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Adesão ao tratamento do diabetes mellitus tipo II 

em pacientes atendidos pela unidade de saúde

Adhesión al tratamiento de diabetes mellitus tipo II en pacientes atendidos por la unidad de salud

 

*Mestre em Ciências da Saúde - PPGCS/Unimontes

Especialista em Terapia Intensiva Neonato-Pediátrica - PUC/MG

Enfermeiro – Unimontes

(Brasil)

Edsângela Júnia Antunes Feliciano

Luciene Teixeira dos Santos

Renê Ferreira da Silva Junior

Mariza Alves Barbosa Teles

Henrique Andrade Barbosa*

henriqueabarbosa@ig.com.br

 

 

 

 

Resumo

          O diabetes mellitus tem sido um dos maiores problemas da saúde pública, aumentando a morbidade e mortalidade por doenças cardiovasculares entre outras. A adesão ao tratamento é de suma importância na vida do diabético, a partir do momento em que se muda o estilo de vida, os hábitos alimentares e faz uso da medicação regularmente, o diabetes é controlado. O tratamento correto é um conjunto de fatores, um depende do outro. Por isso é importante ressaltar que não é só fazer o tratamento medicamentoso que irá controlar o diabetes, para se ter os níveis glicêmicos normais é preciso adaptar há um novo estilo de vida. Objetivo foi conhecer a adesão ao tratamento do diabetes mellitus II, visando identificar as dificuldades dos diabéticos em aderir ao tratamento. Estudo descritivo, de abordagem qualitativa. As informações foram coletadas por meio de entrevista, foram gravadas, transcritas e analisadas, segundo a técnica de análise de conteúdo. Fatores que contribuem no tratamento do diabetes são: a medicação, a dieta e os exercícios físicos. Fator que dificulta o tratamento do diabetes é a privação, porém a conformação quase sempre é o resultado da doença. Percebe-se que os pacientes portadores de diabetes, na maioria, têm consciência e conhecimento sobre as possíveis complicações e conseqüências da doença, assim, aderem corretamente ao tratamento, porém alguns indivíduos ainda deixam a desejar esquecendo a medicação, não realizando a dieta alimentar corretamente, não dão ênfase aos exercícios físicos.

          Unitermos: Diabetes Mellitus Tipo II. Terapêutica. Unidade Básica de Saúde. Educação em saúde. Pesquisa qualitativa.

 

Recepção: 18/09/2014 – Aceitação: 04/12/2014.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 199, Diciembre de 2014. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    O diabetes é uma doença crônica não transmissível, caracterizada pelas taxas elevadas de glicemia e associadas a alterações em diversos sistemas como o renal, o neurológico e o cardiovascular. Geralmente acontece uma redução ou inibição na produção de insulina devido a processos específicos, por exemplo, destruição das células beta do pâncreas (produtoras de insulina), resistência à ação da insulina, distúrbios da secreção da insulina, entre outros. Apresenta altas taxas de morbidade com diminuição da qualidade de vida. É uma das principais causas de mortalidade, insuficiência renal, amputação de membros inferiores, cegueira e doença cardiovascular (BRASIL, 2006; ZACHOW; STÜRMER; KRAUSE, 2012).

    A maioria dos pacientes recebe o diagnóstico quase ocasionalmente, em exames de rotina ou quando procuram auxílio médico já em decorrência das complicações. Considera-se assim uma "doença silenciosa", pois não produz sintomas significativos ou diferenciados, havendo, portanto dificuldades na mudança de comportamentos (principalmente alimentares), uma questão também cultural no cultivo de hábitos saudáveis, antes de ocorrer sérias complicações (BRASIL, 2006).

    A base do tratamento do diabetes é a terapia nutricional e o estímulo à atividade física, aliado à perda de peso quando necessário. O tratamento com antidiabéticos orais e/ou insulina, quando necessário, é sempre adjuvante ao tratamento dietético e físico. Se ao paciente é apenas oferecido o tratamento farmacológico, sem a devida orientação nutricional e de hábitos de vida, tanto o paciente quanto o profissional de saúde serão frustrados nos esforços de controle glicêmico e prevenção de complicações (MINAS GERAIS, 2006).

    O presente estudo teve como objetivo conhecer a adesão ao tratamento do diabetes mellitus II, visando identificar as dificuldades dos diabéticos em aderir ao tratamento e assim ter conhecimento em como orientá-los a melhorar essa adesão.

2.     Método

    Foi realizado um estudo descritivo de abordagem qualitativa, a população do estudo foi composta por diabéticos cadastrados na Estratégia Saúde da Família (ESF) Monte Carmelo II, na cidade de Montes Claros - MG. O projeto desta pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Soebras e obteve parecer consubstanciado de aprovação nº 0122.0.445.000-11.

    Foram considerados para a participação da pesquisa, pacientes com diagnóstico de Diabetes mellitus tipo II, com idade superior a 18 anos cadastrados e acompanhados pela referida ESF no período de coleta dos dados, de ambos os sexos, que apresentarem estado cognitivo preservado, e que concordarem participar da pesquisa. Cada entrevistado foi identificado por uma letra e um número E1, E2, E3, E4, E5..., sendo assim resguardado o sigilo de suas identidades. A pesquisa foi realizada em nível domiciliar pela própria pesquisadora com agendamento prévio e teve duração média de 30 minutos. As informações coletadas foram gravadas, transcritas e analisadas, segundo a técnica de análise de conteúdo. Ao término das análises, as entrevistas foram categorizadas e discutidas baseadas na literatura. O término da coleta de dados ocorreu por saturação teórica.

3.     Resultados e discussão

Caracterização dos participantes

    Os portadores de diabetes que foram entrevistados neste estudo foram investigados quanto às variáveis sociodemográficas, sendo que a maioria tinha idade superior a 60 anos; como escolaridade prevaleceu o ensino fundamental incompleto; religião católica, seguida da evangélica; renda mensal entre um e três salários mínimos (salário mínimo base no Brasil, em 2014, de R$ 724,00); e quanto ao estado civil, a grande maioria é casada.

Categoria 1. Fatores que contribuem no tratamento do diabetes

    A medicação é um dos fatores imprescindíveis para o tratamento do diabetes, sendo ele o responsável em suprir a deficiência da insulina no metabolismo.

E1) "O remédio que eu tomo todo dia (...)".

E3) "Medicamento né e o controle".

E7) "Tomar a medicação certinha (...)".

    O tratamento farmacológico prevê a prescrição de medicamentos para o controle glicêmico do diabetes e a escolha do medicamento dependerá dos valores das glicemias no jejum e pós-prandial, da hemoglobina glicada, do peso, da idade, de complicações e doenças associadas (OLIVEIRA; LERARIO, 2008).

    Após uma consulta a publicações sobre o tema, constataram que não há consenso sobre o conceito, mas de forma geral, adesão é compreendida “como a utilização de medicamentos prescritos e outros procedimentos em pelo menos 80% de seu total observando horários, doses, tempo de tratamento” (LEITE; VASCONCELLOS, 2003, p.777).

    A não adesão à medicação para a diabetes representa um dos maiores contributos para um controle glicêmico pobre (Cox; Gonder-Frederick, 1992) e está associada a maiores custos com os cuidados de saúde (Hepke; Martus; Share, 2004). Em contrapartida, os pacientes aderentes à medicação apresentam um bom controle metabólico e um valor baixo de HbA1c, e bom controle metabólico (HILL-BRIGGS et al., 2005).

    A dieta deve ser associada à medicação o que é essencial para o controle do diabetes.

E2) "Controlar eu tenho que fazer o seguinte, não comer açúcar de jeito nenhum, não comer coisa doce, se eu comer alguma coisa doce ele sobe né? tenho que evitar de comer doce".

E4) "Controlar a alimentação".

E5) "O que ajuda é deixar de comer as coisas que não podem".

E9) A dieta que venho fazendo.

E10) Alimentação e medicamento na hora certa

    O tratamento com uma equipe multidisciplinar é fundamental em todas as pessoas com diabetes, uma vez que mudanças no estilo de vida, práticas dietéticas apropriadas, o monitoramento da glicemia, exercícios e medicações conduzem ao controle com risco mínimo de episódios hipoglicêmicos (SHILS et al., 2003).

    Embora a literatura médica especializada contenha diversos trabalhos com análise crítica sobre a qualidade de vida em diabéticos, poucos fazem menção especificamente ao aspecto dietético, e sim no que diz respeito à contagem de carboidratos (HISSA; ALBUQUERQUE, 2004).

    Uma dieta específica baseada na restrição de alimentos ricos em carboidratos, gorduras e proteínas auxilia no controle glicêmico do indivíduo com Diabetes Mellitus tipo 2 (SBD, 2008; GOVEIA; VIGGIANO, 2011) como também a atividade física melhora o controle metabólico, reduz a necessidade de hipoglicemiantes e diminui os riscos cardiovasculares (BRASIL, 2006).

    Para a Sociedade Brasileira de Diabetes (2008) não é possível um controle metabólico sem uma alimentação adequada. Cerca de 50% das famílias com diabetes alteram hábito alimentar favorecendo assim o controle (PACE et al., 2003).

    A atividade física é um dos fatores que devem acompanhar o portador de diabetes, pois complementa o seu tratamento.

E11) "Recebo as orientações do endocrinologista que é fazer exercícios diariamente".

E1) "(...) as caminhadas também de vez em quando".

    Quanto à realização de atividade física, existem vários planos adequados ao controle do diabetes. Observa-se que todos demonstram que há um impacto da atividade física no controle glicêmico. Porém, o início dessa atividade deve ser gradativo e baseado em metas individuais viáveis (ARAÚJO, 2004; SBD, 2008; ADA, 2009; FERREIRA; VIVOLO, 2011).

Categoria 2. Fatores dificultadores no tratamento do diabetes

    Um dos maiores problemas enfrentados pelo diabético está em mudar o estilo de vida, principalmente a alimentação e também a tomada da medicação corretamente.

E3) "A alimentação, não pode comer tudo, (...) tenho que tomar os medicamentos".

E4) "Tudo né, porque a gente tem que comer o que as vezes nem gosta mas é o que eles mandam comer".

E5) "Modificou foi muito, a gente não pode comer, não dorme direito. Fica com o sentido nos remédios, tomei e penso que não tomei".

E7) "Modificou a alimentação, ser mais educada na alimentação tem que comer uma certa porção, na hora certa".

    Segundo Santana (2002, p. 54, 59) “(...) o sabor do proibido faz mais doce o mel (...). Da proibição surge o desejo, e desse desejo surge a transgressão. Na verdade a proibição aguça o objeto de desejo, quanto mais proibido mais desejado se torna."

    Péres, Franco e Santos (2006), em um estudo sobre o comportamento alimentar de diabéticos, referem que dificuldades em seguir a dieta recomendada estiveram muito presentes nas pessoas entrevistadas. Vários depoimentos mostraram incapacidade de realizar a dieta devido ao inconformismo com seu caráter restritivo.

E10) "Sua vida é acabada quase, o diabetes tira tudo de bom que você tem. (...) Mudou tudo, mudou minha vida toda. Tenho o pé amputado por causa da diabetes".

E11) "Sinto dores musculares, às vezes sinto fraqueza. Não comer doces, quando vou em festas evito falando que não gosto de doces, como uma forma de evitar".

    A vivência com o diabetes impõe mudanças no estilo de vida, ou seja, mudar hábitos já consolidados e assumir uma rotina que exige disciplina quanto ao planejamento alimentar como também em relação à incorporação da atividade física. O sedentarismo, por exemplo, é um fator de risco para a obesidade e outras complicações como amputação, por ser tão importante quanto o consumo de dieta inadequada, e possui uma relação direta e positiva com o aumento da incidência do diabetes em adultos, independentemente de história familiar de diabetes (MALTA et al., 2006; Mc LELLAN; BARBALHO; CATTALINI, 2007).

    O processo da aceitação é um dilema vivido pelos portadores de diabetes, mas essa condição vai sendo assimilada aos poucos, visando que o bem-estar e a busca pela vida saudável é necessário.

E1) "É mais controlar o açúcar, a comida que não pode comer muita coisa".

E2) "Até hoje não modificou nada não, eu posso cortar minha mão, meu pé que não inflama de jeito nenhum".

E11) "Inicialmente tudo dificulta, depois estabiliza aquela vontade de comer doces, a gente vai acostumando".

    O tratamento também dependerá muito da motivação pessoal, aceitação da doença e apoio familiar. Outra variável que intervêm na adesão são as características da doença, evidenciados pela própria condição do paciente e pelo progresso de sua doença (LUBKIN; LARSEN, 2002; BLANSKI; LENARDT, 2005; PÉRES; FRANCO; SANTOS, 2006).

Categoria 3. Adesão ao tratamento

    Percebe-se que a tomada da medicação é de grande dificuldade, muitos tomam corretamente e outros não. Nos relatos acima todos tomam corretamente. Isso comprova que realizam o tratamento de forma regular, sendo cientes da importância da medicação no tratamento.

E3) "Sim, tomo todos os dias".

E6) "Todos os dias, 3 vezes ao dia".

E8) "Todos os dias, de manhã e a tarde".

E11) "Todos os dias após o almoço".

    O tratamento da diabetes mellitus está alicerçado no uso correto de medicamentos, dieta, atividade física e educação e tem como objetivos o controle metabólico e a manutenção do peso corporal (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2006).

    A adesão ao tratamento é reconhecida pela WHO (2003) como um fenômeno multidimensional, que engloba tanto a adesão ao medicamento, como inúmeros outros comportamentos relacionados com a saúde e que ultrapassam a prescrição farmacológica.

    Em relação aos exercícios físicos, a maioria fazem caminhada, e outros além da caminhada fazem bicicleta. Essas atividades são de suma importância e complementam o tratamento, evitando complicações. É preciso orientações na realização dos exercícios, visando os benefícios.

E2) "Sim, caminhada. Não todos os dias, por causa de um acidente que teve deixou sequelas na perna".

E5) "Sim, bicicleta ergométrica e ginástica".

E7) "Sim, caminhada todos os dias".

E11) "Sim, caminhada, bicicleta todos os dias".

    Um fator importante para o tratamento do diabetes é a prática regular de atividade física que além de contribuir para melhorar a qualidade de vida, também promove um aumento a resposta dos tecidos à insulina (MERCURI; ARRECHEA, 2001; SANTOS; KNIJNIK, 2006).

Categoria 4. Orientações

    Os relatos na sua maioria enfatizam que recebem orientações médicas, desde realizar exercícios físicos, fazer a dieta e tomar a medicação. As orientações são um ponto de informação que abre caminhos e ajuda no tratamento, o paciente deve e tem o direito de ser informado sobre os cuidados que deve ter para assim realizar o tratamento com sucesso.

E1) "Eu recebo no PSF, da médica. Evitar o açúcar, controlar a alimentação, tomar os remédios, fazer caminhada".

E2) "Sim. A médica. Não comer coisa doce e fazer caminhada pra reagir, se não ele vai subindo".

E3) "Sim. A médica. Fazer exercício físico, melhorar a alimentação".

E5) "Sim. A médica. Tomar o remédio e fazer o regime".

E10) "Sim. Endocrinologista. Como controlar a alimentação".

    O fornecimento de informações é um elemento importante na educação de pacientes e são elas que levarão às mudanças no comportamento destes (MELLES; ZAGO, 1999)

    A educação em diabetes é parte imprescindível do tratamento do paciente, associado ao controle glicêmico adequado, atividade física e dieta, sendo o autocontrole de extrema importância, especialmente para o diabetes insulino-dependente (MAIA; ARAÚJO, 2002).

    Alguns diabéticos referiram receber orientações no PSF, em reuniões de hiperdia. As orientações também enfatizam todos os cuidados que devem ter, mas percebe-se que a educação em saúde é precária, falta um melhor planejamento.

E4) "Sim. Agente de saúde. O que pode comer e o que não pode".

E6) "Sim, sempre tem reuniões no PSF. Fala sobre tudo, como não comer doces".

E7) "Sim, nas reuniões no PSF. Cuidar da alimentação, tomar o remédio, fazer exercício físico".

    De forma complementar, observa-se que a atuação dos profissionais de saúde na orientação do manejo de autocuidado da doença é compreender e avaliar o indivíduo, proporcionando apoio emocional, clínico, conhecimentos e habilidades para alcance dos objetivos, ajudando-os a descobrir e desenvolver a autonomia para serem responsáveis pelo controle de sua doença (TORRES; FRANCO; STRADIOTO, 2010).

    O aumento da prevalência do diabetes aliado à complexidade de seu tratamento. A mudança de comportamento é essencial para que o controle e o tratamento do DM tenham êxito dependente das ações educativas realizadas na perspectiva dialogal, reflexiva e crítica (TORRES; FRANCO; STRADIOTO, 2010; FREIRE, 2002).

4.     Considerações finais

    Percebe-se que os pacientes portadores de diabetes, na maioria, têm consciência e conhecimento sobre as possíveis complicações e consequências da doença, assim, aderem corretamente ao tratamento, porém alguns indivíduos ainda deixam a desejar esquecendo a medicação, não realizando a dieta alimentar corretamente, não dão ênfase aos exercícios físicos. Infere-se que a maioria segue o tratamento corretamente, mas ainda assim os cuidados são precários. A educação em saúde para os diabéticos pode melhorar, conscientizando-os para que os cuidados sejam consolidados objetivando a adesão ao tratamento de forma regular.

Referências

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