efdeportes.com

Conteúdos de ensino da Educação Física
na perspectiva critico emancipatória

Los contenidos de la enseñanza de la Educación Física en la perspectiva crítico emancipatoria

Teaching of physical education content in critical emancipatory perspective

 

Acadêmico do curso de Educação física em Licenciatura

na Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC

(Brasil)

Edson Josué Da Silva

edson-edf@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O presente estudo procurou apresentar possibilidades pedagógicas para as aulas Educação Física em relação alguns conteúdos trabalhados como a capoeira, dança, handebol e voleibol na abordagem critico emancipatória. Para a realização deste trabalho foi utilizada uma metodologia bibliográfica baseada em alguns capítulos dos livros de didática da educação física e no livro transformação didático pedagógica do esporte.

          Unitermos: Conteúdos. Educação Física. Perspectiva critico emancipatória.

 

Abstract

          This study sought to present some pedagogical possibilities for physical education classes regarding some contents worked in physical education classes as capoeira, dancing, football, handball and volleyball in the critical emancipatory approach. For this work we used a bibliographic methodology based on some chapters of books teaching of physical education and teaching in the book educational transformation of sport.

          Keywords: Content. Physical Education, critical emancipatory perspective.

 

Recepção: 07/07/2015 - Aceitação: 18/08/2015

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 20, Nº 207, Agosto de 2015. http://www.efdeportes.com

1 / 1

    Este trabalho procura contribuir para o debate sobre conteúdos de ensino da Educação física na perspectiva critico emancipatória. A escolha deste tema surgiu durante a realização da disciplina de estágio na educação infantil e ensino fundamental, a partir do debate sobre as possibilidades de se trabalhar nesta abordagem pedagógica. Este projeto surgiu com a necessidade de ensinar alguns conteúdos da educação física a partir da perspectiva crítico emancipatória e compreender como ensinar conteúdos da educação física a partir desta proposta. Para tanto, tem como objetivo Identificar capoeira, dança, handebol e vôlei na perspectiva crítica.

    O artigo é organizado em três momentos: no primeiro capítulo trato da proposta crítico emancipatória, no segundo capítulo apresento algumas aulas e possibilidades para se trabalhar nas aulas de educação física, e no último minhas considerações finais a respeito do estudo.

O que é a proposta didático-metodológica crítico emancipatória?

    A proposta didático-metodológica critico emancipatória faz com que o aluno repense o seu agir perante a atividade realizada, ou seja ela quer que o aluno se liberte de uma coerção auto-imposta, de uma opressão . Vivemos em uma sociedade capitalista, e assim é no esporte também, em que quem tem maiores condições, melhores vestimentas, melhores resultados se considera superior. Segundo Kunz (2001, p.23) “o esporte é atualmente um produto cultural altamente valorizado em todo o mundo, pelo menos no sentido econômico”.

    O esporte coage a competir, a passar por cima dos outros no dizer de Kunz sobrepujar, e a proposta didático-metodológica critico emancipatória visa à crítica desse modelo de esporte. A proposta critico emancipatória quer que os professores desmistifiquem esse esporte, através de uma didática comunicativa, das competências e pelas transcendências (de limites). A proposta nos diz que nós professores devemos conduzir nossos alunos para uma visão “de que a prática esportiva deve ter significado de valores e normas que assegurem o direito á prática do esporte” (Kunz, 2001,p.72).

    A concepção crítico emancipatória se apóia na tendência educacional progressista critica, que busca transformar a realidade social através de intervenções críticas de cidadãos emancipados.

    A abordagem crítico emancipatória deve ser um ensino de libertação de falsas ilusões, de falsos interesses e desejos, criados e construídos nos alunos pela visão de mundo que apresentam a partir de ‘conhecimentos’ colocados á disposição pelo contexto sociocultural onde vivem (Kunz, 2001, p. 121).

    A emancipação dos alunos na perspectiva crítico emancipatória deve ser trabalhada no inicio de sua fase escolar, para que os mesmos possam vir a se tornar seres humanos mais plenos, críticos e autônomos de suas ações, com mais autonomia. A pedagogia crítico emancipatória deve estar vinculada a uma didática comunicativa. “Maioridade ou emancipação devem ser colocadas como tarefa fundamental da educação”. (Kunz, 2001, p.32).

    Para se alcançar este nível de emancipação crítica dos alunos é preciso o desenvolvimento de algumas categorias. Segundo Kunz (2001) são: trabalho, interação e linguagem.

    Mas para que estas competências sejam forjadas nos alunos é fundamental que o professor tenha discernimento de seu papel, metodologias, estratégias explicitas e paciência para se conseguir a dita emancipação. Para o desenvolvimento destas competências Kunz destaca três elementos que são essenciais que são as linhas de ação: as transcendências de limites.

Proposições de aula

    A seguir tratarei de alguns conteúdos e suas metodologias de ensino. Conteúdos retirados dos livros didática da educação física 1 e 2. As aulas seguem uma seqüência sistemática que se apresentam da seguinte forma: encenação, problematização, ampliação, reconstrução coletiva do conhecimento. Porém esta sistematização não se efetiva em todas as aulas, realizei um recorte de algumas aulas significativas para demonstrar aqui neste trabalho e analisá-los no momento seguinte.

Capoeira

    Esta aula de capoeira foi retirada do livro didática da educação física 1. Falcão (2003) nos mostra alguns conteúdos da capoeira para se trabalhar nas aulas de educação física, como A Ginga, Os Golpes, Os cânticos, A instrumentalização e a Roda de Capoeira.

    Para iniciar meu trabalho escolhi a Ginga como sugestão ou possibilidade de ensino. A ginga é o movimento básico da capoeira, é através dela que se iniciam outros movimentos e golpes. A ginga funciona da seguinte forma, o aluno deverá estar com braços e pernas trabalhando em sentido oposto, exemplo: quando a perna direita estiver na frente, o braço esquerdo estará na frente, e quando a perna esquerda estiver na frente, o braço direito estará a sua frente. Pode-se explicar para os alunos que é como se desenhasse um triangulo no chão e o posicionamento dos braços é como se estivesse olhando a hora no relógio.

    Na encenação pode-se trabalhar a ginga com som do berimbau, com música de capoeira, executar movimentos de giros para direita e esquerda, experimentar movimentos circulares e retilíneos, gingar imitando animais. Dois a dois, um de frente para outro tentando imitar outro, gingar segurando a mão do companheiro.

    Na problematização tem-se várias questões para se problematizar podemos começar pelo movimento do corpo, que é realizado durante a capoeira. Que movimento é este, é uma dança, é uma luta, ou um jogo? É possível coordenar o som do berimbau com o movimento do corpo? Existem outras formas de se gingar?

    A ampliação pode ser mais interessante se o professor utilizar algumas figuras, vídeos e até livros, para clarear mais seu processo de ensino, trocar idéias com alunos praticantes de capoeira de outros grupos.

    A reconstrução pode ser considerada a fase em que o professor irá projetar a forma correta da ginga, levando em consideração aspectos de segurança.

Dança

    O conteúdo dança foi retirado do livro didática da educação física 1.

    As autoras Fiamoncine e Saraiva (2003) abordam o tema dança na escola: a criação e a coeducação em pauta são compostas por quatro temas que estão divididos da seguinte forma:

  • 1° tema: Ritmo e Movimento na cultura Afro Brasileira

  • 2° tema: Nativismo e Galanteria na improvisação

  • 3° tema: Na fervura do frevo.

  • 4° tema: Dançando a capoeira e jogando tango

    Optei em apresentar o 2° tema: Nativismo e Galanteria na improvisação.

  • Objetivo: Oportunizar o conhecimento da cultura Gaúcha e alguns passos das danças gaúchas.

(Experimentação/ Descoberta)

    As crianças irão realizar uma breve exploração teórica sobre o nativismo gaúcho, origem das danças gaúchas e suas características marcantes como expressão cultural. Pesquisar significado de algumas danças, das indumentárias e das letras de músicas.

(Experimentação/ Invenção)

    Os alunos irão experimentar passos e variações como, por exemplo, os passos de vanerão; dois a dois e de mãos dadas. Durante as variações surgiram novas formações.

(Representação / Criação / Reelaboração)

    Dividi-los em grupos de quatro ou mais alunos para discutir o significado dos passos experimentados pelas duplas, para depois atribuir estes significados a novas formações e logo configurar uma coreografia por estes com no mínimo três formações diferentes para cada grupo.

Apresentação de cada grupo, elaboração final de uma só coreografia por todos os alunos. (Fiamoncini e Saraiva, 2003, p.111).

Handebol

    O seguinte tema foi analisado no livro de didática da educação física 2.

    Os autores são Giovane de Lorenzi Pires e Annabel das Neves (2001), e titulo do capítulo é: Transformações Didáticas do esporte - Decurso de Ação 1: a construção do handebol.

    Propor um jogo dos dez passes, dividir a turma em duas equipes, o objetivo do jogo é que a equipe que estiver com a posse de bola tenta trocar dez passes ininterruptos entre si, objetivando com isso a marcação de um ponto, a outra equipe cabe marcar os adversários e tentar interceptar a troca de passes para que o ponto não se realize. (Esta aula foi realizada com uma turma de aproximadamente 25 alunos/professores em formação.)

    Problematização: A maioria das vezes nem todos tocam na bola, o que fazer para que todos consigam participar da atividade?

    Proposta: Dividir cada equipe em duas equipes e criar dois jogos simultâneos realizados em cada meia quadra. (Pires e Neves, 2001, p.76).

Voleibol

    O seguinte tema foi retirado do livro de didática da educação física 2.

    Os autores são Giovane de Lorenzi Pires e Annabel das Neves (2001), o titulo do tema é: Transformações Didáticas do esporte- Decurso de Ação 2: a Desconstrução do voleibol.

    Iniciar o processo de ensino aprendizagem com a vivência pelo jogo formal, com seis participantes em cada lado da quadra e os demais assistindo. Percebe-se que durante a divisão das equipes é excluído os menos atletas e acentua a disputa entre meninos e meninas, destacando as fragilidades das meninas frente à superioridade dos meninos, considerando os mais aptos e mais fortes para exercerem o papel de finalizadores nas jogadas.

    Problematização: Como ampliar a participação e colaboração de alunos e alunas na vivência do voleibol?

    Proposta: Entradas constantes nas duas equipes a partir da formação de uma coluna na linha divisória da quadra, em que, a cada vantagem, entra um novo participante na posição número dois do grupo que perde o rally. (Pires e Neves, 2001, p.82).

Análise das aulas

    Neste momento procurarei articular as semelhanças, diferenças, especificidades dos trabalhos anteriormente relatados. Esse exercício, por óbvio, tem como fundamento de análise as categorias centrais da proposição crítico-emancipatória. Procurei no movimento efetuado não “artificializar” as análises procurando “forçar” as conclusões e tentando colocar as aulas em espaços pré-estabelecidos. Espero ter conseguido êxito no propósito apesar de reconhecer as dificuldades do pretendido. Em uma “primeira aproximação” refaço o percurso das aulas procurando emitir uma síntese das questões centrais. Na seqüência procuro apresentar os elementos caracterizadores da proposta crítico-emancipatória para finalmente procurar desenvolver a devida articulação entre as várias aulas.

    Na capoeira eu selecionei a ginga por se tratar do ponto de partida para a capoeira, ou seja, é através desse movimento dessa malemolência que se “dá” continuidade no conteúdo. Na capoeira as competências aparecem bem distribuídas, hora a aula parte para a competência social, em outro momento a competência comunicativa ou objetiva. Durante o percurso da aula percebe-se que o professor utiliza a didática comunicativa como ferramenta, para esclarecimento da ginga, como ela deve ser realizada, como funciona o movimento dos membros nela envolvidos.

    Na capoeira a competência objetiva aparece na encenação quando o professor pede aos alunos para executarem movimentos de giros, experimentar movimentos circulares e retilíneos, aparece também na execução da ginga quando ele esclarece como se faz, o posicionamento dos braços, posicionamentos das pernas.

    Na dança com o tema escolhido, “Nativismo e Galanteria”, a competência objetiva está diretamente relacionada ao objetivo de aula, em que a autora quer que os alunos busquem o conhecimento da cultura Gaúcha e se apropriem de alguns passos das danças, e suas principais características desta manifestação regional que é o nativismo.

    No handebol o professor propõe que os alunos/professores realizem um tradicional jogo dos dez passes sem que a outra equipe intercepte a bola, eles teriam que desenvolver uma estratégia para que conseguissem marcar ponto, ai a competência objetiva (ajudada pelas outras competências que funcionam aqui como apoio necessário).

    No vôlei a competência objetiva se efetiva principalmente (mas não só) com a vivência pelo jogo formal, e nas entradas constantes de novos jogadores na posição de numero dois daquela equipe que perde o rally.

    Na competência social a capoeira esta fortemente inserida e tem um enorme comprometimento, é um tema que deve ser abordado nas aulas de educação física não somente pela prática, mas também pela teoria. Capoeira faz parte da história da educação física, pois o seu surgimento esta relacionado com escravos negros e com sua história de utilização como elemento de resistência, posto que os escravos descobriram em seu próprio corpo uma arma para se defenderem da classe dominante.

    Na dança podemos constatar sua presença na experimentação onde os alunos em duplas de mãos dadas experimentam os passos de vanerão e em outro momento, quando são submetidos à elaboração de uma coreografia por todos do grupo.

    No handebol a competência social está relacionada com ausência de alguns alunos no jogo, ou seja, nem todos conseguiram tocar na bola, esta semelhante ao voleibol onde alguns alunos não querem deixar os demais vivenciarem a experiência de finalizar a jogada, de cortar.

    Partindo para a competência comunicativa pude perceber que em todas as aulas se fez presente, o diálogo é essencial para reconstrução de novos saberes e significados,

    Para Kunz (2001, p. 41) “o desenvolvimento da competência comunicativa exerce um papel decisivo. Saber se comunicar e entender a comunicação dos outros é um processo reflexivo e desencadeia iniciativas do pensamento crítico.”

    Na capoeira a competência comunicativa além de estar relacionada na encenação também se fortalece na problematização, onde ele problematiza várias questões sobre a pratica da capoeira como por exemplo: O que é a capoeira? É uma dança, é um jogo ou uma luta?

    Na dança a competência comunicativa se dá no momento em que autora dividiu a turma em grupos e estes grupos teriam que discutir o significado dos passos aprendidos para depois criarem uma nova coreografia para todo o grupo estar apresentando.

    Segundo Kunz (2001, p. 90) “a dança, assim como o esporte, é uma das manifestações da cultura do movimento mais importantes e relevantes em todo o mundo”. Por isso a dança deve ser trabalhada e contextualizada como qualquer outro conteúdo da educação física, pois faz parte do ser humano desde as primeiras civilizações históricas e por ser entendida com expressão de vida e linguagem social.

    Sobre o Handebol e Voleibol o diálogo do professor conduziu os alunos para uma reconstrução da estrutura do jogo. Notou-se que em ambas as atividades o jogo já estava sem interesse e sem nenhum fundamento técnico, e alguns alunos excluídos pelos demais por não possuírem habilidades ditas “perfeitas”. O professor então problematiza sobre que forma os alunos poderiam ter maior participação e oportunidades de aprendizagem durante as atividades. Percebe-se nessa fala a importância da competência comunicativa que segundo Kunz (2001, p. 31) “devemos pressupor que a educação é sempre um processo onde se desenvolve ‘ações comunicativas’. O aluno enquanto sujeito do processo de ensino deve ser capacitado para sua participação na vida social, cultural e esportiva, o que significa não somente a aquisição de uma capacidade de ação funcional, mas a capacidade de conhecer, reconhecer e problematizar sentidos e significados nesta vida, através da reflexão crítica”.

Considerações finais

    Considero que transformar o contexto escolar em um ambiente crítico, liberto de falsos desejos e utopias, não é tarefa fácil e imediata, requer muita paciência e esperança do educador enquanto mediador do conhecimento. Modificar aquilo que está posto é uma tarefa complexa para um educador. O que temos a fazer é superar o que se apresenta. Através da abordagem critico emancipatória os alunos descobrem uma ampla capacidade de resolver situações de aprendizagem que antes não eram observadas, ou seja, falsas convicções.

    Através dos conteúdos estudados neste trabalho que foram: capoeira, dança e esporte, conteúdos estes entre outros vários que deveriam estar no planejamento anual de todo professor de educação física. Acredito que é possível transformar alunos em cidadãos críticos, autônomos através das aulas de educação física, mas que este conhecimento lhes seja refletido dentro e fora do contexto escolar, que este conhecimento seja para a vida toda.

    Este trabalho que finalizo por aqui foi pensado com intuito de reforçar alguns temas que nos dias de hoje talvez não tenham tanto significado para alguns professores de educação física. O trabalho não pretende servir como um receituário pronto, mas sim ser refletido, discutido e aperfeiçoado.

Bibliografia

Outros artigos em Portugués

www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 20 · N° 207 | Buenos Aires, Agosto de 2015  
Lecturas: Educación Física y Deportes - ISSN 1514-3465 - © 1997-2015 Derechos reservados