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Funções psicomotoras de crianças que residem em 

lugares de vulnerabilidade social: um relato de experiência

Las funciones psicomotoras de niños que viven en lugares de vulnerabilidad social: relato de una experiencia

Children psychomotor functions residing in social vulnerability of places: an experience report

 

Educador Físico – UNIPLI RJ. Especialista em Psicomotricidade – IBMR RJ 

Coordenador do Ministério do Esporte – Governo Federal: Programa Segundo Tempo

(Brasil)

Marcelo Bittencourt Jardim

marcelobjardim@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          A finalidade deste estudo é mostrar as funções psicomotoras em crianças entre cinco e oito anos de idade de ambos os sexos, e que estão inscritos em Programas Sociais no Rio de Janeiro na cidade de Niterói - Brasil.

          Unitermos: Funções psicomotoras. Crianças. Programas sociais.

 

Abstract

          The purpose of this study is to show the psychomotor functions in children between five and eight years old of both sexes, and who are enrolled in social programs in Rio de Janeiro in the city of Niteroi - Brazil.

          Keywords: Psychomotor functions. Children. Social programs.

 

Recepção: 06/08/2015 - Aceitação: 04/09/2015

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 20, Nº 208, Septiembre de 2015. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Esse estudo foi estruturado e descritivo com atividades para avaliação das funções: motora fina e grossa (global), perceptual (esquema corporal, adaptação espacial, memórias visual e tátil, discriminação direita/esquerda, grafismo, ritmo e concentração), dominância lateral (Brêtas, 2005).

    O objetivo dessa avaliação foi enfatizar a intervenção precoce e reduzir os efeitos negativos de uma história de alto risco, que normalmente caracteriza a evolução de crianças deficientes ou de risco para o futuro desses discentes, pois muitas crianças sofreram a influência de vivências empobrecidas, no meio familiar e em ambientes como creches e escolas (Brêtas, 2005).

    A identificação precoce de desvios do desenvolvimento exige que se abordem simultaneamente as aquisições filogenéticas (espécie que se desenvolve) fundamentais da espécie humana e as aquisições ontogenéticas da criança (um ser se desenvolve) (Brêtas, 2005).

    A organização psicomotora humana engloba (Brêtas, 2005) em primeiro lugar, a organização motora de base (imagem corporal, conhecimento do corpo e esquema corporal), e posteriormente a organização proprioceptiva (é a consciência das partes do corpo em respectivos deslocamentos).

    A hierarquização da motricidade humana, expressa uma evolução filogenética e ontogenética. Representa algo de grande significado para a compreensão da evolução da espécie, e em certa medida, é a base do desenvolvimento biopsicossocial da criança (Brêtas, 2005).

    A organização e hierarquização psicomotora, a relação da praxia da criança com o meio ambiente proporciona a vivência de toda a gama de relações que resultam em explorações sensório-motoras, coordenação viso motora, espaço perceptivo motor, equilíbrio, tempo, ritmo, linguagem e esquema corporal, além da importância de um ambiente com oportunidades de experiências sociais, sensoriais e afetivas, que possibilitam a passagem da inteligência reflexiva, indispensável á alfabetização e adaptação escolar (Brêtas, 2005).

    Antes da alfabetização é necessário que a criança tenha em seu corpo a experiência da cor, da espessura, da longitude, da latitude, da trajetória, do ângulo, da forma, da orientação e da projeção espacial. A educação psicomotora deveria ser considerada como uma educação de base na escola fundamental (Brêtas, 2005).

    A partir da análise (Brêtas, 2005) concluiu-se que a população estudada apresentou um bom desenvolvimento da coordenação, porém com dificuldade na realização de uma atividade específica que testava tal função.

    Segundo Fonseca, é importante que tal função esteja desenvolvida, pois a criança precisa saber em qual direção deve ler e escrever, além de que, saber a direção é um dos pré-requisitos para encontrar o caminho na rua, assim como para aprender os pontos cardeais e aprender geografia.

    È importante que tal função esteja bem desenvolvida, pois a concentração é a base para o bom aproveitamento escolar e para aprendizagem de novas tarefas entre as coisas. O grafismo rítmico e perceptual revelou alterações como inconsistência de ritmo, alteração do modelo, tamanho irregular, fatores que podem dificultar a aprendizagem da escrita (Brêtas, 2005).

    Segundo Fonseca, refere que primeiro a criança deve ter desenvolvido a consciência corporal, para depois desenvolver a dominância manual e a lateralidade.

    Os dados mostram que a corporalidade sensória motora indica um ponto de encontro entre vivência e experiência. Ponto de encontro que serve de base á inscrição de um sujeito sensório motor que sente, age, aprende, conhece, e constitui, evolutivamente, um sujeito cognitivo na atividade sensório motora (Brêtas, 2005).

Relato de experiência profissional

    Vivencio pessoalmente e na prática laboral, essa inatividade motora fina e grossa, seja no grafismo ou corporal, devido ás péssimas condições de ensino que meus discentes de ambos os sexos se encontram. E gostaria de relatar algumas experiências minhas de trabalhos com os meus alunos, todos de escolas municipais e estaduais, com grande divergência e negligência em sua formação, na leitura, na escrita e até no seu desenvolvimento motor.

    Gostaria de exaltar um caso de meu aluno do sexo masculino, o nome dele é J. de oito anos de idade e que sofre muito com o grafismo, na parte da escrita, do espaço no papel, e dos tamanhos (garranchos) de sua letra, pois sei que seus pais impõem a ele um castigo, por que sua letra é ilegível e tem uma leitura muito ruim, ele tem aula com professor particular em casa depois de suas aulas, no período da tarde, apesar de usar óculos, e ser um bom aluno de matemática, essa criança sofre muito com isso, pois é penalizado várias vezes pelo seu erro ortográfico. Gerando traumas e baixa autoestima.

    Ministramos aulas de cultura no núcleo onde sou coordenador e no final desenvolvemos desenhos livres, e o J. desenhou, mas apresentou má aprendizagem na escrita, de escrever seu próprio nome e dos professores, e o número de sua idade, o desenho muito confuso, ele tentou expressar e desenhar, uma cachoeira com uma mata verde em volta, com árvores, foi o que ele me relatou.

    Sua preensão de pinça e palmar com os lápis de cor e lápis de cera, não foi correta, ficando com o corpo completamente torto, não tinha muita noção de espaço e nem dos objetos que estava desenhando.

    Conversamos com o tio do J, ele me relatou que ele tem estrabismo vertical – um olho fica mais alto ou mais baixo do que o outro, o tipo é intermitente – ora os olhos estão alinhados e ora há desvios. Mas, freqüentes nos tipos de estrabismo divergentes.

    Para Vygotski, o brincar e o desenhar deveriam ser estágios preparatórios ao desenvolvimento de linguagem escrita.

    Gostaríamos de relatar também outro caso, agora de uma aluna de 8 anos de idade, chamada P. E com muita dificuldade na escrita, na percepção espacial em relação no papel desenhando, no ritmo, no tamanho irregular das letras e números, não conseguindo uma continuidade (seguindo um padrão de tamanho nas letras e números), tendo muita dificuldade de saber as cores, que estão no seu próprio desenho, a qual ela mesma desenhou e me entregou.

    Segundo Piaget, a criança desenha menos o que vê e mais o que sabe. Ao desenhar ela elabora conceitualmente objetos e eventos. Daí a importância de se estudar o processo de construção do desenho junto ao enunciado verbal que nos é dado pelo indivíduo.

    Saindo do papel, do desenho e indo para a atividade recreativa de Educação Física. Onde pude observar melhor minha aluna, no jogo de boliche que ministro para as crianças. No jogo de boliche contém dez pinos: a primeira fileira que é a parte de trás (a última) tem quatro pinos: cujas cores são dois pinos verdes e dois pinos vermelhos; na segunda fileira tem três pinos: dois azuis e um amarelo, na terceira fileira tem dois pinos: um vermelho e um amarelo e na quarta fileira que é na frente (a primeira) tem um pino que é verde.

    Nessa atividade pude observar essa dificuldade em minha aluna, quando ela pegou a bola e fez o primeiro arremesso, observei que ela não conseguia colocar os dedos nos buracos da bola que são três, o polegar fica no buraco de baixo e nos dois de cima o indicador e o médio.

    Quando ela jogava a bola e acertava os pinos eu a chamava, e pedia para contar quantos pinos ela derrubou, logo de primeira ela errava falando qualquer número, ai depois eu falava para ela se concentrar e contar de novo, e ela tinha êxito na contagem.

    Depois reparei que ela tinha dificuldade em localizar as cores e quantos da mesma cor ela derrubou. Depois observei que ela tinha dificuldade de colocar a fileira de pinos como descrevi no parágrafo a cima como um triângulo.

    E por último, tenho uma forma de plástico com algumas formas geométricas, o triângulo, o quadrado, o retângulo, o círculo. E sempre no final dessa atividade mostro para as crianças figuras geométricas.

    E observei que ela tinha uma dificuldade de associar as formas geométricas, ela até sabia o nome mais não conseguia identificá-las em qual lugar era a forma geométrica, ex: o quadrado ela confundia muito com o triângulo.

    Pude reparar que minha aluna tem uma dificuldade muito grande na parte da experiência da cor (em observar qual cor ela derrubou no chão e quantos pinos ela derrubou), da longitude (tem dificuldade de se localizar, na posição indicada pelo professor para jogar a bola nos pinos), e do seu equilíbrio durante o arremesso, da latitude (ela tem dificuldade de permanecer no local indicado pelo professor, e as vezes joga a bola de lugares inapropriados, ex: diagonais ou de lugares muito pertos), da trajetória (tem dificuldade na trajetória, de jogar a bola nos pinos e também de seguir determinadas indicações do professor, ex: de ir ao banheiro, tem medo de se perder, sendo que o banheiro fica ao lado da quadra, da forma (as vezes não consegue identificar a forma do pino, ex: se é cilindro ou oval, se é comprido ou pequeno), da orientação (tem um pouco de dificuldade na distância entre os pinos e o lugar do arremesso, para a finalização), e da projeção espacial do seu corpo.

    Relatamos o exemplo da minha aluna, pois atendemos crianças no mesmo horário e da mesma faixa etária que ela nas atividades. Que conseguem desenvolver essa atividade com um pouco de dificuldade, mas consegue um resultado melhor do que a P.

Considerações finais

    A finalidade deste estudo foi de grande valia para minha prática profissional. Pois onde sou Coordenador e Professor de Educação Física em locais de vulnerabilidade social atendendo crianças com idades entre cinco á dezoito anos. Observei uma gama de funções psicomotoras entre meus alunos e alunas. E pude através de minha atuação contribuir para a melhora da qualidade de vida e promoção da saúde e bem estar dessas crianças e de suas famílias. Relatei duas experiências práticas de minha atuação e intervenção como Educador. E que temos que estar atento aos nossos discentes para auxiliá-lós e intervir como profissionais humanizados para evolução de seu aprendizado.

Realização do trabalho

    O trabalho foi realizado em seis comunidades carentes de Niterói, Rio de Janeiro, Brasil. Trabalho realizado no Programa Segundo Tempo como Coordenador do Ministério do Esporte – Governo Federal. Atividades ministradas: coletivas, individuais, educacionais e culturais a crianças e adolescentes com idades entre cinco e dezoito anos. Responsável pelo núcleo Coordenador e Educador Físico: Marcelo Bittencourt Jardim. Responsável pelo treinamento prático e teórico da Professora Thaís Philomena.

Bibliografia

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