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Estado nutricional e imagem corporal de 

bailarinos de uma escola de dança de São Paulo

Estado nutricional e imagen corporal de bailarines de una escuela de baile de Sao Paulo

Nutritional status and body image of dancers from a dance school in São Paulo

 

*Alunas do curso de Nutrição da Universidade Presbiteriana Mackenzie

**Profa. Dra. dos cursos de Nutrição da Universidade Presbiteriana

Mackenzie e do Centro Universitário São Camilo.

(Brasil)

Alessandra Rocha Fernandes*

Beatriz de Almeida Guimarães Nogueira*

Gabriela Sanches Périco Navarro*

Karla Tragante Gaia*

Marcia Nacif**

biaalmeida_nogueira@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Objetivo: O propósito deste estudo foi avaliar o estado nutricional e a satisfação com a imagem corporal de bailarinos de uma escola particular de dança do município de São Paulo. Metodologia: Trata-se de um estudo transversal, realizado com bailarinos, de ambos os gêneros, de uma escola particular de dança no município de São Paulo. A avaliação da satisfação com a imagem corporal dos bailarinos foi feita por meio da aplicação da Escala de Silhuetas proposta por Kakeshita (2008). Resultados: Verificou-se que 86,6% das mulheres e 80,0% dos homens apresentaram insatisfação com seu corpo de acordo com a escala de silhuetas. Observou-se que 80,0% das bailarinas desejavam emagrecer, 6,6% desejavam engordar e apenas 13,3% estavam satisfeitas com seu corpo. Conclusão: Pôde-se observar grande insatisfação com a imagem corporal nos bailarinos estudados. Assim, destaca-se a importância de orientações por parte de uma equipe multiprofissional, para que estes bailarinos melhorem sua qualidade de vida e evitem o desenvolvimento de transtornos alimentares.

          Unitermos: Imagem corporal. Bailarinos. Estado nutricional.

 

Abstract

          The purpose of this article was to evaluate the nutritional status and satisfaction of body image of dancers in a particular dance school in the state of São Paulo. The sample consisted of 30 dancers of both sexes from 14 to 25 years, who underwent a questionnaire of body image, weight loss methods, and possible presence of risk for eating disorders. A questionnaire and Kakeshita silhouette of scale for assessing satisfaction with body image was applied. The results indicated that 86.6 % of individuals found to be eutrophic and 13.3 % below or weight below. Regarding the silhouette scale of Kakeshita, 86.6 % of female dancers and 80 % males showed dissatisfaction with their own bodies and 80 % of both sexes wanted to lose weight. The most widely used method for weight loss was prolonged fasting, and the use of diuretics and laxatives, induced vomiting and thermogenic. It was concluded the importance of an interdisciplinary monitoring, containing dietitians, therapists, psychologists, coach, for this population improve their performance.

          Keywords: Body image. Dancers. Nutritional status.

 

Recepção: 08/12/2014 - Aceitação: 22/02/2015

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 20, Nº 203, Abril de 2015. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O ballet clássico é um tipo de atividade que além da beleza, requer grande desempenho físico de seus praticantes. Segundo especialistas desta modalidade, as características essenciais dos bailarinos envolvem um biotipo com pouca gordura corporal (magro), flexível, musculatura delineada, pernas longas, pés curvados, barriga desenhada, cintura fina, pescoço alongado, ombros colocados levemente para trás e coluna alongada, ou seja, um corpo capaz de passar para a platéia uma sensação de energia, velocidade, leveza, elegância e agilidade (Almeida; Pereira, 2013).

    Estudos recentes citam a influência exercida pelos treinadores, patrocinadores e familiares, por meio de seus comentários relativos ao peso e à forma dos bailarinos, como um poderoso elemento de instalação de comportamentos alimentares anormais. Sabe-se, também, que a adoção de dietas restritivas em idade precoce, sobretudo, se essa prática se dá sem a supervisão de um profissional, pode resultar em um déficit calórico e desequilíbrio hidroeletrolítico, que têm como conseqüência a desnutrição e o comprometimento do desempenho físico. Além disso, também pode desencadear um Transtorno Compulsivo Alimentar (TCA), causando danos importantes à saúde e ao desempenho atlético (Reis et al., 2013).

    A pressão para alcançar este perfil e a obsessão pelo perfeccionismo em relação à imagem corporal inibe uma percepção realista de si mesmo, podendo levar a prática extenuante de exercícios físicos, episódios de compulsão alimentar, dietas restritivas, uso de laxantes e diuréticos, jejum, vômito auto induzido, entre outros (Rocha et al., 2013).

    Nesse contexto, o objetivo deste trabalho foi avaliar o estado nutricional e a satisfação com a imagem corporal de bailarinos de uma escola particular de dança no município de São Paulo.

Metodologia

    Trata-se de um estudo de delineamento transversal, realizado com bailarinos, de ambos os gêneros, de uma escola particular de dança no município de São Paulo – SP. O estudo seguiu as normas da Resolução 196 do Conselho Nacional de Saúde e todos os indivíduos assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

    Para a avaliação do estado nutricional, calculou-se o IMC (índice de massa corporal), a partir do peso e estatura referidos pelos participantes. O IMC dos adolescentes foi classificado de acordo com as Curvas de Crescimento da Organização Mundial da Saúde (MS, 2007), e o dos adultos, segundo as referências propostas pela Organização Mundial de Saúde (WHO, 1998).

    A avaliação da satisfação com a imagem corporal dos bailarinos foi feita por meio da aplicação da Escala de Silhuetas proposta por Kakeshita (2008). A Escala de Silhuetas é formada por 15 figuras que variam de um corpo muito magro para muito gordo. A escala é apresentada ao participante que deve escolher primeiramente a figura que melhor representa seu tamanho atual. Logo após, a escala é reapresentada e o participante deve escolher a figura que melhor representa aquela que ele gostaria de ser. A satisfação corporal é calculada pela discrepância entre a escala ideal e a escala real.

    Dados como métodos de perda de peso, imagem corporal e presença de risco para transtornos alimentares também foram questionados aos participantes da pesquisa.

Resultados e discussão

    Foram avaliados 30 bailarinos, sendo 15 (50%) do gênero masculino e 15 (50%) do feminino, com idades entre 14 e 25 anos.

    Por meio da avaliação do IMC, foi possível verificar que 26 dos 30 bailarinos eram eutróficos. No entanto, 3 foram categorizados como desnutridos e 1 como acima do peso. Dos bailarinos que foram categorizados como adequados em relação ao índice de massa corporal, 36,6% relataram estar insatisfeitos com seu peso atual, sentindo-se acima ou muito acima do peso, desejando diminuí-lo.

Tabela 1. Satisfação com o peso corporal dos bailarinos. São Paulo, 2014

    Verificou-se que 86,6% das mulheres e 80,0% dos homens apresentaram insatisfação com seu corpo de acordo com a escala de silhuetas. Observou-se que 80,0% das bailarinas desejavam emagrecer, 6,6% desejavam engordar e 13,3% estavam satisfeitas com seu corpo, como podemos observar na Tabela 1.

    Em tempos de culto à magreza é comum que os indivíduos, mesmo eutróficos, se sintam insatisfeitos com seus corpos que não estão dentro desse padrão de beleza tão severo. Segundo Ribeiro e Veiga (2010), essa alta freqüência de insatisfação com a imagem entre os bailarinos é preocupante, uma vez que os mesmos já possuem corpos bastante magros e o desejo de perder ainda mais peso pode estimular a prática de comportamentos de risco para Transtornos Alimentares. Esse estudo, juntamente com a presente pesquisa, mostra-nos que é comum entre bailarinas a preocupação com o corpo, levando a uma distorção da imagem corporal e, conseqüentemente, uma ingestão alimentar inferior ao que é preconizado.

    No presente estudo, assim como no de Santos et al (2005), se verificou que a maioria dos bailarinos realiza apenas 4 refeições (36,6%) ao dia. As refeições mais citadas pelos participantes do estudo foram o café da manhã (83,3%), almoço (83,3%) e jantar (96,6%). Souza (2012), em seu trabalho com bailarinos de 10 a 16 anos em Florianópolis, encontrou dados semelhantes.

    Grande parte dos bailarinos (16,7%) relatou que omitem o café da manhã, o que segundo Souza (2012) é um hábito muito comum, especialmente entre aqueles que têm objetivo de perda de peso.

    Das estratégias utilizadas para perda de peso, 40% relataram ficar em jejum prolongado, 26,6% disseram utilizar termogênicos e 20% dos bailarinos relataram fazer uso de laxantes ou diuréticos. Destes, 6,6% induzem o vômito.

    No estudo de Anshel (2004), em que foram avaliadas 57 bailarinas, com idade entre 15 e 17 anos, foi muito comum a utilização de métodos para perda de peso. O autor verificou que 25,9% dos desportistas ficavam constantemente em jejum, 11,1% faziam uso de laxantes ou diuréticos e 14,8% induziam o próprio vômito.

    Observou-se que 93,3% dos bailarinos avaliados têm pavor de se “tornarem gordos”, e somente 6,6% dos avaliados disseram não ter medo de aumentar de peso. Conforme Morelli e Santos (2011), as bailarinas estão quase sempre insatisfeitas com o seu corpo e buscam constantemente o baixo peso.

    No presente estudo, mais da metade dos bailarinos responderam que se sentem fracassados ao quebrar a dieta, comer escondido, ter vontades momentâneas de comer sem parar, e comer quantidades maiores em momentos de estresse. Desta forma, é importante um bom diagnóstico nutricional que permita que estes problemas sejam detectados e tratados precocemente, reduzindo o risco para o desenvolvimento de distúrbios alimentares.

Conclusão

    Pôde-se observar grande insatisfação com a imagem corporal, em ambos os gêneros, nos bailarinos estudados. Assim, destaca-se a importância de orientações por parte de uma equipe multiprofissional, para que estes bailarinos melhorem sua qualidade de vida e evitem o desenvolvimento de transtornos alimentares e psicológicos.

Referências

  • Almeida, D. D.; Pereira, M.T.F. (2013). As Corporalidades do Trabalho Bailarino: Entre a Exigência Extrema e o Dançar com a Alma. Revista de Administração Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 17, p.720-738, 07 out.

  • Anshell, M. H. (2004). Sources of disordered Eating Patterns between Ballet Dancers and Non- Dancers. Journal of Sport Behavior. v. 27, p. 115-133.

  • Kakeshita, I. S. (2008). Adaptação e validação de Escalas de Silhuetas para crianças e adultos brasileiros. 2008. 76 f. Tese (Doutorado) - Curso de Psicobiologia, Faculdade de Filosofia, Ciência e Letras de Ribeirão Preto da Usp, Ribeirão Preto.

  • Ministério da Saúde (2007). Curvas de Crescimento. Disponível em: www.who.int/growthref/en/. Acesso em: 21 mar. 2014.

  • Morelli, N. R.; Santos, G.M.G.C. (2011). Avaliação do estudo nutricional e do comportamento alimentar de bailarinas de uma escola particular do centro de Londrina-PR. Revista terra e cultura. N. 53, Jul/Dez.

  • Reis, N. M. et al. (2013). Imagem corporal, estado nutricional e sintomas de transtornos alimentares em bailarinos. Rev. Bras. Ativ. Fis. e Saúde. Pelotas, RS. v. 18, n.6, p. 763-781, Nov.

  • Ribeiro, L. G., Veiga, G. V. (2010). Imagem corporal e comportamentos de risco para transtornos alimentares em bailarinos profissionais. Rev. Bras. Med. Esporte, v. 16, n.2, Mar/Abr.

  • Rocha, M. et al. (2013). Vigorexia: um distúrbio da imagem corporal. Revista digital de Buenos Aires, n.181.

  • Santos, J. S et al. (2005). Perfil antropométrico e consumo alimentar de adolescentes de Teixeira de Freitas - Bahia. Revista de Nutrição, Campinas, v. 18, n. 5, p.327-345, out.

  • Souza, L. D. (2012). Sintomas de transtorno alimentar, insatisfação com a imagem corporal e consumo alimentar em meninas adolescentes de Florianópolis, SC. 2012. 122 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Nutrição, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.

  • WHO (1998). The World Health Report 1998: Life in the 21st Century - A Vision for All. Genebra, p.241.

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