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Características de personalidade de praticantes de capoeira

Características de personalidad de practicantes de capoeira

Personality characteristics of practitioners of capoeira

 

*Licenciado em Educação Física; especialista em Biodinâmica do Treinamento Desportivo

e Personal Training pelas Faculdades Integradas do Vale do Iguaçu (UNIGUAÇU)

**Docente do Curso de Educação Física da UNIGUAÇU

***Bacharel em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná

****Pós-doutoranda em Educação Física na Universidade Federal do Paraná

(Brasil)

Jairo Vieira Furtado*

Andrey Portela**

Débora Calomeno da Silva***

Katiuscia Mello Figueroa****

ktmello@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo da pesquisa foi avaliar as características de personalidade de praticantes de capoeira do estado do Paraná, averiguando quais são as atitudes e funções psíquicas mais utilizadas por esses atletas. É uma pesquisa de campo, aplicada, descritiva e quantitativa. Participaram da pesquisa 20 indivíduos, com tempo mínimo de 3 anos de prática de capoeira e que participam de competições, caracterizando-se como uma amostra do tipo não probabilística intencional. Como instrumento de coleta utilizou-se o Questionário de Avaliação Tipológica - QUATI (Versão II), de Zacharias (2003). Os dados da coleta foram analisados a partir do score do próprio instrumento, passando também por um tratamento estatístico descritivo. Concluiu-se que a “Extroversão” foi a atitude psíquica mais apresentada pelos capoeiristas e, quanto à função psíquica, o “Sentimento”, a “Intuição” (função principal) e o “Pensamento” (função auxiliar), foram as que prevaleceram entre os participantes. Quanto aos tipos psicológicos, a “Extroversão Intuição Pensamento” e a “Extroversão Sentimento Sensação” predominaram entre os demais tipos.

          Unitermos: Psicologia do Esporte. Personalidade. Capoeira.

 

Abstract

          This study aimed to assess the personality traits of capoeira practitioners in the state of Paraná, finding out which attitudes and psychological functions most used by those athletes. This is a field research, applied, descriptive and quantitative. Participants were 20 individuals, with a minimum of 3 years of practice and participating in competitions characterizing as a sample of the type non-probabilistic intentional. As collection instrument we used the Typological Assessment Questionnaire – QUATI (Version II), of Zacharias (2003). After collection, data were analyzed from the score of the instrument itself, also going by a descriptive statistical treatment. At the end we concluded that the “Extraversion” was the mental attitude displayed by capoeira practitioners and, as the psychic function, the “Feeling”, the “Intuition” (main function) and “Thinking” (helper function), were those that prevailed among the participants. As for psychological types, the “Intuition Extraverted Thinking” and “Feeling Extraverted Feeling” predominated among the other types.

          Keywords: Sports Psychology. Personality. Capoeira.

 

Recepção: 30/03/2015 - Aceitação: 21/05/2015

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 20 - Nº 205 - Junio de 2015. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A capoeira é um misto de luta, dança, jogo, esporte e arte, que surgiu no tempo da escravidão no Brasil e se desenvolveu de forma peculiar no país, participando de muitos acontecimentos importantes, fazendo, assim, parte da história do povo brasileiro. Hoje é praticada em mais de 150 países estando inserida em escolas e universidades, sendo fonte de estudos de vários pesquisadores no mundo inteiro. Segundo Silva (1995), a capoeira surgiu na ânsia de liberdade, através dos escravos trazidos da África e forçados a trabalhar no Brasil, os quais lutaram muito para conseguir a sua libertação. Os escravos não possuíam armas e utilizaram seus próprios corpos para se defender.

    Iório (2005) relata que a capoeira, desde seu surgimento, passou por períodos de transformações devido aos sistemas políticos adotados em cada época como, por exemplo, a capoeira escrava no século XVII e XVIII, a marginalidade no século XVIII, a proibição em 1890, à liberação de sua prática por volta de 1932, a criação da capoeira regional na década de 30, a capoeira esporte, a criação da confederação em 1992, andando paralela às transformações sofridas pela Educação Física e a Educação Física Escolar, que passaram por diferentes fases desde que surgiram. Na Educação Física alguns exemplos seriam as tendências higienista e esportivista, que foram reflexos do pensamento do início do século XX, da década de 30 e 70, respectivamente. Na Educação Física Escolar, podemos citar exemplos como a utilização dos métodos ginásticos europeus (início do século XX), do método desportivo generalizado (década de 40 e 60), e do esporte na escola (década de 60 e 70).

    Os Mestres e profissionais de capoeira realizaram excelentes trabalhos por todo o Brasil e também em outros países. Depois da globalização da capoeira, são realizados grandes eventos como campeonatos municipais, estaduais, nacionais, continentais e mundiais, encontros, seminários e festivais de músicas. Segundo Mello (2010, p. 357), hoje não há grupo no Brasil sem representantes no exterior e que entram e vivem legalmente em outro país para ensinar a cultura brasileira, reconhecida em qualquer grande cidade do mundo.

    Devido a este desenvolvimento acelerado, os praticantes de capoeira que já lecionam, estão procurando aprofundar seus conhecimentos na área esportiva, realizando o curso superior. Há pouco tempo houve um aumento significativo no número de praticantes de capoeira no curso de Educação Física, que buscam um melhor entendimento das qualidades físicas que a capoeira desenvolve em seus praticantes, como agilidade, força, resistência, velocidade, equilíbrio, flexibilidade e também em metodologias de ensino, treinamento desportivo, didática, psicologia do esporte entre outros temas, com o intuito de melhorar seu trabalho com a capoeira em todas as suas manifestações.

    De acordo com Menezes et al. (2009), no que se refere ao treinamento desportivo, o atleta de capoeira deve ser observado como um ser humano em seu aspecto global e para realização de um trabalho de periodização é necessário separar parâmetros ou qualidades essenciais identificados como: condicionamento físico, técnico, tático, moral e psicológico para treinamento tanto individual como coletivo. Na capacidade psicológica seriam consideradas variáveis como o temperamento, a personalidade e as emoções referentes ao controle, inteligência e equilíbrio emocional, o altruísmo, o medo, o nervosismo, a tranqüilidade, a determinação, a percepção, a concentração, o foco emocional, a excitação emocional, a lealdade, a combatividade, a coragem, a solidariedade e a tolerância.

    Vê-se, então, que o aspecto psicológico é algo necessário quando se fala em treinamento desportivo. Em várias modalidades esportivas são realizados estudos ligados à psicologia do esporte. Segundo Buriti (2001), o desenvolvimento da psicologia do esporte iniciou-se na última década do século passado com trabalhos teóricos que mostravam os benefícios psicológicos que a prática de atividade física e esportiva poderia trazer a seus praticantes, e que os profissionais de Educação Física deveriam estar familiarizados com a psicologia. No Brasil, Rubio (2000) afirma que a psicologia começou a ser desenvolvida na década de 50, com a atuação do psicólogo João Carvalhes, no São Paulo Futebol Clube e na Seleção Brasileira de Futebol, campeã na Copa de 1950. João Carvalhes ainda realizou um trabalho com juízes de futebol, participou de vários eventos científicos, apresentou trabalhos e escreveu o livro Psicologia no Futebol, chamando a atenção e despertando curiosidades em pesquisadores brasileiros e também de outros países. A partir daí vieram outros psicólogos atuando na área da psicologia do esporte como Athayde Ribeiro da Silva, João Serapião, Paulo Gaudêncio, entre outros. Somente em 1976 é que a psicologia do esporte começou a ser desenvolvida em outras modalidades com Mauro Lopes de Almeida em um trabalho desenvolvido no Centro Olímpico de Treinamento e Pesquisa em São Paulo.

    Segundo Samulski (2009), é importante e necessário que, além dos conhecimentos e habilidades técnicas esportivas transmitidas pelos professores e técnicos esportivos, os mesmos tenham um conhecimento e capacidade psicológica específica para entender melhor o comportamento humano na área do esporte. Esse mesmo autor expõe que para o rendimento esportivo tornam-se necessárias também características de personalidade, como capacidade de liderança, autodomínio, extroversão, e comunicação social. E para fazer um planejamento das ações esportivas de um atleta é muito importante realizar um diagnóstico psicológico do mesmo, pois através desse diagnóstico, podem-se conhecer melhor os traços de personalidade do atleta, contribuindo expressivamente para o planejamento que será elaborado.

    O parágrafo anterior vem a concordar com Rubio (2000), quando salienta que estudar as particularidades psicológicas de um grupo esportivo visa identificar o tipo psicológico dos atletas e do grupo, além de utilizar os dados obtidos como mais uma ferramenta de auxílio ao trabalho de preparação psicológica com as equipes esportivas.

    No caso da Capoeira, ao observar o desenvolvimento de uma roda, nota-se que os participantes cantam, tocam os instrumentos e jogam capoeira de uma maneira descontraída, alegre e prazerosa. Surge então à hipótese de que todos possuem uma característica de personalidade conhecida na psicologia do esporte como extroversão que, segundo Rubio (2000), é uma característica de pessoas que possuem mais facilidade de interagir com outras pessoas e agem de forma natural quando em contato com coisas e situações externas.

    Diante do exposto, nos propusemos a pesquisar e identificar quais são as características de personalidade de praticantes de capoeira que participam de competições, analisando também quais as atitudes e funções psíquicas mais utilizadas por eles.

Método

    Trata-se de uma pesquisa de campo, aplicada, descritiva, com características quantitativas (Marconi, 2006), pois seu objetivo foi identificar as características de personalidade, com base na teoria Junguiana, de praticantes de capoeira que participam de competições.

    Segundo Rubio (2000), a Tipologia Jung é um instrumento que nos auxilia quando estamos lidando com os dados psicológicos de um indivíduo ou de um grupo, não representando a compreensão total e conclusiva do comportamento, mas que tem uma importância significativa, pois quando bem desenvolvida contribui, e muito, para o trabalho que está sendo realizado dentro do grupo.

    A amostra do tipo não probabilística intencional foi composta por 20 praticantes de capoeira, de ambos os sexos, com idades entre 20 e 43 anos, com um tempo de prática de pelo menos três anos, que estavam participando de um campeonato municipal na cidade de Curitiba – PR.

    Para constatar quais as características de personalidade e corroborar quais as funções psíquicas e atitudes são mais utilizadas por estes atletas, foi utilizado o Questionário de Avaliação Tipológica (QUATI) – Versão II (Zacharias, 2003). Trata-se de um instrumento baseado na teoria Junguiana, que pretende avaliar a personalidade através das escolhas situacionais que cada sujeito faz. O modelo Junguiano de tipologia busca definir estilos cognitivos e de preferências de comportamento individual, classificando semelhanças e diferenças em determinados grupos. A validade do QUATI foi determinada através da correlação com o teste Myers-Briggs Type Indicator, que também tem como base teórica os Tipos Psicológicos de Jung. Espírito (2012) descreve que este instrumento se enquadra nos tópicos que são de suma importância nos instrumentos psicométricos, sendo estes a validade de constructo, a validade de critério e precisão, e a consistência interna dos itens.

    É importante salientar que a tipologia não mostra o indivíduo por inteiro, mas compreende aproximando o fenômeno psíquico. Isto porque, a personalidade é dinâmica, tem trocas conscientes e inconscientes, estabilidade e mudanças. O modelo tipológico oferece uma direção para lidar com os elementos psíquicos dos indivíduos e pode ser utilizado com indivíduos a partir de 14 anos de idade (Zacharias, 2003).

    Para proceder à coleta de dados, primeiramente o projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética da UNIGUAÇU. Em seguida, foi solicitada autorização ao organizador e responsável pelo evento de capoeira, explicando o objetivo do estudo. Após esse procedimento, as informações foram repassadas aos capoeiristas, familiarizando-os com o estudo e com o instrumento. O questionário foi aplicado por uma psicóloga que também contribuiu com a análise dos resultados.

    Para a aplicação do questionário, os participantes foram distribuídos aleatoriamente em grupos de três para que não houvesse interferência na organização dos acontecimentos do evento. No decorrer do campeonato, um grupo de cada vez era chamado até um local reservado para realização do teste.

    Primeiramente, os participantes recebiam um termo de consentimento livre e esclarecido para lerem e tomarem conhecimento dos objetivos da pesquisa. Em seguida recebiam um caderno de perguntas e uma folha de respostas, ouviam as orientações e as normas para responderem o questionário e iniciavam o teste. O mesmo procedimento foi repetido a cada novo grupo.

    Com a finalização da coleta de dados, o próximo passo consistiu no tratamento estatístico, com análise e interpretação dos dados obtidos. A análise foi realizada através de três crivos de respostas que determinam a força de escolha de uma função, caracterizando a atitude, a função principal, a função auxiliar e a função inferior.

Apresentação e discussão dos resultados

    A partir da coleta e análise dos dados, segue a apresentação dos resultados, suas interpretações e discussão. A média de idade dos vinte participantes do estudo foi de 31,5 anos, variando entre 20 e 43 anos. Destes, dezesseis são do sexo masculino e quatro são do sexo feminino.

    Segundo Rubio (2000), a classificação de tipos de comportamento e de atitude é um estudo que foi sendo realizado no decorrer dos anos e vários sistemas de tipologia foram sendo criados como, por exemplo, a astrologia, os temperamentos humanos (fleumático, sanguíneo, colérico e melancólico), o zodíaco chinês, a grafologia, entre outros.

    A investigação psicológica sobre um indivíduo resulta em vários dados, e para lidar com estes dados o modelo tipológico é fundamental, pois ele dá suporte teórico para lidar adequadamente com os elementos psíquicos (Zacharias, 1994, apud Rubio, 2000).

    Ainda conforme os mesmo autores, a tipologia de Jung originou-se de estudos sobre o inconsciente e consciente realizados por Sigmund Freud e Carl Gustav Jung, não estando ligada às pesquisas tipológicas da antiguidade ou a outras mais recentes.

    Rubio (2000) descreve que os tipos psicológicos de Jung tiveram contribuição inovadora para os estudos que já existiam, com conceitos e introduções de energia psíquica e noções de como o indivíduo se orienta ante o mundo. Sua obra “Tipos Psicológicos” foi publicada em 1920 e foi uma das mais conhecidas. Jung, em seus estudos sobre tipos psicológicos, primeiramente conceituou duas atitudes de personalidade: a introversão e a extroversão. Após um período, definiu as funções psíquicas pensamento, sentimento, sensação e intuição como funções principal, auxiliar ou inferior (Zacharias, 1994 apud Rubio, 2000).

    Atitude é a preferência de foco de atenção individual, a distinção e contraste entre as duas atitudes ou formas psicológicas de adaptação. As pessoas possuem os dois mecanismos, porém o predomínio de um ou outro é o que vai determinar o seu tipo.

    Na avaliação tipológica em relação à atitude dos atletas, – que se entende pela direção que o indivíduo foca sua atenção, podendo ser o mundo externo de fatos, coisas e pessoas (extroversão) ou interno de representações, idéias, sentimentos (introversão) – quinze participantes da pesquisa apresentaram a extroversão como atitude principal, em que focam o mundo de objetos e pessoas, sendo orientados pelo mundo externo. Possuem fácil adaptação, aceitam oportunidades, tem comunicação melhor com a fala, impulso para ação e prática, e preferência por trabalho em equipe. Sociável, compreensível. O perigo do extrovertido é desconsiderar suas necessidades internas, por viver questões externas.

    Rubio (2000) relata que na extroversão a atenção é voltada para o mundo externo, a atuação é influenciada por pessoas e coisas, a energia psíquica é direcionada para o exterior. Em equilíbrio, o indivíduo extrovertido, em alguns momentos, torna-se introvertido. A mesma autora descreve que na introversão (característica de cinco participantes) a atenção é preferencialmente direcionada para seus valores, impressões pessoais, emoções e pensamentos. A orientação é por fatores internos. O indivíduo introvertido não pode ser confundido com uma pessoa tímida, pois qualquer sujeito pode ser tímido, o que depende do grau de ansiedade de ser ou não aceito em um grupo. Indivíduos introvertidos em alguns momentos tornam-se extrovertidos.

    Todos possuem as quatro funções psíquicas desenvolvidas (pensamento, intuição, sentimento e sensação), só que uma dessas funções é mais desenvolvida do que as outras, chamada então de função dominante, principal ou superior, e é através desta função que o indivíduo expressa sua personalidade de maneira consciente e objetiva, orientando-se e adaptando-se ao mundo.

    A avaliação tipológica em relação à função psíquica principal dos atletas de Capoeira indicou que:

  1. Oito participantes mostraram o tipo psicológico “Sentimento”;

  2. Sete mostraram o tipo psicológico “Intuição”;

  3. Três, o tipo psicológico “Sensação”;

  4. Dois participantes apresentaram o tipo psicológico “Pensamento”.

    A função psíquica principal está relacionada à recepção de informações (sensação ou intuição) e tomada de decisões (sentimento ou pensamento). A função principal é o sentimento seguido da intuição. No sentimento, as pessoas têm como base os seus valores pessoais, sempre levando em conta o que sentem com relação a algo. Receptividade, adaptação, verdade, boa relação pública, afetividade, informalidade e amizade definem essa função psíquica. Rubio (2000) salienta que em situações de treino pessoas que utilizam a função principal “Sentimento”, gostam de harmonia, decidem por meio de valores pessoais, são subjetivas e analíticas quando querem chegar a uma conclusão.

    Na “Intuição” é usado o significado, as relações e as possibilidades futuras de uma informação recebida. Dificuldade de adaptação à rotina, imaginação, criatividade, inovação, teórico, instável, revolucionário e atento às possibilidades são características próprias de indivíduos com função psíquica de intuição. Em situações de treino, Rubio (2000) descreve que pessoas intuitivas tendem por utilizar caminhos alternativos para resolver problemas e situações, como o improviso, a criação e a inovação, que são bem aceitos, ou seja, não planejam antes de executar.

    Na avaliação tipológica relativa à função psíquica auxiliar dos atletas, que dá suporte à função principal, encontrou-se:

  1. Seis participantes apresentaram o tipo “Pensamento”;

  2. Cinco participantes apresentaram os tipos “Intuição” e “Sensação”;

  3. Quatro apresentaram o tipo “Sentimento”.

    Esta função dá auxílio e suporte à função principal e também se desenvolve mais do que as outras, ou seja, a função principal (1ª) e a auxiliar (2ª) sempre serão mais desenvolvidas, e a 3ª e 4ª funções serão as menos desenvolvidas. Como analogia, toda equipe esportiva precisa, para ser efetiva e obter sucesso, de boas informações e alguém para tomar decisões. O mesmo acontece com a personalidade, que sempre terá um lado auxiliando a característica principal do indivíduo.

    Na função auxiliar predomina o pensamento, em que as pessoas estão atentas à causalidade lógica dos atos e eventos, avaliam prós e contras nas situações, têm organização e padrões universais de julgamento, são pessoas questionadoras, verdadeiras, críticas, rápidas, formais e justas, preocupam-se com o trabalho realizado, não se detendo tanto às pessoas, sendo até pouco sociáveis. Segundo Rubio (2000), em situações de treino são indivíduos céticos, breves e concisos, com seus objetivos já traçados, que não dão importância às emoções e aos sentimentos.

    O quadro abaixo mostra a avaliação tipológica em relação aos quinze sujeitos/atletas com tipo psicológico “Extroversão”, que representa 75% da amostra.

Quadro 1. Avaliação tipológica em relação aos tipos psicológicos dos atletas (Extroversão)

    Indivíduos com o tipo psicológico de “Extroversão Intuição Pensamento” (20% da amostra) caracterizam-se por competência em várias áreas, possuem imaginação e recursos para solucionar problemas, bem como iniciar projetos. Percebem os sentimentos das pessoas, gostam de desafios, não se adaptam à rotina e tendem a não valorizar seus interesses pessoais. Confiam na sua inspiração e têm muitos projetos em mente, precisando que focalizem a atenção – para isso usam o pensamento, para analisar a situação. São pessoas acessíveis, alertas e rápidas.

    Pessoas com “Extroversão Sentimento Sensação” (20% da amostra) são afetivas, comunicativas, simpáticas, perseverantes, leais, cooperativas, práticas, realistas, necessitam de harmonia ao redor e são capazes de criá-la quando preciso. Possuem atenção voltada às pessoas e seu lado positivo tem sintonia com os demais, valorizando a opinião alheia. Gostam de conversar e trabalhar em grupo. Desenvolvem bom trabalho com incentivo e elogio. Ao mesmo tempo em que têm interesse na novidade, se adaptam à rotina. Baseiam-se em fatos e valores pessoais, correndo o risco de recusar fatos desagradáveis e enfrentar críticas. Rubio (2000) menciona que os indivíduos extrovertidos em situações de treino, preferem tarefas em grupos, ficam impacientes com treinos longos e lentos, normalmente agem sem pensar e suas idéias são desenvolvidas através de discussão.

    Indivíduos caracterizados com “Extroversão Sentimento Intuição”, são receptivos, responsáveis, têm boa comunicação, valorizam a opinião alheia e são voltados ao contato humano. Apresentam-se como perseverantes, atuando com mudanças onde agem.

    A “Extroversão Intuição Sentimento” tem como característica a afetuosidade, a imaginação, a rapidez e a praticidade para ajudar. Pessoas com esta característica trabalham com o improviso e possuem grande habilidade com contato interpessoal.

    Os sujeitos que manifestam “Extroversão Sensação Pensamento”, apresentam-se como adaptáveis, tolerantes e conservadores. Suas decisões são baseadas na análise lógica e suas resoluções tendem a ser imediatas.

    Como características do tipo psicológico “Extroversão Pensamento Intuição” temos liderança, cordialidade, determinação, lógica e interesse intelectual. Possuem o foco nas idéias, gostam de executar e fazer planos em longo prazo.

    Ainda, poderíamos ter pessoas caracterizadas com “Extroversão Pensamento Sensação”, que são pessoas práticas, realistas, organizadas, lógicas e críticas, que analisam projetos e tomam decisões baseadas em fatos concretos. E “Extroversão Sensação Sentimento”, que são expansivos, receptivos, amigáveis, interessados no contato humano, entusiastas e adaptáveis. Têm habilidade prática e tomam decisões por valores pessoais.

    O Quadro 2 nos mostra a avaliação tipológica em relação aos tipos psicológicos dos atletas caracterizados com “Introversão”, representando 25% da amostra. Rubio (2000) descreve que pessoas introvertidas em situações de treino preferem silêncio para se concentrar, pensam antes de agir e às vezes nem agem. São concentrados na tarefa proposta, não gostam de ser interrompidos, refletem idéias e preferem realizar tarefas individualmente.

Quadro 2. Avaliação tipológica em relação aos tipos psicológicos dos atletas (Introversão)

    Quanto aos tipos psicológicos que predominaram na introversão, suas características tipológicas são: um participante caracterizado como “Introversão Intuição Sentimento”, tendo características pessoais de independência, perseverança, originalidade, e inovação. Voltado para o trabalho, respeitando seus princípios e preocupando-se com os outros. Já o sujeito com “Introversão Sentimento Sensação” tende a ser amigável, quieto, gentil, modesto, flexível, evita desavenças e julga pelos valores individuais.

    As pessoas do tipo “Introversão Pensamento Intuição” apresentam-se como reservados, analíticos, lógicos, críticos, com interesse em idéias. Os do tipo “Introversão Sensação Sentimento” têm como características serem responsáveis, amigáveis, confiáveis e preocupados com as pessoas. São realistas, práticos, perfeccionistas, cumprem obrigações e proporcionam estabilidade.

    Por fim, os sujeitos com características de “Introversão Sentimento Intuição”, caracterizam-se como pessoas entusiastas, leais, amigáveis, flexíveis, compreensivas, adaptáveis, que usam como padrão os valores pessoais e são mais eficientes quando realizam algo em que acreditam.

    Poderíamos ter ainda indivíduos classificados por “Introversão Sensação Pensamento”, que são sérios, calados, concentrados, práticos, disciplinados, lógicos e realistas em suas ações. Dedicados, confiáveis e responsáveis; por “Introversão Pensamento Sensação” que se apresentam como calmos, discretos, observadores, organizados, adaptáveis, interessados em causa e efeito, lógicos; e por “Introversão Intuição Pensamento”, que demonstram idéias originais, têm motivação para concretizar. São organizados, críticos, independentes, determinados e perseverantes.

    Sendo assim, nenhum dos participantes da pesquisa apresentou tipos como “Extroversão Pensamento Sensação”, “Extroversão Sensação Sentimento”, “Introversão Sensação Pensamento”, “Introversão Pensamento Sensação” e “Introversão Intuição Pensamento”.

    Segundo Rubio (2000), a função inferior, oposta à função principal, é menos desenvolvida e mais primitiva, está sempre carregada de muita emoção, sendo a ponte de união entre o consciente e o inconsciente, representando um caminho de equilíbrio ao organismo psíquico. A emoção é muito presente nesta função tornando as pessoas mais emotivas. Ainda, segundo a autora, nenhuma função pode ser descartada em sua totalidade, pois todas são importantes e, em algum momento, poderão ser utilizadas.

Considerações finais

    Com base nos objetivos propostos, na análise e interpretação das informações, podemos considerar que a atitude psíquica “Extroversão” a as funções psíquicas “Sentimento”, “Intuição” (função principal) e “Pensamento” (função auxiliar) prevaleceram entre os capoeiristas.

    Nos tipos psicológicos, a “Extroversão Intuição Pensamento” e a “Extroversão Sentimento Sensação” predominaram entre os demais tipos. Possivelmente, estes tipos psicológicos tenham relação direta com as características da prática da capoeira, onde, de acordo com estas, os indivíduos se adaptam melhor e se sentem bem neste espaço de cultura, dança, luta, música, diversão, movimento e sociabilização.

    Existem distintos fatores psicológicos que podem influenciar positiva ou negativamente os resultados de um treinamento ou de uma competição e, por esse motivo, pesquisas nessa área podem contribuir significativamente para alcançar os resultados esperados.

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