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O pensamento pedagógico da Educação Física brasileira: 

um estudo a cerca das abordagens pedagógica

El pensamiento pedagógico de la Educación Física brasileña: un estudio acerca de los abordajes pedagógicos

 

Graduada em Licenciatura em Educação Física pela Faculdade FASIPE

Discente do Curso de Pós-Graduação em Educação Física Escolar

Faculdade de Sinop, MT

(Brasil)

Leila Maira Borré

leilamayra@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Este estudo constitui-se de uma reflexão a respeito do Pensamento Pedagógico da Educação Física Brasileira segundo os especialistas desta área de ensino. Faz uma analise das Tendências didático-pedagógicas da Educação Física Brasileira, com embasamento teórico e bibliográfico de estudos já realizados neste âmbito. Procura ainda estabelecer relações entre estas abordagens, linhas pedagógicas e as práticas a ser utilizada, pelos profissionais de Educação Física Escolar. Com as discussões a cerca desta temática foi possível chegar à conclusão que apesar das inúmeras abordagens pedagogias no campo da Educação Física ainda encontram-se presentes nas aulas os campos esportivos, biológicos e recreacionistas. No entanto esta disciplina está se aproximando das ciências humanas, por contemplar não somente a matriz biológica, mas também a matriz antropológica, social, cultural e psicológica da Educação Física.

          Unitermos: Educação física escolar. Abordagens pedagógicas.

 

Recepção: 02/11/2014 - Aceitação: 29/11/2014.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 199, Diciembre de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O pensamento pedagógico da Educação Física escolar norteia-se ao entorno das abordagens: desenvolvimentista, construtivista-interacionista, crítico-superadora, sistêmica, psicomotricidade, crítico-emancipatória, cultural, jogos cooperativos, saúde renovada e dos Parâmetros Curriculares Nacionais, no entanto este grande número de tendências da Educação Física não significou o abandono de práticas voltadas para os modelos recreacionistas, esportivistas e biológico.

    O presente estudo constitui-se de uma investigação bibliográfica acerca do pensamento pedagógico da Educação Física Brasileira na atualidade, proporcionando ao leitor uma discussão entorno das abordagens pedagógicas da Educação Física escolar com embasamento teórico de autores como Darido, e estudiosos que defendiam cada uma destas tendências destacando-se Daólio, Kunz, Freire, Bracht, Go Tani, Betti, Le Bouch, Nahas, Guedes & Guedes entre outros.

    Pensando-se nesta perspectiva a presente investigação busca responder à problemática, qual afinal é o pensamento pedagógico Educação Física na atualidade? Na tentativa de solucionar esta indagação buscou-se fundamentação teórica em livros, artigos científicos, dissertações e teses.

    Deste modo esta pesquisa tem como finalidade analisar o pensamento pedagógico da Educação Física brasileira segundo alguns estudiosos desta área de ensino e a sua aplicabilidade na atualidade. Além de descrever as abordagens pedagógicas da Educação Física escolar brasileira, estabelecendo características e particularidades, mesclando aspectos de mais de uma linha pedagógica.

    O interesse pelo estudo surgiu a partir da proposta de reposição do módulo: O pensamento pedagógico da Educação Física, do curso de pós-graduação Lato Sensu em Educação Física Escolar da faculdade - FASIPE. Considerando ainda a importância de se analisar as características que norteiam a Educação Física escolar brasileira. Uma vez que, estas discussões esclarecem os pressupostos pedagógicos que estão por trás da atividade de ensino, na busca da coerência entre o que os professores de Educação Física, pensam estar fazendo, e de como realmente fazem.

2.     Metodologia

    Este estudo será conduzido com base nos pressupostos teórico metodológicos da pesquisa qualitativa onde ocorrerão a interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados a estes, não exigindo assim o uso de métodos e técnicas estatísticas. Segundo Minayo (2006, p. 17) “o método qualitativo é o que se aplica ao estudo da história, das relações, das representações, das crenças, das preocupações e das opiniões, produtos das interpretações que os humanos fazem a respeito de como vivem”.

    Enquadra-se como uma pesquisa de técnica bibliográfica, pois terá embasamento teórico em publicações de livros, artigos, dissertações e teses. Quanto ao tipo de pesquisa aplicará à explicativa, que busca apontar o pensamento pedagógico da Educação Física brasileira na atualidade. Como método será empregado o dialético onde ocorrerão discussões e comparações entre as abordagens pedagógicas que surgiram no decorrer da historia da Educação Física escolar.

3.     Revisão e discussão da literatura

3.1.     Abordagens pedagógicas da Educação Física Brasileira e implicações na atualidade

    As abordagens pedagógicas da Educação Física surgem a partir de década de 70 em oposição às tendências tecnicistas, esportivistas e biológicas, apresentaremos neste estudo uma análise destas no âmbito da Educação Física escolar brasileira, tendo como referencia um dos trabalhos da autora Suraya Cristina Darido em seu livro Educação Física na Escola: questões e reflexões.

    A abordagem desenvolvimentista tem como destaque no Brasil, os estudioso Go Tani e Manoel, que em suas obras citavam autores como Gallahue e Connoly. Estudiosos desta área apontam o movimento como o principal meio e fim da Educação Física, em que as aulas devem possibilitar a aprendizagem do movimento, no entanto outras aprendizagens podem ocorrer a partir das práticas de habilidades motoras. Segundo Darido (2003, p. 5) “o principal objetivo da Educação Física desenvolvimentista é oferecer experiências de movimentos adequadas ao seu nível de crescimento e desenvolvimento, a fim de que a aprendizagem das habilidades motoras seja alcançada”.

    Contudo passou-se a ter a adequação dos conteúdos às faixas etárias das crianças, em que estes devem ser desenvolvidos das habilidades motoras básicas para as habilidades motoras mais especificas. Classificando-se as habilidades motoras básicas em locomotoras (andar, correr, saltar), manipulativas (arremessar, chutar), e de estabilização (girar, flexionar). Já a habilidade motora especifica são influenciadas pela cultura, estando relacionado com os esportes, dança, lutas e jogos.

    Para tanto na abordagem desenvolvimentista não foram criados métodos de avaliação, mas os estudos a cerca desta abordagem demonstram que considerar o erro do aluno é de fundamental importância para a aquisição destas habilidades motoras.

    Outra tendência pedagógica que exerceu influencia na Educação Física brasileira foi a construtivistas-interacionista, apresentada por João Batista Freire, baseadas nas teorias de Jean Piaget, surge como uma opção metodológica do ensino da Educação Física no ambiente escolar, em que a construção do conhecimento deve ocorrer a partir da interação do aluno com o mundo. Nesta concepção conhecimentos que não estão relacionados ao movimento são aceitos para se obter o desenvolvimento cognitivo, no entanto isso extrairia da Educação Física a sua especificidade tornando-a apenas uma auxiliadora de outras disciplinas do currículo escolar.

    Conforme Freire (1989 apud Darido, 2003) para a Educação Física escolar é importante considerar o conhecimento da criança independente da situação formal de ensino, resgatando assim os jogos e brincadeiras dos alunos envolvidos no processo de ensino aprendizagem. Onde o conhecimento é construído através da resolução de problemas e a interação com o meio, em que o jogo é considerado um dos principais instrumentos pedagógicos, pois enquanto brinca a criança aprende. Nesta abordagem a avaliação é considerada importante, no entanto não deve ocorrer de forma punitiva.

    A abordagem crítico-superadora é uma das que mais se destacou na área da Educação Física, apóia-se no marxismo e neomarxismo, e recebeu forte influencia de autores como Linbando e Saviani, não podendo deixar de considerar os trabalhos de Medina (1983), Bracht (1992), Giraldelli Jr (1988) e Costa (1984). É uma abordagem diagnostica, pois se busca fazer uma leitura dos dados da realidade, interpretá-los e emitir juízo de valores, além de judicativa por julgar os elementos da sociedade, como também teleológica, pois busca uma direção dependendo da perspectiva da classe de quem reflete.

    Como conteúdos são propostos os que consideram a sua relevância social, sua contemporaneidade e adequação sócio-cognitiva dos alunos, confrontando conhecimentos do senso comum com o cientifico. Em que a Educação Física deve tratar dos conhecimentos denominado de cultura corporal abrangendo os jogos, a ginástica, o esporte e a capoeira. Como forma de avaliação destaca-se a meritocracia, ou seja, a ênfase no esforço individual.

    Outra abordagem é a sistêmica elaborada por Betti que norteia as influências das áreas da sociologia, filosofia e em aspecto reduzido a psicologia, preocupa-se em garantir a especificidade da Educação Física considerando o corpo e o movimento como norteadores desta, em que sua função não se encontra restrita nas habilidades motoras, no entanto as praticas de cultura do movimento devem ter significados para o aluno que estes sejam protagonistas e saibam incorporar estas práticas em suas vidas.

    Encontra-se baseada segundo Betti (1991 apud Darido 2003) no princípio da não-exclusão em que nenhuma atividade pode excluir o aluno das aulas de Educação Física; no principio da diversidade em que as aulas devem apresentar atividades diferenciadas proporcionando vivencias esportivas, rítmicas e expressivas.

    Segundo Darido (2003, p.13) “as perspectivas pedagógicas da Educação Física, na maioria dos casos não aparecem de forma pura, mas com características particulares mesclando aspectos de mais de uma linha pedagógica”.

    Outra abordagem é a psicomotricidade que surgiu a partir da década de 70 em que a Educação Física se preocupa com o desenvolvimento integral da criança, contemplado os aspectos cognitivos, afetivos e psicomotores. Esta abordagem tem como estudioso principal o francês Jean Le Bouch, atualmente a psicomotricidade encontra-se até mesmo nas grades curriculares de alguns cursos superiores em especial os de Educação Física. Para Le Bouch (1986 apud Darido 2003) a psicomotricidade surgiu devido à fragilidade da Educação Física em corresponder as necessidades de uma educação real de corpo, pois segundo o autor a Educação Física estava centrada no rendimento mecânico do corpo.

    Sua intenção é “assegurar o desenvolvimento funcional tendo em conta a possibilidade de a criança ajudar sua afetividade a expandir-se e a equilibrar-se através do intercambio com o ambiente humano” (DARIDO 2003, p. 14). Com tudo a psicomotricidade busca valorizar o processo de aprendizagem e não a execução de um gesto técnico de determinada modalidade esportiva.

    A abordagem crítico-emancipatória está estruturada por Eleonor Kunz, surge a partir da década de 1980 em oposição ao modelo hegemônico do esporte, nesta perspectiva atribui-se papel importante à linguagem para que a aprendizagem ocorra de maneira emancipatória. Conforme Pereira (2006, p. 27):

    Através da Educação crítica, o aluno terá condições de suspender as estruturas autoritárias, promovendo a emancipação, permeada pelo uso da linguagem. Por sua vez, a linguagem, é um importante agente na comunicação e propicia uma forma de expressão de entendimento do mundo social, na tomada de decisões, ao formular interesses e preferências.

    Nesta abordagem o papel do professor é confrontar o aluno com a realidade de ensino, o que é denominado por Kunz de transcendência de limites, estando dividida em três fases. Segundo Darido (2003) a primeira faz-se referência à própria experiência manipulativa, os alunos descobrem as formas e meios para uma participação bem-sucedida em atividades de movimentos e jogos. Conseqüentemente o aluno deve manifestar-se pela representação cênica ou pela linguagem, devem expressar o que vivenciaram e o que aprenderam, numa forma de exposição. E por ultimo o aluno deve aprender a perguntar e questionar a respeito de suas aprendizagens e descobertas, proporcionando-lhe o entendimento do significado cultural da aprendizagem.

    A partir da década de 90 surge a abordagem cultural, sugerida por Daólio, também faz criticas a perspectiva biológica, onde o autor baseou-se nas perspectivas antropológicas, a qual o objetivo não era a exclusão da dimensão biológica da Educação Física, mas sim esta dimensão vinculada ao surgimento da cultura.

    Segundo Darido (2003) esta abordagem considera a humanidade e procura entender o homem a partir de suas diferenças, de modo que os hábitos e as praticas de determinados grupos não sejam vistos como certo ou errados, destacando-se assim o principio da alteridade.

    Outra abordagem que se destaca na Educação Física escolar é a dos jogos cooperativos, nesta perspectiva Brotto um dos divulgadores desta abordagem sugere o jogo cooperativo como uma das formas de transformação da Educação Física, pois possuem níveis de aceitação mútua no que tange o sentimento de vitória. Propondo a construção de uma nova sociedade baseada na solidariedade, colocando-se em oposição aos jogos competitivos.

    A abordagem saúde renovada também surge no decorrer da década de 90 com o diálogo de diversos autores/profissionais da área a cerca da matriz biológica nas aulas de Educação Física, tentando superar os modelos higiênicos e eugênicos, historicamente presentes nesta área. Estas lutas pela matriz biológica são defendidas por Nahas e Guedes & Guedes em que uma das maiores preocupações encontra-se na busca de alternativas para reverter à elevada incidência de distúrbios orgânicos ocasionados pela falta de atividades físicas, caracterizando a Educação Física como meio de promoção a saúde. Os autores Nahas e Guedes & Guedes ainda fazem críticas as aulas de Educação Física que abrangem apenas as modalidades esportivas, pois são menos interessantes para a promoção da saúde.

    Como última perspectiva neste estudo será apontada a abordagem dos Parâmetros Curriculares Nacionais, que segundo Darido (2003) estudos iniciaram-se em 1994 e em 1997 foram lançadas os documentos constando de um, específico para a disciplina de Educação Física. Este documento visa auxiliar na organização dos conhecimentos a serem trabalhados em Educação Física, articulando-os as diferentes dimensões do conhecimento.

    Segundo Darido (2003) conforme os Parâmetros Curriculares Nacionais a Educação Física deve ser responsável pela formação de alunos que:

    Sejam capazes de: participar de atividades corporais, adotando atitudes de respeito mútuo, dignidade e solidariedade; conhecer, valorizar, respeitar e desfrutar da pluralidade de manifestações da cultura corporal; reconhecer-se como elemento integrante do ambiente, adotando hábitos saudáveis, e relacionando-os com os efeitos sobre a própria saúde e de melhoria da saúde coletiva; conhecer a diversidade de padrões de saúde, beleza e desempenho que existem nos diferentes grupos sociais, compreendendo sua inserção dentro da cultura em que são produzidos, analisando criticamente, os padrões divulgados pela mídia; reivindicar, organizar e interferir no espaço de forma autônoma, bem como reivindicar locais adequados para promover atividades corporais de lazer. (p.20)

    Ao comparar os Parâmetros Curriculares com as demais abordagens da Educação Física escolar é possível observar que este abrange todas as perspectivas apresentadas anteriormente no que se diz respeito a ensino- aprendizagem da Educação Física, pois contempla a matriz biológica, antropológica, social, cultural e psicológica da Educação Física.

    Desta forma a Educação Física esta se aproximando das ciências humanas, no entanto ainda contempla a matriz biológica, articulando assim as múltiplas dimensões do ser humano. Mesmo com o surgimento das abordagens no âmbito da Educação Física escolar brasileira, Darido (2003) afirma que o aparecimento destas tendências não significou o abandono de práticas vinculadas ao modelo esportivo, biológico ou, ainda, ao recreacionista, considerado as práticas pedagógicas mais freqüentes na Educação Física. Para a autora a Educação Física deve abranger as abordagens que tenha enfoque psicológico, características da abordagem na psicomotricidade, desenvolvimentista, construtivista e jogos cooperativos.

    Em oposição Bracht (1995 apud OLIVEIRA, 1999) salienta que a Educação Física necessita atualmente de uma maior definição epistemológica, que apesar das transformações pedagógicas ocorridas, não se passou de um conjunto de práticas físicas sendo institucionalizadas, sem uma práxis de conhecimentos que justificasse sua legitimação. Em contra partida Oliveira (1999) Acredita que a Educação Física “deverá ser” a disciplina escolar capaz de aglutinar em torno dela a totalidade e a complexidade das manifestações corporais dos sujeitos no plano da cultura.

    Para tanto é necessário abrirmos novos espaços para a Educação Física na escola, não se tratando somente de espaços físicos para as práticas corporais e o esporte, “mas também espaço institucional, principalmente no desafio que se coloca para que os alunos percebam, incorporem e utilizem os conhecimentos pedagógicos aprendidos na Educação Física nas suas relações sociais” (Melo, 2006 p. 03). Afinal de contas, o que esta faltando na Educação Física escolar não é os conteúdos a serem trabalhados e sim uma maneira de organizar didaticamente os conhecimentos pedagógicos da Educação Física.

    Considerando a Educação Física como componente curricular as Diretrizes e Bases da Educação Nacional art. 26, § 3º estabelece que a disciplina esteja integrada à proposta pedagógica da escola, e é componente curricular obrigatório. No entanto não há outro documento, a não serem os Parâmetros Curriculares Nacionais, que norteiam os conteúdos a serem aplicados durante as aulas de Educação Física.

3.     Considerações finais

    Considerando as abordagens pedagógicas analisadas neste estudo, não podemos atribuir à atuação pedagógica do professor de Educação Física apenas uma destas, ou todas estas práticas ao mesmo tempo. É possível que cada profissional se identifique com uma ou mais destas, mas vale destacar que o objetivo pedagógico esta em proporcionar a aprendizagem dos alunos de maneira que possamos estimular seu desenvolvimento integral, lhe proporcionado um aprendizado nas dimensões, sociais, afetivas, cognitivas e biológicas.

    As inúmeras possibilidades de conteúdos atribuídos a Educação Física e a sua forma multidisciplinar de atuação pedagógica ocasionam uma crise de identidade, pois parece apresentar mais características de um campo de aplicação do conhecimento sucedido de outras áreas, do que de um campo próprio de produção do conhecimento.

    Portanto o pensamento pedagógico da Educação Física Brasileira está concentrado na matriz antropológica, social, cultural e psicológica, além da matriz biológica. Utilizando-se do movimento para proporcionar aos alunos a capacidade de analisar e agir criticamente a partir de conhecimentos sobre o corpo, esportes, jogos, lutas, ginásticas e atividades rítmicas e expressivas.

Referências

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 19 · N° 199 | Buenos Aires, Diciembre de 2014
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