnaire regarding sociodemographic, clinical, and behavioral characteristics. It was used the Beck Depression Inventory (BDI) to assess the levels of depression. Results: Regarding levels of depression, it was observed a significant differences (p <0.01) between the groups of the physically active and sedentary elderly women. The average of depression level were analyzed and it was observed lower depression levels in the physically active elderly women (p <0.01).Through of the linear regression analysis it was observed that the physically active elderly women had a tendency to be, 9.94 less depressed than the sedentary elderly women (p <0.001). Conclusion: Regular exercise seems to contribute positively to reduce levels of depression in elderly women.

          Keywords: Depression, Elderly women. Physical Activity.

 

Recepção: 12/05/2015 - Aceitação: 28/08/2015

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 20, Nº 209, Octubre de 2015. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O envelhecimento é um processo que acomete todos os indivíduos de forma gradativa, provocados por valores biológicos e sócios ambientais. O declínio das capacidades funcionais apresenta uma tendência ao acúmulo de processos patológico, provocando desequilíbrio biológico e surgimento de restrições para a execução de atividades diárias (Oliveira, 2002).

    A prática de atividade física voltada para os idosos é de fundamental importância, pois além das melhoras na capacidade aeróbica, flexibilidade e força, também influencia na redução dos níveis de estresse e depressão em o aumento do bem-estar físico e psicológico (Oliveira, 2002).

    Conforme Neri (2002), baixos níveis de saúde na velhice associam-se com altos níveis de depressão e angústia e com negativas formas de satisfação de vida. O autor também afirma que as dificuldades do idoso em realizar as atividades da vida diária, devido aos problemas físicos, ocasionam dificuldades nas relações sociais com outras pessoas e na manutenção da autonomia, trazendo prejuízos à saúde mental e emocional.

    Para Del Porto (1999), os sintomas depressivos envolvem aspectos de natureza biológica, psicológica e social e ocasionam forte impacto funcional na vida de indivíduos de todas as idades. Para Guimarães e Caldas (2006), na velhice os sintomas depressivos podem estar associados a perdas físicas, psicológicas e sociais, à dificuldade da prática de atividades que promovem satisfação e bem-estar e ao aumento do risco para o aparecimento e o agravamento de doenças crônicas. Segundo os autores, o sedentarismo e hábitos de vida que prejudicam a saúde, contribuem para o surgimento de diversas doenças, que interagem com a depressão.

    Alguns fatores de risco para a depressão são conhecidos, dentre eles, o sexo e a idade. Lima (1999) afirma que a depressão é até duas vezes mais comuns em mulheres que homens, mas sugere que essa afirmativa possa ser explicada pelo ambiente e suporte social na maioria das culturas.

    Para a Organização Mundial de Saúde (OMS) a participação em atividades físicas leves e moderadas podem melhorar os declínios funcionais. Assim, uma vida ativa melhora a saúde mental e contribui no auxílio e recuperação de desordens como a depressão e a demência. Existe evidência de que idosos fisicamente ativos apresentam menor prevalência de doenças mentais do que os não praticam atividade física.

    De acordo com Borges (2005), a atividade física aeróbica proporciona os maiores benefícios no tratamento contra a depressão, mas também exercício anaeróbico vem demonstrado sua eficácia antidepressiva. A proposta é de que exercícios aeróbicos e anaeróbicos promovam efeitos psicológicos similares.

    Diante do exposto, o objetivo deste estudo foi avaliar o nível de depressão em mulheres idosas fisicamente ativas e sedentárias.

Metodologia

    Foi realizado um estudo de corte transversal que envolveu uma amostra de 60 mulheres idosas, com idade compreendida entre 60 a 90 anos, sendo 30 fisicamente ativas e 30 sedentárias, participantes do Centro de Convivência da Terceira Idade, localizado na cidade de Teresina – PI.

    Foram incluídas no grupo de mulheres fisicamente ativas, idosas consideradas aparentemente saudáveis, que estivessem freqüentando atividade física com presença de pelo menos 3 vezes por semana e por no mínimo 3 meses, período este compreendido como tempo necessário à ocorrência de adaptações orgânicas decorrentes da prática dos exercícios físicos. Determinou-se como critérios de exclusão, mulheres idosas que não estivessem realizando atividade física regular por no mínimo 3 meses, assim como aquelas que faziam uso de medicamentos antidepressivos.

    As mulheres elegíveis foram aleatoriamente e individualmente convidadas a participar do estudo. Em seguida, as voluntárias assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e responderam dois questionários, o primeiro a respeito das suas características sociodemográficas, clínicas e comportamentais, e o segundo sobre o seu nível de depressão (Inventário de depressão de Beck- BDI).

    Para avaliar e classificar os quadros de depressão foi utilizado o Inventário de depressão de Beck,que foi traduzido e validado para a língua portuguesa em uma população de estudantes universitários e vem sendo amplamente aplicado em muitas pesquisas, objetivando diagnosticar e classificar os níveis de depressão (Gorenstein e Andrade, 1996).

    O inventário de depressão de Beck é composto por 21 questões com diversos itens relacionados aos sintomas depressivos, como desesperança, irritabilidade e sentimento de culpa ou de estar sendo punido, assim como sintomas físicos, como fadiga, perda de peso e diminuição da libido. A soma da pontuação dos itens do inventário avalia o estado atual de depressão do indivíduo classificados em 4 níveis diferentes: depressão mínima (escores de 0 a 11); depressão leve (12 a 19), depressão moderada (20 a 35) e depressão grave (36 a 63) (Cunha, 2001).

    O processamento dos dados e a análise estatística foram realizados através do programa SPSS®, versão 18.0. As variáveis quantitativas foram apresentadas por meio de estatística descritiva: média e desvio padrão e as qualitativas por meio de proporção. Primeiramente, aplicou-se o teste de Shapiro-Wilk para avaliar a normalidade, como estes seguiram padrão de normalidade foi utilizado então, testes paramétricos.

    Para verificar diferença entre as médias dos grupos, utilizou-se o teste t de Student e para verificar a associação entre as variáveis qualitativas, aplicou teste de qui-quadrado de Pearson. Foi utilizada também uma análise de regressão linear múltipla ajustada para idade da escala de depressão, segundo o nível de atividade física. O teste do pressuposto de multicolinearidade foi realizado pelo FIV (Variance-Inflation Factor) e Tolerance, e não mostrou evidência de presença de multicolinearidade entre as variáveis estudadas pela regressão linear. Considerou-se significativo um valor de p<0,05.

Resultados

    A média de idade das mulheres avaliadas foi de 68,1anos, a maioria era casada (41,7%), com renda familiar entre 1 e 2 salários mínimos (51,7%). 73,3% das mulheres possuíam ensino fundamental. Os resultados mostram que apenas a variável idade apresentou diferenças significativas entre os grupos (p<0,05) (Tabela 1).

Tabela 1. Perfil sociodemográfico da amostra da pesquisa, segundo nível de atividade física (n=60)

    Na tabela 2 observa-se que a maioria (98,3%) das mulheres era não tabagista, 58,3% apresentavam algum tipo de doença crônica e 45% possuíam o peso classificado segundo o IMC como eutrófico (normal). Os resultados mostram que não houve diferenças significativas (p<0,05) entre os grupos das mulheres ativas e sedentárias.

Tabela 2. Dados relativos aos hábitos de vida e estado nutricional da amostra da pesquisa, segundo nível de atividade física (n=60)

    A tabela 3 mostra que a maior prevalência de sintomas de depressão ocorreu nas mulheres sedentárias. A maioria (86,7%) das mulheres ativas apresentava-se sem depressão, quando comparadas às sedentárias (p<0,001). Quando analisado a média dos escores, observa-se que as mulheres sedentárias obtiveram maior média, mostrando assim maior intensidade de sintomas de depressão, quando comparada às ativas (p<0,001).

Tabela 3. Classificação da Depressão segundo nível de atividade física (n=60)

    Através da análise de regressão linear (Tabela 4), observou-se que as mulheres que faziam atividades físicas (ativas) tinham uma tendência a ter 9,94 menos chances de ter depressão, quando comparadas às sedentárias (p<0,001).

Tabela 4. Regressão linear múltipla relativa da escala de Depressão na amostra, segundo nível de atividade física

Discussão

    A literatura mostra que os idosos que praticam atividade física possuem um índice menor de depressão e acredita-se, portanto, que a prática regular de atividade física pode ser uma forte aliada para amenizar essa patologia (Assumpção et al., 2002). Lima (1999) afirma que a depressão é até duas vezes mais comuns em mulheres que homens.

    No presente estudo, observaram-se diferenças significativas no nível de depressão,mostrando assim, que as ativas tinham menores níveis de depressão quando comparadas às sedentárias. Nossos dados corroboram com o estudo realizado por Fonseca e Rabelo (2006), que ao avaliar uma amostra de 40 mulheres idosas com idade média 65 anos, também observaram-se diferenças significativas entre os grupos das sedentárias e das ativas.

    Um estudo transversal realizado por Machado e Azevedo (2013), mostrou que dos 352 idosos avaliados, a maioria dos insuficientemente ativos mostravam uma tendência à depressão. Nesse estudo os homens percebem sua saúde de uma forma mais positiva que as mulheres e parece que essa percepção de saúde mais positiva tende a diminuir a tendência ao estado depressivo.

    O fato de a atividade física influenciar positivamente o estado de humor e diminuir os níveis de depressão pode ser explicado pelo aumento nas concentrações de monoaminas, como a serotonina, a dopamina e a noradrenalina, o que supostamente funciona do mesmo modo que as drogas antidepressivas, reduzindo a sensação de dor, causando uma euforia geral e melhorando o estado de humor (Miles, 2007).

    De acordo com Dinas et al. (2011), a liberação de beta-endorfina, induzida pela prática de atividades físicas, aumenta a secreção de peptídeos opióides endógenos, proporcionando um efeito antidepressivo e analgésico. Dessa forma, o exercício físico tende a interferir nos níveis depressão. Em nosso estudo verificou-se por meio da análise de regressão linear que as mulheres que faziam atividades físicas tinham uma tendência a ter menos chances de ter depressão, quando comparadas às sedentárias.

    Não há, até o momento, uma recomendação especifica em relação à prescrição de exercícios físicos para tratamento da depressão. Apesar disso, estudos tem sugerido que a freqüência de três a cinco sessões semanais parece ser mais efetiva no controle da doença (Mead & Morley, 2009). Segundo Benedetti et al. (2001) a atividade física regular tem influência no tratamento de doenças crônicas assim como na melhora do bem estar geral. Segundo os autores, os exercícios de intensidade moderada a intensa, com duração prolongada podem estar associados com a diminuição dos sintomas de depressão.

    Em relação ao tipo, uma combinação de exercícios aeróbicos e neuromusculares em comparação à combinação entre exercícios aeróbicos e alongamentos, parece resultar em melhores resultados. Uma das possíveis explicações para este achado reside no fato de que exercícios dinâmicos e com algum componente anaeróbico tem um efeito mais potente na liberação de endorfinas (Fleck et al., 2009).

    Um aspecto a ser considerado é que na velhice, o círculo de relações familiares e de amigos diminui, face ao processo natural de dispersão de óbitos, fazendo com que o idoso se sinta só, pois ao perder a base de sua razão de ser social, possibilita instalação da solidão e por conseqüência pode vir a ocorrer uma depressão (Borges e Rauchbach, 2004).

    Poucos idosos sabem de informações necessárias sobre a depressão e a maioria deles acredita que essa patologia possa ser curada naturalmente sem nenhuma intervenção especializada. Tal fato torna-se um problema uma vez que a depressão em idosos não é diagnosticada a tempo, em conseqüências de seus sintomas serem atribuídos e marcados por outras patologias (Oliveira, 2002).

    Estudos experimentais sugerem que a prática de atividades de intensidade moderada atua na redução de taxas de mortalidade e de risco de desenvolvimento de doenças degenerativas como as enfermidades cardiovasculares, hipertensão, osteoporose, diabetes, enfermidades respiratórias, dentre outras. São relatados, ainda, efeitos positivos da atividade física no processo de envelhecimento, no aumento da longevidade, no controle da obesidade e em alguns tipos de câncer (Benedetti et al., 2001).

    A atividade física aumenta significativamente a capacidade física e funcional, assim como a sensação de bem estar ao idoso, melhorando a sua qualidade de vida. Essa prática tem inúmeras respostas favoráveis que contribuem para o envelhecimento saudável e diminui os sintomas característicos desta fase, principalmente os aspectos de ordem psíquica, como a depressão (Rabelo, 2002).

Conclusão

    Conclui-se que as mulheres que praticavam exercícios físicos regulares mostraram menores níveis de depressão quando comparadas às mulheres sedentárias. Os exercícios físicos parecem contribuir positivamente para a redução dos níveis de depressão em mulheres idosas.

Bibliografia

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Lecturas: Educación Física y Deportes - ISSN 1514-3465 - © 1997-2015 Derechos reservados