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Contribuição dos fatores ambientais
e de tarefas no desenvolvimento motor

La contribución de los factores ambientales y de tareas en el desarrollo motor

 

*Acadêmico do curso de Educação Física (Licenciatura 6° Período)

Universidade Salgado de Oliveira, Campus Goiânia, GO

**Docente do curso de Educação Física.

Universidade Salgado de Oliveira, Campus Goiânia, GO

Gabriel Jamardo Beiro Salazar*

Edson Leonel Rocha**

gabrieljbs87@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O seguinte artigo trata acerca de um diálogo entre uma revisão bibliográfica, a respeito do referido tema, com uma experiência da disciplina Estágio Supervisionado I da Universidade Salgado de Oliveira - UNIVERSO – Campus Goiânia, realizado entre Março e Julho de 2013. A citada experiência deu-se na Escola Projeto criança, em uma turma de Educação infantil, com alunos de 4 (quatro) a 6 (seis) anos de idade, onde decidimos investigar a influência dos fatores ambientais e de tarefas no desenvolvimento motor do alunado, além de uma mera dependência do fator de maturação biológica para o mesmo, bem como a diferenciação entre a participação de cada um desses, chegando, assim, a conclusão de que, os fatores extrínsecos agem diretamente no processo.

          Unitermos: Educação Física Escolar. Desenvolvimento motor. Ambiente.

 

Recepção: 20/10/2014 - Aceitação: 29/11/2014.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 199, Diciembre de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O desenvolvimento motor, como área do conhecimento, deve ser explorado, respeitando a totalidade do indivíduo, do ser humano, sempre levando em consideração outras áreas que estão intimamente interligadas a ele, que são a cognição e a capacidade de socialização, a afetividade.

    Podemos observar diferenças de desenvolvimento motor em crianças, e não só nelas, como também em jovens, adultos e idosos, dependendo da localidade, da cultura, dos estímulos e condições ambientais em que o indivíduo vive e desempenha suas atividades cotidianas, e também podemos observar diferenças motoras entre pessoas que tem essas características, citadas anteriormente bastante similares, demonstrando que há também um fator maturacional, genético, envolvido no processo.

    Com este estudo queremos demonstrar a diferença da participação dos fatores ambientais e de tarefas, em relação aos fatores maturacionais, individuais, genéticos, no desenvolvimento motor, justificando assim a importância da intervenção dos profissionais da área de Educação Física Escolar nos estímulos psicomotores dados aos seus respectivos alunos.

Metodologia

    O presente artigo foi construído por meio de revisão bibliográfica, buscada em livros e outros artigos, acerca do tema escolhido, associada a uma prática pedagógica em uma escola de Educação Infantil, da rede particular em Goiânia-GO, em uma turma com alunos de 5 (cinco) e 6 (seis) anos de idade, sendo estes divididos em 4 (quatro) meninas e 8 (oito) meninos.

    A experiência do estágio supervisionado I foi divida em três partes, sendo elas:

  • Observação: 4 (quatro) visitas à escola, buscando analisar o espaço físico, materiais disponíveis, abordagem metodológica utilizada, e níveis de desenvolvimento dos padrões motores utilizados pelos educandos nas atividades escolares, a fim de planejar uma intervenção adequada para com os alunos, visando alcançar os objetivos propostos no plano de ensino.

  • Co-regência: 3 (três) aulas, na condição de participar ativamente do processo pedagógico, porém sem colocar em prática a metodologia escolhida por nós no plano de ensino. Tratou-se de uma ótima oportunidade para entrosamento com a turma.

  • Regência: 14 (quatorze) aulas, atuando à frente da turma, em dupla, colocando em prática atividades visando um treinamento de habilidades psicomotoras, tais como praxia global, praxia fina, equilíbrio, lateralidade, força, noções espaço-temporais, bem como, avaliando por observação, padrões de movimentos, níveis de desenvolvimento motor, fazendo uma comparação aluno com aluno, investigando a importância dos fatores ambientais e de tarefas para esse desenvolvimento.

Referencial teórico

    Segundo Gallahue (2005),”Desenvolvimento motor é a contínua alteração no comportamento motor ao longo do ciclo da vida, proporcionada pela interação entre as necessidades da tarefa, a biologia do indivíduo e as condições do ambiente”. Vemos então, que o desenvolvimento motor acontece de uma forma indissociável entre esses fatores individuais ou biológicos, tais como DNA, predisposição a doenças, deficiências, bem como fatores ambientais, que são o clima da região, a abundância ou escassez de água e/ou comida, temperatura, ou seja, a geografia em geral, e também os fatores sócio-culturais, ou de tarefas, quem envolvem os estímulos, a influência da classe social, do gênero e da etnia do indivíduo. Os fatores intrínsecos e extrínsecos do indivíduo, analisados sob uma perspectiva que respeite a sua totalidade nos aspectos biopsico-sócioculturais, segundo explana Ana da Costa Polônia apud Plomin (conforme citado por Shaffer, 2005) aponta que é necessário focalizar a atenção e os esforços em entender como esses dois fatores interagem e se combinam para provocar transformações no desenvolvimento, e não percebê-los como pólos antagônicos.

    Além de respeitar-se a totalidade do indivíduo, quando discutimos acerca do desenvolvimento motor, é importante levar em consideração a velocidade do mesmo, pois como afirma Gallahue (2005), “embora o ‘relógio biológico’ seja bastante específico quando se trata da seqüência de aquisição de habilidades motoras, o nível e a extensão do desenvolvimento são determinados individual e dramaticamente pelas exigências das tarefas em si”, com isso notamos uma influência bastante participativa do fator maturacional na seqüência em que as habilidades motoras aparecem, mas analisando por um prisma qualitativo, vemos que os fatores extrínsecos são notoriamente decisivos para a passagem a níveis de padrões de movimentos mais elevados.

    Considerando Gallahue (2005), os movimentos podem ser classificados em três diferentes categorias, sendo elas, os de movimentos estabilizadores, que são aqueles que tem como objetivo manter o equilíbrio em relação à força da gravidade; os movimentos locomotores, que tem como objetivo a mudança de localização do corpo em relação a um ponto fixo na superfície e, por fim, os movimentos manipulativos, que se referem tanto à manipulação motora rudimentar, quanto à manipulação motora fina, sendo que a primeira envolve aplicar força sobre objetos ou receber força deles, e a segunda envolve o uso complexo de músculos da mão e do punho. Esses tipos de movimentos, examinados por uma ótica que procura entender o desenvolvimento dos mesmos, ou progressão das habilidades motoras, são divididos em quatro fases, com idades cronológicas servindo apenas como um parâmetro de normalidade.

    A primeira, trata-se da fase reflexa de movimentos, que começa na vida intra-uterina e se extende até por volta dos 4 meses de idade, seguida pela fase de movimentos rudimentares, que vai basicamente do nascimento até os dois anos de idade, chegando-se a fase de movimentos fundamentais, aos quais iremos nos prender aqui com mais aprofundamento, por se tratar da fase em que teórica e usualmente estariam as crianças trabalhadas na experiência de estágio, tendo em vista que essa fase vai basicamente dos dois aos seis anos de idade, podendo sofrer alterações justamente pelos fatores ambientais e de tarefas. Por último estaria a fase de movimentos especializados.

    A fase fundamental de movimentos é dividida, por sua vez, em três estágios, o inicial, que segundo Gallahue (2005) “representa as primeiras tentativas da criança orientadas para o objetivo de desempenhar uma habilidade fundamental”, porém nessa fase ainda há presença de um alto nível de dificuldade e esforço, bem como bastante erros na execução dos movimentos, seguido pelo estágio elementar, que ainda segundo Gallahue (2005) “onde há uma melhor coordenação rítmica e aprimora-se a sincronização dos elementos temporais e espaciais do movimento mas os padrões dos movimentos são ainda geralmente restritos ou exagerados”, ou seja, trata-se de um estágio onde notamos a presença de muitos indivíduos adultos que não passam ao próximo estágio, pois o que diz o referido autor, é que a passagem do estágio inicial para o elementar, dá-se via maturação, porém a passagem para o próximo estágio, o maduro, que é caracterizado por desempenhos mecanicamente eficientes, coordenados e controlados, e normalmente acontece aos cinco ou seis anos de idade, dá-se por meio de oportunidades para práticas de atividades motoras, encorajamento para as mesmas e a instrução em um ambiente que promova o aprendizado. Ainda segundo Gallahue (2005), “Sem essas oportunidades, torna-se virtualmente impossível um indivíduo atingir o estágio maduro de certa habilidade nesta fase, o que vai inibir a aplicação e o desenvolvimento na fase posterior”, notamos então, a importância dos estímulos motores, como reforça Torres e cols. (1999), ao afirmar que a criança estimulada de forma ampla, por meio da exploração do meio ambiente, tem mais chance de praticar as habilidades motoras e, conseqüentemente, de dominá-las com facilidade, ou seja, quanto maior o número de experiências da criança em seu ambiente natural, melhor será seu desempenho nas tarefas cotidianas (Paim, 2003).

    Porém devemos ter cuidado ao tentar “rotular” ou classificar um indivíduo em relação a qual fase ou estágio do desenvolvimento motor o mesmo se encontra, e sim exercer essa classificação para com determinada habilidade motora, visto que Roberton apud Tani et al. (1988), afirmou que as mudanças, nos estágios de desenvolvimento, ocorrem de forma segmentar e não em mudanças no corpo todo. Por exemplo, num mesmo instante de tempo uma criança pode estar no estágio elementar e estágio inicial, respectivamente, na ação de braço e tronco para o padrão arremessar.

    Analisando uma pesquisa de campo, em que se verificou a diferença entre o desenvolvimento motor de crianças das zonas urbana e rural do Município de Gameleira, Zona da Mata de Pernambuco, por meio da Escala de Desenvolvimento Motor (EDM), desenvolvida por Rosa Neto (2002), foram analisados motricidade fina, motricidade global e equilíbrio, de 21 crianças na faixa etária de 8-10 anos de ambos os sexos. Esse estudo realizado por Souza (2008), verificou um atraso de 4,4 meses para motricidade fina, 7,6 meses na coordenação global e 1,2 meses no equilíbrio das crianças da zona urbana em relação à zona rural, dados esse que colaboram para o entendimento de que os fatores ambientais e de tarefas estão intimamente ligados ao desenvolvimento motor, participando ativamente desse processo.

Resultados e discussão

    Durante o período de regência, quando foram elaborados 14 planos de aula, todos trazendo atividades confeccionadas com a intenção de verificação e melhorias das habilidades psicomotoras dos alunos, notamos ao longo das aulas, que a variação, tanto da maturação, inerente a individualidade de cada um, bem como das habilidades motoras maduras, fundamentalmente influenciadas pelos estímulos extrínsecos é bastante alta, verificação essa feita através da observação de que cada um, respeitada sua especificidade, tem facilidades e limitações em determinadas áreas do desenvolvimento psicomotor, o que corrobora para o entendimento de que, como cita a literatura, determinadas habilidades motoras podem estar em um grau de desenvolvimento maior (maduro), enquanto outras ainda não alcançaram o referido estágio.

    As atividades propostas foram planejadas de maneira a respeitar o interesse das crianças, por brincadeiras que valorizam a ludicidade, levando assim, satisfação aos participantes, o que ajudou muito na intensidade e afinco com que os mesmos participavam das aulas, trazendo assim uma melhor visão das capacidades e limitações psicomotoras, tanto da turma de um modo geral, quanto de cada um dos alunos.

    Através de uma investigação informal sobre o ambiente e tarefas, aos quais estavam submetidos cada aluno, fora do ambiente escolar, percebemos que as crianças mais estimuladas, realmente tinham padrões de movimentos mais desenvolvidos, coordenação motora mais apurada, melhor equilíbrio, lateralidade, enquanto os menos estimulados, possuíam déficit em algumas dessas áreas, como por exemplo, um dos alunos, que até o ano anterior, ao invés de ficar com crianças da sua idade e receber os estímulos motores adequados, ficava durante o dia em um berçário na companhia de bebês, bem mais novos do que ele, o que gerou no mesmo, um retardo, comparado aos colegas atuais, tanto nos aspectos motores, ocasionado pela falta de estímulos e vivência, bem como, no aspecto afetivo, em que se notava claramente que o referido aluno se comportava por várias vezes como um bebê.

Considerações finais

    Após o abordado, faz-se necessário refletir acerca do estilo de vida que levamos atualmente, principalmente nos grandes centros urbanos, onde, cada vez mais, por questões de segurança e até mesmo comodidade, privamos nossas crianças de uma vivência prática de movimentos e atividades que utilizem e desenvolvam uma gama variada de atos motores, fundamentalmente necessários para o desenvolvimento, não só motor, mas total do indivíduo, pois como anteriormente citado, não há como fazer uma dissociação entre os aspectos cognitivos, afetivos e motores.

    Portanto, notamos a fundamental importância das aulas de Educação Física Escolar, que quando bem planejadas, visando atender as necessidades desenvolvimentistas dos aspectos psicomotores, atuam como uma primorosa ferramenta pedagógica, levando a possibilidade de um satisfatório desenvolvimento da criança.

Referencial bibliográfico

  • GALLAHUE, D.L.; OZMUN, J.C. Compreendendo o desenvolvimento motor: bebês, crianças, adolescente e adultos. 3ª.ed. Sâo Paulo: Phorte, 2005.

  • ROBERTON, M. A. Describing “stage” within and across motor tasks. In: J.A.S. Kelso & J. E. Clark (ed.). The development of movement control and coordination. Chichester, John Wiley & Sons, 1982.

  • SOUZA, T.O.; PAIVA, M.G. Perfil do desenvolvimento motor de escolares das zonas urbana e rural da Zona da Mata de Pernambuco. In: XVI CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA UFPE, 2008, Recife. Anais do XVI congresso de iniciação científica – UFPE. Recife, 2008. p. 1-6.

  • TANI, GO ET AL. Educação Física Escolar: Fundamentos de uma abordagem desenvolvimentista. Pedagógica e universitária LTDA. 1988.

  • TORRES, F. ET AL. A relação entre a compreensão de Educação Física e a performance motora de crianças na faixa etária de 6 a 7 anos. Trabalho apresentado no Simpósio de Educação Física Escolar, Universidade de São Paulo. 1999.

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