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Afastamento médico por atestados em uma empresa da cadeia automobilística: incidência, impacto e motivo segundo
a classificação internacional de doenças

Licencia médica por certificados en una empresa de montaje de automóviles: 

incidencia, impacto y motivo de acuerdo a la clasificación internacional de enfermedades

Medical clearance for certificates in a company of the automotive chain: 

incidence, impact and reason according to the international classification of diseases

 

Universidade Federal de Santa Catarina

(Brasil)

Diego Luiz de Mattos

Alexandre Crespo Coelho da Silva Pinto

Eugênio Andrez Diaz Merino

Antonio Renato Pereira Moro

diegoclerigo@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          Este trabalho teve como objetivo levantar o número de atestados em uma organização da cadeia automobilística no ano de 2014, bem como entender suas causas de acordo com a Classificação Internacional de Doenças (CID 10) e seus impactos. Os resultados nos mostram há uma quantidade significativa do afastamento dos trabalhadores junto à apresentação de atestado médico, e que suas principais causas são Exame Geral e Investigação de Pessoas Sem Queixas ou Diagnóstico Relatado, representados pelo Cid Z, seguido de doenças osteomusculares e do tecido conjuntivo, representado por atestados de Cid M.

          Unitermos: Doenças ocupacionais. Ergonomia. Indústria automotiva.

 

Abstract

          This study aimed to raise the number of certificates in an organization of the automotive chain in 2014 as well as understand their causes according to the International Classification of Diseases (ICD-10) and its impacts. The results show us there is a significant amount of the removal of the workers from the medical certificate and that the main causes are General Examination and People Research No Complaints Reported Diagnosis or represented by Cid Z, followed by musculoskeletal diseases and connective tissue, represented by M. Cid certificates.

          Keywords: Occupational diseases. Ergonomics. Automotive industry.

 

          Presenteado em II Bioergonomics – International Congress of Biomechanics and Ergonomics do 4 ao 7 de junho em Manaus, Amazonas, Brasil.

 

Recepção: 08/06/2015 - Aceitação: 23/07/2015

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 20, Nº 207, Agosto de 2015. http://www.efdeportes.com

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1.     Introdução

    O absenteísmo é um fenômeno que onera as organizações, estados e trabalhadores. Sua ocorrência vem aumentando, conforme aumentam as demandas indústrias por trabalho humano. Resultado de falhas da adaptação homem-máquina, ruídos na gestão, descontentamento com a situação de trabalho, são um problema a ser resolvido para a maioria das organizações. As doenças do trabalho podem atingir parcela significativa das causas do afastamento do ser humano de seu posto de trabalho. Traduzidas em atestados médicos, essas doenças nos indicam a necessidade de uma intervenção ergonômica, disciplina que apresenta ferramentas para o diagnostico e possíveis soluções. É importante para a gestão ergonômica entender a demanda e realizar o diagnóstico dos motivos do afastamento, para recomendar melhorias em postos de trabalho, o que pode tornar-se um diferencial competitivo por conta da redução de custos e da formação de uma equipe mais homogênea. Portanto, o questionamento ponto de inicio desse trabalho define-se como: quais sãos as doenças que mais afastam o trabalhador de seu posto na indústria objeto do estudo?

2.     Referencial teórico

    Nesse tópico serão abordados temas importantes para a elaboração da pesquisa, como absenteísmo, doenças do trabalho e ergonomia.

2.1.     Absenteísmo

    Absenteísmo significa o afastamento do trabalhador de seu local de trabalho, independentemente do motivo. Também denominado, corresponde à soma dos períodos em que os trabalhadores da organização se encontram ausentes e tais ausências não são motivadas por desemprego, doença prolongada ou licença legal. (Chiavenato, 1994; Deczka et al., 2007; Penatti Filho, 2006).

    O Bureau de Segurança e Emprego do Departamento do Trabalho dos Estados Unidos da América elaborou o cálculo para mensurar o absenteísmo, que, de acordo com Silva (2008), é:

Índice de Absenteísmo = (Nº de homens/dias perdidos por ausência ao trabalho) x 100

(1)

Efetivo médio X número de dias trabalhados

(2)

    Onde, de acordo com Tomasi e Oltramare (2014, p. 36): “o Total de horas perdidas é resultado da soma das faltas e atrasos, e o Total de horas trabalhadas é resultado do número de operários pelas horas do dia de trabalho”.

    Afirma que as principais causas de absenteísmo são:

    “(...) doença efetivamente comprovada e não comprovada, razões diversas de caráter familiar, atrasos involuntários ou por motivos de força maior, faltas voluntárias por motivos pessoais, dificuldades e problemas financeiros, problemas de transporte, baixa motivação para trabalhar, supervisão precária da chefia, políticas inadequadas da organização” (Penatti Filho, 2006, p. 52)

    Becker e Oliveira (2008) corroborados por Monares et al. (2013) afirmam que o ambiente, bem como o tipo e a natureza de atividade a ser realizada pelo trabalhador, bem como as condições para cumpri-la podem determinar riscos de adoecimento. No que se refere ao ambiente de trabalho, citam fatores que influenciam como: ruído, iluminação inadequada, temperaturas extremas, vibração, higiene.

2.2.     Doenças do trabalho

    As doenças do trabalho, popularmente conhecidas como LER/DORT, foram definidas segundo a atualização da Instrução Normativa INSS/98/2003, da seguinte forma:

    Entende-se LER/DORT como uma síndrome relacionada ao trabalho, caracterizada pela ocorrência de vários sintomas, concomitantes ou não, tais como: dor, parestesia, sensação de peso, fadiga, de aparecimento insidioso, geralmente [localizando-se] nos membros superiores, mas podendo acometer membros inferiores (Instrução Normativa INSS/98/2003)

    Segundo estatísticas oficiais da Previdência Social no que se refere à saúde e à segurança ocupacional, no ano de 2013, foram concedidos 304.217 auxílios-doença acidentários, e desses 76.400 relacionados às doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo.

    Segundo a Fundacentro (2007), essa doença (LER/DORT) já pode ser considerada uma epidemia. O ônus gerado ao estado, às indústrias e aos trabalhadores leva a classe médica a estudar e discutir contribuições para uma melhor compreensão dessas doenças, tendo em vista a complexidade apresentada.

2.3.     Ergonomia

    A definição mais recente, adotada em agosto de 2000, pela Associação Internacional de Ergonomia (IEA) afirma que a ergonomia (ou o estudo dos fatores humanos) tem por objetivo a compreensão fundamental das interações entre os seres humanos e os outros componentes de um sistema. Ela busca agregar ao processo de concepção teorias, princípios, métodos e informações pertinentes para a melhoria do bem-estar do ser humano e a eficácia global dos sistemas. (Ferreira, 2008, p. 91).

    As novas tecnologias e seus impactos no trabalho humano têm sido abordados sob vários ângulos, variando conforme as áreas do conhecimento e a natureza da problemática analisada. A ergonomia tem sido solicitada, cada vez mais, a atuar na análise de processos de reestruturação produtiva, sobretudo, no que se refere às questões relacionadas à caracterização da atividade e à inadequação dos postos de trabalho, em especial em situações de mudanças ou de introdução de novas tecnologias (Abrahão, 2000, p. 49).

3.     Procedimentos metodológicos

    Para a realização desse estudo, em um primeiro momento foi levantados o número de atestados no ano de 2014 na organização objeto. Em um segundo momento foi levantado à quantidade de dias perdidos por atestados, que impactaram diretamente em custos para a organização em questão. Por fim, verificaram-se quais foram os motivos de afastamento de acordo com a Classificação Internacional de Doenças (CID 10), para entender qual o tipo de patologia mais acomete os trabalhadores.

    A organização objeto desse estudo é uma empresa da cadeia automobilística que fábrica peças eletrônicas. Conta com aproximadamente 2000 funcionários e localiza-se na região sul do Brasil. Está dividida em 3 setores produtivos principais, que são o Projeto 1, o Projeto 2 e o Preparo de Materiais. Os demais setores como logística e engenharia foram identificados como outros.

4.     Resultados

    O número de atestados total no ano de 2014 na organização estudada foi de 7798 registros. Ao abrir por setor, verificou-se a seguinte incidência:

Gráfico 1. Número de atestados por setor em 2014

    Pode-se perceber que o setor 1 tem a maior incidência de atestados.

    Após tal constatação, buscou-se compreender o impacto desse número de atestados em dias perdidos n organização. O gráfico 2 a seguir relata as informações:

Gráfico 2. Número de dias perdidos por setor em 2014

    Mais uma vez, constata-se que o setor de projeto 1 é o mais incidente em relação aos demais setores da organização.

    Por ultimo, buscou-se entender quais os motivos de atestados por Cid no ano estudado em toda a fábrica. O gráfico a seguir demonstra os resultados:

Gráfico 3. Atestados por Cid em 2014

    Os quatro Cids mais incidentes foram respectivamente: Cid Z em primeiro com 2952 atestados, seguido por Cid M com 1316 atestados, seguido pelo Cid N com 438 atestados e pelo Cid F com 135 atestados. Tabela a seguir indica o significado de cada Cid:

Tabela 1. Classificação dos atestados por Cid

    A grande incidência de atestados com Cid Z (Exame Geral e Investigação de Pessoas Sem Queixas ou Diagnóstico Relatado) e os atestados de Cid M (Doenças do Sistema Osteomuscular e do Tecido Conjuntivo), demonstram-se importantes, sendo os maiores causadores do absenteísmo por atestados. As ações para implementar melhorias nas condições de trabalho bem como ao combate de custos relacionados a esses motivos serão traçadas levando em conta esse levantamento.

5.    Conclusão

    O absenteísmo é um fenômeno que onera as empresas, cofres públicos e, principalmente, os trabalhadores. Quando as condições de trabalho não estão compatíveis com as limitações humanas, as doenças podem acometer os trabalhadores, afastando-o de seu posto.

    Sendo grandes causadores de absenteísmo, os atestados médicos são indícios de que melhorias nessas condições podem e devem ser feitas. Dessa forma ocorrem ganhos de todas as maneiras: redução de custo, satisfação do trabalhador, equipes homogêneas, entre outros.

    Entender o absenteísmo, bem como seus motivos, e combatê-los através de melhorias nos postos de trabalho, pode ser um diferencial competitivo para as empresas modernas, tendo em vista o cenário competitivo dos dias atuais.

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