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Atuação da fisioterapia respiratória em recém-nascidos com 

a síndrome do desconforto respiratório. Revisão da literatura

Intervención de la terapia física respiratoria en los recién nacidos con síndrome de dificultad respiratoria. Revisión de la literatura

Action of respiratory therapy in neonates with respiratory distress syndrome. Literature review

 

*Fisioterapeuta, UNIFOR, Fortaleza-CE. Especialista em Fisioterapeuta

na UTI neonatal e pediátrica, faculdade Redentor, Rio de Janeiro-RJ

**Fisioterapeuta, UEPA. Especialista em traumato-ortopedia desportiva (inspirar-Curitiba-Pr)

Mestrando em Biociências, UFOPA, Santarém, Pará

***Fisioterapeuta, UEPA, Santarém, Pará

(Brasil)

Patrícia Cunha de Alcântara*

patydealcantara@hotmail.com

João Oliveira e Silva Filho**

joaokc@hotmail.com

Tamyres Carla Porteglio de Lima***

tamyresporteglio@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          A Síndrome do Desconforto Respiratório (SDR) ou Doença da Membrana Hialina (DMH) apresenta alta prevalência, dentre as patologias que acometem o sistema respiratório do recém-nascido pré-termo (RNPT). Sendo assim, o objetivo do presente estudo foi promover uma revisão da literatura sobre a ação da fisioterapia respiratória em recém-nascidos com SDR. Percebeu-se que, conforme a literatura consultada, que a fisioterapia respiratória nesses casos é importante por promover o decréscimo da morbi-mortalidade neonatal com segurança e eficácia, melhorando o quadro clínico do paciente, reduzindo o tempo de internação e os gastos hospitalares. As técnicas de fisioterapia respiratória convencionais são recomendadas no tratamento da SDR, assim como o método de Reequilíbrio toracoabdominal, rotineiramente utilizado na prática clínica, embora necessite de mais evidências científicas que lhe tornem mais consistentes.

          Unitermos: Fisioterapia neonatal. Recém-nascido. Síndrome do desconforto respiratório.

 

Abstract

          The Respiratory Distress Syndrome (RDS) or hyaline membrane disease (HMD) has a high prevalence among the ailments of the respiratory system of the newborn premature (PN). Thus, the objective of this study was to provide a literature review about the action of respiratory therapy in neonates with RDS. It was noticed that, according to the literature, respiratory therapy in these cases it is important to promote the decrease in neonatal mortality safely and effectively, improving the patient's condition, reducing length of hospital stay and hospital costs. The techniques of conventional respiratory therapy are recommended in the treatment of RDS, as well as thoracoabdominal Rebalancing method, frequently used in clinical practice, although it requires more scientific evidence for their support.

          Keywords: Neonatal physiotherapy. Newborn. Respiratory distress syndrome.

 

Recepção: 20/07/2014 - Aceitação: 12/11/2014

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 202, Marzo de 2015. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Dentre as patologias que acometem o sistema respiratório do recém-nascido pré-termo (RNPT), a Síndrome do Desconforto Respiratório (SDR) ou Doença da Membrana Hialina (DMH) apresenta alta prevalência (NICOLAU; FALCÃO, 2010).

    Esta freqüente realidade entre os nascidos com menos de 37 semanas de idade gestacional decorre da imaturidade pulmonar, visto que a ausência ou déficit na produção de surfactante endógeno pelas células pneumócitos tipo II do pulmão do RNPT desencadeia manifestações típicas de um desconforto respiratório que, associado à anatomia torácica do neonato, eleva o trabalho respiratório e diminui a capacidade residual funcional, promovendo acúmulo de secreções, atelectasias e shunt pulmonar (NICOLAU; FALCÃO, 2010; RIBEIRO et al., 2007; SARMENTO, 2007).

    Em vista disso, a atuação fisioterapêutica em neonatologia cada vez mais vem se mostrando abrangente e fundamental. As técnicas respiratórias utilizadas em pacientes com SDR objetivam manter as vias aéreas permeáveis, normalizando a mecânica muscular respiratória e corrigindo as distorções tóraco-abdominais. A melhora da função respiratória do recém-nascido (RN) provém da facilitação do transporte mucociliar, reduzindo-se o acúmulo de secreções e prevenindo-se áreas de atelectasia, infecções e alterações da relação ventilação-perfusão (OLIVEIRA; BURKLE; PAVAN, 2005).

    De acordo com o exposto, o objetivo do presente estudo foi promover uma revisão da literatura sobre a atuação da fisioterapia respiratória em recém-nascidos com síndrome do desconforto respiratório.

Recém-nascido (RN)

    Existem classificações para o RN de acordo com a idade gestacional (IG) ao nascer. RNPT são aqueles nascidos vivos com IG inferior a 37 semanas; recém-nascido a termo (RN a termo) nascidos vivos com 37-42 semanas; recém-nascido pós-termo (RN pós-termo) é aquele nascido com mais de 42 semanas de IG (GOBBI; CAVALHEIRO, 2009).

    O neonato poderá ainda ser classificado quanto ao peso ao nascer: muito baixo peso (MBP) são aqueles com peso igual ou inferior a 1.500g; baixo peso (BP), com peso entre 1.501 e 2.500g; peso insuficiente (PI), entre 2.501 e 3.000g; peso normal (PN), de 3.001g a 4.500g e peso excessivo (PE), maior que 4.500g (GOBBI; CAVALHEIRO, 2009).

    O RN é considerado normocárdio quando apresenta uma freqüência cardíaca (FC) entre 70 e 190 batimentos por minuto (bpm) e eupneico quando sua freqüência respiratória está entre 30 e 60 incursões respiratórias por minuto (irpm) (RIBEIRO et al., 2007; KOLPEMAN et al., 2004).

    Estas classificações ajudam a prever com razoável margem de segurança, o ritmo de crescimento do RN, as intercorrências clínicas mais prováveis no período neonatal, e, por conseguinte, seu tempo médio de permanência no berçário (GOBBI; CAVALHEIRO, 2009; RIBEIRO et al., 2007).

    O RNPT é considerado um grande problema de saúde pública, pela predisposição a complicações peri ou pós-natais, como quadros de hipóxia neonatal, baixo ou muito baixo peso ao nascer, distúrbios neurológicos e alterações respiratórias, que resulta na necessidade de suporte ventilatório. Esta imaturidade do sistema respiratório leva o neonato a um período prolongado de internação, a fim de minimizar a mortalidade (ANTUNES et al., 2006; RIBEIRO et al., 2007).

    O neonato prematuro é considerado de risco devido à imaturidade de seus sistemas e à suscetibilidade a complicações, dentre as quais podem ser citadas as patologias respiratórias, como a SDR, associada a alguns agravos como sepse, infecções, hemorragias entre outras complicações, podendo levar o RNPT a óbito (SARMENTO, 2005).

Síndrome do Desconforto Respiratório (SDR)

    A SDR foi descrita pela primeira vez por Avery e Mead, em 1959, que afirmaram ser a deficiência do surfactante pulmonar a sua principal causa. Ela afeta mais gravemente os RNPT do sexo masculino, sendo sua incidência inversamente proporcional à idade gestacional (ABREU et al., 2006).

    Dentre as patologias que acometem o sistema respiratório do RNPT, a SDR ou DMH é uma das disfunções de maior prevalência nas Unidades de Terapia Intensiva Neonatais (UTIN), sendo responsável por altas taxas de morbidade e mortalidade na faixa etária neonatal. Cerca de 50% dos óbitos que ocorrem no período neonatal são decorrentes de distúrbios respiratórios, destes 80 a 90% são casos de SDR (CONSOLO; PALHARES; CONSOLO, 2002; SEGRE, 2002).

Fisiopatologia

    O desenvolvimento do sistema respiratório é um processo complexo e contínuo de maturação e crescimento. Na 16ª semana intra-uterina o pulmão já se apresenta com 23 gerações brônquicas, chegando a sua totalidade de divisão brônquica na 25ª semana de desenvolvimento fetal. Apenas aos oito anos de idade é que a criança terá o número total de alvéolos que na vida adulta, a partir de então, passa apenas a desenvolver em diâmetro junto com a caixa torácica (POSTIAUX, 2004).

    O pulmão normal é desenvolvido por uma série de etapas a partir da 4ª semana de gestação. Entre a 24ª e 28ª semana gestacional se dá a produção do surfactante pulmonar natural ou endógeno pelas células pulmonares - pneumócitos tipo II (SEGRE, 2002).

    Na fase sacular, compreendida entre a 27ª e 35ª semana gestacional, ocorre o aumento da superfície para trocas gasosas e a maturação do sistema surfactante, diretamente dependente em parte do pH, temperatura e perfusão normal no feto (BEHRMAN; KLIENGMAN; JESON, 2002; BRITTO; BRANT; PARREIRA, 2009).

    O surfactante é uma substância derivada de fosfolipídeos, lipídeos e proteínas que têm como função o revestimento endotelial dos espaços alveolares, diminuindo a tensão superficial intra-alveolar durante a expiração, impedindo seu colabamento em função da pressão intratorácica negativa (SEGRE, 2002).

    Devido a esta propriedade, a presença do surfactante no alvéolo garante sua estabilidade e mantém a integridade pulmonar, permite as trocas gasosas, aumenta a complacência pulmonar, facilita o transporte mucociliar e diminui o esforço respiratório (ABREU et al., 2006; OLIVEIRA; BURKLE; PAVAN, 2005).

    Na ausência deste sistema se desenvolve uma alta tensão superficial na expiração e o conseqüente colapso alveolar; progressivamente, para a manutenção da respiração, ocorre um aumento do esforço respiratório (SEGRE, 2002).

    Assim, a imaturidade pulmonar é considerada a principal causa da SDR. Nesta patologia há um aumento da tensão superficial do alvéolo na interface ar-líquido alveolar devido à deficiência quantitativa ou funcional do surfactante pulmonar natural (ABREU et al., 2006; OLIVEIRA; BURKLE; PAVAN, 2005; SARMENTO, 2007). Esta diferença de pressão promove o alveolar ao final da expiração e, como efeito cascata, ocorre uma atelectasia progressiva com quadro de hipoxemia e hipoperfusão pulmonar. Tais ocorrências promovem na unidade funcional pulmonar uma lesão endotelial e como reação há um aumento da permeabilidade capilar, edema intersticial e transudação de plasma para o interior do alvéolo, formando, assim, uma membrana hialina, por acúmulo de material proteináceo intralveolar (BEHRMAN; KLIENGMAN; JENSON, 2002; MULLER et al., 2000).

    Somado às características da imaturidade pulmonar, o neonato pré-termo apresenta um sistema respiratório com costelas horizontalizadas e ausência de sinergismo muscular, desenvolvendo, assim, uma redução da expansibilidade torácica durante a inspiração, levando-o a uma respiração paradoxal, elevando seu trabalho respiratório e gerando uma redução da capacidade residual funcional (RIBEIRO et al., 2007).

    As manifestações clínicas da SDR são: dispnéia associado à taquipnéia ou em casos mais graves à bradipnéia, além de gemido expiratório, cianose, batimentos da asa do nariz, retração esternal, tiragens intercostais e subcostais, crises de apnéia e edema de extremidades, alteração no padrão respiratório, sendo mais típica a distorção torácica ou balancim, a ausculta pulmonar, há uma diminuição global do murmúrio vesicular (MULLER et al., 2000; OLIVEIRA; BURKLE; PAVAN, 2005).

Fatores de risco

    Vários são os fatores associados ao desenvolvimento da SDR, além da prematuridade.

    São fatores pré e perinatais que diminuem a produção, liberação ou função do surfactante: deslocamento prematuro da placenta; eritroblastose fetal; asfixia perinatal; diabetes materna; gemelaridade; partos traumáticos; uso de anestésicos e/ou analgésicos; cesárea eletiva e outros indicativos de cesárea sem evidência de trabalho de parto, visto que durante este há a liberação de hormônios adrenérgicos e esteróides que são responsáveis por aumentar a produção e liberação do surfactante; fatores genéticos, como raça branca, história familiar de SDR; baixo peso ao nascer; malformações torácicas que podem causar hipoplasia pulmonar (hérnia diafragmática congênita propicia o aumento de risco de deficiência de surfactante); deficiência de proteína B do surfactante; doença genética que causa proteinose alveolar congênita (CARVALHO et al., 2005; SARMENTO, 2005).

    Dentre os fatores pós-natais, podem ser citados: hipovolemia, hipotermia, alterações metabólicas (hipoglicemia), choque e hipoxemia prolongada (CARVALHO et al., 2005; SARMENTO, 2007).

    Neonatos da raça negra possuem menor risco de virem a apresentar a SDR. Caso apresentem, o quadro é de risco inferior (SARMENTO, 2007).

Diagnóstico

    O diagnóstico da SDR é realizado por achados clínicos, laboratoriais e análise radiográfica do tórax do RN. Além disso, investiga-se a história materna obstétrica e familiar, bem como as condições do nascimento, seguido da identificação dos principais fatores de risco para a síndrome (OLIVEIRA; BURKLE; PAVAN, 2005; SARMENTO, 2007).

    O diagnóstico clínico é dado por meio da observação dos sinais e sintomas: taquipnéia, gemido expiratório, batimento da asa do nariz, retração de caixa torácica esterno, diafragma, tiragens intercostais e cianose - são de início precoce, aparecendo logo após o nascimento. A ausculta pode revelar ventilação pulmonar deficiente com murmúrio vesicular diminuído e ruídos adventícios. O desconforto respiratório é progressivo nas primeiras 24 a 36 horas, atingindo o pico por volta de 48 horas e melhora gradativa após 72 horas de vida. Nos casos de má evolução, os sinais clínicos se acentuam com crises de apnéia e piora do estado hemodinâmico e metabólico. A piora na evolução da doença se dá nas primeiras 72 horas de vida em que há um considerável aumento das secreções brônquicas (SARMENTO, 2005).

    As manifestações clínicas são variáveis e dependem do grau de maturidade do RN. A avaliação do grau de desconforto respiratório é realizada através do Boletim de Silverman-Anderson (BSA), onde notas superiores a 4 traduzem dificuldade respiratória moderada a grave (MULLER et al., 2000).

    O exame radiográfico (raio-X) de tórax é fundamental para o diagnóstico diferencial entre SDR e outras entidades patológicas que provocam dificuldade respiratória no RN. O raio-X se torna característico quando o quadro já é bastante avançado (SARMENTO, 2005).

    Conforme Segre (2002), o RN com SDR apresenta na radiografia torácica um aspecto reticulogranular difuso em ambos os pulmões, com broncogramas aéreos superpostos de intensidade variada, aumento da vascularização e de líquido pulmonar. Esse quadro pode ser classificado em quatro diferentes graus de afecção conforme descrito no Quadro 1.

Quadro 1. Classificação radiológica em grau da SDR

Fonte: Muller et al. (2000).

    O diagnóstico laboratorial é confirmado por meio da gasometria arterial que apresenta acidose mista, hipóxia e hipercapnia (OLIVEIRA; BURKLE; PAVAN, 2005; SARMENTO, 2007).

Tratamento

    O tratamento da SDR se dá por meio de condutas pré-natais e pós-natais. Nas primeiras pode ser promovido o adiamento do nascimento ou aceleramento da maturidade pulmonar. No pós-natal, as condutas terapêuticas multiprofissionais devem visar fundamentalmente a conservação da oxigenação (PaO2>50mmHg), evitar quadros de hipoxemia; manter a ventilação adequada (PaCO2<50mmHg); prevenir hipercapnia; evitar a acidose mantendo pH adequado, para isso é necessário normalizar o metabolismo tecidual, favorecer a produção de surfactante e evitar o shunt D/E (SARMENTO, 2007). Deve-se proporcionar adequada hidratação, evitando a hipovolemia e edema pulmonar; reduzir a demanda metabólica através de medidas gerais de manutenção térmica, calórica e hídrica do RN (SARMENTO, 2005).

    São recorrentes tanto a terapêutica com surfactante exógeno como a oxigenoterapia, dependendo da situação clínica do paciente neonato (CARVALHO et al., 2005; ABREU et al., 2006; GOBBI; CAVALHEIRO, 2009).

A fisioterapia

    O fisioterapeuta especialista em cardiorrespiratória, neonatologia ou intensivista é capacitado para facilitar e melhorar a ventilação alveolar do prematuro, a partir da avaliação do estado geral do RN, das análises dos parâmetros ventilatórios e exames complementares (raio-X de tórax e gasometria arterial). Esse profissional deve planejar e atuar com técnicas que promovam a reexpansão das unidades alveolares previamente fechadas, a fim de minimizar o tempo de ventilação mecânica e de internação na UTIN, além da morbidade associada a estes fatores, averiguando sempre o risco-benefício do tempo de manipulação (SARMENTO, 2005).

    Ao se tratar de RN com SDR, para estes a fisioterapia é de extrema importância, pois promove a diminuição dos sinais do desconforto respiratório e suas complicações, através da drenagem das secreções dos pulmões e a melhora da ventilação, prevenindo e revertendo atelectasias, hipóxia, hipercapnia, com manutenção da permeabilidade do sistema cardiorrespiratório.

Fisioterapia Respiratória Convencional

    A fisioterapia respiratória em RN objetiva aperfeiçoar a função respiratória através da manutenção das vias aéreas permeáveis, favorecendo as trocas gasosas e uma adequada relação ventilação-perfusão. Além disso, adequa o suporte respiratório ao RN; previne e trata as complicações pulmonares; mantém a permeabilidade das vias aéreas; favorece o desmame da ventilação mecânica e da oxigenoterapia; equilibra a função muscular respiratória (NICOLAU; LAHÓZ, 2007; OLIVEIRA; BURKLE; PAVAN, 2005).

    No RNPT com SDR, a atuação da fisioterapia respiratória na UTIN está vinculada à prevenção e tratamento de possíveis complicações. Sempre que houver a administração do surfactante exógeno no RNPT, o atendimento só deve ser realizado após as primeiras 24 horas de vida (SARMENTO, 2007).

    Manobras de higiene brônquica que não apresentam contraindicação podem ser aplicadas em RNPT com SDR. Elas são o conjunto de técnicas fisioterapêuticas não invasivas que enfocam o desprendimento e a mobilização de secreções das regiões de menor calibre para os brônquios principais. Podem ser citadas: a vibrocompressão torácica (VT), o aumento do fluxo expiratório (AFE), a compressão/descompressão torácica (C/DT) (LIEBANO et al., 2009), a tapotagem (NICOLAU; LAHÓZ, 2007) e a aspiração (OLIVEIRA; BURKLE; PAVAN, 2005).

    A VT manual é uma técnica que consiste na geração de movimentos rítmicos, por contrações isométricas alternadas e rápidas dos membros superiores do terapeuta. Em neonatos deve ser realizada posicionando-se os dedos sobre a região torácica escolhida, sendo a intensidade e freqüência moduladas pelo profissional de acordo com o gradil costal do RN, devendo ser suficiente para causar vibração no nível brônquico. Associa-se aos movimentos vibratórios a compressão dos arcos costais, sendo direcionados no mesmo sentido do movimento costal, costelas verdadeiras – 1ª ao 5ª par, movimento em braço de bomba, e costelas falsas – 6º ao 10º par, movimento em alça de balde. Seu efeito positivo baseia-se na propriedade tixotrópica do muco, que se liquefazem quando submetido à constante agitação, facilitando a sua mobilização para as vias aéreas mais proximais, além de proporcionar um relaxamento da parede torácica e melhorar a perfusão alveolar. A compressão na caixa torácica promove a aceleração do fluxo aéreo expiratório. Com isso, há um maior deslocamento das secreções traqueobrônquicas liquefeitas pela vibração, facilitando a limpeza das vias aéreas e aumentando a ventilação pulmonar. Essa manobra é contraindicada apenas em casos de RNPT de extremo baixo peso que apresentem quadros de enfisema intersticial, pneumotórax não drenado e hemorragia pulmonar (OLIVEIRA; BURKLE; PAVAN, 2005; SARMENTO, 2005-2007).

    O AFE é uma manobra que associa a compressão do tórax com apoio do abdome com a finalidade de aumentar o fluxo aéreo expiratório, para deslocar secreções brônquicas por aumento passivo do fluxo expiratório. Assume a função da tosse, inexistente no prematuro (POSTIAUX, 2004). Nessa manobra há a formação de turbulências no fluxo aéreo brônquico, modificando as propriedades do muco, facilitando a eliminação das secreções da periferia para vias aéreas centrais. No neonato ela deve ser adaptada, sendo realizada de forma leve e modulada, com realização de uma compressão passiva e brusca no tórax, após o platô inspiratório, acompanhando todo o tempo expiratório, sem exacerbar o limite expiratório do RN. Os dedos do terapeuta são apoiados sobre o osso esterno ou sobre as primeiras costelas, bilateralmente, no sentido póstero-inferior, a fim de rebaixar e reduzir a caixa torácica, forçando a saída do ar, simulando a tosse. O AFE é contraindicado em RN com instabilidade hemodinâmica, hipertensão intracraniana, hemorragia peri e intraventricular grave, osteopenia da prematuridade e distúrbios hemorrágicos (OLIVEIRA; BURKLE; PAVAN, 2005; SARMENTO, 2005).

    Na C/DT ocorre a compressão dos arcos costais na fase expiratória, seguindo os movimentos fisiológicos do gradil costal – 1º ao 5º par de costelas, “braço de bomba” e 6º ao 10º par, “alça de balde”; e a retirada da compressão na fase inspiratória pelos dedos do terapeuta, de forma lenta, progressiva e gradual, objetivando o aumento do fluxo expiratório, formação de fluxo turbulento, gerando deslocamento da secreção brônquica (SARMENTO, 2005). Esta manobra objetiva desinsuflar os pulmões, através da diminuição do espaço morto e do volume residual, o que gera na descompressão o aumento do volume corrente e maior ventilação pulmonar, assim sendo, haverá uma melhora da oxigenação sanguínea. Esta técnica também propicia ganho de mobilidade da caixa torácica (LIEBANO et al., 2009). O fisioterapeuta deve ter cautela quanto à dosagem da compressão, em decorrência da dor que pode gerar ao RN durante a manobra. Esta conduta é contraindicada apenas em casos de osteopenia da prematuridade, plaquetopnia e outros citados na técnica de VT (SARMENTO, 2005).

    A tapotagem também é muito utilizada e de eficácia comprovada, mas ainda questiona-se quanto ao seu uso em RN, visto que nesta idade, o tórax do neonato é muito maleável e com dimensões reduzidas para a adequada aplicação da técnica, portanto o efeito mecânico que esta manobra propiciaria no RN é significantemente menor do que em outra faixa etária. Para um resultado satisfatório, a tapotagem teria que ser aplicada com uma energia mais intensa do que a aplicada em adultos, o que implicaria em efeitos colaterais não desejados ao RN, como dor e fratura de costelas. Em virtude disso, as condutas supracitadas devem ser priorizadas para a população neonatal (NICOLAU; LAHÓZ, 2007).

    A aspiração é uma conduta realizada para remover as secreções das vias aéreas, mantendo-as permeáveis, visto que no RNPT a tosse voluntária é ausente. É indicada, principalmente, após as condutas de desobstrução brônquica com presença de secreção, a fim de prevenir a obstrução das vias aéreas superiores, evitando o aparecimento de atelectasias e infecções pulmonares (OLIVEIRA; BURKLE; PAVAN, 2005). Essa técnica, por ser um procedimento estressante e desconfortável, só deve ser realizada mediante a necessidade constatada na ausculta pulmonar e no desconforto respiratório. Embora o procedimento seja relativamente simples, exige cuidado rigoroso na sua execução devido aos efeitos indesejáveis que podem determinar falha da conduta. As alterações fisiológicas induzidas pela aspiração ainda são pouco conhecidas (SARMENTO, 2007).

Método Reequilíbrio toracoabdominal (RTA)

    Este método surgiu como alternativa e complementar à fisioterapia respiratória convencional, que utiliza a terapia manual para incentivar a adequada ventilação pulmonar, por meio da melhor tonicidade da musculatura abdominal e da mobilização da caixa torácica, obedecendo sempre à fisiologia do ciclo respiratório. Este método baseia-se em posicionamentos, mobilizações das articulações costovertebrais e costocondrais, alongamentos musculares, apoios manuais para aumentar a pressão intra-abdominal e manobras miofasciais (LIMA et al., 2000).

    As manobras de apoio manual geram o aumento da pressão abdominal, proporcionando ao músculo diafragma um ponto de apoio, minimizando ou resolvendo, assim, a distorção torácica. Objetiva-se, portando, aumentar a ventilação alveolar e propiciar a higiene brônquica sem necessariamente realizar a compressão torácica (LIMA et al., 2000; ZANCHET et al., 2006).

    Por sua vez, as manobras fasciais, agem na elasticidade do tecido conjuntivo da região torácica, reduzindo a tensão dos músculos inspiratórios, em decorrência da redução da expansibilidade e elasticidade torácica (LIMA et al., 2000; RUPPENTHAL et al., 2011).

    Segundo Lima (2009, p. 206-207), a denominação Reequilíbrio toracoabdominal é dada porque as alterações mecânicas resultantes de patologias pulmonares demonstram desequilíbrio de forças entre músculos inspiratórios e expiratórios (torácicos e abdominais). Este desequilíbrio muscular e as alterações do volume pulmonar modificam o ponto de equilíbrio do tórax (capacidade residual funcional ou nível de repouso) que se coloca em sentido inspiratório nas patologias obstrutivas e expiratório nas patologias restritivas. A mudança do ponto de equilíbrio do sistema respiratório gera esforço muscular ventilatório, aumento do gasto energético, bloqueio da caixa torácica, alterações de tonicidade e força dos abdominais e limitação das atividades funcionais. O Reequilíbrio toracoabdominal (RTA), criado pela fisioterapeuta Mariângela Pinheiro Lima, na década de 80, é uma técnica que trabalha o aumento do fluxo aéreo e conseqüentemente a desobstrução brônquica. Em neonatos é realizada de forma passiva, através de apoios manuais e manobras miofasciais, objetivando proporcionar um bom padrão de respiração e, dessa forma, evitar situações de desconforto respiratório intenso como a fadiga muscular respiratória.

    Objetiva-se, ainda com essa técnica, recuperar o sinergismo entre o tórax e o abdome, adequando a justapo­sição entre o diafragma e as costelas. O RNPT é beneficiado por esta conduta na medida em que seus músculos respiratórios passam a exercer com eficácia suas funções inspiratórias e expiratórias, aumento o volume corrente e a complacência pulmonar, reduzindo a resistên­cia expiratória freqüente a uma disfunção respiratória, como a SDR, além da própria anatomia e imaturidade muscular do neonato (LIMA et al., 2000; ZANCHET et al., 2006).

Considerações finais

    Por meio deste estudo, que possibilitou um olhar sobre a atuação da fisioterapia respiratória em recém-nascidos com SDR, foi levantada a importância da intervenção fisioterapêutica nas UTI’s Neonatais, tendo em vista que, ao promover o decréscimo da morbi-mortalidade neonatal com segurança e eficácia, essa área da saúde melhora o quadro clínico do paciente, reduz o tempo de internação e os gastos hospitalares.

    Para o tratamento da SDR, as técnicas de fisioterapia respiratória convencionais são recomendadas, assim como o método RTA que é rotineiramente utilizado na prática clínica, mas que ainda necessita de um maior número de evidências científicas que lhe confiram respaldo.

Referências

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