efdeportes.com

Picolinato de cromo como recurso ergogênico nutricional: 

um suplemento superestimado e com pouca comprovação científica

El picolinato de cromo como recurso ergogénico nutricional: un suplemento sobreestimado con poca evidencia científica

Chromium picolinate as a nutritional ergogenic aid: an overrated and with little scientific proof supplement

 

Acadêmico do curso de Nutrição da Faculdade Estácio

de Alagoas/FAL. Maceió, Alagoas

(Brasil)

Luiz Eduardo Marinho Falcão

eduardomarinhonutri@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Inúmeros recursos ergogênicos nutricionais estão disponíveis para a utilização no esporte. Dentre estes, o que ganha maior visibilidade por desempenhar diferentes ações é o mineral cromo que teoricamente têm como função aumentar a ação da insulina com os receptores GLUT4 captando mais glicose e uma possível inibição da enzima hepática hidroximetilglutaril-CoA-redutase que pode trazer alterações benéficas no perfil lipídico. Os primeiros estudos do mineral se remetem a estudos com ratos e pacientes diabéticos tipo 2, onde após intervenção do cromo os mesmos reduziram a glicose circulante e reverteram quadros de resistência a insulina. Entretanto parece necessário conhecer a ação do mineral Cr quando associados ao exercício para redução do perfil antropométrico e bioquímico, assim com melhora do desempenho esportivo.

          Unitermos: Cromo. Inibidores de Hidroximetilglutaril-CoA-Redutase. Proteínas GLUT.

 

Abstract

          Numerous nutritional ergogenic resources are available for use in sports. Among these, which has gained more visibility for performing different actions is the mineral chromium which theoretically have the function to increase the action of insulin with the GLUT4 receptors capturing more glucose and a possible inhibition of hydroxymethylglutaryl-CoA reductase hepatic enzyme that can bring beneficial changes lipid profile. Early studies of the mineral they refer to studies in rats and type 2 diabetic patients, which after the intervention of the same chromium reduced the blood glucose and insulin resistance reversed frames. However it seems necessary to know the action of mineral Cr when combined with exercise to reduce the anthropometric and biochemical profile, so with improved sports performance.

          Keywords: Chrome. Inhibitors-CoA reductase. GLUT proteins.

 

Recepção: 03/02/2015 - Aceitação: 28/04/2015

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 20 - Nº 205 - Junio de 2015. http://www.efdeportes.com/

1 / 1

Introdução

    A Sociedade Brasileira de Diabetes (SDB) estimou que os casos de diabetes no mundo chegaram a 387 milhões de indivíduos no ano de 2014. A intervenção do cromo sobre o diabetes se remete desde a década de 50 onde pesquisadores notaram após alimentar ratos com uma dieta à base de levedura Torula uma intolerância a glicose, e após os ratos receberem levedura de cerveja seca a intolerância foi revertida (Masharani et al, 2012). Porém, somente em 1997 um grupo de pesquisadores analisaram a hipótese de que a suplementação de cromo aumentaria a captação de glicose em humanos. Após adicionar cromo em uma solução parenteral, um paciente com diabetes tipo 2 foi objeto de estudo, onde antes da intervenção o paciente apresentava perda de peso e resistência à insulina e após adicionar 200mcg de cloreto de cromo na solução parenteral o paciente não precisou mais administrar insulina exógena (Jeejeebhoy et al, 1977). Desde então o Cr começou a ser associado diretamente com o metabolismo dos macronutrientes, e principalmente por aumentar a resposta à insulina (Kobla & Volpe, 2000). Contudo, o mesmo parece ainda ser eficiente em relação ao perfil lipídico por inibir a enzima hepática hidroximetilglutaril-CoA-redutase aumentando as lipoproteínas de alta densidade (HDL) e diminuindo as lipoproteínas de baixa densidade (LDL, VLDL) em indivíduos com valores iniciais alterados (Williams, 2002; Gomes, Rogero & Tirapegui, 2005; Tirapegui, 2005; Cozzolino, 2009). Com todas as hipóteses a respeito do mineral no metabolismo de carboidrato e lipídeos, parece necessário conhecer se o cromo rege função ergogênica nutricional sobre o perfil bioquímico e antropométrico.

Associação do cromo no exercício

    O cromo se enquadra como recurso ergogênico nutricional por aumentar a taxa de produção energética e aumento do tecido muscular (Alves, 2002). A utilização do cromo não é voltada ao esporte somente para reposição orgânica, mas também por favorecer a via anabólica com maior sensibilidade à insulina, o que conseqüentemente aumenta a captação de aminoácidos e leva a uma maior taxa de síntese protéica (Gomes, Rogero & Tirapegui, 2005). Em um dos primeiros estudos avaliando o cromo sobre o exercício foi feito com estudantes para participar de um treinamento intenso por um período de 40 dias onde os mesmos suplementaram com picolinato de cromo (200mcg/dia), e o estudo mostrou que o grupo suplementado com cromo teve um significante aumento de massa magra sobre o grupo placebo (Evans, 1989). Outro estudo conduzido para aferir a eficácia do picolinato de cromo em estudantes com idade universitária foi feito. Os estudantes de ambos os sexos foram avaliados sobre três circunferências e dobras cutâneas, alterações no peso corporal e 1RM (repetição máxima) no agachamento e supino. Após 12 semanas com picolinato de cromo (200mcg/dia) o único efeito encontrado foi sobre medidas em mulheres que em homens sobre um treinamento de força (Hasten et al, 1992). Após resultados significativos mais estudos foram executados, entretanto não apresentaram resultado sobre medidas de composição corporal e excreção urinária de cromo em jogadores de futebol suplementados com picolinato de cromo (200mcg/dia) (Clancy et al, 1994), da mesma forma em indivíduos acima do peso suplementados com picolinato de cromo (400mcg/dia) sobre um exercício aeróbico não reduziu percentual de gordura ou aumentou massa muscular em relação ao grupo placebo (Trent & Thieding, 1995). Sobre o exercício anaeróbico o cromo não favoreceu indivíduos que participaram de um treinamento de força muscular. Os indivíduos que suplementaram com picolinato de cromo (200mcg/dia) não obtiveram resultados como recurso ergogênico para aumento de massa magra, força e a diminuição do percentual de gordura (Hallmark et al, 1996). Ponderando a resistência, composição corporal e desempenho neuromuscular de lutadores de wrestling, um estudo selecionou lutadores na pré-temporada e dividiu grupos com picolinato de cromo (200mcg/dia), placebo ou controle. O treinamento associado ao picolinato de cromo em doses baixas não melhorou o desempenho dos lutadores (Walker et al, 1998), assim como doses altas de picolinato de cromo (924mcg/dia) em um período de 12 semanas não aumentou força, tamanho muscular, massa magra ou energia em homens com idade avançada (Campbell et al, 1999) após um treinamento resistido. Seguindo o mesmo estudo, entretanto com homens e mulheres mais velhas com sobrepeso, picolinato de cromo em altas doses (924mcg/dia) também não reduziram a tolerância à glicose (Joseph et al, 1999). Averiguando a taxa metabólica de repouso (TMR) e parâmetros bioquímicos, um estudo duplo-cego aferiu mulheres acima do peso que suplementaram com picolinato de cromo (400mcg/dia) ou placebo durante 12 semanas em um programa de musculação e caminhada. O estudo não resultou em benefício algum de composição corporal, TMB, Fe, Zn, glicose no plasma e insulina no soro (Volpe et al, 2001). Do mesmo modo que não foi visto diferenças positivas no perfil bioquímico de homens e mulheres com idade avançada (Amato, Morales & Yen, 2000) o picolinato de cromo (500mcg/dia) não mostrou diferenças significativas na força ou composição corporal em atletas de softball (Livolsi, Adams & Laguna, 2001). Um estudo de 2002 analisou o efeito do treinamento resistido com ou sem altas doses de picolinato de cromo sobre mulheres mais velhas. As doses altas (924mcg/dia) não aumentaram a força máxima, hipertrofia do músculo esquelético e composição corporal em mulheres mais velhas após 12 semanas de intervenção (Campbell et al, 2002). E sobre a relação do picolinato de cromo (600mcg/dia) sobre a glicogênese um estudo selecionou a depleção das reservas de glicogênio muscular após um exercício supramaximal de ciclismo onde não obtiveram aumento na síntese de glicogênio com uma alimentação rica em carboidratos depois de suplementar com picolinato de cromo (Volek et al, 2006).

Considerações finais

    A suplementação com cromo para desempenho esportivo ou redução de perfil bioquímico e antropométrico não parece ser eficaz, visto que a literatura mostra que o cromo parece agir com maior captação de glicose do meio externo para metabolização pelo GLUT4 e inibindo a enzima hidroximetilglutaril-CoA-redutase com redução do perfil lipídico. Entretanto, os achados recentes no exercício não corroboram para tais afirmações e não há respaldo científico suficiente para o uso do picolinato de cromo como ergogênico nutricional no que tange benefício significativo sobre composição corporal, aumento de força e desempenho em atletas ou praticantes de exercícios físicos.

Bibliografia

  • Alves, L. A. (2002). Recursos ergogênicos nutricionais. Revista mineira de educação física, Viçosa10(1), 23-50.

  • Amato, P., Morales, A. J. & Yen, S. S. (2000). Effects of chromium picolinate supplementation on insulin sensitivity, serum lipids, and body composition in healthy, nonobese, older men and women. The Journals of Gerontology Series A: Biological Sciences and Medical Sciences55(5), 260-263.

  • Campbell, W. W., Joseph, L. J., Davey, S. L., Cyr-Campbell, D., Anderson, R. A. & Evans, W. J. (1999). Effects of resistance training and chromium picolinate on body composition and skeletal muscle in older men. Journal of Applied Physiology86(1), 29-39.

  • Campbell, W. W., Joseph, L. J., Anderson, R. A., Davey, S. L., Hinton, J. & Evans, W. J. (2002). Effects of resistive training and chromium picolinate on body composition and skeletal muscle size in older women. International journal of sport nutrition and exercise metabolism12(2), 125-135.

  • Clancy, S. P., Clarkson, P. M., DeCheke, M. E., Nosaka, K., Freedson, P. S., Cunningham, J. J. & Valentine, B. (1994). Effects of chromium picolinate supplementation on body composition, strength, and urinary chromium loss in football players. International journal of sport nutrition4(2), 142-153.

  • Cozzolino, S.M.F. (2009). Biodisponibilidade de nutrientes. 3ª ed. atual. e ampl. Barueri, SP: Manole.

  • Evans, G. W. (1989). The effect of chromium picolinate on insulin controlled parameters in humans. Int J Biosoc Med Res11(2), 163-180.

  • Gomes, M. R., Rogero, M. M. & Tirapegui, J. (2005). Considerações sobre cromo, insulina e exercício físico. Revista brasileira de medicina do esporte, 11(5), 262-266.

  • Hallmark, M. A., Reynolds, T. H., De Souza, C. A., Dotson, C. O., Anderson, R. A. & Rogers, M. A. (1996). Effects of chromium and resistive training on muscle strength and body composition. Medicine and science in sports and exercise28(1), 139-144.

  • Hasten, D. L., Rome, E. P., Franks, B. D. & Hegsted, M. (1992). Effects of chromium picolinate on beginning weight training students. Int J Sport Nutr, 2(4), 343-50.

  • Jeejeebhoy, K. N., Chu, R. C., Marliss, E. B., Greenberg, G. R. & Bruce-Robertson, A. (1977). Chromium deficiency, glucose intolerance, and neuropathy reversed by chromium supplementation, in a patient receiving long-term total parenteral nutrition. The American Journal of Clinical Nutrition, 30(4), 531-538.

  • Joseph, L. J., Farrell, P. A., Davey, S. L., Evans, W. J. & Campbell, W. W. (1999). Effect of resistance training with or without chromium picolinate supplementation on glucose metabolism in older men and women. Metabolism48(5), 546-553.

  • Kobla, H. V. & Volpe, S. L. (2000). Chromium, exercise, and body composition. Critical reviews in food science and nutrition40(4), 291-308.

  • Livolsi, J. M., Adams, G. M. & Laguna, P. L. (2001). The effect of chromium picolinate on muscular strength and body composition in women athletes. Journal of Strength and Conditioning Research15(2), 161-166.

  • Masharani, U., Gjerde, C., McCoy, S., Maddux, B. A., Hessler, D., Goldfine, I. D. & Youngren, J. F. (2012). Chromium supplementation in non-obese non-diabetic subjects is associated with a decline in insulin sensitivity. BMC endocrine disorders12(1), 31.

  • Sociedade Brasileira de Diabetes (SDB). Disponível em < http://www.diabetes.org.br/images/pdf/Atlas-IDF-2014.pdf >. Acesso em 15 de Novembro de 2014.

  • Tirapegui, J. (2005). Nutrição, metabolismo e suplementação na atividade física. São Paulo: Atheneu.

  • Trent, L. K. & Thieding-Cancel, D. (1995). Effects of chromium picolinate on body composition. The Journal of sports medicine and physical fitness35(4), 273-280.

  • Volek, J. S., Silvestre, R., Kirwan, J. P., Sharman, M. J., Judelson, D. A., Spiering, B. A., et al. (2006). Effects of chromium supplementation on glycogen synthesis after high-intensity exercise. Medicine and science in sports and exercise38(12), 2102-2109.

  • Volpe, S. L., Huang, H. W., Larpadisorn, K. & Lesser, I. I. (2001). Effect of chromium supplementation and exercise on body composition, resting metabolic rate and selected biochemical parameters in moderately obese women following an exercise program. Journal of the American College of Nutrition20(4), 293-306.

  • Walker, L. S., Bemben, M. G., Bemben, D. A. & Knehans, A. W. (1998). Chromium picolinate effects on body composition and muscular performance in wrestlers. Medicine and science in sports and exercise30(12), 1730-1737.

  • Williams. M. H. (2002). Nutrição: para saúde, condicionamento físico & desempenho esportivo. 5ª ed. São Paulo: Manole.

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 20 · N° 205 | Buenos Aires, Junio de 2015  
Lecturas: Educación Física y Deportes - ISSN 1514-3465 - © 1997-2015 Derechos reservados