efdeportes.com

β-alanina: aumento dos estoques de carnosina e maior 

rendimento em exercícios de alta intensidade e curta duração

β-alanina: aumento de las reservas de carnosina y mayor rendimiento en ejercicios de alta intensidad y corta duración

β-alanine: increased carnosine stores larger proportion of high intensity and short duration exercise

 

Acadêmico do curso de Nutrição

da Faculdade Estácio de Alagoas/FAL

(Brasil)

Luiz Eduardo Marinho Falcão

eduardomarinhonutri@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O principal motivo para a suplementação de β-alanina seria o aumento no rendimento esportivo em especial os de alta intensidade e curta duração que durem entre 60 e 240 segundos. Isso se deve porque após suplementar com β-alanina estudos mostram um aumento nos estoques de carnosina intramusculares entre 30-50%, onde o mesmo agiria como um tamponante de pH e regulador de cálcio do reticulo sarcoplasmático, o que desempenha papel primordial na fisiologia do músculo esquelético. Estudos já mostram que o metabólito que mais causa efeitos negativos sobre a função muscular no exercício de alta intensidade e curta duração são os íons H+ da dissociação do ácido lático que inibiria enzimas da via glicolítica, levando a uma fadiga mais rápida em atletas. Com uma redução de acidose intramuscular pela β-alanina conseqüentemente poderia haver um aumento de rendimento esportivo.

          Unitermos: Beta-alanina. Carnosina. pH. Substâncias para melhoria do desempenho.

 

Abstract

          The main reason for supplementation of β-alanine would be the increase in sports performance especially high intensity and short duration lasting between 60 and 240 seconds. This is because after supplement with β-alanine studies show an increase in intramuscular carnosine stocks 30-50%, where it would act as a buffering pH regulator and calcium from the sarcoplasmic reticulum, which plays an important role in the physiology of skeletal muscle. Studies have show that more metabolite that causes negative effects on muscle function in the performance of high intensity and short duration are H+ ions from the dissociation of lactic acid that inhibits enzymes of the glycolytic pathway, leading to a more rapid fatigue in athletes. With a reduction of intramuscular acidosis by β-alanine consequently there could be an increase of sport performance.

          Keywords: Beta-alanine. Carnosine. pH. Substances to improve performance.

 

Recepção: 06/02/2015 - Aceitação: 12/04/2015

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 20, Nº 203, Abril de 2015. http://www.efdeportes.com/

1 / 1

Introdução

    Os fatores que podem interferir negativamente sobre os exercícios de alta intensidade é a alteração de pH, fluxo sanguíneo e temperatura que resultam em acúmulos de produto do metabolismo celular, principalmente os metabólitos: ADP, Pi, lactato e H+ (Dawson et al, 1978; Hollidge-Horvat et al, 2000; Ascensão et al, 2003; Broch-Lips et al, 2007; Sale et al, 2010). Entretanto, durante anos foi erroneamente interpretado por preparadores físicos e pesquisadores da área esportiva que o ácido lático (AL) fosse o fator limitante para o desempenho humano (Cairns, 2006), contudo o lactato [La-] não parece ser a principal causa para a fadiga, e sim a produção de íons H+ da dissociação do ácido lático que levaria a efeitos negativos sobre processos de contração muscular ou transferência energética com capacidade de inibir as enzimas da via glicolítica (Danaher et al, 2014; Pinto et al, 2014) e proteínas miofibrilares (Allen, 2004).

Suplementação de β-alanina sobre os estoques de carnosina intramuscular e diferentes tipos de fibras contráteis

    Sua utilização por atletas de alto nível se mostra crescente (Derave, 2013; Harris & Stellingwerff, 2013), visto que o aumento na capacidade de exercícios de alta intensidade parece se sustentar com maiores estoques intramusculares de carnosina (Boldyrev et al, 2013). Contudo, o mecanismo que envolve seu carregamento ainda não é bem elucidado, mas a associação de insulina em um estudo estimulou uma maior absorção em relação quando consumida entre as refeições (+64% e + 41%, respectivamente) (Stegen et al, 2013). No que tange a associação da β-alanina de forma crônica sobre o dipeptídeo carnosina (β-alanil-L-histidina), achados recentes corroboram que pode haver aumento nos conteúdos intramusculares entre 30-50% (Stegen et al, 2014). Assim como seu armazenamento sobre diferentes tipos de fibras musculares, com prevalência nas fibras tipo 2 (contração rápida) em relação aos estoques de carnosina nas fibras tipo 1 (contração lenta) entre 30-100% a mais (Boldyrev et al, 2013). Um estudo estimou uma concentração de 28% a mais nas fibras tipo 2 em relação às demais, o que auxilia o tamponamento de íons H+ sobre o metabolismo anaeróbico (Harris et al, 1998).

Os benefícios do maior estoque de carnosina sobre o rendimento físico e esportivo

    As funções atribuídas a carnosina são a de sistema tampão intramuscular de pH (Geda et al, 2014) e reguladora de Ca2+ (Baldyrev et al, 2013; McCarty & DiNicolantonio, 2014). Porém, o que justifica o tamponamento conferido a carnosina é que os valores de pKa são próximos a 7,0 que tem maior capacidade de protões sequestrante (Sale et al, 2010). O pKa do sistema tampão é de 6,1 que se torna menor que o pKa da carnosina (6,83), sustentando que são valores próximos aos valores do pH fisiológico possam ativar mais cedo em um exercício de alta intensidade (Culbertson et al, 2010) reduzindo a ação da acidose. Sobre a regulação de Ca2+, um maior estoque de carnosina poderia ser benéfico em diferentes tipos de fibras com maior sensibilidade ao mineral, retardando a duração em uma atividade fatigante (Dutka et al, 2012).

A associação de β-alanina sobre o exercício como recurso ergogênico nutricional

    Ducker et al. (2013) notaram que após 28 dias suplementação de β-alanina (80mg/kg) mostrou um aumento no desempenho de corredores indoor sobre o placebo em uma corrida de 800m. Da mesma maneira remadores de elite treinados quando suplementaram por 7 semanas com β-alanina (5g/dia) reduziram o tempo final quando comparado com o grupo placebo em 4,3 segundos (Baguet et al, 2010), e pugilistas amadores após intervenção de 4 semanas com β-alanina (6g/dia) (Donovan et al, 2012). Um grupo de pesquisadores analisaram o desempenho de um sprint de ciclismo após intervenção de β-alanina. O estudo duplo-cego contou com 2 grupos de ciclistas (n=9) que receberam β-alanina (2-4g/dia) ou um placebo pelo período de 8 semanas, onde realizaram um teste contra relógio que mostrou um aumento na potência de pico e potência média (11,4% e 5,0%, respectivamente) do grupo β-alanina sobre o que recebeu placebo (Van Thienier et al, 2009), mostrando uma melhora no sprint final de um exercício de resistência. A suplementação de β-alanina (2,4g/dia) ainda mostrou melhora sobre um teste com menor especificidade, quando Rodríguez-Rodríguez et al. (2014) selecionaram jogadores de futebol (n=10) para o teste de Wingate por 30 dias. Porém simulando uma situação de jogo de futebol, a suplementação de β-alanina (3,2g/dia) sobre o teste YoYo Intermittent Recovery, pareceu aumentar a capacidade de tamponamento muscular, o que atenuou a redução de pH melhorando o desempenho de jogadores de futebol após período de 12 semanas (Saunders et al, 2012). Entretanto se mostra eficiente apenas em exercícios de alta intensidade e que durem entre 60 a 240 segundos, onde predomina a via glicolítica. Onde uma meta-análise de Hobson et al. (2012) com estudos experimentais com β-alanina (n=15) mostraram ter efeitos ergogênicos em exercícios entre 1-4 minutos (2,85%) em indivíduos suplementados com β-alanina sobre os grupos placebo, que em uma prova ou teste que dure em média 240s como os 1.500m poderiam ter o tempo reduzido de 6 segundos após intervenção. Todavia, exercícios menores que 1 minuto ou que ultrapassem os 4 minutos não foram vistos melhoras significativas (Smith-Ryan et al, 2012).

Efeitos colaterais com suplementação de β-alanina

    Em relação a seus efeitos colaterais, Harris et al. (2006) realizaram o protocolo de três dosagens (40mg/kg, 20mg/kg e 10mg/kg) nas quais somente a maior dose de β-alanina (40mg/kg/dia) resultou em sintomas intensos de parestesia (formigamento) que se iniciou por volta dos 20 minutos após a ingestão do suplemento e pode durar até 1 hora. As doses intermediárias (20mg/kg/dia) provocaram efeitos reduzidos e toleráveis, porém a única que produziu efeito discreto foi a dose mínima (10mg/kg/dia).

Considerações finais

    Como visto, a suplementação de β-alanina pode diretamente contribuir inibindo a fadiga em exercícios de alta intensidade e curta duração, uma vez que achados recentes mostram que de forma crônica houve aumento nos estoques de carnosina intramuscular participando no tamponamento inibindo a acidose induzida pelo exercício, assim como uma maior sensibilidade aos íons Ca2+ para os processos contráteis que pode decidir uma prova ou evento esportivo.

Referências

  • Allen, D. G. (2004). Skeletal muscle function: role of ionic changes in fatigue, damage and disease. Clin. Exp. Pharmacol. Physiol, 31(8), 485-493.

  • Ascensão, A., Magalhães, J., Oliveira, J., Duarte, J., & Soares, J. (2003). Fisiologia da fadiga muscular. Delimitação conceptual, modelos de estudo e mecanismos de fadiga de origem central e periférica. Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, 3(1),108-123.

  • Baguet, A., Bourgois, J., Vanhee, L., Achten, E., & Derave, W. (2010). Important role of muscle carnosine in rowing performance. Journal of Applied Physiology, 109(4), 1096-1101.

  • Boldyrev, A. A., Aldini, G., & Derave, W. (2013). Physiology and pathophysiology of carnosine. Physiol Rev. 93(4), 1803-1845.

  • Broch-Lips, M., Overgaard, K., Praetorius, H. A., & Nielsen, O. B. (2007). Effects of extracellular HCO3(-) on fatigue, pHi, and K+ efflux in rat skeletal muscles. J. Appl. Physiol. 103(2), 494-503.

  • Cairns, S. P. (2006). Lactic acid and exercise performance: culprit or friend? Sports Med. 36(4), 279-291.

  • Culbertson, J. Y., Kreider, R. B., Greenwood, M., & Cooke, M. (2010). Effects of Beta-Alanine on Muscle Carnosine and Exercise Performance: A Review of the Current Literature. Nutrients. 2(1), 75-98.

  • Danaher, J., Gerber, T., Wellard, R. M., & Stahis, C. G. (2014). The effect of β-alanine and NaHCO3 co-ingestion on buffering capacity and exercise performance with high-intensity exercise in healthy males. Eur. J. Appl. Physiol. 114(8), 1715-1724.

  • Dawson, M. J., Gadian, D. G., & Wilkie, D. R. (1978). Muscular fatigue investigated by phosphorus nuclear magnetic resonance. Nature274(5674), 861-866.

  • Derave, W., Tipton, K., & van Loon, L. (2013). Use of β-alanine as an ergogenic aid. In Nestle Nutr Inst Workshop Ser, 75, 99-108.

  • Donovan, T., Ballam, T., Morton, J. P., & Close, G. L. (2012). β-alanine improves punch force and frequency in amateur boxers during a simulated contest. International journal of sport nutrition and exercise metabolism,22(5), 331-337.

  • Ducker, K. J., Dawson, B., & Wallman, K. E. (2013). Effect of Beta-Alanine supplementation on 800-m running performance. International journal of sport nutrition and exercise metabolism23(6), 554-561.

  • Dutka, T. L., Lamboley, C. R., McKenna, M. J., Murphy, R. M., & Lamb, G. D. (2012). Effects of carnosine on contractile apparatus Ca²⁺ sensitivity and sarcoplasmic reticulum Ca²⁺ release in human skeletal muscle fibers. J. Appl. Physiol. 112(5), 728-736.

  • Geda, F., Declercq, A., Decostere, A., Lauwaerts, A., Wuyts, B., Derave, W., & Janssens, G. P. J. (2014). β-Alanine does not act through branched-chain amino acid catabolism in carp, a species with low muscular carnosine storage. Fish physiology and biochemistry, 1-7.

  • Harris, R. C., Dunnett, M., & Greenhaff, P. L. (1998). Carnosine and taurine contents in individual fibres of human vastus lateralis muscle. Journal of Sports Sciences16(7), 639-643.

  • Harris, R. C., Tallon, M. J., Dunnett, M., Boobis, L., Coakley, J., Kim, H. J., et al. (2006). The absorption of orally supplied β-alanine and its effect on muscle carnosine synthesis in human vastus lateralis. Amino acids, 30(3), 279-289.

  • Harris, R. C., & Stellingwerff, T. (2013). Effect of β-alanine supplementation on high-intensity exercise performance. Nestle Nutr. Inst. Workshop Ser. 76, 61-71.

  • Hobson, R. M., Saunders, B., Ball, G., Harris, R. C., & Sale, C. (2012). Effects of β-alanine supplementation on exercise performance: a meta-analysis. Amino acids43(1), 25-37.

  • Hollidge-Horvat, M. G., Parolin, M. L., Wong, D., Jones, N. L., & Heigenhauser, G. J. F. (2000). Effect of induced metabolic alkalosis on human skeletal muscle metabolism during exercise. American Journal of Physiology-Endocrinology And Metabolism278(2), 316-329.

  • McCarty, M. F., & DiNicolantonio, J. J. (2014). β-Alanine and orotate as supplements for cardiac protection. Open Heart1(1), e000119.

  • Pinto, C. L., de Salles Painelli, V., Lancha Junior, A. H., & Artioli, G. G. (2014). Lactato: de causa da fadiga a suplemento ergogênico?. Revista Brasileira de Ciência e Movimento22(2), 173-181.

  • Rodríguez, R. F., Delgado, O. A., Rivera, L. P., Tapia, A. V., & Cristi-Montero, C. (2014). [Effects of ß-alanine supplementation on wingate tests in university female footballers]. Nutricion hospitalaria31(1), 430-435.

  • Sale, C., Saunders, B., & Harris, R. C. (2010). Effect of beta-alanine supplementation on muscle carnosine concentrations and exercise performance. Amino acids39(2), 321-333.

  • Saunders, B., Sunderland, C., Harris, R. C., & Sale, C. (2012). beta-alanine supplementation improves YoYo intermittent recovery test performance. J Int Soc Sports Nutr9(1), 39.

  • Smith-Ryan, A. E., Fukuda, D. H., Stout, J. R., & Kendall, K. L. (2012). High-velocity intermittent running: effects of beta-alanine supplementation. The Journal of Strength & Conditioning Research26(10), 2798-2805.

  • Stegen, S., Bex, T., Vervaet, C., Vanhee, L., Achten, E., & Derave, W. (2014). β-Alanine dose for maintaining moderately elevated muscle carnosine levels. Med. Sci. Sports Exerc. 46(7), 1426-32.

  • Stegen, S., Blancquaert, L., Everaert, I., Bex, T., Taes, Y., Calders, P., et al. (2013). Meal and beta-alanine coingestion enhances muscle carnosine loading. Med Sci Sports Exerc45(8), 1478-1485.

  • Van Thienen, R. V., Van Proeyen, K., Vanden Eynde, B., Puype, J., Lefere, T., & Hespel, P. (2009). b-Alanine improves sprint performance in endurance cycling. Med Sci Sports Exerc41(4), 898-903.

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 20 · N° 203 | Buenos Aires, Abril de 2015
Lecturas: Educación Física y Deportes - ISSN 1514-3465 - © 1997-2015 Derechos reservados