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Efeitos da hidroterapia na artroplastia total de quadril. Relato de caso

Efectos de la hidroterapia en la artroplastia total de cadera. Relato de caso

 

*Acadêmica do curso de Fisioterapia na Universidade Regional Integrada

do Alto Uruguai e das Missões – Campus de Erechim/RS

**Fisioterapeuta, Mestre em Neurociências e Docente da Universidade

Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – campus Erechim/RS

Gisele Maiara Zuravski*

Giulia Piaia Quissini*

Reni Volmir dos Santos**

revols@uol.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          A artroplastia total de quadril é um procedimento cirúrgico que substitui a cabeça femoral e o acetábulo doente por uma articulação artificial. A diminuição da dor e a recuperação funcional são finalidades do tratamento no pós-operatório, e esses podem ser sanados com o emprego da Hidroterapia. O objetivo do trabalho foi de avaliar os benefícios da hidroterapia na flexibilidade, força muscular, amplitude de movimento e dor de uma paciente com pós-operatório de artroplastia total de quadril esquerdo. O estudo teve a participação de uma voluntária, 74 anos, sexo feminino, procedente de Erechim/RS, com diagnóstico de artroplastia total de quadril esquerdo. Foram avaliados, antes e após o período interventivo, a flexibilidade para membros inferiores e coluna vertebral, força muscular e amplitude de movimento do quadril, assim como a dor através da Escala Visual Analógica. O tratamento consistiu de duas sessões semanais, com duração de 50 minutos, totalizando 10 sessões. Foram executados aquecimentos, alongamentos e fortalecimentos de musculaturas de membros inferiores e relaxamento. Após o término do tratamento foram observadas melhoras na flexibilidade, na força e amplitude de movimento do quadril e diminuição do quadro doloroso. Conclui-se que a hidroterapia se mostrou benéfica na reabilitação dessa paciente, conforme os ganhos obtidos nos quesitos avaliados.

          Unitermos: Artroplastia total de quadril. Hidroterapia.

 

Recepção: 20/10/2014 - Aceitação: 20/01/2015

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 202, Marzo de 2015. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A articulação do quadril é uma enartrose, mais precisamente uma diartrose esferoidal. O acetábulo hemisférico recebe e articula a cabeça femoral e ambas as superfícies articulares são recobertas por uma cartilagem hialina, que tem como objetivo proteger as superfícies ósseas e promover o deslizamento harmônico entre as mesmas. As principais funções da articulação do quadril são o suporte do peso corporal e oferecer movimento para a locomoção. Comparado com outras grandes articulações o quadril apresenta menor mobilidade e maior estabilidade, deste modo a patologia tenomusculocapsular é mais freqüente nesta articulação (SIZÍNIO et al., 2009).

    As funções do quadril são indispensáveis para a independência funcional de um indivíduo, para que haja um funcionamento adequado desta articulação se faz necessário que ambas as partes (cabeça femoral e acetábulo) estejam revestidas por uma camada de cartilagem integra, impedindo que ocorra o contato ósseo, e favorecendo o deslizamento entre a cabeça femoral e o acetábulo de maneira que não ocorra atrito entre as partes, facilitando a movimentação e funcionalidade da articulação. São inúmeras as doenças que acometem a articulação do quadril, dentre elas pode-se citar as doenças degenerativas crônicas, que atingem 20% das pessoas com idade acima de 55 anos, levando à graves conseqüências, tais como a deterioração da cartilagem focal, dor, rigidez articular, disfunção muscular e perda progressiva dos movimentos do quadril, progredindo para a limitação e incapacidade (PATRIZZI et al., 2004; RICCI, COIMBRA, 2006).

    A artroplastia total de quadril (ATQ) é um procedimento cirúrgico que substitui a cabeça femoral e acetábulo doente por uma articulação artificial constituída por materiais orgânicos, chamados de implantes protéticos, que tem como objetivo a diminuição da dor, melhorar a qualidade de vida dos pacientes assim com a recuperação funcional, sendo uma das cirurgias ortopédicas mais bem sucedidas (MATOS; ARAUJO, 2009; GUEDES et al., 2011). A perda da função e limitações é a principal deficiência causada pelas alterações na função articular. Portanto, a artroplastia de quadril tem se mostrado um meio de intervenção cirúrgica satisfatório na recuperação funcional em indivíduos que apresentam comprometimento grave da superfície articular. A diminuição da dor e o fato de promover uma melhor qualidade de vida a esses pacientes parecem ser os principais objetivos da ATQ (LEMOS; NASCIMENTO; GUEDES, 2009).

    O exercício em meio aquático promove a recuperação funcional, proporcionando ao paciente um ambiente que lhe permita uma maior habilidade e independência para realizar diferentes tarefas (KISNER; COLBY, 2005). Os benefícios encontrados na literatura quando a hidroterapia são vários, como por exemplo, a diminuição do quadro doloroso e da sobrecarga de peso nas articulações, aumento da autoestima, alívio das tensões, melhora da circulação sanguínea, relaxamento, aumento da amplitude de movimento, aumento da força muscular e flexibilidade, diminuição da ansiedade e aprendizado de novas habilidades (SACHELLI; ACCACIO, 2007; CECHETTI; FABRO; MARTINI, 2012; BIASOLI; MACHADO, 2006).

    Assim, o objetivo deste estudo foi avaliar os benefícios de exercícios da hidroterapia na flexibilidade, força muscular e amplitude de movimento e dor de uma paciente com pós-operatório de artroplastia total de quadril esquerdo.

Materiais e métodos

    O presente artigo é de caráter quantitativo do tipo estudo de caso, realizado nas dependências da clínica escola de fisioterapia da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões, na cidade de Erechim (RS), durante o estágio curricular do curso de Fisioterapia.

    Paciente com diagnóstico de pós-operatório de artroplastia total de quadril esquerdo, 74 anos, sexo feminino, aposentada, procedente de Erechim (RS) selecionada aleatoriamente dentre os pacientes que constavam na lista de espera da clínica escola. As intervenções foram realizadas no período de março a abril de 2014, totalizando 10 sessões, realizadas 2 vezes por semana, contando com uma avaliação no início e reavaliação no final da intervenção. A duração de cada sessão foi de 50 minutos.

    Durante o primeiro contato com a paciente a mesma relatou que há 3 anos sentia dores fortes do quadril esquerdo, rigidez articular principalmente ao se levantar pela parte da manhã que foram piorando com o passar do tempo, realizados exames de imagem se confirmou a presença de uma doença degenerativa na articulação, foi indicada a realização da artroplastia total do quadril esquerdo. O procedimento foi realizado há 8 meses, permaneceu imobilizada durante 1 mês, e após se locomovia com auxilio de uma andador. Segundo a mesma nunca realizou fisioterapia previamente.

    A paciente foi submetida a avaliação fisioterapêutica onde foram realizados avaliação da flexibilidade para membros inferiores e coluna vertebral, força muscular do quadril, amplitude de movimento da articulação do quadril, e avaliação subjetiva da dor. O termo de consentimento livre e esclarecido foi assinado pela paciente, após ser previamente esclarecido sobre os procedimentos aos quais seria submetida. Vale ressaltar que somente os valores da dor foram avaliados em todas as sessões, os demais testes foram verificados na avaliação e reavaliação.

    Para avaliar a flexibilidade foi utilizado o teste de sentar e alcançar pelo banco de Wells, que avalia os músculos posteriores da coxa e coluna vertebral.

    Na avaliação de força muscular foi utilizado os valores segundo Kendall (2005) e foram avaliados os músculos flexores, extensores, abdutores, adutores, rotadores internos e rotadores externos do quadril.

    A amplitude de movimento foi avaliada através de um goniômetro universal, os movimentos mensurados são foram os seguintes: flexão, extensão, abdução, adução, rotação interna e rotação externa do quadril.

    A avaliação sobre a intensidade da dor foi através da Escala Visual Analógica que classifica a dor entre o Grau 0 (sem dor) até Grau 10 (Dor intensa). Foi mostrado à paciente a escala impressa em papel com expressões faciais e números para melhor entendimento da mesma.

    O protocolo de tratamento englobou atividades de aquecimento no início com caminhadas para frente, para o lado e de costas, seguido de alongamentos e fortalecimentos da musculatura de membro inferior. Os alongamentos foram realizados de maneira passiva, utilizando como recursos os flutuadores, e ativo-assistidos. O fortalecimento foi realizado utilizando caneleiras de diferentes pesos, conforme evolução da paciente, e exercícios de Bad Ragaz para membro inferior. Os alongamentos e fortalecimentos englobaram os mesmos grupos musculares do membro inferior (flexores, extensores, abdutores, adutores, rotadores internos e externos do quadril). e relaxamento no final através da hidromassagem proporcionada pelo turbilhão.

    Esta pesquisa está de acordo com as diretrizes da Resolução CNS 466/12 do Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde e foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – Campus de Erechim, sob o número 170/PPH/11.

Resultados

    A tabela 1 demonstra os valores da flexibilidade dos músculos posteriores da coxa e coluna vertebral, realizados no período de pré e pós-intervenção. Pode-se observar que houve uma melhora da flexibilidade em 10 mm.

Tabela 1. Flexibilidade muscular, no pré e pós-intervenção

    A tabela 2 demonstra os valores do grau de força da musculatura do quadril e pode-se observar que no membro contralateral à artroplastia de quadril a força se manteve igual em alguns valores da avaliação pré-intervenção, e aumentaram em outros grupos. No entanto, no membro esquerdo que passou pela artroplastia total de quadril a força aumentou em todos os grupos musculares, porém nenhum alcançou o grau de força máximo.

Tabela 2. Análise do grau de força muscular, no pré e pós-intervenção.

    A tabela 3 demonstra os valores da amplitude de movimento do quadril direito e esquerdo. Pode-se observar que na pré-intervenção ambos os quadris apresentam diminuição de amplitude comparando com valores normais. Na reavaliação pós-intervenção os valores aumentaram em todas as amplitudes.

Tabela 3. Amplitude de movimento do quadril, no pré e pós-intervenção

    A Tabela 4 demonstra os valores subjetivos da dor. A Escala Visual Analógica foi aplicada em todas as sessões de hidroterapia, no início da sessão e ao final da mesma. Para melhor entendimento foi feito uma média entre os dados que foram dispostos por semana. Analisando os resultados pode-se concluir que houve uma diminuição do quadro doloroso em todas as semanas. Também ao comparar os últimos valores com os iniciais o grau de dor veio decaindo com o passar dos atendimentos, partindo do grau 5 (dor moderada) da primeira sessão e chegando ao grau 1 (dor leve) no último atendimento.

Tabela 4. Análise da intensidade da dor, no pré e pós-intervenção

Discussão

    A hidroterapia aplicada a uma paciente com pós-operatório de artroplastia total de quadril, apresentou melhoras comparando os valores pré e pós-intervenção como pode ser observados as tabelas 1, 2, 3 e 4. A flexibilidade e força muscular obtiveram resultados maiores comparados com os valores iniciais. Candeloro; Caromano (2007) submeteram um grupo de idosas a um programa de hidroterapia, para avaliar os efeitos na flexibilidade e força muscular. O grupo apresentava 30 participantes, que foram divididas em dois grupos, com 15 participantes em cada grupo, pode-se observar que tanto a flexibilidade e a força aumentaram comparando o grupo experimental com o grupo controle. Sendo que a flexibilidade chegou a alcançar ganhos semelhantes aos em solo. Carenzi; Cunha (2003) relatam que além dos princípios terapêuticos da água aquecida, a resistência fornecida por ela é um incremento importante no ganho de força muscular.

    E relação a amplitude de movimento, conforme Pereira; Amorim; Sandoval (2010) o efeito da flutuabilidade do meio aquático promove um aumento da amplitude de movimento devido a assistência que o mesmo promove. Em um estudo realizado por Santoni et al. (2007), observou-se que após um programa de hidroterapia na artrite reumatóide, houve ganho na amplitude de movimento dos membros inferiores, principalmente no movimento de flexão do quadril, em um estudo de caso, onde o paciente foi submetido a um programa de hidroterapia, realizado 2 vezes por semana, totalizando 10 sessões. Já Weigenfeld-Lahav et al. (2007) verificaram aumento, estatisticamente significativo, da amplitude nos movimentos de extensão e abdução do quadril, num grupo de 17 participantes, tanto no membro operado quanto no não-operado, após 12 sessões de fisioterapia aquática. Porém, não foi observado no movimento de flexão do quadril.

    A diminuição do quadro doloroso é citada em um estudo realizado por Silva et al. (2007), onde compararam a hidroterapia versus exercícios convencionas em pacientes com osteoartrite de joelho e observaram que a dor diminuiu significativamente ao longo do tempo em ambos os grupos, mas com maior expressão no grupo que foi submetido a exercícios de hidroterapia. Também Hinman; Heywood; Day (2007) verificaram melhora da dor, relatado por 72% dos 35 participantes que apresentavam artrose de quadril ou joelho, após 6 semanas de intervenção de fisioterapia aquática, em contraste com 17% de melhora da dor contestado pelo grupo controle. Redução da dor também foi constato por Jakovjevic; Vauhnik (2011), ao compararem os efeitos da fisioterapia aquática com um programa de exercícios em solo em portadores de prótese total de quadril, com 12 indivíduos em cada grupo, num período de 4 semanas, com duas sessões semanais. Os autores verificaram diminuição da dor nos dois grupos, sendo mais significativo no grupo submetido ao meio aquático.

    Liebs et al. (2012) realizaram um estudo para verificar se o inicio precoce da intervenção aquática seria mais eficaz na reabilitação do paciente com prótese total de quadril. Um grupo inicial de 129 indivíduos realizou o tratamento a partir do sexto dia de pós-operatório e o outro grupo de 141 indivíduos realizou o tratamento a partir do décimo quarto dia. Todos os grupos foram submetidos a mesma conduta terapêutica por um período até a quinta semana de pós-operatório, com 3 sessões semanais. Os autores verificaram melhores resultados pelo questionário Western Ontario and McMaster Universities Osteoarthritis Index (WOMAC), que verifica escores de função, rigidez e dor, no grupo com o início tardio. Visto que o referido questionário foi aplicado aos 3, 6, 12 e 24 meses após a cirurgia de colocação da prótese. Apesar de não estar claro o porquê de tal ocorrência, pode-se supor que numa fase mais tardia em que há melhor cicatrização o tratamento aquático pode ser mais benéfico.

Considerações finais

    A hidroterapia tem se mostrou uma grande aliada na reabilitação desse paciente com artroplastia total de quadril, pois promoveu um aumento da flexibilidade, força muscular, amplitude de movimento e diminuição do quadro doloroso, o que leva o paciente a ter uma maior funcionalidade nas suas atividades.

    Devido a escassez de literatura relacionada ao assunto, percebe-se a necessidade de novos estudos quanto a abordagem hidroterapêutica na artroplastia total de quadril.

Referências

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