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Novas possibilidades na percepção do corpo
e do envelhecimento no Brasil

Nuevas posibilidades en la percepción del cuerpo y del envejecimiento en Brasil

New possibilities in the perception of body and aging in Brazil

 

Mestranda em Indústria Criativa e Bacharel em Moda

pela Universidade Feevale

(Brasil)

Laura Schemes Prodanov

lauraprodanov@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Este artigo tem como objetivo refletir acerca do envelhecimento feminino e como esta questão se reflete na sociedade. O envelhecimento no Brasil é um fato importante e incontestável que deve ser encarado com seriedade pela academia e pelas diversas áreas do conhecimento. Em um país no qual o corpo é um “verdadeiro capital” o envelhecimento costuma ser encarado como um momento de perdas, mas observamos que esta idéia vem se modificando nos últimos anos à medida que as idéias positivas acerca do envelhecimento estão sendo difundidas pelos mais diversos meios, dentre eles, a mídia.

          Unitermos: Envelhecimento. Mulher. Corpo.

 

Abstract

          This article search to reflect about the female aging and how this issue is reflected in society. The aging in Brazil is an important and indisputable fact that must be taken seriously by academia and the various areas of knowledge. In a country in which the body is a "real capital" aging is often seen as a time of loss, but we note that this idea has been changing in recent years to the extent that the positive ideas about aging are being disseminated by the most various means, including the media

          Keywords: Aging. Woman. Body.

Recepção: 13/05/2015 - Aceitação: 06/06/2015

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 20 - Nº 205 - Junio de 2015. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A velhice é um assunto que pouco esteve ou está em voga. Quase não se fala sobre, quase não se pensa sobre ela. Esquece-se que todo e qualquer ser humano, independentemente de cultura, classe ou credo, irá envelhecer. Apresenta-se essa dificuldade principalmente no Brasil, um país com muitos jovens, pois, em países da Europa, por exemplo, que apresenta uma população muito mais envelhecida, onde as pessoas idosas representam 21% do total (enquanto as crianças são 15%), segundo dados da ONU1, a velhice é percebida e discutida amplamente. São planejados casamentos, filhos, lugares para conhecer, mas a questão da idade é tida como secundária. Beauvoir (1970, p.12), em meados do século XX, pontuou essa questão ao afirmar que “como em nós, o velho é o outro, a revelação de nossa idade vem, normalmente, dos outros. Não a aceitamos com satisfação”.

    Com isso, Beauvoir (1970) pretendia dizer que é difícil para as pessoas notarem que a idade passou a ponto de se reconhecerem como velhas, somente percebem isso quando uma segunda pessoa faz notar. Após essa afirmação, ela também fala que aceitar o envelhecimento pessoal é difícil e que, em grande parte, as pessoas não ficam satisfeitas com esse entendimento pessoal.

    A autora, ainda nos anos 1970, transitou entre dois tipos de idéias. Enquanto algumas vezes ela encarava a velhice como algo extremamente negativo, como quando falava que o adulto associa a idade avançada a fantasmas de castração, deixou claro que a velhice limita muitas coisas e transforma a vida do ser humano, voltando todos os aspectos às limitações novas que surgiram. Ela também afirmou que nunca encontrou mulher alguma, nem na literatura nem na vida, que encarasse com complacência a própria velhice, além de muitas outras citações que expressam sua visão negativa a respeito de envelhecer, tais como a que diz que, quando alguém é chamado de velho, reage, freqüentemente, de maneira irritada.

    Apesar das idéias negativas de Beauvoir, um número maior de pessoas vem tendo necessidade de aceitar o envelhecimento, pois os dados sobre envelhecimento populacional não param de crescer. Em relação ao Brasil, o Censo Demográfico Brasileiro de 2010, realizado pelo IBGE2, revelou um aumento da população com 65 anos ou mais, que era de 4,8%, em 1991, passando a 5,9%, em 2000, e chegando a 7,4% em 2010. A partir desses dados, a população idosa passa a ser vista com outros olhos, olhos de um grupo em crescimento.

    Entretanto, o aumento do número de velhos na sociedade não representou, na mesma proporção, seu reconhecimento como sujeitos históricos. Segundo Motta (2012, p.84),

    Se já é difícil encontrar uma história das mulheres, essas eternas prisioneiras da vida privada e do cotidiano, que dirá uma história das mulheres velhas! Quem estaria interessado na sua ‘desimportância’ social?! Entretanto, mal ou bem, várias histórias – diretas ou adjacentes – das mulheres e da vida privada têm se seguido. Mas inadvertidamente, sempre omitindo as velhas.

    Apesar destas dificuldades apresentadas pela autora, procuraremos mostrar como estes novos sujeitos estão sendo apresentados pela mídia.

O corpo velho na mídia

    Percebemos que a longevidade é um dos assuntos que entrou na pauta de discussões na sociedade brasileira contemporânea. Segundo Freitas (2010), esta temática encontra na mídia um solo fértil de difusão, tanto na televisão, através de programas cujos protagonistas já passaram dos 40 anos, quanto na versão de revistas impressas, que muitas vezes trazem personagens de idade mais avançada. Para a autora (2010, p. 2), “ao por em tela novos discursos sobre a velhice, a mídia mexe nas redes discursivas e de sentidos já estabilizados – donde residem a fonte de todo o seu dizer – e faz brotar novos sentidos do/para o sujeito velho, o que possibilita o nascimento de um ‘novo velho’ [...]

    Além da mídia, podemos identificar este interesse também nas artes em geral, como na fotografia. O fotógrafo suíço Karsten Thormaehlen3, por exemplo, retrata em um de seus trabalhos pessoas centenárias e o faz de uma maneira a valorizar a idade destes sujeitos.

    O fotógrafo traz o aspecto da velhice como arte, transformando o que antes era considerado feio em algo a ser admirado. É interessante notar que as pessoas fotografadas envelheceram de uma maneira natural, sem a ajuda de artifícios, tais como Botox ou cirurgias plásticas, como podemos ver a seguir.

Figuras 1 e 2. Fotos de Karsten Thormaehlen

Fonte: https://catracalivre.com.br/geral/design-urbanidade/indicacao/alemao-registra-pessoas-que-viram-todo-um-seculo-passar-diante-de-seus-olhos/ Acesso em: 17/04/2014

    Podem-se observar aspectos parecidos também no trabalho de outro fotógrafo, o holandês Erwin Olaf4.

Figuras 3 e 4. Fotos de Erwin Olaf

Fonte: http://catracalivre.com.br/geral/design-urbanidade/indicacao/projeto-maturidade-um-ensaio-para-mudar-a-visao-sobre-a-velhice/ Acesso em: 17/04/2014

    Erwin fotografou mulheres maduras em poses que imitam pin-ups dos anos 50, sem pudor ao corpo mais velho e que sofreu alterações naturais através da ação do tempo. Ao contrário de tentar esconder aspectos da velhice nas fotos, o fotógrafo explicita o corpo maduro e seus sinais.

    Esses dois fotógrafos trazem diferentes percepções da velhice, dando-lhe valor e mostrando que a atenção voltada a pessoas com mais idade está crescendo; ambos tratam isso com visão artística e valorizando aspectos relacionados à maturidade. É pertinente notar a valorização do corpo maduro nos dois trabalhos e a falta de retoques em programas, tais como Photoshop, lembrando que o físico é o que mais passa por mudanças com o avanço da idade.

    Goldenberg (2008) realizou pesquisas acerca do corpo na velhice com grupos de mulheres cariocas de classes média e alta e com mulheres alemãs na mesma situação para futura comparação acerca do envelhecimento corporal e psicológico e chegou à conclusão de que as diferenças são muitas.

    Primeiramente, Goldenberg (2008) cita que, em uma cultura em que o corpo é um capital, o processo de envelhecimento pode ser vivido como um momento de grandes perdas, frisando que, no Brasil, o processo tende a ser mais dificilmente aceito por causa do envelhecimento corporal. Quando são citadas frases de mulheres alemãs, aparece um abismo entre as duas culturas, pois ela afirma, através de suas pesquisas, que o corpo, para as alemãs não é tão importante, a aparência jovem não é valorizada, e, sim, a realização profissional, a saúde e a qualidade de vida. A autora afirma que as diferenças entre a realidade objetiva e a subjetividade das mulheres brasileiras deixam claro que neste país o envelhecimento “é um problema muito maior, o que pode explicar o enorme sacrifício que muitas fazem para parecer mais jovens, por meio do corpo, da roupa e do comportamento” (Goldenberg, 2008, p.35).

    Ou seja, essa idéia de mascarar a velhice perdura em diferentes realidades. Pode-se também usar a afirmação de Goldenberg (2008), que diz que há ainda outra diferença: a emancipação das alemãs parece ser uma conquista de toda a vida, desde jovens. A liberdade das brasileiras parece ser uma conquista tardia, após cumprirem os papéis obrigatórios de esposa e mãe. Ou seja, a brasileira tem como prioridade seu papel de mulher, que é entendido como de mãe e esposa. Suas necessidades pessoais ficam como secundárias, fazendo, assim, com que seja difícil retomar sua vida após a família não precisar mais de seu apoio.

    Observa-se que, na Europa, essa mentalidade era a vigente para as mulheres até meados do século XX, sendo ainda vivenciada pelas mulheres brasileiras na contemporaneidade. Nesse sentido, compreende-se que as mulheres européias ascenderam socialmente, buscando, tal como afirmou Goldenberg (2008), a emancipação e a ascensão profissional. Já no Brasil, essa transformação social acontece de forma mais gradativa.

    Para compreender a mentalidade das européias ainda em meados do século XX, Beauvoir (1970) assim esclarece:

    Por volta dos 50 anos, está em plena posse de suas forças, sente-se rica de experiências. É mais ou menos nessa idade que a pessoa ascende às mais altas posições, aos cargos mais importantes: quanto a ela, ei-la aposentada. Só lhe ensinaram a dedicar-se e ninguém reclama mais sua dedicação. Inútil, injustificada, contempla os longos anos sem promessa que lhe restam por viver e murmura: ‘ninguém precisa de mim’ (Beauvoir, 1970, p.80).

    A velhice, atualmente, pode ser considerada bela através de diversos pequenos aspectos. Atitudes positivas, saber rir de si mesmo, não encarar a velhice como final da vida e, principalmente, continuar ativo são atitudes que possivelmente levam as pessoas, velhas ou não, a encararem a velhice como bela. Essa é a fase da libertação de compromissos da vida adulta, fase em que todos estão libertos de pressões, podendo, assim, levar a vida da maneira como a própria pessoa entende que deve ser. Ter uma bela velhice implica ser livre, feliz e despreocupado.

    A idéia da bela velhice pode ser encontrada inclusive nas afirmações de Beauvoir (1970), quando a autora afirma que “sabemos muito bem que nossos reumatismos e artritismos são devidos à idade, todavia não conseguimos descobrir neles um novo estatuto. Continuamos como éramos, com os reumatismos a mais” (Beauvoir, 1970, p.9). Assim, ela concorda com o fato de que, apesar de o corpo sofrer alterações devido à velhice, a pessoa continua a mesma, sem mudar sua essência.

    Goldenberg (2008), autora mais positiva em relação ao envelhecimento, inicia a idéia de que ter um projeto de vida muda toda a percepção sobre o ato de envelhecer. Ela diz que o projeto pode estar inscrito em nossas vidas desde a infância. É na infância que cada indivíduo pode se fazer ser o que essencialmente permanecerá para sempre. É nela que cada um se projeta nas coisas por fazer no futuro. Ela afirma que, desde muito cedo, as pessoas são livres para escolher e construir o próprio projeto de vida.

    Pode-se entender mais claramente como as atitudes e o modo de vida da infância e da velhice se encontram, observando uma senhora e sua conta no Instagram. Conhecida por Baddiewinkle, ela mantém uma atitude jovem, despojada e divertida, o que atraiu diversos fãs. Com quase 100 milhões de seguidores, ela posta fotos com frases divertidas, linguajar extremamente jovem e moderno, e utiliza muitas gírias. Jovem de espírito, ela usa roupas coloridas e feitas, primariamente, para adolescentes. Ela aparenta estar confortável com seu corpo e sua vida, mostrando que ser velho também pode ser divertido e dando o exemplo para todos que têm acesso a suas fotos. É interessante notar que ela escolheu uma rede social, o Instagram, a qual poucas pessoas com mais idade freqüentam, diferenciando-se mais ainda, como podemos observar nas figuras a seguir.

Figuras 5 e 6. Instagram Baddiewinkle

Fonte: http://instagram.com/baddiewinkle. Acesso em: 23/04/2014

    Goldenberg (2008) frisa que percebe, em suas pesquisas, que, após as mulheres passarem a vida toda respondendo às demandas e às expectativas dos outros, aprenderam a respeitar a própria vontade e priorizar o tempo para si mesmas. Ela diz que a diferença entre dois verbos – precisar e querer – revela um possível segredo para a construção de uma “bela velhice”. Elas não precisam mais responder a demandas e deveres impostos de fora, na velhice, elas podem fazer suas escolhas mais livremente e priorizar a própria vontade. A autora também afirma que a liberdade, mesmo que tardiamente conquistada, pode levar à plenitude, à autenticidade e à felicidade.

    É válido ressaltar algumas passagens de entrevistas feitas por Goldenberg (2008) com pessoas mais velhas. Frases, tais como “pela primeira vez na minha vida eu me sinto realmente livre” (p.32), “hoje estou muito mais atenta para como eu sou de verdade, busco o meu melhor, não o meu pior” (p.33), e ainda “agora cuido muito mais de mim” (p.33), confirmam como a chegada da idade avançada é encarada positivamente por diversas mulheres.

    Avaliando de forma mais incisiva suas pesquisas, a autora revela o fato de que vem encontrando um discurso recorrente entre as mulheres de mais de 60 anos: elas dizem que se sentem cuidadas, apoiadas e amadas pelas amigas. Dizem que as amigas são a verdadeira riqueza que acumularam durante toda a vida. Ou seja, a família deixa de ser a principal fonte de afeto, já que os filhos cresceram e saíram de casa, fazendo assim com que a atenção seja voltada especialmente às amizades, iniciando uma nova forma de encarar a vida, mais leve, sem pressões e cobranças, somente a reciprocidade que as amizades permitem. Por fim, ela afirma que o bom envelhecimento, para seus pesquisados, estaria ligado à manutenção da alegria, do bom humor e da leveza, deixando uma reflexão para quem lê seus livros e artigos e está passando pelo mesmo processo de envelhecimento.

    Reis (2006) também realizou pesquisas acerca do processo de envelhecimento e como as pessoas encaram esse fato. Ela frisa que:

    Hoje em dia, mulheres e homens permanecem saudáveis durante mais tempo, ganham uma cada vez mais surpreendente qualidade de vida, dependendo, é claro, do nível do seu poder econômico-financeiro, e se apresentam com força e energia antes insuspeitas nos idosos das outras gerações (Reis, 2006, p.9).

    Ela afirma que, na “nova velhice”, os mais velhos estão vigorosos, atraentes e participam eventualmente do mercado de trabalho, do mercado afetivo, do mercado sexual. Reis (2006), assim como Goldenberg (2008), também percebe, através de suas pesquisas, a valorização da liberdade adquirida com a idade. Ela diz que:

    Como me disse uma mulher de 61 anos, na época, hoje beirando os 70 – bem situada, bem plantada numa nova vida que escolheu para si, depois que desfez um longo casamento que não funcionava mais: ‘hoje sou dona do meu tempo e do meu nariz. Um tesouro e um prazer que não canso de usufruir’ (Reis, 2006, p. 1).

    Essa autora (2006) percebe também que, há quase uma década atrás, não recolheu qualquer depoimento que apontasse para essa tendência – envelhecer em paz –, talvez até porque a pressão ainda não tivesse atingido seu ápice, ou seja, níveis que começam a ser considerados insuportáveis, como já aconteceu nos países industrializados. Porém cita que a idéia de envelhecer em paz, que apenas está chegando ao Brasil, tem outro significado: o de resistir a uma pressão que cria a falsa necessidade de se submeter a cirurgias plásticas seguidas.

    Goldenberg (2008) defende a visão da “coroa poderosa”, que não se preocupa com rugas, celulites, quilos a mais. Diz que essas mulheres estão se divertindo com tudo o que conquistaram com a maturidade: liberdade, segurança, charme, sucesso, reconhecimento, respeito, independência.

    A atriz Betty Faria pode ser um exemplo de “coroa poderosa”. Apesar dos seus mais de 70 anos, freqüenta a praia do Rio de Janeiro vestindo biquíni e está confortável consigo mesma, dando pouca importância para julgamentos alheios ou se seu corpo não é mais o mesmo da época em que era jovem. A partir do momento em que a sua imagem na praia apareceu na mídia, diversas pessoas fizeram comentários pejorativos a respeito de uma mulher mais velha mostrando seu corpo publicamente, aos quais Betty respondeu:

    Então querem que eu vá à praia de burca, que eu me esconda, que me envergonhe de ter envelhecido? E a minha felicidade? Depois de tantas restrições alimentares, remédios para tomar, exercícios a fazer, vícios a evitar, todos próprios da idade, ainda preciso andar de burca? E o prazer, a alegria, meu humor? (FARIA, apud GOES, 2013, p.1)

    Pode-se notar, em sua fala, que ela se importa, sim, com julgamentos alheios, afinal, ela resolveu se expressar publicamente perante todos os julgamentos que sofreu de terceiros, mas está mais apta a lutar a favor de seus direitos do que o restante de mulheres com mais idade, que acaba optando por vestir maiôs ou saídas de banho, roupas que cobrem seus corpos não mais jovens.

    Outros exemplos próximos de coroas poderosas podem ser notados no trabalho da dupla de fotógrafos Ari Versluis e Ellie Uyttenbroek, através da série fotográfica intitulada Exactitudes (mistura de exact com attitude, em inglês, que significam exato e atitude, em tradução livre), que fotografou como as antigas Garotas de Ipanema vivem atualmente. Seu trabalho retrata identidades específicas de certos grupos e mostra como as pessoas se parecem em seu modo de vestir. Pode-se notar na figura a seguir que as brasileiras retratadas nas fotografias são mulheres ativas, possivelmente atléticas, que fazem o uso de peças de roupas justas, curtas e de biquínis, peças normalmente ligadas a mulheres mais jovens, e em suas expressões transparecem felicidade e despreocupação.

Figura 7. Série fotográfica Exactitudes

Fonte: http://www.exactitudes.com. Acesso em: 15/04/2014

    A respeito da importância do corpo e da aparência na sociedade atual, Svendsen (2010) afirma que

    Na era pós-moderna, a configuração da identidade pessoal é, em um sentido decisivo, um projeto corporal. Pode-se observar que o corpo tende a se tornar cada vez mais seminal para uma compreensão da identidade pessoal. O ego é constituído em grande parte por meio da apresentação do corpo (SVENDSEN, 2010, p. 84)

    Para o autor, o ideal muda constantemente, em geral tornando-se mais extremo, de modo que alguém que acaso consiga um corpo ideal logo ficará aquém do próximo. Ou seja, na sociedade atual, o corpo é um capital de muito valor e dificilmente se estará satisfeito com ele, pois os padrões mudam muito rapidamente, fazendo com que as pessoas não consigam acompanhar o ritmo e fiquem sempre para trás. Em outras palavras, as “coroas poderosas” representam uma grande quebra de padrão de comportamento, aceitando que seus corpos envelheceram e abraçando-os com orgulho e satisfação.

    Para Goldenberg (2008), uma das maiores defensoras, no Brasil, de que a velhice pode e deve ser bela, não existe um projeto de vida igual ao outro, não existe um modelo de “bela velhice” a ser imitado por todos. A beleza de cada velhice está, exatamente, em sua singularidade, na possibilidade de ser criada, plenamente, por cada um de nós.

Notas

  1. Disponível em: http://noticias.uol.com.br/ultnot/efe/2007/04/11/ult1766u21157.jhtm Acesso em: 24/04/14

  2. Disponível em: http://7a12.ibge.gov.br/voce-sabia/calendario-7a12/event/44-dia-nacional-do-idoso Acesso em: 08/03/14

  3. Disponível em: http://catracalivre.com.br/geral/design-urbanidade/indicacao/alemao-registra-pessoas-que-viram-todo-um-seculo-passar-diante-de-seus-olhos/ Acesso em: 07/04/2014

  4. Disponível em: http://catracalivre.com.br/geral/design-urbanidade/indicacao/projeto-maturidade-um-ensaio-para-mudar-a-visao-sobre-a-velhice/ Acesso em: 07/04/2014

Referências bibliográficas

  • Beauvoir, S. (1970). A velhice. São Paulo: Difusão Européia do Livro.

  • Freitas, L. K. M. (2010). A (Re)Invenção da velhice: o discurso da mídia sobre o “novo idoso”. In: Revista Litteris – Antropologia, novembro.

  • Goes, T. (2013). Betty Faria na praia. Disponível em: http://f5.folha.uol.com.br/colunistas/tonygoes/2013/07/1307920-polemica-sobre-biquini-de-betty-faria-revela-o-quanto-ainda-somos-machistas.shtml Acesso em: 05/05/2014

  • Goldenberg, M. (2013). A bela velhice. 2ª ed. Rio de Janeiro: Record.

  • Goldenberg, M. (2008). Coroas: corpo, envelhecimento, casamento e infidelidade. 2ª ed. Rio de Janeiro: Record.

  • Motta, A. B. (2012). Elas começam a aparecer... In: C. Pinsky e J.M. Pedro, Nova História das Mulheres no Brasil. São Paulo: Contexto.

  • Reis, L. M. A. (2007). Envelhecer em paz. In: T. C. de G. M. Negreiros (org.). A Nova Velhice - Uma visão multidisciplinar. Rio de Janeiro: Revinter.

  • Svendsen, L. (2010). Moda: uma filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.

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