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A transferência e o processo pedagógico na Educação Física escolar

La transferencia y el proceso pedagógico en la Educación Física escolar

Transfer and pedagogic process in school Physical Education

 

*Doutorando e Professor de Educação Física

**Orientador e Professor de Educação Física

Programa de Pós-Graduação em Educação

Universidade Estadual Paulista

Presidente Prudente, São Paulo

Claudinei Chelles*

claudineichelles@yahoo.com.br

Mauro Betti**

maurobettiunesp@gmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Apesar da educação não ter sido elemento principal do trabalho de Freud, no transcorrer de sua obra ele a considerou no capítulo denominado “Interesse educacional da psicanálise” (1913). O objetivo é propor ao professor considerar a importância do enfoque psicanalítico no âmbito pedagógico, demonstrando sua contribuição para compreensão dos processos formativos dos alunos. Conseqüentemente, refletir, a partir da obra freudiana, sobre o conceito de transferência nessa relação introduzindo formas de intervenção no processo de ensino e aprendizagem. Adotamos a revisão da literatura relacionada ao aspecto psicanalítico que aborda a educação, na interface com a educação física escolar. Ou seja, buscamos especificamente aspectos sobre o tema da transferência na interface da psicanálise com a pedagogia. Também, foi utilizada parte da obra freudiana referente ao tema abordado nos índices analítico e remissivo. A partir daí, detectamos que os autores observados afirmam que entre professores e alunos existe relação transferencial. Portanto, a seleção dos conteúdos remetem os educadores a organizá-los e sistematizá-los metodologicamente de como serão trabalhados no currículo e transmitidos aos alunos, já que devem ir ao encontro das expectativas dos educandos, fazendo com que a educação física escolar tenha sentido e significado. Portanto, é importante o professor de educação física, no âmbito escolar, analisar que ao lidar com o ser humano não há apenas efeitos do trabalho sobre o conteúdo ou sobre a utilização da correta metodologia de ensino, mas, também as ações transferenciais que estão presentes no processo de aprendizagem.

          Unitermos: Educação Física. Escola. Transferência. Psicanálise.

 

Abstract

          In spite of education it was not main element of Freud's work, in elapsing of work he considered it in chapter denominated “Education Interest of the psychoanalysis” (1913). The objective is to intend to the teacher to consider the importance of psychoanalytic focus in pedagogic extent, demonstrating her contribution for understanding of the students' formative processes. Consequently, to contemplate, starting from the Freudian work, on transfer concept in that relationship introducing intervention forms in the teaching process and learning. We adopted the revision of literature related to the psychoanalytic aspect that it approaches the education, in interface with school physical education. In other words, we specifically looked for aspects on the theme of transfer in the interface of psychoanalysis with pedagogy. Also, part of the Freudian work was used regarding the theme approached in analytical indexes. Since then, we detected that the observed authors affirm that between teachers and students relationship transferencial exists. Therefore, the selection of contents sends the educators to organize and systematize as it will be worked in curriculum and transmitted to the students, since it should go to the encounter of students’ expectations, doing with that school physical education has sense and meaning. Therefore, it is important the physical education teacher, in school, to analyze that when working with the human being there are just no effects of work on content or about the use of correct teaching methodology, but, also the actions transferenciais that are present in learning process.

          Keywords: Physical Education. School. Transfer. Psychoanalysis.

Recepção: 29/10//2014 - Aceitação: 23/11/2014.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 199, Diciembre de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Apesar da educação não ter sido elemento traço do trabalho de Freud, no transcorrer de sua obra ele a considerou em “O interesse científico da Psicanálise” (1913), no qual há um capítulo relacionado ao tema denominado “Interesse educacional da psicanálise”. Mais adiante, em sua obra (1925), ele mesmo menciona que nenhuma das aplicações da psicanálise estimulou tanto interesse e despertou tantas esperanças e, por conseguinte, nenhuma atraiu tantos colaboradores capazes, quanto seu emprego na teoria e prática da educação.

    Uma importante oscilação entre os estudos da primeira metade do século XX e aqueles encontrados na atualidade diz respeito à forma de intervenção no meio educacional, considerando a importância da relação entre aluno e professor, e uma prática que busque a formação ampliada do professor que detenha conhecimento teórico de psicanálise, aliado às suas experiências pessoais. Em conjunto, estes elementos favorecem melhor compreensão do aluno por parte do professor, que passa a atuar como um mediador no processo de ensino e aprendizagem (ABRÃO, 2006).

    Assim, consideramos a importância da compreensão do quanto o desejo se faz presente na relação ensinar-aprender que pode ser auxiliada pelo conceito psicanalítico de transferência, já que se trata de um fenômeno que advém em qualquer relação humana. No caso da educação física o aluno motiva-se quando o conhecimento transmitido pelo professor tem algum significado para ele. Ou seja, quando o conteúdo satisfaz algumas de suas necessidades (PICCOLO, 1995).

    No caso da análise o sujeito demanda amor pelo saber sobre si mesmo, que o próprio analisando espera do analista. Pode-se aventurar a adaptação desta situação do setting analítico para o âmbito da aula. Enfim, uma transposição da análise para o processo educacional. Pois, na relação entre o professor e o aluno há uma afinidade abrigada no campo transferencial, já que há um pleito de amor. Como menciona Silva (2011): “há a suposição de um saber que não se limita aos conteúdos transmitidos, mas que aponta para o que é transmitido e compartilhado para além deles”.

    Freud (1912) enfatiza que a transferência está ligada a protótipos, imagos, sobretudo do pai, mas também da mãe e mesmo de irmãos. Ou seja, ele descobre que o reviver na transferência é a relação do sujeito com as figuras parentais e especialmente a ambivalência pulsional que caracteriza a dita relação. Nesse sentido ele diferencia a transferência de sentimentos de ternura e outra de sentimentos de hostilidade do complexo de Édipo.

    Para Laplanche e Pontalis (2004) a transferência “trata-se de uma repetição de protótipos infantis, vivida com um sentimento de atualidade”. (...) “A transferência se reconhece classicamente como o campo em que se desenvolve uma problemática de uma cura psicanalítica, caracterizando-se esta pela instauração, interpretação e resolução da transferência”.

    Objetivo: Propor ao professor de educação física considerar a importância do enfoque psicanalítico no âmbito pedagógico, demonstrando sua contribuição para compreensão dos processos formativos dos alunos. Conseqüentemente, refletir, a partir da obra freudiana, sobre o conceito de transferência nessa relação introduzindo formas de intervenção no processo de ensino e aprendizagem.

    Método: Exploramos, especificamente, o tema da Transferência na interface da Psicanálise com o processo educacional, especificamente na relação com a educação física. O caminho utilizado para esta investigação esteve concentrado na revisão da literatura pertinente ao aspecto psicanalítico relacionado ao aspecto pedagógico. Consideramos artigos publicados em periódicos na base de dados Scielo; Dicionários de Psicanálise e busca de livros na biblioteca da UNESP. Também, foi utilizada parte da obra freudiana referente ao tema abordado nos índices analítico e remissivo disponíveis na Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, 1996.

Psicanálise, Educação e Educação Física

    A possibilidade de “educação psicanaliticamente orientada” encontra um entrave de que a sublimação é um processo inconsciente, não sendo governado pela vontade consciente de um jovem de canalizar sua pulsão sexual para um objetivo socialmente valorizado, muito menos pela vontade do educador. Além disso, nem tudo pode ser sublimado, pois o jovem deve ter um equilíbrio entre seu prazer individual, o que deve reprimir e o que pode sublimar e, portanto, ofertar à sociedade: nem ceder muito a esta a ponto de gerar uma neurose – o que também não seria produtivo para a civilização -, nem se tornar excessivamente perversa a ponto de realizar todos os seus impulsos – o que também traria sofrimento por haver uma punição por parte da coletividade - já que esta se desintegraria se todas as perversões fossem vividas, tendo em vista que o recalque funda a civilização, sendo, por conseguinte, pressuposto para a existência desta (BASTOS, 2004).

    Quanto à sublimação é o termo postulado por Freud para explicar certas atividades humanas que aparentemente não guardam relação com a sexualidade, mas que encontram sua energia na força da pulsão sexual. Ele descreveu como atividades com finalidades principalmente direcionadas para habilidades artísticas e para a investigação intelectual (LAPLANCHE; PONTALIS, 2004).

    Desse modo, até certo ponto, permitir que a criança experiencie um pouco de sua perversão pode ser mais produtiva do que gerar uma neurose infantil que serviria como base para futuras neuroses, pois como lembra Millot (1987, p.26): “A supressão das pulsões poderosas na criança através de coerção por meios externos não conduz nem à desaparição de tais pulsões, nem ao seu domínio. Conduz ao recalque, que predispõe as futuras enfermidades.”

    De acordo com Soares et al (1992), o princípio da escolha dos conteúdos remetem os educadores a organizá-los e sistematizá-los metodologicamente de como serão trabalhados no currículo e transmitidos aos alunos, já que devem ir ao encontro das expectativas dos educandos, fazendo com que a educação física escolar tenha sentido e significado.

    Sendo assim, a contribuição da psicanálise à educação se daria no educador, isto é, psicanalisando-o para que saiba como se portar diante de seus alunos, impedindo que seus recalques reforcem os recalques deles. Ainda Millot (1987), é o próprio excesso do recalque do educador que o influencia a exercer a repressão sobre seus educandos. As idéias psicanalíticas, portanto, se forem bem entendidas pelos professores, lhes ajudarão a tirar uma enorme responsabilidade de seus ombros, pois lhes retira um controle excessivo e indesejável, lhes permitindo adotar uma postura mais humilde e consciente de seus limites no papel de ajudar o outro a se tornar um indivíduo livre e produtivo, ao propiciar uma relação humanizadora, auxiliando seus alunos a se tornarem capazes de julgar, de pensar criticamente, de estabelecer relações abstratas, enfim, de exercitar sua autonomia.

    Ainda que pretenda, a educação não pode fundar na criança o desejo de aprender: ou este aparece por conta própria e a criança vai atrás do conhecimento, objeto de satisfação de seu desejo, ou o mesmo não comparece, e não há o que ensinar a quem não constitui um desejo de aprender. E, assim, pode-se dizer que, para a psicanálise, o desejo de aprender da criança só poderá ser satisfeito com os objetos que esta escolher para satisfazê-lo, sendo esta escolha inconsciente. Logo, é necessário permitir liberdade à criança de ir atrás do conhecimento que satisfaça seu desejo, pois qualquer outro conhecimento, que não vá ao encontro desse desejo, não será jamais internalizado. Assim, a sujeição da criança ao Ideal do professor jamais permitiria à criança encontrar seu próprio desejo que cedeu espaço ao desejo do educador (BASTOS, 2004).

    Segundo Zabala (1999) a finalidade da educação física é fazer com que os alunos compreendam e desenvolvam seu corpo e suas possibilidades motoras para que se tornem autônomos quanto à escolha e realização de suas práticas.

    Assim, o professor de educação física pode contribuir ofertando e consultando os alunos sobre os interesses em relação às atividades a serem realizadas durante as aulas, sobretudo no instante da elaboração dos conteúdos a serem transmitidos durante o ano letivo.

A transferência

    Roudinesco e Plon (1998) citam que o termo transferência foi progressivamente introduzido por Freud e Ferenczi, entre 1900 e 1909, com intento de designar um processo constitutivo do tratamento psicanalítico mediante o qual os desejos inconscientes do analisando relativos a objetos externos passam a se repetir, no âmbito da relação analítica, na pessoa do analista, colocando na posição desses diversos objetos. No começo, Freud mencionou o termo nos Estudos sobre histeria e em A interpretação dos sonhos, sob um prisma de um deslocamento do investimento no nível das representações psíquicas, mais do que um componente da relação terapêutica.

    Depois de Freud, uma variedade de trabalhos foi dedicada à questão, sempre com o empenho voltado para repensar esse conceito em harmonia com modificações sucessivamente introduzidas na teoria original. Para Ferenczi apud Roudinesco e Plon (1998) a transferência existia em todas as relações humanas, dentre elas na relação professor e aluno.

    A compreensão do quanto o desejo se faz presente na relação ensinar-aprender pode ser auxiliada pelo conceito psicanalítico de transferência. No relato de “Fragmento da análise de um caso de histeria”, referente ao caso Dora, de grande repercussão, é que Freud (1905) concebe que a transferência é de fundamental importância na exigência da técnica analítica. Pois, nesse momento, ele define a transferência como reprodução das fantasias, que durante o processo de análise tornam-se conscientes, mas com uma característica de substituição de uma pessoa envolvida na edição anterior por outra que esteja no processo atual. Ou seja, de outra maneira dita, a experiência psíquica anterior e revivida, não como algo que aconteceu no passado, mas com um vínculo com a pessoa envolvida na análise atual.

    A palavra transferência não pertence exclusivamente ao vocabulário psicanalítico. Possui um sentido muito geral, parecido com o transporte, mas que implica um deslocamento de valores, de direitos, de entidades, mais que um deslocamento material de objetos. A princípio, a transferência para Freud (1915), pelo menos do ponto de vista teórico, não é mais que um caso particular de deslocamento de afeto de uma representação a outra. Não se trata da parte essencial da relação terapêutica. A transferência é uma reprodução dos movimentos e dos fantasmas que devem ser excluídos e feitos conscientes à medida que progride a análise. Tem como característica a substituição de uma pessoa anteriormente conhecida pelo analista.

    A transferência, enquanto manifestação do inconsciente, não acontece apenas na relação entre analista-paciente, já que se trata de um fenômeno que advém de qualquer relação humana, conforme mencionado anteriormente. Então, a relação transferencial surge, também, no campo da relação professor-aluno. Há, impreterivelmente, uma ligação entre a transferência e um desejo. Transfere-se para alguém um sentido relacionado ao desejo com uma manifestação expressiva que pode ser através da hostilidade, da agressividade, do amor, e que psicanaliticamente está relacionada com as experiências primitivas parentais, que no caso da relação entre professor-aluno, há uma atribuição especial ao professor, que é determinado por um desejo. Ou seja, o outro atribui ao professor a função de depositário de algo que foi conferido pelo desejo (ALMEIDA, 1993).

    As propostas pedagógicas declaram que suas teses estão fixadas nos alunos, enquanto agente de seu processo de aprendizagem. Porém, mesmo com essa afirmação pode-se analisar em algumas circunstâncias, o ponto para o qual converge o ensino não se encontra efetivamente no discurso sobre o aluno. Mas, na ênfase das ocorrências que estão ao seu entorno. Portanto, o conhecimento psicanalítico pode contribuir na elaboração de suas estratégias de ensino, bem como em sua ação.

    Em sua obra “Algumas reflexões sobre a psicologia escolar”, Freud (1914) cita que é difícil afirmar sobre o que teve maior influência e importância sobre nós, se foi a preocupação do que nos era ensinado, através das ciências, ou se a personalidade de nossos mestres. Pois, nós os cortejávamos ou lhes virávamos as costas. Além do mais, tínhamos simpatias e antipatias que provavelmente não existiam. Estudávamos os professores e nos formávamos ou deformávamos as nossas características. E, continua se referindo aos professores:

    “Eles provocavam nossa mais enérgica oposição e forçavam-nos a uma submissão completa; bisbilhotávamos suas pequenas fraquezas e orgulhávamos-nos de sua excelência, seu conhecimento e sua justiça. No fundo, sentíamos grande afeição por eles, se nos davam algum fundamento para ela, embora não possa dizer quantos se davam conta disso. Mas não se pode negar que nossa posição em relação a eles era notável, uma posição que bem pode ter tido suas inconveniências para os interessados. Estávamos, desde o princípio, igualmente inclinados a amá-los e a odiá-los, a criticá-los e a respeitá-los. A psicanálise deu nome de ‘ambivalência’ a essa facilidade para atitudes contraditórias e não tem dificuldade em indicar a fonte de sentimentos ambivalentes desse tipo.”

    Para Kupfer (1989), o que o professor envolvido na transferência dizer será escutado por meio de uma especial posição que ocupa no inconsciente do sujeito. Numa outra possibilidade, na relação professor-aluno a transferência se produz quando o desejo do aluno se vincula a pessoa do próprio professor. Assim, o professor se encontra diante de uma posição, que sem dúvida, lhe confere autoridade e poder. Aí se encontra um dos grandes desafios do professorado no ato educativo.

    “É no campo pedagógico das relações professores-alunos que inteligência, afetividade e desejo se articulam, num mesmo circuito, confrontando-se e, por assim ser, construindo, pensando e desejando, novas e infinitas possibilidades” (ALMEIDA, 1993, p.43).

    Ou seja, o processo de ensino-aprendizagem abrange um encontro do desejo de ensinar do professor com o desejo de aprender do aluno. Assim, podemos afirmar que a relação aluno-professor é fundamental e se caracteriza pela afinidade da transferência nesse processo. A partir daí, ao educador é possível reavaliar suas atitudes, suas práticas habituais e sua compreensão acerca da aprendizagem e serve para indicá-lo de que, também, é dotado de uma estrutura psicológica com peculiaridades como de seu aprendiz. (SHIRAHIGE, HIGA, 2004).

Algumas considerações

    Apoiados nesse referencial psicanalítico, consideramos que não pode ser imposto à criança o desejo de aprender, que só poderá ser satisfeito com os objetos escolhidos por ela mesma para satisfazê-la, sendo que esta escolha acontece de modo inconsciente. Assim, é importante o educador elaborar meios de aprendizagem, sobretudo relacionados ao contexto sociocultural, que vão ao encontro desses interesses e necessidades.

    As descobertas psicanalíticas como o inconsciente e a pulsão de morte são incompatíveis, a princípio, com a Pedagogia. Assim, é dificultada a elaboração de uma metodologia pedagógico-psicanalítica, a qual requer ordem, estabilidade e previsibilidade. Embora o educador possa organizar seu conhecimento, ele não tem controle sobre o efeito que produz sobre seus alunos, mais especificamente, não tem acesso às repercussões inconscientes de tudo que ensina. Mas, é aceitável mencionar que a psicanálise expõe uma nova possibilidade sobre o aluno, pois se trata de um ser que tem subjetividade e desejo. Além disso, possibilita compreender certas dificuldades do aluno, na medida em que se conhece o processo de desenvolvimento de sua da personalidade. (SHIRAHIGE, HIGA, 2004).

    Para Freud (1914) a transferência para Freud é um acontecimento psíquico que tem afinidade com o investimento de sentimentos e perspectivas vividos inconscientemente em uma relação anterior para uma nova relação. Ou seja,

    “Transferimos para eles (professores) o respeito e as expectativas ligadas ao pai onisciente de nossa infância e depois começamos a tratá-los como tratávamos nossos pais em casa. Confrontamo-los com a ambivalência que tínhamos adquirido em nossas próprias famílias, e, ajudados por ela, lutamos como tínhamos o hábito de lutar com nossos pais em carne e osso”.

    Deste modo, é importante que o educador não exagere na repressão às pulsões manifestadas na infância, que tenha conhecimento sobre a fase em que a criança se encontra para ajudá-la a direcionar sua pulsão para o melhor objetivo: a sublimação (MILLOT, 1987).

    Portanto, entre professores e alunos há um campo transferencial. Assim, é fundamental que o docente conheça o conceito com o propósito de compreender suas implicações e incorporá-lo em sua prática. Pois, ao lidar com o aluno, em seu ofício, na transmissão de sua proposta, não há apenas efeitos sobre o conteúdo ou sobre a utilização da correta metodologia de ensino, já que as ações transferenciais, em nível do inconsciente, estão presentes no processo de aprendizagem.

    Freud adverte quanto à impossibilidade de se educar, afirmando que isso não parece da ordem da incapacidade de uma educação, ou de sua impotência, mas sim da ordem da impossibilidade do controle e da sujeição de um modo absoluto e da impossibilidade das generalizações. A psicanálise, portanto, não é incompatível com a educação, mas com as doutrinas pedagógicas, ao possibilitar, no mínimo, um redirecionamento na formação do professor (BATISTA, 1999; HECKERT, 2007).

    Na visão que Freud (1917) apresenta em “Conferências Introdutórias à Psicanálise”, o objetivo da educação seria reprimir, inibir e proibir impulsos considerados pelo Supereu como imorais; porém, uma repressão sem medidas teria como efeitos colaterais o aparecimento de neuroses que poderiam ser evitadas com uma educação mais branda.

    Charlot (2014) quando perguntado sobre o que os alunos esperam dos professores responde sobre uma frase dos próprios alunos: “gosto muito do meu professor porque ele nos trata como seres humanos”. E, ele diz:

    “...ilude-se quem pensa que os meninos e as meninas esperam um amigo ou um colaborador mais velho. Os jovens querem se relacionar com um profissional maduro. Eles não querem ser números. Não há nada pior para uma criança ou adolescente do que encontrar seu professor na rua e não ser reconhecido. Os jovens não agüentam ser tratados como anônimos. E, isso confirma uma das principais competências que se espera de um profissional da Educação. A capacidade de se relacionar”.

    Baseados, nos referenciais psicanalíticos, concluímos que, para a atuação na educação, é preciso que o professor possibilite, em sua intervenção pedagógica, a descarga da energia pulsional do aluno. Estar atento ao campo transferencial, nessa relação, pode ser uma grande contribuição. Porém, também é preciso que, nesta mesma relação, nem tudo seja permitido. Há momentos que o professor deve coibir ações que fujam às regras dos grupos. Pois, a frustração, em alguns momentos pontuais, faz parte do desenvolvimento do aluno a fim de possibilitar o convívio social dentro do processo civilizatório. Na Educação, é preciso encontrar um equilíbrio entre proibição e permissão. Assim, o aluno e o professor saberão “falar” e “escutar” suas palavras, encontrando uma causa para justificar suas presenças na escola (COHEN, 2013).

Referências bibliográficas

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