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Concepção crítica das mulheres na terceira

idade: uma reflexão sobre a autoimagem

Concepción crítica de mujeres en la tercera edad: una reflexión sobre la autoimagen
Critical conception of women in old age: a reflection on the self-image

 

*Bacharel em Educação Física

Universidade Luterana do Brasil – ULBRA/RS

**Mestre em Ciências do Movimento Humano

Professor do curso de Educação Física da ULBRA/LAFIMED, RS

***Mestre em Ciências do Movimento Humano

Professor dos cursos de Educação Física e Medicina da ULBRA/LAFIMED, RS

****Doutor em Ciências do Movimento Humano

Professor dos cursos de Educação Física e Medicina da ULBRA/LAFIMED, RS

Sandriani Alves Brandão*

Osvaldo Donizete Siqueira**

Luiz Antonio Barcellos Crescente***

Daniel Carlos Garlipp****

dcgarlipp@gmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O estudo sobre a concepção crítica das mulheres, na terceira idade, teve como objetivo verificar a autoimagem e autoestima das idosas participantes desta pesquisa. A população foi constituída por idosas do grupo de terceira idade “Idosos em Ação”, na cidade de Triunfo, RS. A autoimagem e autoestima foram determinadas por meio da aplicação do questionário proposto por Steglich. A amostra contou com 12 mulheres idosas que fazem parte de um programa de atividade física existente há mais de 18 anos. Este grupo realiza atividades físicas, de duas a três vezes por semana, com duração de uma hora, cada aula. Das 12 idosas investigadas, 7 (58,33%) apresentam tanto baixa autoestima como baixa autoimagem. Como forma de conclusão identifica-se que a atividade física tem papel importante na melhoria da qualidade de vida das idosas, mas não é fator determinante de mudanças quando as questões abordadas são sobre autoimagem e autoestima.

          Unitermos: Terceira idade. Atividade física. Autoimagem. Autoestima.

 

Abstract

          The study on the critical conception of women, the elderly, aimed to verify the self-image and self-esteem of older participants in this study. The population consisted of elderly of the third age group "Seniors in Action" in the city of Triunfo, Brazil. The self-image and self-esteem were determined by applying the questionnaire proposed by Steglich. The sample consisted of 12 elderly women who are part of an existing program of physical activity for more than 18 years. This group performs physical activities, two to three times a week, lasting one hour each class. Of the 12 investigated older, 7 (58.33%) exhibit low self-esteem and low self-image. As a way of conclusion identifies that physical activity plays an important role in improving the quality of life of older but not determining factor changes when the issues raised are about self-image and self-esteem.

          Keywords: Senior adult. Physical activity. Self image. Self esteem.

 

Recepção: 21/07/2015 - Aceitação: 10/09/2015

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 20, Nº 208, Septiembre de 2015. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O envelhecimento é um processo cadenciado que esta inerente ao ser humano, desde seus primeiros anos de vida. O crescimento da população idosa é um processo que ocorre em diversos países, incluso o Brasil, no qual o último censo registra um percentual de 8,6% da população total. Tem-se ainda uma projeção de cerca de 30,9 milhões de indivíduos que terão mais de 60 anos de idade para o ano de 2020 (Beltrão et al. apud Corbucci, 2007).

    A cada dia que passa nos tornamos um pouco mais experientes, mais precisos das circunstâncias, e consequentemente, mais velhos. Na atualidade, analisar a concepção crítica das mulheres, na terceira idade, torna-se um fato curioso, o porquê de tantos deméritos em um grupo que embasa tantas experiências, e a consequência disto, no seu reflexo, sobre a sua própria imagem.

    O termo autoimagem corporal, que é amplamente usado, não é bem esclarecido porque existem muitas variantes e concepções a respeito deste termo. A autoimagem seria como uma foto que te reporta a uma forma ou um tamanho, mas ao mesmo tempo, não define com exatidão um sentimento ou uma característica e, com isso, podendo causar certo desconforto de quem realmente somos.

    A insatisfação corporal e a preocupação com a imagem corporal estão amplamente difundidas entre as mulheres, independentemente da idade. Cada etapa é um ponto determinante que enfatiza uma crítica ou uma insatisfação consigo mesma. Schilder (1981), afirma que a imagem corporal é tanto imagem mental quanto percepção. Se a percepção do corpo é positiva a autoimagem será positiva, e se há satisfação com a imagem do seu corpo, a autoestima será melhor.

    A imagem do corpo pode ser modificada pela prática de atividades físicas como a ginástica, dança entre outras que modificam a postura corporal. Esta mudança na postura é modificada a cada momento que é realizado um novo movimento, por isto os movimentos físicos agem de forma positiva, pois utilizam reflexos posturais que não estão intrínsecos em nossa consciência.

    A dança e a ginástica se constituem como atividades físicas eficientes para modificar a imagem corporal e diminuir a rigidez da forma física. Os autores Davis (1997), Fox (1997) e Hasse (2000) afirmam que com o processo de envelhecimento há uma diminuição da autoimagem e da autoestima.

    O presente estudo vai ao encontro desta necessidade de se afirmar a autoimagem corporal e a percepção da autoestima, estabelecendo relações de cunho prático, para se chegar à verdadeira avaliação que as mulheres, nesta idade, enfatizam sobre seu corpo. Uma aliada a isto é a atividade física, pois ela vem ao encontro disto, auxiliando numa relevante melhora nas atividades da vida diária, tornando-se um exercício associado a uma melhor percepção do próprio corpo, e uma melhor aceitação da sua imagem corporal.

    Desta forma, evoca-se a necessidade do rompimento de estereótipos e de preconceitos em relação à velhice, para que se possa encontrar formas mais saudáveis de a mulher idosa vivenciar esta etapa da vida como um sujeito ativo e livre de questionamentos errôneos sobre si próprias.

    A importância desse estudo está, exclusivamente, ligada a crescente expansão de idosos na sociedade. Por esta razão analisar a autoimagem de idosas e a influência que a atividade física implica neste contexto é de grande relevância, pois cada vez mais, a população torna-se mais velha e necessitamos de recursos e motivações que levem estas pessoas a se valorizarem e visualizar seu próprio valor.

    Muitas perdas físicas, associadas ao envelhecimento, podem ser prevenidas e mesmo reversíveis, caso haja uma intervenção adequada por meio do exercício físico. Os objetivos a serem alcançados através da prática regular do exercício físico, são: boa saúde e capacidade funcional, autoconfiança, sensação de autocontrole, segurança no dia a dia através do domínio do corpo e bem-estar físico e mental (Mazo, Lopes & Benedetti 2001).

    A preocupação com o corpo é constante e existe sempre alguma coisa que as mulheres gostariam de melhorar na sua autoimagem. Para isso, a atividade física se insere como uma aliada para melhorar essa percepção, e assim, o exercício físico, realizado no dia-a-dia, pode aumentar sua longevidade, bem como, aumentar e/ou melhorar sua autoestima permitindo valorizar-se e reconhecer-se como um sujeito de valor pleno e não apenas, como uma idosa comum com hábitos relativos à idade que lhe afirma.

    Vários fatores podem influenciar o processo de formação da imagem corporal, dentre eles o sexo, a idade, os meios de comunicação, além da relação do corpo com os processos cognitivos como crenças, valores e atitudes inseridos em uma cultura. As normas socioculturais têm perpetuado o estereótipo da associação entre magreza e atributos positivos, principalmente entre as mulheres (Almeida et al., 2005; Damasceno et al., 2005).

    Por estes questionamentos e imprecisões, analisar a concepção crítica das mulheres na terceira idade, sobre sua autoimagem será de extrema importância para que estes paradigmas contrários sejam sanados e idosas possam se inteirar mais consigo mesmas, sem tantos estereótipos comparados, sem tantas abreviações de momentos, por causa, de restrições impostas por si mesmas a respeito da sua autoimagem sombreada.

    É amplamente reconhecido que o exercício físico, quando praticado com moderação, regularidade e vigilância produzem efeitos benéficos para a saúde do indivíduo. Um programa de exercícios físicos é uma boa alternativa para idosos, já que lhes oferece a possibilidade de ocupar o tempo de forma regular, contribuindo para a melhoria da saúde e da condição física geral, em um ambiente lúdico e descontraído, em contato com outros idosos, estimulando inclusive, laços de amizade, o que favorece a vida social (Spirduso, Francis & Macrae, 2005; Carvalho & Mota, 2006).

    Neste sentindo o objetivo do presente estudo é verificar a concepção crítica das mulheres, na terceira idade, uma reflexão sobre a autoimagem e a autoestima.

Procedimentos metodológicos

    O presente estudo trata-se de uma pesquisa utilizando o questionário de Steglich (1978). O instrumento é composto por 78 perguntas, e o “aspecto emocional” apresentava os seguintes subitens: felicidade pessoal, bem-estar social e integridade moral. As respostas de cada questão apresentam escores de 1 a 4. Para a avaliação foi utilizada a escala somatória do total de pontos proposta. Quanto mais alta a pontuação, melhor é a autoimagem e a autoestima.

    A amostra contou com 12 idosos, do sexo feminino, na cidade de Triunfo, participantes do grupo de Ginástica e recreação na terceira idade. O projeto coordenado pela professora Miriam Rosa de Souza, é chamado de “Envelhecer com saúde”, e possui o lema: “Idosos em Ação”, foi implantado no município em 25/10/1997, e conta atualmente com cerca de 640 idosos entre homens e mulheres moradores de diversas localidades. Como critério de inclusão foi determinado o limite mínimo de idade de 55 anos e estar participando do grupo a no mínimo há 90 dias.

    O programa de exercício físico aplicado no Grupo de terceira Idade, “Idosos em Ação” é realizado de duas a três vezes por semana, com um total de 08 sessões por mês. A aula tem a duração de 60 minutos, iniciando com um pré-aquecimento de aproximadamente 05 minutos, seguidos por 10 minutos de alongamento. A parte principal tem a duração de 20 a 25 minutos, finalizando com exercícios mais leves e novamente alongamentos com duração de 07 a 10 minutos. São observados exercícios que visem equilíbrio, coordenação, força e flexibilidade, agilidade.

    Os dados serão apresentados em percentual, sendo que a autoimagem e a autoestima serão determinadas a partir do somatório dos pontos.

Resultado e discussão

    Esta diretriz equânime nos envolve para que o desenrolar de questionamentos da realidade destas idosas sejam plenamente analisados e sustentados de forma a entender a suas percepções e paradigmas. Neste percorrer, torna-se justificável a análise da autoimagem e autoestima destas mulheres na terceira idade. Os dados coletados foram analisados de forma descritiva, por meio da técnica de análise do conteúdo que os próprios envolvidos, nas questões, responderam.

    Complementando esta análise descritiva, as informações e dados coletados foram apresentados por gráficos, no sentido de simplificar a interpretação e o entendimento dos mesmos. Assim sendo, os percentuais foram baseados considerando-se o número total de doze respostas referentes a questionamentos da autoimagem e da autoestima.

    Ao analisarmos os gráficos verificou-se que 41,67% das mulheres tem autoestima alta e 58,33% tem autoestima baixa que se referem à boa aparência, sua percepção da velhice e os possíveis problemas de saúde, metade das mulheres responderam ter uma boa aparência. Apesar das rugas e a expressão não ser mais de uma jovem, elas se mostraram satisfeitas com o resultado que os anos trouxeram a elas. Já pela percepção da velhice, mais da metade admitiu notarem a idade. Muitas relataram, durante as respostas do questionário, que, ao ingressarem na terceira idade era estranho se olhar no espelho, mas depois se acostumaram e começaram a se entender e aceitar a etapa que estavam vivendo.

    A terceira idade é uma fase onde toda a vaidade e mocidade é posta de lado, a aparência que se tinha é trocada por outra mais madura, mais marcada, que conta uma história. Por esta razão, no questionário realizado com estas mulheres foi perguntado se gostariam de ter outra aparência e, para grande surpresa, teve-se uma divisória equânime, onde metade se aceitava e a outra metade gostaria de ter a aparência da mocidade.

    Esta resposta ficou atrelada a pergunta sobre a disposição. A maioria delas respondeu querer ter outra aparência, porque quando eram mais jovens tinham mais disposição, conseguiam fazer muitas coisas e até mesmo, ao mesmo tempo. E por conta da velhice, da aparência isso já não era mais possível.

    Apesar disto, existiram respostas de algumas mulheres que responderam serem realizadas, ou seja, conseguiram chegar à terceira idade e verem que a vida não tinha passado em branco, que algo de benéfico tinha sido feito, algo que lhes dava orgulho tinha sido conquistado.

    A partir da metodologia do questionário aplicado os resultados foram-se somados implicando no gráfico abaixo. Este gráfico demonstra estatisticamente os resultados apresentados nesta pesquisa, onde qualifica a percepção destas mulheres avaliadas.

Gráfico 1. Percentual de idosas categorizadas como tendo alta ou baixa autoestima

    Apesar dos relatos positivos de algumas senhoras, os números somados mostram que 41,67% destas mulheres têm autoestima alta e 58,33% tem-se baixa. Esta proporção implica que, mesmo com a atividade física a concepção delas sobre as perguntas feitas prevalece. Por ser um período muito curto de atendimento a estas, os resultados não obtiveram uma variável considerável, mantendo-se praticamente o mesmo padrão do início das atividades até o seu término.

Gráfico 2. Percentual de idosas categorizadas como tendo alta ou baixa autoimagem

    Esta estatística também prevaleceu quanto à autoimagem. As senhoras analisadas não se mostraram plenamente satisfeitas com sua autoimagem, isto devido, a diversas concepções, como traumas, ressentimentos, autocrítica, entre outras. Estas demandas foram-se presentes durante o trabalho de atividade física. A cada erro ou acerto eram evidentes as atitudes e trejeitos destas características referentes ao auto afirmamento e também, aceitação dos outros. De acordo com Davis e Fox (1997), o processo de envelhecimento implica numa diminuição da autoimagem.

    Por esta implicância, muitas senhoras se mostravam inseguras ou com medo de errar. Tinham receio do revés, e suas possíveis consequências. Devido a isto, pode-se entender o porquê de uma autoimagem com índices tão baixos ou, praticamente equânimes. Estes resultados demonstram toda uma concepção cronológica evidenciando que, o passado e a construção de uma concepção não se mudam tão facilmente com a atividade física. Parece-nos necessário ter-se outros tipos de atividades e com períodos maiores para se chegar a uma possível mudança de paradigma.

Conclusão

    No presente estudo observou-se que, as senhoras analisadas apresentavam um perfil muito acentuado de autocrítica. Suas concepções de autoestima e autoimagem estavam intimamente ligadas as suas vidas e não, necessariamente vinculadas à prática ou não de atividades físicas.

    Diante desta percepção notou-se também, que ao passo que as atividades físicas eram introduzidas a estas senhoras, o ambiente se tornava mais favorável, e as repostas às demandas estipuladas ficavam mais prevalentes.

    O proporcionamento destas atividades físicas mostrou-se intensificar e resguardar a interação destas mulheres, aumentando assim, a capacidade funcional e a capacidade emocional destas. Com relação à autoimagem e a autoestima, pode-se afirmar que a proposta de atividades físicas aplicada ao grupo de terceira idade: Idosos em ação, de Triunfo/RS não foi satisfatória.

    Embora a atividade física influenciar o grupo positivamente, ela não foi suficiente para implicar em mudanças plausíveis de resultados. Estas atividades modificaram a estrutura e o ambiente em que estas idosas estavam acostumadas, mas não relevante para que estas levassem estas mudanças para suas vidas pós-atividades físicas. Diante de tais considerações, constata-se que a atividade física tem papel importante na melhoria da qualidade de vida das idosas, mas não é fator determinante de mudanças.

    Esta implicância requer a utilização de mais recursos e tempo de atividades. Portanto, a participação de idosas em programas de atividades físicas é um fator que pode contribuir para a melhoria da autoestima e autoimagem, mas não é suficiente, porque para se chegar neste denominador comum. Para isso, é necessário o envolvimento e dedicações plenas destas idosas, no querer participarem e principalmente, no querer mudar.

Bibliografia

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