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Sinais e sintomas característicos de vigorexia
em homens praticantes de musculação

Signos y síntomas característicos de vigorexia en hombres practicantes de musculación

 

*Alunas do curso de Nutrição da Universidade Presbiteriana Mackenzie

**Professora doutora dos cursos de Nutrição da Universidade

Presbiteriana Mackenzie e do Centro Universitário São Camilo

Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS)

da Universidade Presbiteriana Mackenzie

(Brasil)

Camilla de Freitas Ponchon da Silva*

Isabelle Felipe Gutierrez*

Sâmya Seiler Loureiro*

Taiza Cristina de Oliveira*

Marcia Nacif**

isabelle.fgutierrez@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Objetivo: Determinar a prevalência de sinais e sintomas característicos de vigorexia em homens praticantes de musculação. Métodos: Trata-se de um estudo transversal, que foi realizado em academias que tinham a prática de musculação, no município de São Paulo. Foram aplicados dois instrumentos de coleta de dados, sendo um questionário para identificar a severidade de indícios de vigorexia e a escala de silhuetas de Lima et al. (2008), para avaliar a percepção da imagem corporal. Resultados: Foram avaliados 50 indivíduos do gênero masculino, com média etária de 21,68 anos. Observou-se que 19 (38%) praticantes de musculação foram classificados como tendo severos indícios de vigorexia e que 40% não estavam satisfeitos com sua imagem corporal, demonstrando principalmente o desejo de ganhar massa muscular. Conclusão: Diante dos resultados, destaca-se a importância de uma equipe multidisciplinar na prevenção de esta doença e no papel de conscientizar seus clientes.

          Unitermos: Nutrição. Imagem corporal. Musculação.

 

Recepção: 29/11/2014 - Aceitação: 26/12/2014.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 200, Enero de 2015. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    As sociedades contemporâneas, principalmente as ocidentais, vêm apresentando uma preocupação excessiva com os padrões de beleza, em que há uma verdadeira “divinização” do corpo belo (ALVES et al., 2009), além de uma busca incessante pela magreza exagerada (SMOLAK, 2004).

    Isto tem contribuído para o aumento da insatisfação com a imagem corporal, acometendo negativamente alguns aspectos da vida dos indivíduos, principalmente no que tange ao comportamento alimentar, psicossocial, físico, cognitivo e à autoestima (SMOLAK, 2004; HARGREAVES; TIGGEMANN, 2004), o que pode ocasionar o desenvolvimento de transtornos.

    Os transtornos psiquiátricos e a distorção da autoimagem corporal costumam ser marcados por elevado grau de sofrimento físico e psíquico. Uma das possíveis desordens é a vigorexia, um subtipo do transtorno dismórfico corporal (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 1997).

    A doença foi descrita pela primeira vez em 1997 por Pope et al., com o título de Dismorfia Muscular. Sua etiologia parece ser multifatorial, incluindo predisponentes genéticos, socioculturais e de personalidade (GRAVES; WELSH, 2004).

    A vigorexia é um tipo de transtorno dismórfico corporal, em que o indivíduo potencializa defeitos estéticos que possua, ou ainda imagine que possua (AGUIAR; MOTA, 2011; CAFRI et al., 2008; ANTUNES et al., 2006). Esse “defeito” chega a torturá-lo e ele passa a se sentir aparentemente repugnante. Sua comorbidade é extensa e gera grande sofrimento psíquico (KITTLER et al., 2007; EISEN et al., 2004).

    Deve ser considerada um transtorno de procedência obsessivo-compulsiva, tanto pela obsessão por musculatura quanto pela compulsão aos exercícios físicos, principalmente ao treinamento de força e a constante distorção da imagem corporal, concomitantemente ao uso de recursos ergogênicos (POPE JR; KATZ,1994).

    Neste contexto, o presente estudo teve como objetivo determinar a prevalência de sinais e sintomas característicos de vigorexia em indivíduos do sexo masculino, praticantes de atividade física (musculação).

Métodos

    Trata-se de um estudo de delineamento transversal com coleta de dados primários, que foi realizado em academias que tinham a prática de musculação, no município de São Paulo. Foram avaliados praticantes de exercícios físicos, por no mínimo 6 meses, com massa muscular aparente, que assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Este estudo foi aprovado pela Comissão Interna de Ética e Pesquisa do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

    Foram aplicados dois instrumentos de coleta de dados, sendo um questionário para identificar a severidade de indícios de vigorexia (RODRIGUES; ARAÚJO; ALENCAR, 2008) e a escala de silhuetas de Lima et al. (2008) para avaliar a percepção da imagem corporal.

    Ao aplicar a escala de silhuetas, os indivíduos responderam a três perguntas: “Qual a silhueta que melhor representa sua aparência corporal atual (real), qual silhueta você gostaria que seu corpo parecesse (ideal) e qual a silhueta que você acha que melhor representa a forma como as outras pessoas lhe vêem”.

    No instrumento proposto por Lima et al. (2008), quando a variação entre a silhueta ideal e a real é igual à zero, os indivíduos são classificados como satisfeitos com sua imagem corporal. Quando a diferença é positiva (ideal>real), considera-se que o indivíduo possui um desejo de aumentar a massa muscular.

    O questionário de Rodrigues, Araújo e Alencar (2008), é composto por 10 perguntas fechadas, que abordam temas referentes a comportamentos na academia, treinamento e suplementação. Cada pergunta tem um coeficiente específico de acordo com o seu envolvimento e implicância dos indícios de vigorexia, permitindo, assim, a partir do escore (baixo = < 16 e alto = ≥ 16), determinar a severidade de indícios de vigorexia (Quadro 1).

Quadro 1. Pontuação do questionário de severidade de indícios de vigorexia

    Foram avaliadas, também, as características antropométricas (peso e estatura) dos participantes por meio do cálculo de IMC (kg/m²), que foi analisado segundo a Organização Mundial de Saúde (1997).

Resultados e discussão

    Foram avaliados 50 indivíduos do gênero masculino, praticantes de musculação por no mínimo 6 meses, em academias da cidade de São Paulo.

    A idade dos participantes variou entre 18 e 50 anos, sendo a média etária de 21,68 anos. Observou-se que a maioria dos indivíduos (60%) foi classificado como sobrepeso, sendo a média de IMC de 26,16 kg/m2 (Tabela 1).

    Pesquisa realizada em Caxias do Sul, por Theodoro et al. (2009), com 87 freqüentadores de academias, verificou valor médio de IMC de 24,25 kg/m2, sendo a média dos indivíduos considerada eutrófica. Segundo Nacif e Viebig (2011), a avaliação do IMC, não discrimina a composição corporal dos indivíduos (massa muscular e tecido adiposo). Deste modo, em praticantes de atividade física e atletas a avaliação deste índice deve ser feita de maneira criteriosa.

Tabela 1. Distribuição dos praticantes de musculação, segundo o estado nutricional. São Paulo, 2014

    Quanto à severidade de indícios de vigorexia dos participantes, observou-se variância de pontos de 2 a 19, com média de 12,64. Os indivíduos apresentaram, em sua maioria, baixa severidade quanto aos indícios de vigorexia (escore baixo < 16 pontos). No entanto, 19 (38%) praticantes de musculação foram classificados como tendo severos indícios de vigorexia, já que a soma de suas respostas foi maior ou igual a 16 pontos.

    No estudo de Zimmermann (2013), ao analisar 61 praticantes de musculação, 14 também foram categorizados como tendo graves indícios de vigorexia (23% da amostra). Chotao (2011), em uma amostra de 40 alunos que faziam exercício de força, observou 37,8% de indivíduos com indícios de vigorexia.

    Ao analisar as respostas dadas pelos indivíduos, verificou-se que 42 (84%) homens relataram estarem dispostos a correr riscos por excesso de treinamento. Destes, 34 (68%) disseram que já treinaram lesionados e 70% dos entrevistados disseram fazer uso regular de suplementos alimentares. Vale ressaltar ainda que 7 (14%) indivíduos relataram já terem feito ciclos de esteróides anabolizantes.

Tabela 2. Presença de sinais e sintomas de vigorexia entre os praticantes de musculação. São Paulo, 2014

    Quanto à escala de silhuetas proposta por Lima et al. (2008), observou-se que 40% dos participantes não estavam satisfeitos com sua imagem corporal, demonstrando principalmente o desejo de ganhar mais massa muscular. Tal informação, foi semelhante à verificada por Zimmermann (2013), em que 31,14% dos participantes de sua pesquisa, mostraram-se insatisfeitos com sua imagem corporal, revelando um desejo de ter uma silhueta maior do que a que apresentavam. Já Theodoro et al. (2009) em seu estudo, observou que a maioria dos freqüentadores de academias avaliados, desejavam ter uma silhueta igual a ou maior que a representada por um indivíduo eutrófico.

    Diante dos resultados, destaca-se a importância de uma equipe multidisciplinar, que inclua médicos, nutricionistas, educadores físicos, psicólogos e fisioterapeutas na prevenção de esta doença e no papel de conscientizar seus clientes/pacientes.

Conclusão

    O estudo sugere que sinais e sintomas de vigorexia estão presentes em grande parte dos praticantes de musculação avaliados. Assim, os profissionais da saúde têm um papel importante na conscientização destes esportistas para informar os prejuízos relacionados aos aspectos físicos, psíquicos e sociais que os excessos de práticas para atingir um ideal de corpo perfeito podem causar.

Referências

  • AGUIAR, E.F, MOTA, C.G. Dismorfia muscular: uma nova síndrome em praticantes de treinamento resistido. Revista Brasileira de Ciência da Saúde, ano 9, n. 27, 2011.
    ALVES, D., PINTO, M., ALVES, S., MATO, A., LEIRÓS, V. Cultura e imagem corporal. Motricidade; v. 5, n. 1, p. 1-20, 2009

  • AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders. Washington, DC: APA, 1997.

  • ANTUNES, H.K.M., ANDERSEN, M.L., TUFIK, S., DE MELO, M.T. O estresse físico e a dependência de exercício físico. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v.12, p.234-238, 2006.

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