efdeportes.com

Educação Física inclusiva: uma proposta de intervenção

Educación Física inclusiva: una propuesta de intervención

 

*Professora Educação Física. Programa Institucional de Iniciação Científica

da Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO

**Professor Educação Física. Programa Institucional de Iniciação Científica

da Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO

***Professor do Curso de Educação Física e do Programa de Pós-Graduação

em Desenvolvimento Comunitário da Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO

Doutor em Educação Física – UFPR

****Professor do Curso de Educação Física da Universidade Estadual

do Centro-Oeste – UNICENTRO e do Programa de Pós-Graduação em Educação

da Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG

Doutor em Educação Física – UNICAMP

Rafaela Portela Franco*

Marcos Vinicius Ferronatto**

Khaled Omar Mohamad El Tassa***

Gilmar de Carvalho Cruz****

peca04franco@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Partindo do pressuposto de que a Educação Física Escolar pretende atingir todos os alunos, não havendo nenhum tipo de exclusão, nem dos menos hábeis, meninos e meninas, ou qualquer característica que possa ser atribuída a eles, o presente estudo busca analisar um tipo de intervenção no campo da Educação Física escolar apoiada na idéia de grupos cooperativos. Para isso, no campo de investigação foram aplicadas algumas aulas considerando a utilização de Grupos Cooperativos como estratégia pedagógica e, como ferramenta para a coleta de dados foi utilizado um diário de campo. Em relação aos Grupos Cooperativos as aulas devem ser organizadas de modo progressivo, só assim o resultado pode e deve ser positivo para o aprendizado dos alunos, neste estudo pudemos perceber esta progressão, e acredito que a partir do momento em que a socialização já está estabelecida, torna-se mais fácil abordar outros conteúdos da Educação Física escolar.

          Unitermos: Educação Física plural. Grupos cooperativos. Inclusão escolar.

 

Abstract

          Assuming that the Physical Education aims to reach all students, not having any type of exclusion, not the least skilled, boys and girls, or any characteristic that can be attributed to them, this study seeks to analyze a type of intervention in the field of Physical Education supported the idea of cooperative groups. For this, the research field were applied some classes considering the use of Cooperative Groups as a pedagogical strategy and as a tool for data collection a field diary was used. Regarding Cooperative Groups classes should be arranged progressively, just so the result can and should be positive for student learning, in this study we could see this progression, and believe that from the moment that socialization is already established it becomes easier to approach other content of Physical Education.

          Keywords: Physical Education plural. Cooperative groups. School inclusion.

 

Recepção: 14/12/2014 - Aceitação: 02/02/2015

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 201, Febrero de 2015. http://www.efdeportes.com/

1 / 1

Introdução

    Uma problemática vivenciada nas aulas de Educação Física por parte dos professores, é denominada por Daólio (1996) como Educação Física Plural, sendo definida pelo autor por lidar com turmas heterogêneas em termos de habilidades motoras, assumindo grande importância considerar as características individuais dos alunos para o desenvolvimento da aula.

    Daólio sinaliza que “[...] esta Educação Física Plural parte do pressuposto que os alunos são diferentes, recusando o binômio igualdade/desigualdade para compará-los” (1996: 39), e enfatiza que “[...] a condição mínima e primeira é que as aulas atinjam todos os alunos, sem discriminação dos menos hábeis, ou das meninas, ou dos gordinhos, dos baixinhos, dos mais lentos” (DAÓLIO, 1996, p. 41).

    Sendo o movimento a ferramenta base para as aulas de Educação Física, torna-se necessário perceber e aprimorar a motricidade dos alunos, onde Manoel evidencia que:

    [...] Há mudanças de ordem quantitativa, como aumento na estatura, no peso corporal, que costumam ser denominadas de crescimento físico. E há mudanças de ordem qualitativa, como aquisição e melhoria de funções, denominadas de desenvolvimento. Ao executar movimentos, uma criança observa o ambiente, estabelece uma meta, elabora um plano de ação para realizar essa meta, faz a verificação experimental de seu plano (através da execução motora), avalia o resultado e decide sobre correções no plano ou sobre a formulação de novos planos, começando então um novo ciclo. (MANOEL, 1994, p. 83-84).

    Diante do exposto, percebe-se a importância em se considerar o desenvolvimento motor dos alunos, bem como propor atividades para o seu aprimoramento, atividades estas, que devem incluir a todos e considerar suas características individuais.

    Partindo do pressuposto de que a Educação Física Escolar pretende incluir todos os alunos, não havendo nenhum tipo de exclusão, nem dos menos hábeis, meninos e meninas, ou qualquer característica que possa ser atribuída a eles, o presente estudo tem como objetivo analisar um tipo de intervenção no campo da Educação Física escolar apoiada na idéia de grupos cooperativos.

Método

    A amostra foi escolhida a partir da turma da disciplina de Estágio Supervisionado do Ensino Médio, sendo está uma turma do 3º ano do Ensino Médio da Cidade de Rebouças-PR. A turma escolhida tem 29 alunos, sendo 19 do sexo masculino e 10 do sexo feminino, todos com idade entre 16 e 17 anos.

    Inicialmente foram realizadas duas aulas de Educação Física de observação da turma com intenção de perceber as características dos alunos. Foi percebido que muitos não participavam das atividades mais ativas e preferiam atividades que suas habilidades físicas eram menos expostas aos demais colegas de turma. Em seguida, em contato com o professor de Educação Física da turma, foi decidido trabalhar o voleibol durante as aulas de Estágio Supervisionado, por ser um conteúdo que estava no plano de trabalho do professor e também conteúdo ao qual os alunos ainda não haviam tido contato no presente ano letivo. Além do exposto, optou-se por ministrar o conteúdo voleibol em apenas cinco aulas, suficiente para o desenvolvimento do programa planejado. O Quadro 1 aponta os conteúdos abordados nas aulas.

Quadro 1. Conteúdos das aulas

    As aulas foram organizadas de modo progressivo considerando a utilização de Grupos Cooperativos como estratégia pedagógica. Inicialmente focou-se na socialização e cooperação entre os alunos e aos poucos, o conteúdo foi sendo aplicado e aprofundado. Para a divisão dos grupos, utilizou-se uma simples avaliação, sendo que cada aluno realizou 10 vezes cada fundamento e anotou o número de erros e acertos individualmente preenchendo o Quadro 2, que pode ser visualizado a seguir.

Quadro 2. Avaliação realizada pelos alunos

    As atividades específicas de cada fundamento técnico do voleibol foram realizadas de acordo com os grupos separados na avaliação, mas no momento dos mini jogos e jogos adaptados, os grupos se tornavam mistos para continuar ocorrendo à socialização e para um melhor confronto entre as equipes.

    As aulas aplicadas eram observadas e registradas através de um diário de campo. Esta ferramenta permitiu o registro das informações e a organização progressiva das aulas, sendo que através das informações registradas buscou-se melhorar e adequar às atividades de acordo com as dificuldades apresentadas e vivenciadas nas aulas de Educação Física..

Apresentação e discussão dos dados

    A utilização de Grupos Cooperativos é uma estratégia pedagógica que busca uma maneira de organizar o ambiente de aprendizagem dos alunos de forma satisfatória. Nesse sentido, buscou-se organizar um conjunto de aulas que foram aplicadas e observadas em uma turma do 3º ano do Ensino Médio da cidade de Rebouças/PR.

    Como conteúdo abordado foi escolhido o voleibol, de acordo com o relato do professor de Educação Física, os alunos não tinham praticado esta modalidade durante o ano, e ele fazia parte do planejamento do professor orientador de campo.

    Na primeira aula aplicada, os alunos ficaram livres para ter a vivência dos fundamentos, saque, recepção e levantamento, e em seguida realizaram uma avaliação anotando o número de erros e acertos dos fundamentos, que foram registrados e tabulados na forma de quadros para análise.

    Nesta aula os alunos demonstraram interesse em praticar a modalidade voleibol, por ser um conteúdo/esporte que não fazia parte do cotidiano dos mesmos, e também um desafio para quem nunca havia praticado. Antes de ir para a quadra foi explicado aos alunos que haveria uma avaliação, o que colaborou para que todos os alunos participassem da aula, pois queriam se sair bem na avaliação, portanto esforçaram-se ao máximo para realizar os fundamentos, buscando sempre a orientação técnica do estagiário durante os exercícios.

    Na segunda aula os alunos que faltaram à aula anterior realizaram a avaliação dos fundamentos, e os demais alunos foram divididos em quatro equipes, sendo a quadra dividida ao meio com uma corda, formando duas mini quadras e as equipes se enfrentavam entre si durante a aula. Neste jogo, cada equipe tinha que realizar os três toques antes de passar a bola para a equipe adversária sem realizar a cortada, com o objetivo de manter a bola por mais tempo no ar sendo tocada entre as equipes. As equipes também realizavam o rodízio, para que todos tivessem a oportunidade de fazer o saque e assim treinar este fundamento.

    No início da aula, alguns alunos ficaram sentados na lateral da quadra, e não queriam participar da atividade. Após conversa do estagiário com eles, relataram que não gostavam do voleibol ou estavam cansados. Porém, no decorrer da atividade alguns alunos acharam divertido e atrativo, e pediram para participar. O objetivo desta atividade levou os alunos a cooperarem para que a bola não caísse no chão, e para isso, eles se auxiliaram e corrigiram a si mesmos e aos colegas, lembrando as orientações repassadas pelo estagiário na aula anterior, e fazendo a leitura corporal buscavam aperfeiçoar a técnica dos movimentos. Com relação ao exposto, Soler (2006) aponta que “[...] os jogos cooperativos buscam a participação de todos, sem que alguém fique excluído, e se caracterizam por terem o objetivo e a diversão centrados em metas coletivas e não, em metas individuais” (2006, p. 35). Tal encaminhamento facilita a ocorrência da transferência de informação e aprendizagem de aluno para aluno.

    Ao final da aula, fez-se uma breve reflexão sobre o voleibol na Educação Física Escolar com os alunos, enfatizando que os conteúdos básicos da Educação Física escolar são: dança, lutas, ginástica, esporte e fogos e brincadeiras, e o voleibol se encaixa nas aulas por fazer parte do conteúdo esporte, assim como diversas outras modalidades. Durante este diálogo alguns alunos relataram não saber que todas essas práticas corporais faziam parte do conteúdo da Educação Física escolar, e que em geral nunca haviam trabalhado dança e lutas na escola, e o próprio voleibol sendo um esporte conhecido por eles, não era praticado nas aulas. Parte destes conteúdos não são ensinados muitas vezes porque os professores não se sentem preparados para aplicá-los em aula, e para que o professor possa desenvolver estes conteúdos deve haver cooperação dos alunos da turma.

    Block e Rizzo (1993) afirmam que

    Os professores da Educação Física Regular sentem que estão despreparados ou não possuem competência para proceder com a diversidade em suas aulas, particularmente quando significa prover um suporte apropriado e um programa educacional individualizado para alunos com deficiência (BLOCK; RIZZO, 1993 apud SOUZA; COSTA, 2011, p.150).

    Porém este despreparo não é só vivenciado na inclusão de alunos com alguma necessidade educacional especial, mais sim presente na Educação Física Plural, onde Soler “[...] respeita e valoriza as diferenças entre os alunos, preconizando aulas em que todas as diferenças possam ser contempladas” (2006, p. 45), e abranger a todos os alunos, independente de suas especificidades, deve ser o desafio central dos professores.

    Na terceira aula, os alunos foram divididos em três grupos de acordo com a avaliação dos fundamentos que foi realizada anteriormente, os grupos foram divididos considerando os números de erros nos fundamentos, sendo os alunos que mais erraram saque ficaram no mesmo grupo, e os que erraram levantamento (toque) e manchete (recepção) também. Cada aluno recebeu uma fita de TNT de acordo com a cor do seu grupo para melhor visualização das equipes. Alguns alunos ficaram surpresos com as divisões dos grupos, pois geralmente eles eram divididos entre si e ficavam sempre as mesmas equipes, porém ninguém se opôs a fazer parte de algum dos grupos que foram divididos.

    Brotto (1999) define Cooperação e Competição da seguinte forma,

    Cooperação: é um processo de interação social, em que os objetivos são comuns, as ações são compartilhadas e os benefícios são distribuídos para todos. Competição: é um processo de interação social, em que os objetivos são mutuamente exclusivos, as ações são isoladas ou em oposição umas às outras, e os benefícios são destinados somente para alguns (BROTTO, 1999 apud SOLER, 2006, p. 22).

    A utilização de Grupos Cooperativos tem por objetivo exclusivamente a cooperação, onde ocorre a troca de informações involuntariamente, e a aprendizagem abrange todos os indivíduos, assim como na atividade que foi aplicada em aula.

    Inicialmente cada grupo realizou por maior tempo o fundamento que mais possuía dificuldade, sendo dividida a turma da seguinte forma: Grupo A – este grupo ocupou metade da quadra, os alunos posicionados em uma extremidade da quadra realizam o saque por baixo, com o objetivo de acertar arcos que estavam ao chão na outra extremidade da quadra. Grupo B e C – estes grupos formaram círculos, e realizaram recepções em manchete e levantamentos em toque entre si, sem deixar a bola tocar o chão, podendo se subdividir em grupos menores quando houve maior dificuldade de aprendizado.

    Nesses grupos o estagiário auxiliou quando necessário, e deu dicas de posicionamento para realizar a manchete e o toque com maior precisão. Em seguida, os grupos realizavam rodízio das tarefas, sendo que todos participavam de todos os fundamentos, por mais que já o realizassem com exatidão. Nesta atividade, todos os alunos participaram, e a maior dificuldade percebida entre as meninas foi a realização do saque por terem menos força que os meninos. Porém, os meninos que possuem mais força, dificilmente conseguiam acertar os arcos colocados no chão. Para isso, o espaço foi sendo reduzido, e aos poucos foram se aperfeiçoando, sendo auxiliados pelos próprios colegas de turma, que davam dicas para uma melhor execução dos movimentos. Capellini enfatiza que

    O trabalho em equipe, portanto, pode ser entendido como uma estratégia concebida pelo homem, para melhorar a efetividade e elevar o grau de satisfação do trabalho. Estudos das diversas áreas vêm destacando que colaboração e/ou cooperação como um dos ingredientes básicos do trabalho em equipe (CAPELLINI, 2004 apud SOUZA; COSTA, 2011 p.150).

    O trabalho em conjunto, sejam duplas, grupos ou equipes, influencia positivamente na socialização do indivíduo e assim a aprendizagem se torna mais agradável no ambiente escolar.

    Ao final da aula ocorreu o jogo, com os grupos misturados e formando novamente três equipes. Enquanto duas equipes realizavam o jogo, os integrantes da outra equipe arbitravam a partida de voleibol, quando chegava ao quinto ponto à equipe que perdia ia arbitrar e a outra equipe entrava jogar. No jogo, nem todos os alunos quiseram participar, alegando cansaço ou vergonha de jogar e errar. Como de costume, no jogo predominou a competição, e por isso, no decorrer da partida o estagiário trocou os alunos das equipes para que estas ficassem mais equilibradas, onde a atividade não se tornou agradável para a única equipe ganhadora, já que os alunos trocavam a todo momento de equipe.

    Na quarta aula foi focado inicialmente no treinamento dos fundamentos de recepção e levantamento, sendo a turma dividida em quatro pequenos grupos, e cada grupo permaneceu em um espaço determinado pelo estagiário. Cada grupo, com apenas uma bola que devia se manter no ar através de toque e manchete, e cada aluno só podia encostar uma vez na bola e deixar que o colega realizasse o próximo toque. Nesta atividade, todos os alunos tinham oportunidade de realizar o fundamento e aperfeiçoá-lo, percebendo que o toque quando realizado mais alto facilita o posicionamento do outro colega para a realização da manchete, e que na manchete o aluno deve rebater a bola e não esperar que ela toque em seus braços. Estas informações eram sempre lembradas pelos alunos em seus respectivos grupos. Com relação ao exposto, Manoel (1994) se posiciona sobre a evolução motora e realização dos fundamentos da seguinte forma,

    Competência significa a capacidade de execução motora num nível ótimo e suficiente para a solução do problema motor. Cada indivíduo pode apresentar um padrão de movimento com competência mesmo que não o faça exibindo o padrão mais eficiente em termos mecânicos. Neste sentido, bebés são competentes naqueles padrões de movimento que são capazes de executar. Crianças com paralisia cerebral têm alterações anatómicas importantes. Em membros superiores, isto faz com que movimentos manuais pareçam estranhos e ineficientes em relação aos padrões de crianças normais. Entretanto, quando se considera o processo pelo qual elas foram capazes de resolver o problema de manipulação chegamos à conclusão que dentro das suas capacidades e limitações elas foram altamente competentes (MANOEL, 1994, p. 92).

    Diante do exposto, percebe-se que os alunos realizaram com competência os fundamentos, cada qual a sua maneira, enfrentando as suas dificuldades, mais conseguindo atingir seus objetivos.

    Em seguida, metade da turma ficou atrás de uma das linhas de saque e a outra metade na outra linha Os alunos realizaram o saque por baixo focando nos diferentes pontos da quadra adversária, e os outros alunos devolviam a bola também realizando o saque da mesma maneira. Aqueles alunos que conseguiam êxito no saque por baixo, eram autorizados a realizar o saque por cima também. Nesta atividad, a cooperação foi muito vivenciada, pois todos os alunos participaram e aqueles que não conseguiam realizar o saque pediam auxílio para quem já conseguia, e estes davam mais oportunidade de prática a quem não conseguia realizá-lo. Esta educação cooperativa vivenciada na aula é enfatizada por Soler, quando indica que “[...] valorizar o jogar com o outro em detrimento de jogar contra o outro e, por meio de atividades cooperativas, potencializa a auto-estima e a relação social” (2006, p. 52).

    A aula é finalizada com o jogo de voleibol foi focado na aprendizagem do rodízio na quadra e nas posições de cada jogador. Duas equipes jogavam e a outra equipe arbitrava, sendo aprofundadas algumas regras do voleibol, como condução e erro de rodízio. Uma regra adaptada foi utilizada para dar mais dinâmica ao jogo, sendo esta a obrigatoriedade de dar os três toques antes de lançar a bola para a quadra adversária. Ainda nesta aula percebeu-se que nas atividades em pequenos grupos todos os alunos participaram, mas na hora do jogo, alguns alunos preferem só observar ou arbitrar a partida, por vergonha de se expor diante dos colegas da turma.

    A quinta aula iniciou-se com um breve aquecimento, com as duas equipes ficando uma de costas para a outra no centro da quadra, sendo que uma era a equipe numero 1 e a outra a equipe numero 2. Ao comando do estagiário, uma das equipes corria e a outra deveria pegar e segurar os alunos da equipe que corria, em seguida foi realizado um breve alongamento. Nesta atividade, alguns alunos não quiseram participar, estava um dia muito frio e por isso queriam ficar sentados ao sol. Porém na hora do jogo todos quiseram participar. Alguns alunos relataram que se encontraram durante a semana, e praticaram o voleibol entre os amigos e que estavam gostando das aulas.

    Sendo esta a última aula, focou-se mais na realização do jogo de forma adaptada. Inicialmente duas equipes jogavam e uma arbitrava, no jogo era realizado o rodízio de maneira diferente da regra oficial. Os alunos que estavam na frente se deslocavam para trás e os alunos da direita para a esquerda. Ao final da aula, a turma toda foi dividida em duas equipes, ficaram equipes grandes com até 15 alunos em cada uma, e o jogo foi realizado da mesma maneira anterior.

    Neste jogo, percebeu-se que todos os alunos participaram, não só estando presentes na quadra e sim, não se esquivando da bola e tentando realizar o toque e a manchete como aprenderam em aula. Em nenhum momento percebeu-se algum aluno fugindo da direção da bola, com vergonha de errar o movimento. Todos tentaram rebater a bola, com suas potencialidades e limitações, e mesmo quando não obtinham pontos, eram elogiados pelos colegas pela iniciativa de jogar. Diante do exposto, Soler se posiciona com relação à aprendizagem cooperativa, “Valorizar o jogar com o outro em detrimento de jogar contra o outro e, por meio de atividades cooperativas, potencializa a auto-estima e a relação social. Ganha força com a proposta da inclusão das diferenças, pois permite a participação de todos, independente das habilidades que possuem” (SOLER, 2006, p. 34).

    Ao analisar as aulas iniciais percebe-se que alguns alunos não participavam por vergonha de se expor. Porém, aos poucos eles foram experimentando a prática e os colegas respeitaram as suas dificuldades em realizar os movimentos. A socialização da turma estimulou a autoestima dos alunos, levando-os a realizar a prática fora da escola também. A progressão das aulas teve resultado positivo, sendo percebido que na última aula, que todos conseguiram jogar em conjunto, não se sobressaindo os mais habilidosos, mas jogando todos em igualdade e respeitando os erros dos colegas.

Considerações finais

    A utilização de Grupos Cooperativos como metodologia de ensino aprendizagem pode ser de grande valia para os professores que trabalham com a Educação Física Plural, buscando que todos os alunos, independente das suas potencialidades e limitações, queiram e consigam aprender o conteúdo proposto pelo professor.

    Percebe-se que os alunos não se importam em realizar as atividades de maneira equivocada quando os outros que estão a sua volta também erram. Já quando realizam com quem é mais habilidoso sentem vergonha de ser comparados, e por isso preferem se excluir da atividade. A utilização de Grupos Cooperativos surge como uma ferramenta de trabalho para lidar com esta problemática, e deve ser utilizado até que aprendam o movimento e não tenham vergonha de realizá-lo.

    Quando as aulas são organizadas de modo progressivo o resultado pode e deve ser positivo para o aprendizado dos alunos. Em relação aos Grupos Cooperativos, o item inicial a ser trabalhado com as turmas é a socialização, para que não tenham vergonha de tentar aprender e para que haja cooperação entre eles, e aos poucos o conteúdo vai sendo aprofundado pelos próprios alunos com o auxílio do professor. Neste estudo foi possível perceber esta progressão, e acredita-se que a partir do momento em que a socialização já está estabelecida, torna-se mais fácil abordar conteúdos diversificados da Educação Física escolar.

Referências

  • DAOLIO, J. Educação Física Escolar: em busca da pluralidade. Rev. Paul. Educ. Fís., São Paulo, 1996;

  • MANOEL, E. J. Desenvolvimento Motor: Implicações para a Educação Física Escolar. Rev. Paul. Educ. Fís., São Paulo, 1994.

  • SOLER, R. Educação Física: uma abordagem cooperativa. Rio de Janeiro: Sprint, 2006.

  • SOLER, R. Jogos Cooperativos para educação infantil. Rio de Janeiro: 2ª edição: Sprint, 2006.

  • SOUZA, J. V.; COSTA, M. P. R. Estratégias de ensino para inclusão: o ensino colaborativo. In: CHICON, J. F.; RODRIGUES, G. M. Práticas Pedagógicas e pesquisa em educação física escolar inclusiva. Vitória, ES: EDUFES, 2011, p.149-167.

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 19 · N° 2015 | Buenos Aires, Febrero de 2015
© 1997-2015 Derechos reservados