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Nível de aptidão funcional entre mulheres participantes 

em um programa de atividades físicas: fatores de influência

Nivel de aptitud funcional en mujeres que participan en un programa de actividades físicas: factores de influencia

Functional aptitude level among women participating in a physical activity program: influence factors

 

Departamento de Educação Física DEDUF/G

Universidade Estadual do Centro-Oeste/Guarapuava-PR

Laboratório de Fisiologia Experimental e Aplicada a Atividade – LAFEAF

(Brasil)

Vinicius Machado de Oliveira

oliveira_vm@hotmail.com

Anselmo Martinhuk

Marcos Roberto Brasil

Leandro Coelho Lemos

Timothy Gustavo Cavazzotto

Sandra Aires Ferreira

Marcos Roberto Queiroga

viniciusmachadooliveira@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          Com a chegada do envelhecimento as capacidades físicas começam a diminuir gradativamente, porém, a atividade física pode se configurar como um excelente recurso para amenização deste declínio. Todavia, para se ter resultados eficientes é apropriado traçar métodos de intervenção coerentes, para tanto, é necessário mapear o indivíduo para obter informações relevantes ao seu estado físico e posteriormente prescrever de forma mais pertinente. Dentro deste contexto, 112 mulheres participantes de um programa de atividades físicas foram submetidas há uma bateria de testes para a verificação das capacidades físicas. As participantes foram divididas em três grupos, correspondentes a cada local de prática. Os resultados revelaram classificações diferentes entre os grupos, inclusive desempenhos considerados baixos e regulares, o que trazem preocupações quanto à aptidão funcional das participantes. Tais diferenças podem ter sido apresentadas devido à heterogeneidade de idade, método de intervenção e tempo de prática. Conclui-se que para uma maior efetividade do programa é necessário padronizar as atividades de forma sistemática e reduzir os fatores de interveniência associadas ao baixo desempenho das participantes.

          Unitermos: Capacidades físicas. Envelhecimento. Exercício físico.

 

Abstract

          With the arrival of aging, the physical capabilities begin to gradually decrease, however, the physical activity can be configured as an excellent resource for alleviation of this decline. However, to be successful, it is appropriate to trace methods of consistent intervention. To this end, it is necessary to map the individual to get relevant information to its physical condition and then prescribe the most appropriate form. In this context 112 female participants of a physical activity program were submitted to a battery of tests to verify the physical capabilities. The participants were divided in three groups, corresponding to each practice area. The results revealed different classifications between the groups, including performances considered low and regular, which brings worries as the functional aptitude of the participants. Such differences may be due to heterogeneity of age, intervention of method and time of practice. It is concluded that for better effectiveness of the program it is necessary to standardize the activities in a systematic way and reduce intervention factors associated with low performance of the participant.

          Keywords: Physical capabilities. Aging. Physical exercises.

 

Recepção: 01/02/2015 - Aceitação: 10/03/2015

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 20, Nº 207, Agosto de 2015. http://www.efdeportes.com

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Introdução

    Está claro na literatura que com a aproximação do envelhecimento o ser humano tende a passar por uma série de alterações, sejam elas biológicas, psicológicas ou sociais (Rusting, 1992; Zago & Gobbi, 2003; Mazo et al., 2011; Nascimento et al., 2013). A soma dessas alterações providas pelo envelhecimento em concordância com os efeitos deletérios deste advento, podem comprometer efetivamente a qualidade de vida, impactando diretamente o dia a dia do idoso (Shephard, 2003; Correa et al., 2013).

    Dessa forma, são vários os efeitos específicos observados durante o envelhecimento, tais, como a redução da capacidade auditiva e ocular, sarcopenia (redução da massa muscular) osteopenia (redução da massa óssea), e principalmente uma maior susceptibilidade para a instalação de doenças crônicas (Spirduso, 2005; Alves et al., 2007). E todos esses aspectos negativos do envelhecimento podem ser potencializados, quando atrelado à inatividade física (Christensen et al., 2006; Ferreira et al., 2008).

    A conseqüência maior da insuficiência de atividade física quando associada ao desprendimento das idades avançadas, sem dúvida nenhuma é a redução das valências físicas, comumente conhecida como capacidade funcional. Esta por sua vez é definida como a capacidade em que o ser humano tem em desempenhar as suas atividades do dia a dia de forma autônoma e segura (Okuma, 1997; Shumbert et al., 2006).

    Segundo Benedetti et al. (2007), essas capacidades se desenvolvem até a terceira década de vida, e após disso passam a se estabilizar e cair gradativamente se não estimulada pela atividade física. A limitação da capacidade funcional é caracterizada pela decadência dos parâmetros físicos (força muscular, capacidade aeróbia, flexibilidade, agilidade, equilíbrio e coordenação) que ocorre no envelhecimento.

    Desta forma o exercício físico se apresenta como um forte aliado ao controle dessas capacidades físicas, pois pode reduzir os efeitos reversos do envelhecimento e otimizar a qualidade de vida do idoso (Zago & Gobbi, 2003; Ferreira et al., 2008; Chodzko-Zajko et al., 2009). A partir desse contexto um programa de atividade física pode se configurar como uma excelente alternativa de intervenção. Entretanto, é necessário que durante a realização do programa sejam realizadas inúmeras avaliações, a fim de levantar informações circunstanciais que são indispensáveis para a efetividade da intervenção.

    Dentro deste contexto, o mapeamento da capacidade funcional, pode balizar as intervenções pertinentes ao grupo beneficiado pelo programa. Deste modo, o objetivo do presente estudo foi avaliar as capacidades funcionais de mulheres participantes de um programa de atividade física. Além deste, verificar se existem diferenças entre pólos de prática distintos e os possíveis fatores de interveniência associados ao desempenho.

Metodologia

Tipo de pesquisa

    A pesquisa se caracteriza como um estudo de campo descritivo, do tipo transversal (Thomas et al., 2007), haja vista, que as variáveis investigadas foram analisadas uma única vez. Além disto, o presente trabalho se evidencia por uma abordagem quantitativa, uma vez que trabalha com valores e intensidades. De acordo com Barros & Lehfeld (2000), a pesquisa de campo busca motivação no sentido de inquirir conhecimentos necessários para uma possível aplicação de seus achados, conseqüentemente, contribuindo para a disseminação de informações.

Amostra

    A amostra, constituída por voluntariedade, foi composta por 112 mulheres, participantes de um projeto intitulado “Programa de Atividades Físicas em Unidades Básicas de Saúde. A amostra total é correspondente a três pólos de prática, ou seja, três unidades de saúde onde o programa é executado. Desta forma, a estratificação da amostra se deu por unidades, possibilitando a análise e a comparação de três grupos (Grupo 1: 62,6 ± 11,2 anos; Grupo 2: 53,1 ± 11,1 anos; Grupo 3: 52,9 ± 11,6 anos).

Procedimentos e instrumentos de coleta

    Inicialmente, antes do período de coleta de dados, o projeto de pesquisa foi encaminhado ao Comitê de Ética em Pesquisa (COMEP) da Universidade Estadual do Centro-Oeste/UNICENTRO, e foi aprovado conforme parecer 292.975/2013. Após a deliberação do mesmo, professores e pesquisadores foram orientados através de uma coleta piloto, a fim de minimizar possíveis erros de avaliação.

    Após o período de organização, os profissionais se dirigiram as unidades de saúde e explicaram os procedimentos aos participantes. Estando cientes e de acordo com o processo, os mesmos assinaram Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Após as orientações os indivíduos foram submetidos a uma anamnese, a uma avaliação antropométrica e uma bateria de testes para a verificação da aptidão funcional.

    O processo de anamnese foi realizado através de questionário com o intuito de mapear possíveis limitações que comprometessem a realização dos testes. Caso o indivíduo apresentasse algum indicativo de limitação o mesmo era cortado do estudo.

    Posteriormente a anamnese os indivíduos foram submetidos a avaliações antropométricas de peso e estatura, com vista à obtenção do Índice de Massa Corporal (IMC). Na seqüência para obtenção do nível de aptidão física das participantes, foi utilizado à bateria de testes propostas pela American Alliance for Health, Physical Education, Recreation and Dance (AAHPERD) de acordo com metodologia recomendada por Osness (1990). O motivo pela escolha de tal bateria se deve ao fato de que os testes que a compõem, são muito similares às atividades da vida cotidiana.

    Tal bateria é composta por cinco testes motores, que avaliam a agilidade e o equilíbrio dinâmico, a coordenação, a flexibilidade, a força de membros superiores e a capacidade aeróbia e está minuciosamente descrita nos estudos de Zago & Gobbi (2003) e Benedetti et al (2007). Através do resultado de cada teste é possível converte-lo em valor normativo, cujo, é classificado em percentis de 0 a 100. Através desses valores já classificados em percentis é possível chegar ao índice de aptidão funciona geral. Este Índice obtém-se a partir da soma dos escores-percentis dos cinco testes, no qual, nos permite chegar a uma classificação qualitativa que varia de muito “Fraco” a “Muito Bom” (Tabela 1).

    Tal classificação pode rotular ou definir como se encontra a aptidão das capacidades físicas dos avaliados.

Tabela 1. Classificação dos testes motores e do Índice de Aptidão

Funcional Geral referente aos pontos obtidos em cada bateria da AAHPERD

Análise de dados

    Após os dados serem devidamente organizados foram realizados a estatística descritiva composta por média, desvio padrão, mínimo e máximo. A análise referente aos resultados da bateria de testes levou em consideração o protocolo de valores normativos sugeridos por Zago e Gobbi (2003), cujo é possível obter uma classificação através de valores percentuais.

Resultados

    Logo abaixo são apresentados os dados referentes à caracterização da amostra, levando em consideração cada grupo avaliado (Tabela 2).

Tabela 2. Valores médios, desvio padrão (DP), mínimos e máximos para idade, massa

corporal, estatura e índice de massa corporal correspondente a cada grupo avaliado

    Analisando os resultados de caracterização da amostra, observa-se que o grupo 2 e o grupo 3 é mais jovem em relação ao primeiro, estando este com uma média de idade superior a 60 anos. Em relação ao IMC, todos os grupos apresentaram índices de massa corporal acima do ponto de corte considerado ideal, portanto, as participantes ficaram classificadas na faixa de sobrepeso segundo a classificação da Organização Mundial de Saúde.

    Na seqüência são apresentados os valores percentis referentes a cada teste motor para a obtenção do Índice de Aptidão Funcional Geral (Tabela 3).

Tabela 3. Cálculo do IAFG, baseado na somatória dos escores-percentis

dos testes da AAHPERD para os 3 grupos avaliados

    Analisando os resultados obtidos da aptidão funcional, podemos observar valores distintos de IAFG de um grupo para o outro, como conseqüência cada grupo apresentou classificações diferentes. O grupo 1 foi classificado com um IAFG fraco, seguido pelo grupo 2 que apresentou uma classificação regular e com melhor desempenho o grupo 3 com um IAFG considerado bom.

    Para todos os grupos a resistência aeróbia se evidenciou aquém do esperado. Entretanto, este componente se mostrou ainda mais limitado no grupo 1. No grupo 2, além da resistência aeróbia baixa, a agilidade foi a capacidade de menor êxito entre as participantes. Para o grupo 2 e 3 a coordenação foi a capacidade de melhor desempenho entre as participantes, já entre o grupo 1 a flexibilidade foi o componente de melhor resultado.

    Abaixo é apresentado o gráfico com os percentuais de cada unidade básica de saúde referente ao desempenho em cada teste (Figura 1).

Figura 1. Valores médios dos percentis para cada capacidade física referente

às três unidades de saúde avaliadas. Nota: UBS – Unidade Básica de Saúde

    Através da figura 1 pode-se observar com clareza que o grupo 3 apresenta percentuais mais elevados para quase todos os componentes investigados. Em contra partida, a unidade de saúde 1 apresenta índices reduzidos de desempenho em relação as outras unidades avaliadas.

Discussão

    Com base no acervo teórico produzido ao longo dos últimos anos é sabido na literatura que com a chegada do envelhecimento a aptidão funcional pode ser reduzida, entretanto, esta redução não está somente associada aos mecanismos naturais deste advento, mas também intimamente ligada ao nível de atividade física do indivíduo, cujo se insuficiente, tende antecipar ou agravar as inúmeras alterações indesejáveis providas por esse processo (Dipietro, 1996; Hillsdon, 2005; Ferreira et al., 2008; Lamboglia et al., 2014).

    Todavia, com a prática regular e sistematizada de atividade física os efeitos atrelados ao envelhecimento podem ser amenizados, contribuindo para a otimização dos componentes associados a aptidão física, e restaurando a autonomia do idoso para com as atividades diárias (Mcauley et al., 2006 Benedetti et al., 2007; Silva et al., 2010; Mazo et al., 2012).

    No entanto, para que os resultados da prática de exercício físico sejam satisfatórios para a saúde, é necessário que os exercícios sejam sistematizados, a fim de influir positivamente na otimização dos componentes prejudicados pelo envelhecimento (Cipriani et al., 2010; Lamboglia et al., 2014). Desta forma, faz se necessário o mapeamento continuo através de avaliações, para prescrições adequadas e que atendam realmente as necessidades dos intervindos (ACMS, 2006). Além disto, a redução e adequação de fatores intervenientes ou barreiras a prática, também contribuem para melhores resultados (Nascimento et al., 2008; Santos 2012).

    Dentro deste contexto e com base nas informações presentes na literatura, este estudo teve como objetivo verificar a aptidão funcional de mulheres participantes de um projeto de atividade física em diferentes unidades básicas de saúde. Além disto, verificar se existem diferenças entre um local e outro de prática e entender os possíveis fatores intervenientes que influem no desempenho.

    Ao analisar os resultados encontrados no presente estudo, verificou-se diferenças na classificação do IAFG entre as unidades investigadas (Tabela 3), onde em cada unidade ficou rotulada de acordo com o seu desempenho. Tais diferenças podem ter ocorrido devido a diversos fatores, como à heterogeneidade de idade dos grupos, o método de intervenção utilizado para cada unidade, o tempo de prática e entre outros aspectos.

    Com relação ao fator idade, verificamos que os grupos que foram caracterizados com uma menor média de idade apresentaram uma melhor capacidade física, o que corrobora com os achados de Ferreira et al., (2008), que constatou em seu estudo que mulheres jovens apresentam uma maior aptidão funcional quando comparadas com mulheres idosas. De acordo com o mesmo autor à medida que a idade avança os componentes da aptidão são reduzidos, especialmente as funções fisiológicas a partir dos 30 anos de idade, o que possivelmente explicaria o desempenho mais limitado das participantes mais velhas.

    Outro aspecto relevante que deve ser elencado é o método de intervenção, cujo se conduzido de forma inadequada pode comprometer ou retardar a progressão do desempenho dos participantes (ACMS, 2006; Zago & Gobbi, 2003; Lamboglia et al., 2014). Isso pode ter acontecido, já que as atividades não foram padronizadas de forma sistemática de uma unidade para a outra. Isso demonstra que o método de intervenção é um fator de interveniência direta, tendo em vista que conforme as atividades preconizadas, estas podem inferir de diversas formas nas capacidades físicas.

    Esta condição fica clara ao analisar as capacidades de forma individualizada, onde percebe-se diferenças nos componentes avaliados entre os grupos (Tabela 3, Figura 1). Teoricamente, quanto melhor o resultado em uma determinada capacidade, maior o estimulo e a exercitação dessa capacidade. Por isso, o método de intervenção pode ter sido um fator de interveniência para as diferenças encontradas.

    O tempo de prática também pode ter afetado o desempenho dos grupos, tendo em vista que nem todas as participantes levam com regularidade a freqüência no projeto, tal implicação pode inferir diretamente nos resultados. Tal condição foi presenciada no estudo de Lamboglia et al., (2014), cujo, na oportunidade ao analisar dois grupos distintos de mulheres idosas, verificou que as participantes que faziam exercício físico a mais de 6 meses ditas como “veteranas”, apresentaram melhores resultados de flexibilidade, equilíbrio e força em relação as participantes com menos de 6 meses de intervenção. Os resultados encontrados pela autora e colaboradores demonstraram realmente existir influência do tempo de prática no desempenho.

    Ao longo da intervenção e com os resultados encontrados a tendência é que os parâmetros de aptidão em uma próxima avaliação se modifiquem, tendo em vista, que as informações levantadas através deste estudo poderão servir como preconizadores de uma intervenção mais adequada, contemplando as capacidades desprovidas de estimulo.

Conclusão

    Através do estudo verificamos que um mesmo programa de atividade física em diferentes locais de prática, pode-se configurar de forma distinta, apresentando amplitudes e resultados diferentes. Além disto, os resultados podem ser influenciados por fatores de interveniência que comprometem ou alteram o desempenho nos parâmetros físicos investigados.

    Desta forma, concluímos que para uma maior efetividade nos resultados do programa de intervenção é necessário padronizar as atividades de forma sistemática, reduzir as barreiras e os fatores de interveniência, a fim de influir eficientemente na resolução das deficiências encontradas.

Bibliografia

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