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Inatividade física e risco de morte em doentes 

pulmonares obstrutivos crônicos. Revisão da literatura

La inactividad física y el riesgo de muerte en pacientes pulmonares obstructivos crónicos. Revisión de la literatura

Physical inactivity in chronic obstructive pulmonary patients. A review

 

*Fisioterapeuta, UEPA. Especialista em traumato-ortopedia

desportiva (Faculdade inspirar, Curitiba-PR)

Mestrando em Biociências, UFOPA, Santarém, Pará

**Especialista em Fisiologia do Exercício, FACIMAB

Licenciado Pleno em Educação Física, UEPA, Campus Santarém, Pará

***Acadêmico de Medicina. Fisioterapeuta. Licenciado Pleno

em Educação Física, UEPA, Campus Santarém, Pará

****Fisioterapeuta, Especialista em terapia intensiva (faculdade redentor Rio de Janeiro-RJ)

Docente da Universidade do Estado do Pará, campus Santarém-PA

João Oliveira e Silva Filho*

joaokc@hotmail.com

Luiz Carlos Rabelo Vieira**

luizcrvieira@hotmail.com

Reli José Maders***

relimaders@hotmai.com

Patrícia de Alcântara Oliveira****

patydealcantara@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          A inatividade física é considerada um fator relacionado ao grau de mortalidade em pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). Sendo assim, o objetivo deste estudo foi promover uma revisão da literatura a respeito da relação existente entre a inatividade física e o risco de morte em pacientes com DPOC. Observou-se que a prática de atividades físicas atua na promoção da qualidade de vida, bem como na prevenção e tratamento de doenças. Na DPOC, a capacidade para se exercitar é determinante para a qualidade de vida dos pacientes. Para estes, foi criado o índice prognóstico de mortalidade BODE que utiliza vários parâmetros. Quanto maior o valor desse índice, maior é o prognóstico negativo da DPOC. Evidências sustentam a associação entre o aumento da pontuação no índice BODE e o maior risco de morte.

          Unitermos: Fisioterapia. DPOC. Qualidade de vida.

 

Abstract

          The aim of this study was to provide a literature review on the relationship between physical inactivity and risk of death in patients with chronic obstructive pulmonary disease (COPD). It was observed that physical activity acts on promoting quality of life as well as in the prevention and treatment of diseases. In COPD, the ability to exercise is crucial to the quality of life of patients. For these, the prognosis mortality BODE that uses multiple parameters was created. The higher the value of this index, the greater the negative prognosis of COPD. Evidence supports the association of increased risk of death and increased scores on the index, caused by physical inactivity.

          Keywords: Physical Therapy. COPD. Quality of life.

 

Recepção: 19/07/2014 - Aceitação: 27/09/2014.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 198, Noviembre de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Conforme o II consenso brasileiro sobre doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) de 2004, esta se caracteriza pela diminuição progressiva do fluxo aéreo e da função pulmonar, acometendo micro estruturas da árvore brônquica, podendo ocasionar a morte, sendo que a inatividade física, conforme Pitta et al. (2006), é um fator relacionado ao grau de mortalidade em pacientes acometidos por essa doença.

    Sendo assim, o objetivo deste estudo foi promover uma revisão da literatura a respeito da relação existente entre a inatividade física e o risco de morte em pacientes com DPOC, levando-se em consideração o índice prognóstico de mortalidade BODE.

(In)atividade física: conceitos

    Algumas considerações conceituais sobre (in)atividade física devem ser feitas antes de iniciarmos o assunto específico a ser abordado neste estudo que é o risco de morte em pacientes com DPOC.

    Conforme Barros, Barros e Santos (2011), embora evidências suportem que a prática de atividades físicas atue na promoção da qualidade de vida assim como na prevenção e tratamento de doenças, pesquisas realizadas em países desenvolvidos e em desenvolvimento mostram que um grande contingente populacional apresenta níveis insuficientes de prática. Nesse tocante, recomendações para a realização de atividades físicas para diferentes subgrupos populacionais (crianças, adolescentes, adultos, idosos) foram e são publicadas no sentido de aumentar a visibilidade da atividade física enquanto estratégia de promoção da saúde.

    Porém, é importante reconhecer os motivos que levam a população a apresentar níveis insuficientes de prática de atividade física. Conforme Sallis (1995), existem determinantes que, em algumas situações, possibilitam comportamentos ativos; em outras, porém, mostram-se como barreiras à prática de atividades físicas. Nesse sentido, para Sallis et al. (2001), a prática está relacionada a duas variáveis: pessoais e ambientais. As pessoais são as biológicas (idade, sexo e obesidade) e psicológicas (conhecimento, atitude, superar barreiras, tipo de personalidade, intenção, estresse percebido, medo de obesidade). Por outro lado, as variáveis ambientais são o apoio dos pais e amigos, acesso a programas de atividade física, tempo que passa fora de casa e tipo de atividade desenvolvida nos fins de semana.

    Até que ponto, porém, as barreiras supracitadas são decisivas na prevalência de inatividade física no Brasil, é um conhecimento carente que necessita de mais investigações epidemiológicas, que utilizem, preferencialmente, inquéritos multicêntricos (realizados em municípios de diferentes regiões geográficas ou que incluem mais de um estado na amostragem) que promovam a análise da associação entre tais fatores e o desfecho.

    Desde a década de 90 é observada a intenção por parte de pesquisadores em descrever a epidemiologia da atividade física no Brasil. Em revisão sistemática da literatura, Hallal et al. (2007) reportam que a tendência de crescimento quantitativo de publicações sobre o tema ocorreu a partir de 2000, com disparidade regional nas mesmas (concentração de estudos nas regiões Sudeste e Sul) e limitações metodológicas, as quais dificultam a comparação entre as pesquisas.

    Com base no aumento gradativo das publicações sobre atividade física, existe uma grande diversidade de termos para classificar os indivíduos de acordo com seu nível de atividade física. O uso do termo “sedentarismo” ou “estilo de vida sedentário” é muito comum para definir sujeitos que não atingem as recomendações de atividades físicas moderadas a vigorosas (DUMITH, 2009). Tal situação é confirmada por Garcia, Silva e Nahas (2010), quando referem existir uma confusão entre não se atingir as recomendações de atividades físicas moderadas e vigorosas e se ter um estilo de vida sedentário.

    A situação conflitante acima descrita acontece quando se pretende comparar e interpretar estudos cuja temática envolve a atividade física, pois, assim como existem pesquisas que medem o mesmo comportamento, com uso de nomenclatura diferente, há outras que usam a mesma nomenclatura para medir diferentes comportamentos (DUMITH, 2010).

    Não se pode, assim, usar como sinônimos “ser sedentário” e “não ser ativo”, visto que uma pessoa pode não apresentar um estilo de vida sedentário e mesmo assim ser fisicamente inativa, por não atingir a recomendação de 150 minutos por semana de atividade moderada a vigorosa (USDHHS, 2008). O contrário também pode ser verdadeiro, isto é, uma pessoa pode ser ativa e possuir um estilo de vida sedentário (PATE; O’NEILL; LOBELO, 2008).

    Conforme o Guidelines of the American College of Sports Medicine (PATE et al., 1995), o indivíduo considerado fisicamente ativo é aquele que realiza, por um período de 30 minutos diários, três vezes por semana ou preferencialmente todos os dias, atividade de níveis moderados e intensos. Valhe analisar que, com base nesse referecial teórico, 30 minutos de prática de atividade física realizados em três dias na semana, correspondendo a 90 minutos, caracterizaria um indivíduo como fisicamente ativo, diferentemente do reportado por USDHHS (2008), onde, para ser ativo, o sujeito deve desenvolver atividade moderada a vigorosa igual ou acima de 150 minutos por semana.

    De modo a padronizar a terminologia para estudos futuros cuja prática de atividade física em adultos será o desfecho de interesse ou apenas um fator relacionado, Dumith (2010), baseado em proposta semelhante usada em estudo anterior (HALLAL et al., 2008), propõem a seguinte nomenclatura para a classificação do nível de atividade física, em minutos por semana (min/sem), que sejam de intensidade moderada ou vigorosa: inativo (0 min/sem), insuficientemente ativo (1-149 min/sem), ativo (150-299 min/sem) e muito ativo (300 ou mais min/sem).

    Sendo assim, a explanação desses conceitos é importante para a melhor interpretação de dados no tocante à temática da atividade física. Logo, novos caminhos também se abrem para estudos que tratem da inatividade física como fator de risco em diferentes grupos populacionais, em especial nos pacientes com DPOC. De fato, maior risco de mortalidade, conforme o Colégio Americano de Medicina Esportiva (PITTA et al., 2006), é verificado em indivíduos com DPOC considerados fisicamente inativos.

Doença pulmonar obstrutiva crônica

    De acordo com II Consenso brasileiro sobre DPOC (SOCIEDADE BRASILEIRA DE PNEUMOLOGIA E TISIOLOGIA, 2004), a doença se caracteriza pela presença de obstrução ou limitação crônica do fluxo aéreo, apresentando progressão lenta e irreversível. Isso é gerado pela combinação de bronquite crônica com enfisema pulmonar. Em termos fisiopatológicos, a DPOC apresenta manifestações que acometem pequenas e grandes vias aéreas, parênquima pulmonar, vascularização pulmonar e a musculatura respiratória, em uma combinação variável de paciente para paciente.

    A epidemiologia da DPOC não está bem documentada. Dados de prevalência para o Brasil estimam que a doença acometa 12% da população, ou seja, 5.500.000 indivíduos adultos maiores de 40 anos. A taxa de mortalidade pela DPOC vem aumentando nos últimos anos, a qual apresenta quatro estágios de severidade: em risco, doença leve, moderada e grave (SOCIEDADE BRASILEIRA DE PNEUMOLOGIA E TISIOLOGIA, 2004).

    O tabagismo é o principal fator de risco para o desenvolvimento da DPOC (LANGER et al., 2009; SIMON et al., 2009). Além deste, o II Consenso brasileiro sobre DPOC destaca, enquanto outros fatores externos: poeira ocupacional, irritantes químicos, fumaça de lenha, infecções respiratórias graves na infância e condição socioeconômica. Dentre os fatores individuais estão: deficiência de alfa-1 antitripsina, deficiência de glutationa transferase, alfa-1 antiquimotripsina, hiper-responsividade brônquica, desnutrição e prematuridade.

Índice prognóstico de mortalidade BODE

    O índice BODE (B: body mass index; O: airflow obstruction; D: dyspnea; E: exercise capacity), criado por Celli et al. (2004), avalia o grau de mortalidade de pacientes com DPOC de forma sistêmica. Sua capacidade preditora de mortalidade fundamenta-se por avaliar o índice de massa corporal (IMC), o grau de obstrução ao fluxo aéreo, a dispnéia e a tolerância ao exercício. Conforme Celli (2006), quanto maior o valor desse índice, que varia de zero a 10, pior é o prognóstico.

    A combinação dos quais parâmetros supracitados no estabelecimento da gravidade e do prognóstico da DPOC é a principal característica do índice BODE. O baixo IMC é um fator negativo no paciente com a doença (TASHKIN, 2006; REID et al., 2009). O grau de obstrução da via aérea, bem como a dispneia, são sintomas básicos da DPOC que contribuem para o aumento da falta de ar e redução da capacidade ventilatória necessária para a prática de atividade física (MARIN, 2001). A tolerância ao exercício é um parâmetro geralmente analisado por meio do teste de caminhada dos seis minutos (TC6’), que prediz a mortalidade do DPOC tão bem quanto o índice padrão-ouro que utiliza o consumo máximo de oxigênio (PAULAIN, 2003; COTTE et al., 2008).

    Vários são os estudos que sustentam a associação do maior risco de morte em pacientes com DPOC com o aumento da pontuação no índice BODE (SIMON et al.; 2009; FILIPPIN; ARIZA; BELOTO, 2011).

    Conforme Pitta et al. (2006), as alterações pulmonares e sistêmicas apresentadas pelo portador de DPOC o impede de praticar atividade física. Isto leva à redução progressiva de sua aptidão física. Em pacientes gravemente comprometidos, é significativo o aumento do BODE para cada dia de inatividade física.

    O exercício físico realizado de forma regular é apontado como importante para a prevenção e tratamento de várias doenças transitórias ou crônicas, sendo, assim, considerado um fator de proteção da saúde (NIEMAN, 1999; NEDER; NERY, 2003).

    Diante disso, é importante citar que na maioria dos estudos encontrados sobre atividade física e DPOC foi observado que o desfecho fisicamente ativo é obtido por meio de questionamento quanto à realização de atividade física, seguindo-se a classificação do Guidelines of the American College of Sports Medicine (PATE et al., 1995), onde fisicamente ativo é considerado aquele que pratica níveis moderados e intensos de atividade por pelo menos 30 minutos diários e três vezes por semana. Pode-se considerar como uma limitação metodológica esse método de promover a classificação, uma vez que existem questionários validados cientificamente para este fim.

    A capacidade para se exercitar é um importante determinante da qualidade de vida de pacientes com DPOC (DOURADO et al., 2006). Em 42 portadores dessa doença, Araujo e Holanda (2010) verificaram piora da qualidade de vida e maior risco de morte conforme o alto grau de obstrução das vias aéreas.

    Tendo em vista que a inatividade desencadeia limitações físicas e sociais que reduzem a qualidade de vida de pacientes com DPOC (KNOX; MORRISON; MERS, 1988; MARIN et al., 2001), promover sua reabilitação é um objetivo fundamental do tratamento, culminando na redução do índice BODE, visto que pacientes com DPOC fisicamente ativos apresentam melhor estado funcional pulmonar e qualidade de vida (STEELE et al., 2000; BOUERI et al., 2001; SOLWAY et al., 2002; CELLI et al., 2004; COTTE; CELLI, 2005; GARCIA; SERRA; GOMEZ, 2009). A dispnéia reduz significativamente após a reabilitação (MARQUES et al., 2004; GIGLIOTTI; COLI; BIANCHI, 2003; JOLLEY; MOXHAM, 2009), possibilitando o aumento gradativo do esforço físico para a obtenção da condição física desejada e necessária (RIERA; RUBIO; RUIZ, 2001).

    Nesse sentido, a reabilitação pulmonar do paciente com DPOC deve seguir programas multidisciplinares que incluem profissionais de diversas especialidades, dentre eles o Fisioterapeuta e o Educador Físico (CARVALHO, 2008). O primeiro profissional atuaria com métodos para a melhora do quadro clínico do paciente, selecionando modalidades de tratamento com base nas causas individuais e limitação ao exercício, reduzindo a dispneia, melhorando a capacidade de exercício, a higiene brônquica, treinando a musculatura ventilatória etc. (MADERS; VIEIRA, 2014). O educador físico atuaria estimulando a mudança de estilo de vida e a prática de programas personalizados de atividade física (treinamento aeróbico e/ou resistido), ampliando as qualidades físicas, capacidades motoras, performance, saúde e qualidade de vida dos pacientes.

Considerações finais

    Foi possível observar várias evidências que sustentam a associação de maior risco de morte com o aumento da pontuação no índice preditor BODE. Em função das alterações pulmonares e sistêmicas apresentadas pelo portador de DPOC, sua capacidade para realizar atividade física regularmente fica comprometida, culminando, assim, no maior risco de mortalidade.

    Assim, a reabilitação pulmonar do paciente com DPOC deve seguir programas multidisciplinares, desenvolvidos por uma equipe multiprofissional, que promovam a melhora do quadro clínico do paciente, que o estimule a adotar um estilo de vida salutar com prática regular e orientada de atividades físicas.

Referências

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