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Material didáctico alternativo ou material didáctico de produção local? Uma aproximação à terminologia correcta do que realmente é

¿Material didáctico alternativo o material didáctico de producción local?
Una aproximación a la terminología correcta de lo que realmente es

 

Docente na Universidade Pedagógica de Moçambique-Delegação de Nampula

Licenciado em Educação Física e Desporto pela Escuela Internacional

de Educación Física y Deportes de La Habana

Mestrando em Treino Desportivo para Crianças e Jovens

na Universidade Pedagógica de Moçambique

Lic. Domingos Carlos Mirione

dmirione@up.ac.mz

(Moçambique)

 

 

 

 

Resumo

          A Educação Física como disciplina curricular no ensino básico do Sistema Nacional de Educação em Moçambique, enfrenta grandes dificuldades para a sua implementação, resultantes da falta de profissionais qualificados, falta de material didáctico, entre outros factores. Como forma de ultrapassar a escassez de material didáctico convencional, tem se incentivado aos professores do ensino básico o uso de material didáctico alternativo. Só que muitos professores de Educação Física entendem o material didáctico alternativo como sinónimo de material didáctico produzido localmente. Este facto foi revelado através de uma pesquisa-acção com os estudantes de graduação do curso de Educação Física e Desporto da Universidade Pedagógica-Delegação de Nampula, que são professores de educação física do ensino básico. E como consequência, o material didáctico produzido localmente por ser alternativo, perde a sua importância no curriculo escolar afectando significativamente o curriculo local. O objetivo do presente trabalho é argumentar sobre a importância do material didáctico de produção local e a proposta de uma mudança terminológica para aproximação ao que realmente é. Para o efeito, recorreu-se a uma revisão de literatura que versa sobre o material didáctico alternativo e de imitação para analisar o enquadramento terminológico do material didáctico produzido localmente. O resultado mostra que nem todo material didáctico produzido localmente é alternativo ou de imitação. Por exemplo, a bolinha de meia usada para diversos jogos como a mata-mata, garafa cheia, jogo 35, não é alternativo a qualquer material didáctico convencional nem imitação de qualquer material didáctico convencional, mas sim é um material didáctico próprio para os jogos locais, o que nos leva a concluir que há necessidade de mudança terminológica ao material didáctico produzido localmente para corresponder ao que realmente é e elevar o seu valor dentro do curriculo escolar.

          Unitermos: Material didáctico convencional. Material didáctico alternativo. Material didáctico de imitação. Material didáctico de produção local.

 

Recepção: 18/12/2014 - Aceitação: 10/02/2015

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 202, Marzo de 2015. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O material didáctico tem sido objeto de consideração por parte de muitos profissionais da pedagogia e da didáctica pelo papel que ocupa no processo de ensino e aprendizagem. O mesmo, recebe várias designações por parte dos autores que abordam o processo de ensino e aprendizagem, entre essas designações encontramos: equipamentos didácticos, meios de ensino, recursos didácticos, tecnologias educacionais entre outras (ZAYAS, 1999, TROJAN & RODRÍGUEZ, 2008, FREITAS, 2009, ).

    No entanto, independentemente de como se chame, o material didáctico pode ser entendido como todo objecto que facilita a transmissão ou assimilação sistematizada do conhecimento.

    O DICCIONÁRIO ELECTRÓNICO HOUAISS DA LÍNGUA PORTUGUESA 3.0 define o termo material como relativo a matéria, aquilo a partir do qual determinada atividade (estudo, pesquisa etc.) pode ser desenvolvida e conduzida a suas finalidades específicas.

    FREITAS (2009), define o material didáctico como “todo e qualquer recurso utilizado em um procedimento de ensino, visando à estimulação do aluno e a sua aproximação do conteúdo” .

    Dada a sua importância, o material didáctico, é considerado na Didáctica como um dos componentes ou categorias do processo de ensino aprendizagem assim como são os objectivos, os conteúdos e os métodos (ZAYAS, 1999).

    Embora haja materiais didácticos que são comuns a várias disciplinas curriculares como o caso do giz e o quadro preto ou o marcador e o quadro branco, existe materiais didácticos específicos para certas disciplinas curriculares, como é o caso do microscópio para a Biologia e Química, o mapa geográfico para a Geografía e a História e a bola para a Educação Física.

    Na Educação Física, o material didáctico assume uma importância fundamental por estar ligado ao jogo, que no processo de ensino e aprendizagem assume duas categorias diferentes: como conteúdo e como método. Nesta disciplina, o jogo não só é usado como meio para se desenvolver um determinado conteúdo, mas também é um conteúdo em sí a ser aprendido e dominado pelos alunos “para aplica-los na sua práctica de vida” (ARISTOS, 1985 citado por GUTIERREZ, s/d, LIBÂNEO, 1995, citado por SCAGLIA, 2005, ).

    Sendo o material didáctico um componente do processo de ensino e aprendizagem, a falta do mesmo pode afectar grandemente o alcance dos objectivos e consequentemente comprometer todo o processo de ensino e aprendizagem (TROJAN & RODRÍGUEZ, 2008).

    Muitos materiais são desenhados específicamente para facilitar a aprendizagem de determinados conteúdos de uma dada disciplina, no entanto por falta de recursos financeiros, muitos países em desenvolvimento não conseguem alocar material didáctico específico para cada disciplina em todas escolas.

    Na falta ou deficiência do material convencional ou específico para o ensino de determinados conteúdos curriculares de algumas disciplinas como a Educação Física, os professores são incentivados a procurar alternativas para que o processo de ensino aprendizagem não seja comprometido, produzindo material de imitação localmente, ou adaptando outro material para o seu uso num outro contexto.

    Isso fez surgir novos conceitos ligados a material didáctico, como material didáctico alternativo e material didáctico de imitação.

    ANDRES & DIEGO (2010), entendem material didáctico alternativo no âmbito da Educação Física, como aquele que não se encontra sujeito aos círculos tradicionais de fabricação para o campo da actividade física, desportiva e recreativa ou no caso de estar, recebem um uso distinto ao que tinha quando se desenhou, e citam como por exemplo, o material encontrado no entorno natural como pedras, folhas etc, material encontrado no entorno urbano como bancos, escadas, tec, material convencional mas aplicado de forma alternatica, como bola, barreira, etc.

    A predominância do material didáctico alternativo no processo de ensino e aprendizagem no nosso país na disciplina de educação física trouxe nova identidade do material didáctico.

    A escassez de material didáctico convencional deu espaço a predominância do material didáctico alternativo, passando este a ser entendido como sinónimo de material didáctico não convencional, ou seja material didáctico alternativo passou a incluir: material didáctico de imitação, material didáctico produzido localmente, material didáctico tradicional, etc.

    Que implicações tem trazido esse entendimento por parte dos profissionais de Educação Física?

    O objectivo do presente trabalho é argumentar sobre a importância do material didáctico de produção local e a proposta de uma mudança terminológica para aproximação ao que realmente é.

Metodologia

    Para o levantamento do problema, numa pesquisa acção, foi submetido a uma amostra de 12 professores de Educação Física escolhidos aleatóriamente que frequentavam o curso de Educação Física e Desporto na Universidade Pedagógica-Delegação de Nampula, um questionário com 4 perguntas sendo 3 abertas e uma fecheda. Foi feita uma análise de conteúdo das respostas dadas às perguntas abertas formuladas no questionário para a sua harmonização. Uma revisão da literatura foi feita para sustentar a discussão dos resultados complementado com o método histórico-lógico.

Resultados

    A primeira pergunta formulada no questionário foi: o que entendes por material didáctico?

    As respostas de 10 professores correspondente a 83,3% convergiram em que é todo material não convencional ou produzido localmente e 2 correspondente a 16,7% disseram que é todo material não oficial.

    A segunda pergunta foi: dá 3 exemplos de material didáctico alternativo?

    Entre os materiais referenciados por todos professores está a bola de trapo ou de meia

    A terceira pergunta foi: que conteúdos de educação física achas que não precisam de material didáctico convencional?

    4 professores disseram que nenhum conteúdo, e o resto convergiram em atletismo, ginástica e natação como não precisando de material convencional

    A quarta e última pergunta era fechada e foi: que quantidade de conteúdos de educação física achas que o material didáctico convencional é imprescindível?

    As respostas foram diversificadas, 6 professores correspondente a 50% responderam que em todos conteúdos é imprescindível o material didáctico convencional, 2 responderam que em mais da metade dos conteúdos, 2 responderam que é em menos da metade e 2 disseram que em nenhum.

Discussão

    Os resultados do questionário mostram a ideia que se tem sobre o material didáctico alternativo entre os profissionais de Educação Física, como sendo todo material que não é convencional.

    Mas será que todo material não convencional deve ser considerado alternativo?

    O diccionário electrónico Houaiss da lingua portuguesa 3.0 define convencional como sendo aquilo que resulta de uma convenção, que foi consolidado pelo uso ou pela práctica, que obedece a padrões aceitos, que procede conforme os ditames sociais, etc.

    Esse conceito daquilo que é convencional, mostra que o convencional não se limita apenas aquilo que sai de uma convenção mas também inclui aquilo que foi consolidado pelo uso ou pela práctica, o que significa que o uso de um material que é transmitido de geração em geração pode ser considerado convencional.

    Neste entendimento entrariam muitos dos materiais didácticos usados nas aulas de educação física mas que são considerados alternativos por parte de muitos profissionais da área.

    O mesmo diccionário Houaiss, define alternativo como sendo uma saída ou aquilo que se propõe em substituição ao sistema cultural, técnico, ou científico estabelecido. Outro entendimento é que alternativo é aquilo que representa uma opção fora das instituições, costumes, valores e ideias convencionais.

    A luz do entendimento destas duas terminologias, muitos dos materiais didácticos considerados convencionais podem ser em algum momento alternativos e muitos dos materiais didácticos considerados alternativos pelos profissionais podem ser considerados convencionais.

    Um dos materiais didácticos alternativos citados pelos profissionais da amostra é a bola de meia ou de trapo.

    A bola de meia é um material didáctico usado em muitos jogos recreativos e tradicionais como mata-mata, garrafa cheia, jogo 35, victória entre outros. Esses jogos tradicionalmente sempre usaram a bola de meia, ou seja a bola de meia foi feita exactamente para este tipo de jogos porque envolve bater o adversário com a bola e pelas características da bola, que é macia e fofa, o impacto da mesma com a parte do corpo não cria lesões.

    A bola de meia usada em jogos recreativos tradicionais como a mata-mata, garafa cheia e outros não pode ser considerada material didáctico alternativo, porque ela foi feita exactamente para estes jogos e não é alternativa a qualquer outro material.

    Por outro lado, se usamos a bola de tenis, por exemplo no jogo de mata-mata, esta se torna material didáctico alternativo, porque é alternativo a bola de meia, ou seja usamos a bola de tenis porque não temos a bola de meia.

    A bola de tenis é material didáctico convencional no jogo de tenis mas é material didáctico alternativo no jogo de mata-mata e a bola de meia se fosse usada no jogo de tenis seria alternativa, como ilustra o gráfico a seguir.

A bolinha de meia retirada de http://amandamarquesz.com/

    O mesmo se pode dizer com respeito ao outro material didáctico usado no jogo da garafa cheia. Nesse jogo originalmente usa-se para alem da bola de meia, a garrafa. Embora a garrafa seja um material de fabrico industrial e não tenha sido fabricada para esse jogo, ela é usada tradicionalmente nesse jogo o que torna o uso da garrafa nesse jogo uma convensão, daí que a garrafa no jogo da garrafa cheia não é material didáctico alternativo mas sim convencional. Mas quando usamos a garrafa para fazer balizas num jogo de futebol, a garrafa torna-se um material didáctico alternativo, isto é, no jogo de futebol.

    No entanto, é diferente do que se pode dar com a bola de futebol. Pela carência de material didáctico convencional, nas aulas de Educação Física pode-se usar a bola de futebol para ensinar passe e recepção no jogo de basquetebol. Nesse caso a bola de futebol torna-se material didáctico alternativo específicamente nesse jogo.

    Que implicações tem considerar todo material didáctico de produção local como material didáctico alternativo?

    Quando uma coisa é considerada alternativa é porque está a substituir aquilo que é considerado ideal ou aquilo que poderia funcionar melhor.

    Considerar todo material de produção local como material didáctico alternativo tira valor a este material localmente produzido que em muitos casos é original e é que funciona melhor nos conteúdos específicos relacionados ao curriculo local.

    Considerar todo material didáctico produzido localmente como alternativo, pode subredimensionar a falta de material didáctico nas escolas e desencorajar o trabalho dos profissinais porque eles pode pensar que não se pode fazer nada porque a instiuição não alocou o material convencional perdende de vista que muitos dos conteúdos da disciplina não precisam do tal material que o professor pensa ser convencional.

    Por isso, urge a necessidade de uma mudança terminológica para todo o material didáctico que não se encaixa na terminologia “material didáctico alternativo” para aproximar ao que realmente é.

    Duas proposta podem ser avançadas para o efeito que são: material didáctico convencional local e material didáctico localmente produzido.

Considerações finais

    O entendimento dos profissionais de Educação Física sobre o material didáctico alternativo não é consonante ao léxico da expressão.

    O argumento aqui presentado leva-nos a concluir que há necessidade de mudança terminológica ao material didáctico produzido localmente para corresponder ao que realmente é e elevar o seu valor dentro do curriculo escolar especialmente o currículo local.

    E uma proposta que se pode avançar é que todo material localmente produzido e que não se trata de imitação de algum outro material nem substitui um outro material oficialmente instituido para a leccionação de uma determinada matéria seja chamado de material didáctico localmente produzido ou material didáctico convencional local.

Rerefências bibliográficas.

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