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Análise do impacto da fisioterapia aquática
sobre a força muscular respiratória

Análisis del impacto de la fisioterapia acuática sobre la fuerza muscular respiratoria

Analysis of the aquatic physiotherapy impact on respiratory muscular strength

 

*Graduada em Fisioterapia. Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai

e das Missões - Campus de Erechim (RS), Especialista em Fisioterapia

Aquática-FEEVALE, Novo Hamburgo (RS), Mestre em Envelhecimento Humano

Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo (RS)

**Graduada em Fisioterapia-Universidade Regional Integrada

do Alto Uruguai e das Missões - Campus de Erechim (RS)

***Graduada em Fisioterapia-Universidade do Sagrado Coração, Bauru (SP)

Especialista em Fisioterapia em Neurologia- Universidade Pontifícia Universidade

Católica do Paraná, Curitiba (PR), Mestre em Envelhecimento

Humano, UPF Passo Fundo (RS)

****Graduada em Educação Física – Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo (RS)

Especialista em Ciências dos Desportos Coletivos, Universidade

de Passo Fundo, Passo Fundo (RS), mestre em Ciências

do Movimento Humano-UFRGS Porto Alegre (RS)

*****Docente da Escola de Educação Física

e Esporte da Universidade de São Paulo (EEFERP/USP)

Karine Angélica Malysz*

Daiane Fátima Biason**

Daniela Regina Sposito Dias Oliva***

Mari Lúcia Sbardelotto Tormen****

Hugo Tourinho Filho*****

karimalysz@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Objetivo: O presente estudo teve por objetivo avaliar e comparar a força da musculatura respiratória em pacientes sem alterações respiratórias que realizam fisioterapia aquática e fisioterapia convencional. Método: Trata-se de um estudo experimental de análise quantitativa com uma amostra de 37 pacientes entre 30 e 60 anos, divididos em dois grupos: grupo da fisioterapia aquática (FA) e fisioterapia convencional (FC). Os instrumentos de pesquisa compreenderam um questionário individual e o teste de manovacuometria antes e após tratamento. Para comparação intergrupos (FA x FC), das variáveis pressão inspiratória máxima (PImáx) e pressão expiratória máxima (PEmáx) foi utilizado o teste não-paramétrico de Mann-Whitney e para as comparações avaliação x reavaliação, utilizou-se o teste não-paramétrico de Wilcoxon. O nível de significância adotado para ambos os testes foi de 5% (p<0,05). Resultados: Após o programa de fisioterapia aquática verificou-se um aumento significativo na PImáx de 71,4 ± 35,8cmH­2O para 82,1 ± 37,9cmH­2O (p=0,0002) e para a PEmáx de 92,4 ± 42,4 para 118,7 ± 45,8 (p=0,0002). Para o programa de fisioterapia convencional, não foi obtido diferenças estatisticamente significantes tanto para a PImáx como para a PEmáx. Conclusão: Comparando os dois grupos (FA x FC), foi possível observar diferenças estatísticas nos valores de PI Máx (p=0,00) e PEMáx (p=0,00) em favor dos valores obtidos na fisioterapia aquática.

          Unitermos: Fisioterapia. Sistema respiratório. Pressão hidrostática.

 

Abstract

          Purpose: The objective of the current study was to evaluate and to compare the strength of the respiratory musculature in patients without respiratory alterations that performed conventional and aquatic physiotherapy. Methods: The study was carried out as a quantitative analysis of 37 individual from 30 to 60 year of age, divided into two groups: aquatic physiotherapy (FA) and conventional physiotherapy (FC) groups. For data collection, individual questionnaires and manovacuometric tests were applied before and after the treatment. The Mann-Whitney non-parametric test was used to compare maximal inspiratory pressure (PImax) and maximal expiratory pressure (PEmax) amongst groups (FA x FC), and the Wilcoxon non-parametric test was used to compare data obtained at the evaluation versus re-evaluation moment. Both tests were performed at a level of 5% of significance (p<0.05). Results: A significant increase in PIMax, from 71,4 ± 35,8cmH­2O to 82,1 ± 37,9cmH­2O (p=0,0002) and in PEmax from 92,4 ± 42,4 to 118,7 ± 45,8 (p=0,0002), was observed in the group submitted to the aquatic physiotherapy. No significant differences could be observed in the PImax and PEmax in the group submitted to conventional physiotherapy. Conclusion: When both groups were compared (FA versus FC) significant differences were observed on PImax values (p=0,00) and PEmax (p=0,00) favoring the results obtained with aquatic physiotherapy.

          Keywords: Physiotherapy. Respiratory system. Hydrostatic pressure.

 

Recepção: 11/08/2014 - Aceitação: 24/11/2014.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 199, Diciembre de 2014. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    O ambiente aquático apresenta inúmeras vantagens comparadas ao solo. Grande parte delas é mediada pelos efeitos fisiológicos do meio advindos, principalmente, dos efeitos físicos da água1. A pressão hidrostática e o empuxo induzem o sistema respiratório a trabalhar sob constante sobrecarga2.

    Poucos são os estudos referentes ao uso da fisioterapia aquática como recurso no tratamento dos pacientes com disfunções respiratórias. Pereira e Cubero (2000) ressaltam que durante a imersão, a mecânica e a função pulmonar são alteradas de modo a interferir no comprimento e nas atividades dos músculos respiratórios, assim como, na complacência e resistência pulmonar. Este fato se deve principalmente a ação da pressão hidrostática sobre o tórax. Segundo Pereira & Cubero3, a imersão ao nível dos ombros, faz com que ocorra uma compressão tanto do abdômen quanto do tórax deixando os músculos inspiratórios em vantagem mecânica, apresentando assim mais força contrátil.

    A fisioterapia aquática e a fisioterapia convencional exercem efeitos positivos no sistema respiratório com protocolo específico. No entanto este estudo tem como objetivo avaliar e comparar a força da musculatura respiratória em pacientes sem alterações respiratórias que realizam fisioterapia aquática e fisioterapia convencional.

2.     Materiais e métodos

    A amostra foi composta por 37 pacientes, com idade entre 30 e 70 anos, de ambos os sexos, residentes no município ao norte da região do Alto Uruguai. Os pacientes foram divididos em dois grupos: o grupo de fisioterapia aquática (G1), composto de 18 pacientes com idade média de 51,4 ± 10,3 anos que realizaram a fisioterapia aquática duas vezes semanais. O grupo de fisioterapia convencional (G2) composto por 19 pacientes que realizaram fisioterapia convencional duas vezes semanais. Ambos os grupos executaram 20 sessões com duração de 60 minutos por sessão.

    Mediante a disponibilidade e aceitação voluntária para participar do estudo e após a assinatura do termo de consentimento, foi iniciado o teste de força muscular respiratória com respectivo tratamento de fisioterapia aquática e convencional. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa sob o parecer consubstanciado número 4.08.02.09.1432.

    Foram incluídos os pacientes que consentiram em participar do estudo, realizando duas sessões semanais alternadas sem interrupção até completarem 20 sessões e não apresentarem alterações respiratórias prévias e durante o tratamento.

    A avaliação da força muscular respiratória foi avaliada através do método manovacuometria realizada antes da primeira sessão, e após 20 sessões de tratamento.

    Para comparação intergrupos (FA x FC), das variáveis PImáx e PEmáx foi utilizado o teste não-paramétrico de Mann-Whitney e para as comparações avaliação x reavaliação, foi utilizado o teste não-paramétrico de Wilcoxon. O nível de significância adotado para ambos os testes foi de 5% (p<0,05).

3.     Resultados e discussão

    Comparando-se os resultados obtidos de PImáx de fisioterapia aquática observou-se que existem evidências estatísticas altamente significativas (p=0,0002) de uma diferença entre os valores, sendo possível observar após o programa de reabilitação um aumento na PImáx de 71,4 ± 35,8 cmH2O para 82,1 ± 37,9 cmH2O (Tabela 1). Em relação aos valores da PEmáx pôde-se também perceber que após o programa de reabilitação houve um aumento significativo na PEmáx de 92,4 ± 42,4 cmH2O para 118,7 ± 45,8 cmH2O (p=0,0002).

Tabela 1. Valores referentes à de Pressão Inspiratória Máxima e Pressão Expiratória Máxima para o programa de fisioterapia aquática

    Na Tabela 2 encontram-se os valores de PImax E PEmax antes e após intervenção da fisioterapia convencional (G2). Diferentemente do que foi observado no grupo de fisioterapia aquática (G1), não foi possível observar diferenças significativas nos valores obtidos no grupo G2.

Tabela 2. Valores médios, mediana e desvio padrão referentes à Pressão Inspiratória Máxima para o programa de Fisioterapia Convencional

    Em estudo realizado por Caromano et al.1, com objetivo de avaliar os efeitos fisiológicos da imersão em água aquecida em 20 crianças portadoras de Distrofia Muscular de Duchenne, do sexo masculino com idade entre 8 e 15 anos, que realizavam exercícios ativos gerais intercalados com deambulação e exercícios respiratórios, com duração de 40 minutos foram observadas alterações clinicamente significativas nas pressões respiratórias que, provavelmente, estão relacionados a dois fatores: à pressão hidrostática e à complacência pulmonar, que possivelmente pode diminuir4. Dentro dessa linha de raciocínio o efeito positivo da imersão pode ser uma das possíveis justificativas para o aumento da PImáx e PEmáx neste estudo.

    Fagundes et al.5, realizaram um estudo com 22 indivíduos divididos em grupo controle e grupo experimental para verificação dos efeitos da imersão em água aquecida. Os resultados deste estudo nas condições experimentais utilizadas permitiram concluir que a imersão em água aquecida exerce importantes efeitos no sistema respiratório, demonstrando influência na força muscular respiratória.

    Para o programa de fisioterapia convencional no presente estudo, não foram observadas evidências estatísticas significantes de diferença entre a avaliação e a reavaliação, para a PImáx. Observou-se uma variação do PImáx de 79,1 ± 23,9 cmH2O para 78,9 ± 22,5 cmH2O. Quanto a PEmáx não foi possível verificar diferença estatisticamente significante entre a avaliação e a reavaliação do tratamento com uma variação de 92,5 ± 29,6 cmH2O e 90,6 ± 29,5 cmH2O (p=0,05).

    Do Valle et al.6, sugere que os músculos respiratórios podem ser avaliados e treinados com uma maior eficiência através de programas de treinamento específicos de força e da resistência muscular respiratória e que os músculos respiratórios respondem mais eficientemente a programas de treinamento específicos. Nesse sentido, a especificidade proporcionada pela fisioterapia aquática no estímulo da musculatura respiratória poderia explicar as melhoras significativas observadas em relação ao grupo que realizou a fisioterapia convencional.

    Oliveira et al.7 avaliaram o efeito de um protocolo de reabilitação com exercícios específicos e não específicos na força da musculatura respiratória em indivíduos com DPOC. Os autores verificaram que o treinamento específico aumentou significativamente a força muscular respiratória, ao passo que no treinamento não-específico houve apenas ganho de endurance respiratório.

    A comparação entre a fisioterapia aquática e fisioterapia convencional para os valores de PImáx e PEmáx mostra que existem fortes evidências estatísticas de diferenças entre as mesmas. Para a Pressão Inspiratória observa-se um aumento médio de (10,7 ± 5,6) cmH2O para Fisioterapia Aquática e uma diminuição média de (26,3 ± 13,5) cmH2O para a fisioterapia convencional. A comparação entre as duas variações demonstra que existem fortes evidências estatísticas de diferenças entre as mesmas, concluindo que há um aumento significativo na PIMáx após a fisioterapia aquática sem redução significativa após fisioterapia convencional. O mesmo fato foi observado com a PEmáx (Tabela 3).

Tabela 3. Comparação entre os valores referentes à avaliação e a reavaliação da PImax e PEmáx entre os grupos G1 e G2

    Em estudo realizado por Magalhães8, que teve como objetivo comparar a força muscular respiratória, expansibilidade torácica e mobilidade de tórax de atletas de natação e de indivíduos saudáveis não praticantes de exercício físico foi possível constatar que atletas de natação apresentaram diferença significativa da PImáx e PEmáx quando comparados a indivíduos sedentários. De acordo com os autores, esses benefícios podem ser também atribuídos às propriedades físicas da água.

    Ide et al.9, compararam os efeitos de um programa de fisioterapia aquática e fisioterapia em solo, nas variáveis de força inspiratória e expiratória de idosos saudáveis. Os exercícios compreenderam aquecimento, exercícios ativos resistidos do tronco, ombro e membros superiores e foram os mesmos para os dois grupos, apenas com a diferença entre solo e água. Os resultados demonstraram que o grupo de fisioterapia aquática apresentou aumentos significantes da força inspiratória máxima, em relação ao grupo de exercícios em solo, corroborando com os achados do presente estudo.

    Nossos achados também podem ser justificados de acordo com os relatos de Kurabayashi et al.10, demonstrando que a pressão hidrostática trabalha como uma carga para contração do diafragma durante a inspiração, resultando em um exercício para essa musculatura, melhorando seu desempenho.

4.     Considerações finais

    Pode-se concluir por meio da análise de dados que a fisioterapia aquática promoveu ganho de força máxima respiratória, melhorando, desse modo a performance respiratória. Possivelmente, as propriedades físicas da água auxiliam ou são responsáveis por esse aumento, em protocolo não específico de exercícios respiratórios.

    Neste estudo, a fisioterapia convencional não mostrou alterações significativas na força inspiratória e expiratória máximas. Esses resultados permitem concluir que é necessário um protocolo específico com exercícios respiratórios, de preferência realizados em meio líquido, para ganho deste parâmetro.

    Acredita-se importante ressaltar que mais estudos sejam realizados a fim de verificar a influência da fisioterapia aquática nos parâmetros respiratórios, sem protocolo específico.

Referências bibliográficas

  1. CAROMANO, F.A. et al. Efeitos fisiológicos da imersão e do exercício na água. Fisioterapia Brasil. 2003; 4: 60-5.

  2. FUENTES, G.R.; SANTOS, R.T. Bases físicas de la hidroterapia. Fisioterapia. 2002; 24:14-21.

  3. PEREIRA, K; CUBERO, I. M. Alterações fisiológicas do sistema pulmonar durante a imersão. Revista de Fisioterapia. UNICID, v.1, n.1, p.83-90, jan./jun. 2000.

  4. HALL. J.; BISSON, D.; OHARE, P. The physiology of imersion. Phisiotherapy, v. 76, n.9, p. 517-21, 1990.

  5. FAGUNDES, A.A.; SILVA, R.F. Efeitos da imersão em água aquecida sobre o sistema respiratório. Fisioterapia e movimento, 19 (4): 113-118, out-dez., 2006.

  6. DO VALLE, P.H. et al. Avaliação do Treinamento Muscular Respiratório e do Treinamento Físico em Indivíduos Sedentários e em Atletas. Rev. Bras. De Atividade Física e Saúde. V. 2, n. 4, p. 27 – 40, 1997.

  7. OLIVEIRA, C.R. et al. Treinamento Muscular Respiratório na Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica. Claretiano – Revista do Centro Universitário Batatais, n. 5, 2005.

  8. MAGALHÃES, M.S. Estudo comparativo da força muscular respiratória e da expansibilidade torácica de atletas de natação e não praticantes de exercício físico. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste, n. 01, 2005.

  9. IDE, M.R. et al. Effects of an aquatic versus non-aquatic respiratory exercise program on the respiratory muscle strength in healthy aged persons. Clinics. 2005; 60 (2): 151-8.

  10. KURABAYASHI, H. et al. Comparison of three protocols for breathing exercises during immersion in 38ºC water for chronic obstructive pulmonary disease. Cme Article 1998; 77(2): 145-148.

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