efdeportes.com

Os gêneros textuais veiculados no rádio:
linguagem, construção e classificação

Los géneros textuales transmitidos en la radio: lenguaje, construcción y clasificación

 

Mestre em Lingüística pela Universidade de Franca- UNIFRAN. Especialista

em Lingüística Aplicada ao Ensino do Português e graduada em Letras-Português

pela Universidade Estadual de Montes Claros, UNIMONTES

Docente nas Faculdades Santo Agostinho e na Associação Educativa do Brasil- SOEBRAS

Geane Cássia Alves Sena

geane.sena@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Este artigo objetiva apresentar um estudo sobre a linguagem, a classificação e a construção dos gêneros textuais veiculados pelo rádio. Para tanto, desenvolvemos uma pesquisa bibliográfica apoiada nos estudos desenvolvidos por teóricos como Barbosa Filho (2009), Cabello (1994; 1995), Ortriwano (1985), Salinas (1994), Silva (2009), entre outros, que discutem a linguagem do rádio, a classificação dos gêneros textuais veiculados nesta mídia tão peculiar e a construção desses gêneros. Os estudos aqui apresentados nos permitiram concluir que o rádio é uma mídia bastante peculiar devido ao seu estilo oral-auditivo e que a maioria dos teóricos que estudam os gêneros nele veiculados dedica-se apenas ao estudo dos gêneros radiofônicos jornalísticos; mas, como verificamos, além desses existem outros, a saber: educativo-cultural, de entretenimento, publicitário, propagandístico, de serviço e especial.

          Unitermos: Rádio. Textos orais. Gêneros textuais.

 

Recepção: 15/10/2014 - Aceitação: 05/11/2014.

 

          Este trabalho é um recorte do referencial teórico presente em nossa dissertação de mestrado intitulada "Resgatando o sentido do texto: contribuições da Teoria da Argumentação na Língua para a reconstrução do sentido de textos orais radiofônicos".

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 198, Noviembre de 2014. http://www.efdeportes.com/

1 / 1

Introdução

    O rádio é uma mídia que agrega uma diversidade de gêneros textuais, com uma variedade de formatos, com objetivos diferentes, direcionados a um público diversificado e que se constitui como um eficaz meio de comunicação, interação e construção de conhecimentos. Devido a suas características, como dinamicidade, rapidez, baixo custo, simplicidade e, principalmente, mobilidade, alcança um grande número de ouvintes. Desde a criação do transistor, o rádio apresenta uma grande mobilidade, podendo, assim, ser ouvido em diversos lugares, como no carro, no trabalho, no shopping, etc.

    Quando comparado a outros veículos de comunicação, o rádio torna-se bastante peculiar devido ao seu estilo “oral-auditivo”. Pois os textos veiculados durante as transmissões radiofônicas são construídos para serem falados e ouvidos e, consequentemente, alcançar a compreensão do ouvinte que terá apenas uma chance de ouvir a mensagem veiculada. Diferentemente dos textos impressos que podem ser “revisitados” pelo leitor inúmeras vezes, já que estão diante dele, em suas mãos.

    Lembramos que o texto radiofônico, mesmo que construído previamente, ao ser veiculado durante a programação do rádio, conta com vários recursos dos quais o locutor “lança mão” para alcançar o seu ouvinte, como improviso, ritmo, pausas, sons complementares, voz humana, entonação, dentre outros, os quais o tornam bastante singular.

    A seguir, discutiremos sobre a linguagem e a estrutura utilizada para a construção dos textos radiofônicos que são tão peculiares e próprias a essa mídia.

1.     Textos orais radiofônicos: linguagem e construção

1.1.     A linguagem do rádio

    Para atingir o ouvinte e tornar a comunicação efetiva, a linguagem radiofônica deve levá-lo a criar imagens mentais. Sendo que “‘Uma imagem vale por mil palavras’ [...]. E o rádio realmente usa as ‘mil palavras’ para criar cada imagem, que vão permitir que se criem muito mais do que mil imagens mentais” (ORTRIWANO, 1985, p. 81). As imagens mentais se constroem a partir dos seguintes elementos: da palavra, da música, dos efeitos sonoros e do silêncio (cf. MUÑOZ & GIL, 1990, p. 21). Esses elementos, combinados entre si de inúmeras maneiras ou isolados, contribuem significativamente para a construção da mensagem como um todo (cf. FERRARETO, 2001), lembrando que “A voz trabalha no campo da consciência, e os demais elementos, no inconsciente do ouvinte” (GOMEZ, 2007, p. 29).

    Pelo fato de ser um veículo de comunicação essencialmente sonoro, o rádio precisa levar o ouvinte a “enxergar com o ouvido” as informações veiculadas, uma vez que o texto radiofônico é direcionado ao ouvido e não aos olhos do ouvinte. Desse modo, o rádio pode ser considerado como uma “mídia cega” (cf. MERAYIO PÉREZ, 1992, p. 20), já que as possibilidades de comunicação se apoiam na capacidade de ativar a criação de imagens mentais da realidade física através do som ouvido.

    De acordo com Salinas (1994), a complexidade da programação radiofônica se encontra no som. Mas, apesar desta complexidade, ainda são poucos os estudos realmente consistes que consigam abarcar a diversidade da programação radiofônica e ao mesmo tempo a sua simplicidade.

    Diferentemente dos outros meios de comunicação de massa,

    O rádio é o único meio de comunicação de massa que se utiliza apenas do som em sua expressão. O rádio possui a exclusividade da magia sagrada do som. Atribui-se seu poder justamente à ausência da imagem, poder este que reside na sua capacidade de criar imagens mentais que correspondem ao som. (SALINAS, 1940, p. 26)

    Por isso, a linguagem do rádio deve ser simples, clara, objetiva, expressiva, ao alcance do ouvinte; de forma que não exija muito esforço para que seja compreendida. Pois

    Exigir demais do ouvinte não é objetivo do trabalho radiofônico. Isso porque o ouvinte só é capaz de receber frações de construções complexas, o que é freqüentemente esquecido. As frases complexas são uma barreira à informação oral (muito mais que à escrita): o locutor lê uma frase de sete linhas em 15-20 segundos; assim, sobra muito pouco tempo para que o ouvinte possa assimilar as informações imediata e totalmente (o ouvinte não pode “reler” as frases; passa, sim, para as informações seguintes). (CABELLO, 1994, p. 146, grifo do autor)

    Além disso, a maioria dos ouvintes não consegue compreender uma linguagem mais complexa. Na verdade, “Um ouvinte atencioso e concentrado, que entenda uma linguagem mais elaborada e, ao mesmo tempo, mais exata, constitui a minoria” (CABELLO, 1994, p. 146). O rádio, ainda, tem que concorrer com diversos estímulos ao redor do ouvinte que podem dispersá-lo durante a recepção da mensagem, como “o ronco” dos motores de veículos que trafegam nas ruas, sirenes, conversas paralelas, entre outros. Por isso,

    A linguagem radiofônica deve se aproximar ao máximo dos seus ouvintes [...]. Como a mensagem radiofônica é transmitida somente pela voz, e ouvir rádio é um ato que em geral está acompanhado de outras atividades, a comunicação tem que usar de artifícios sonoros e dramatizados para prender a atenção do ouvinte [...]. (GOMEZ, 2007, p. 31)

    O texto radiofônico consegue atingir um grande número de ouvintes simultaneamente, de forma coletiva e, ao mesmo tempo, individual, em lugares diversos, com opiniões, comportamentos, crenças e gostos bastante distintos e, mesmo assim, se fazer compreender. Através do rádio, “As pessoas podem receber suas mensagens sozinhas, em qualquer lugar que estejam” (ORTRIWANO, 1985, p. 81). Isso

    faz com que o emissor possa falar para toda a sua audiência, como se estivesse falando para cada um em particular, dirigindo-se diretamente àquele ouvinte específico. A mensagem oral se presta muito bem para a comunicação “intimista”. É como se o rádio estivesse “contando” para cada um em particular. Ao mesmo tempo, a atividade “de ouvir” não exclui a possibilidade de desenvolver outras tarefas como ler, dirigir, trabalhar, etc. O rádio se adapta muito bem ao papel de “pano de fundo” em qualquer ambiente, despertando a atenção quando a mensagem apresentada é de interesse mais específico do ouvinte. (ORTRIWANO, 1985, p. 81)

    Pelo fato do rádio permitir ao ouvinte desenvolver outras atividades enquanto escuta as transmissões radiofônicas, precisa despertar constantemente o interesse e manter a atenção do ouvinte, o que não é uma tarefa fácil, uma vez que os textos radiofônicos contam apenas com os recursos próprios desse meio para alcançar o ouvinte. Comparado a outros meios de comunicação, o rádio “é o meio mais fugidio de expressão da linguagem, seu texto dirige-se ao ouvido. Assim, só pode contar com o som, com seus recursos próprios (verbais e não-verbais)” para atingir o ouvinte (CABELLO, 1994, p. 146).

    Mas, apesar de ser direcionado ao ouvido, o texto radiofônico não se apoia somente na oralidade e na audição, mas conta também com a língua escrita, já que se apoia num texto construído previamente para ser falado e ouvido (cf. CABELLO, 1994, p. 4). Pois o texto radiofônico não deve ter como base o improviso. Cabello (1994, p. 146) comenta que “talvez esteja aí a grande dificuldade em se redigir adequadamente uma notícia para o rádio”.

    Segundo Muñoz & Gil (1990, p. 21), o rádio é considerado por alguns como um meio que não possui uma linguagem exclusiva. Mas, se possuísse uma linguagem específica

    Contrariaria a essência mesma da linguagem, que não é outra senão comunicar, interagir. Na verdade, o rádio tem sua especificidade por apresentar um sistema de códigos compartilhados (códigos conceptuais e códigos físicos, sonoros) sem perder sua identidade. Assim [...], a linguagem radiofônica é o conjunto de elementos sonoros que se difundem tanto para produzir estímulos sensoriais estéticos ou intelectuais, como para criar imagens. (CABELLO, 1994, p. 147)

    Sendo assim, é importante que o texto radiofônico seja redigido com certa cautela em termos de escolha de palavras e de vocabulário para que a mensagem veiculada alcance a compreensão do ouvinte. Dessa forma, o produtor do texto radiofônico não deve exagerar, por exemplo, no rebuscamento e complexidade do texto, no excesso de estrangeirismos, gírias e coloquialismos.

    Para redigir um texto radiofônico é importante que o redator detenha habilidades para construir um texto escrito para ser falado e ouvido e não apenas conheça regras gramaticais e sintáticas. Assim, é preciso que saiba que “a construção do texto radiofônico exige, além de certa dose de correção gramatical, adequação técnico-lingüística concernente à estrutura do veículo rádio” (CABELLO, 1995, p. 145). Abaixo, discorreremos mais detalhadamente sobre essa construção do texto radiofônico.

1.2.     A construção do texto radiofônico

    A construção do texto radiofônico requer a utilização de um estilo próprio- oral /auditivo- alcançado a partir da observação de algumas características específicas do rádio, referentes às seguintes condições: tempo, dinâmica, melodia, sons complementares, voz, articulação e linguagem (cf. CABELLO, 1995, p. 146).

    Conforme Muñoz & Gil:

  1. tempo: refere-se à velocidade da fala. Os textos devem apresentar, em média, de seis a oito linhas, de 65 toques datilografados, com períodos de duas linhas e meia, para serem considerados "enxutos";

  2. dinâmica: diz respeito à ênfase da frase, quer dizer, aos elementos estilísticos concernentes às pausas, às alternações rítmicas etc. Embora a notícia (gênero básico da informação) requeira uma redação despersonalizada, o comunicador pode se valer de recursos supra-segmentais estilísticos para transmiti-la com clareza e expressividade;

  3. melodia: caracteriza-se pela seleção de palavras eufônicas. A construção adequada do texto, em termos de seleção de palavras, é indispensável, de preferência usa-se a forma singular e conjuntos que soem harmonicamente, evitando-se cacofonias do tipo: "por cada", "buscar alho", "uma mão". Enfim, também é fundamental saber quando usar palavra forte, doce, musical ou emocional;

  4. sons complementares: consistem em determinados recursos que não se configuram como entrevista, isto é, são os do tipo: declarações e testemunhos que só ampliam dados;

  5. voz humana, por ser rica de inflexões e persuasiva, é capaz de conduzir qualquer tipo de mensagem;

  6. no uso da voz, a articulação deve contemplar a clareza, o volume de voz e a intensidade no volume de voz. A forma de falar (dicção, locução) e escrever (seleção de palavras, colocação das frases) constituem o estilo, que revela características, tendências e personalidade de quem fala;

  7. linguagem do comunicador, seja qual for o estilo, deve [...] atentar para uma formação adequada do texto radiofônico. (MUÑOZ & GIL, 1990, p. 57 apud CABELLO, 1995, p. 146-147)

    Ainda, para a boa elaboração de um texto radiofônico, é importante que o redator leve em consideração duas normas: a técnico-linguística e a linguístico-gramatical. Pois o texto veiculado pelo rádio ora se apoia em questões mais técnicas, ou seja, técnico-linguísticas, ora na escrita do texto, isto é, na normatividade linguístico-gramatical.

    Seguem algumas considerações relevantes sobre as normas técnico-linguísticas inerentes à construção do texto radiofônico, de acordo com Cabello (1995, p. 146):

  1. O uso de caixa alta (ou letras maiúsculas): é aconselhável, em determinadas empresas de radiodifusão, para iniciar nomes próprios de pessoas, em algumas outras emissoras é recomendada para a redação de todo o texto.

  2. A utilização de barras simples (/) e compostas (//), além da pontuação normativa: as barras simples são usadas por algumas emissoras para indicar pausa breve na locução ou o encerramento de cada período do texto; já as barras longas são utilizadas para indicar pausa longa na locução ou o fim do texto.

  3. O uso do recurso sublinhar em algumas expressões: é aconselhável utilizar o recurso sublinhar quando no texto aparecerem expressões que provoquem risos ou mais complicadas para alertar o locutor.

  4. A utilização de siglas: só devem ser utilizadas aquelas siglas mais usuais, caso sejam desconhecidas, devem ser escritas por extenso, sendo que após cada uma das letras que compõem a sigla deve aparecer um ponto para separá-las (C.P.I), a menos que deva ser pronunciada como se fosse uma palavra, como a sigla PIB.

  5. A escrita por extenso de numerais: devem ser escritos por extenso os numerais cardinais de “zero” a “nove”; além dos que repetem o mesmo numeral “trinta e três”, por exemplo, aqueles em que o locutor precisa ter certeza do número de zeros (150.000,00) e os numerais de forma mista (vinte e cinco mil 547) para não atrapalhar a locução. Ainda, devem ser redigidos por extenso os numerais ordinais (quinto, sétimo), os numerais que variam de gênero (uma casa), o nome de meses (março, abril) e os numerais que indicam dinheiro (dez mil reais), pesos (quinhentos gramas), fração (dois oitavos), medidas (dez mil hectares), percentuais (quinze por cento) e numerais com vírgula (sete ponto três). Quanto aos números de telefone, podem ser escritos por extenso ou com espaços (99-69-26-95).

  6. O uso de artigos: é recomendável nos textos veiculados pelo rádio para evitar a monotonia da telegrafia.

  7. A apresentação de informações importantes para a compreensão do ouvinte: o cargo antes do nome da pessoa que o ocupa, o cargo político seguido do partido e do nome da pessoa que o ocupa, da instituição, como, por exemplo, a que desenvolveu a pesquisa, apresentou os dados, etc. e o nome da instituição de maneira simplificada.

    Quanto à normatização linguístico-gramatical, para maior eficácia do texto radiofônico, é necessário que o seu produtor leve em consideração alguns fatores pertinentes a esta normatividade. São eles:

  1. construção estilística;

  2. sobriedade;

  3. objetividade;

  4. simplicidade;

  5. concisão;

  6. repetição e

  7. acréscimos estimuladores.

    Como explica Cabello (1995, p. 149), em se tratando da estilística, o locutor tem uma grande parcela de responsabilidade na manutenção do interesse e da atenção do ouvinte durante a transmissão da mensagem. Um bom locutor é capaz até mesmo de tornar partes complexas da informação mais fáceis de compreender. Já a sobriedade é necessária por favorecer “a escolha adequada de palavras e expressões que não sejam chulas, irônicas ou pejorativas [...]. É, ainda, considerar a ética, para não levar a multidão a ações perigosas, já que o rádio exerce grande poder de influência [...]” (CABELLO, 1995, p. 149).

    A objetividade contribui para que o texto seja mais bem compreendido e memorizado pelo ouvinte. Enquanto que a simplicidade corresponde à utilização de palavras conhecidas pelo ouvinte ou na explicação de termos técnicos por ele desconhecidos. Na verdade, “o uso de um vocabulário conhecido é mais indicado, por isso, há certas restrições ao uso de estrangeirismos, quando ainda não estiverem na fase de peregrinismo; e de adjetivos, quando forem dispensáveis” (CABELLO, 1995, p. 149). Diante disso, é importante lembrar que a clareza e o entendimento do texto estão diretamente relacionados com a interação existente entre o ouvinte e o texto. Sendo assim, “A complexidade da produção textual cresce, no entanto, à medida que textos fáceis demais não despertam o interesse e não prendem a atenção” (CABELLO, 1995, p. 149).

    A concisão corresponde a “enxugar o texto”, ou seja, à redução de informações consideradas superficiais, sendo selecionadas apenas aquelas consideradas essenciais. Também “é recomendável a seleção de termos curtos e frases curtas, por concorrerem para o entendimento e a lembrança. Para quebrar a monotonia das frases curtas, a combinação de frases curtas e longas pode ser utilizada” (CABELLO, 1995, p. 149).

    Por fim, a repetição de termos dentro do texto radiofônico é bastante importante por possibilitar ao ouvinte resgatar informações relevantes apresentadas no decorrer da mensagem. Isso se torna possível por meio da reiteração de uma palavra, de uma sigla, um nome, etc., “Trata-se, pois, do uso de uma sinonímia, de variação léxica” (CABELLO, 1995, p. 149). Além disso, acréscimos estimuladores, que podem ocorrer a partir da utilização de diversos elementos de informação, requerem um trabalho sonoplástico adequadamente correlacionado ao texto.

    É importante ressaltar que “é preciso não se estabelecer regras muito rígidas, posto que é necessário trabalhar a criatividade acima do preestabelecido” (CABELLO, 1995, p. 151). Pois o rádio é uma mídia bastante dinâmica. Nem mesmo a tipologia de programas deve ter muita rigidez, “uma vez que um programa pode ser, ao mesmo tempo, musical e falado, ao utilizar e combinar dois componentes: a música e a palavra, a canção e o radiodrama, quer dizer, ao utilizar e combinar a palavra cantada e a palavra falada” (CABELLO, 1995, p. 150).

2.     Os gêneros radiofônicos

    Diversos pesquisadores de várias áreas do conhecimento, não apenas da área de comunicação, têm se dedicado ao estudo dos gêneros radiofônicos por corresponderem a uma representação concreta da dinâmica da programação do rádio. Na busca pela compreensão dessa realidade da organização dos programas veiculados pelo rádio, torna-se relevante a abordagem conceitual de alguns termos que favorecem a compreensão da noção de gêneros radiofônicos. Nesse sentido, a definição de termos como gênero radiofônico, formato radiofônico, programa de rádio, programação radiofônica e produtos radiofônicos precisam ficar evidentes para evitar que sejam confundidos e utilizados como equivalentes durante as discussões sobre os gêneros que compõem a programação radiofônica.

    Para Barbosa Filho (2009), faz-se relevante, principalmente, a distinção entre gênero radiofônico e formato radiofônico para que sejam compreendidos e classificados de forma adequada. Nessa perspectiva, esse autor afirma que

    Importante esclarecimento deve ser realizado sobre este transito conceitual, tendo em vista a demarcação de fronteiras entre gênero radiofônico e formato radiofônico e suas devidas posições no universo da programação sonora, incluindo-se o de programa de rádio, produto radiofônico e programação radiofônica. (BARBOSA FILHO, 2009, p. 71, grifo do autor)

    Os gêneros radiofônicos correspondem a uma classificação mais ampla e geral visando atender às expectativas dos ouvintes. Enquanto os formatos radiofônicos apresentam um caráter mais restrito da mensagem produzida pelo rádio e se constituem como modelos que podem incorporar programas desenvolvidos no interior dos variados tipos de gêneros radiofônicos.

    O programa de rádio ou produto radiofônico constitui-se como um “módulo básico de informação radiofônica, reprodução concreta das propostas do formato radiofônico, que obedece a uma planificação e a regras de utilização de elementos sonoros” (BARBOSA FILHO, 2009, p. 71). Já a programação radiofônica pode ser definida como um grupo de “programas ou produtos radiofônicos apresentado de forma seqüencial e cronológica” (BARBOSA FILHO, 2009, p. 71).

    No que tange aos estudos sobre os gêneros radiofônicos, a maioria dos teóricos se dedicam apenas à compreensão dos gêneros jornalísticos. Diante disso, faz-se relevante a apresentação da divisão de gêneros radiofônicos citada por Faus Belau (1973). De acordo com esse autor, os gêneros jornalísticos se dividem em quatro tipos, sendo eles:

  • informação: tem como finalidade a notícia e a reportagem com o intuito de manter o ouvinte informado dos acontecimentos relevantes na sociedade;

  • documentação: tem como pretensão emitir informações de cunho cultural, instruir e educar o ouvinte;

  • criação: objetiva conseguir a uma obra de arte dentro do meio;

  • entretenimento: busca entreter o ouvinte e servi-lhe de companhia.

    Kaplun (1978) também contribuiu significativamente para a classificação dos gêneros radiofônicos, dividindo-os em 12 gêneros distintos:

  • locução ou comunicação: divide-se em expositiva, crítica e testemunhal;

  • noticiário;

  • nota ou crônica;

  • comentário;

  • diálogo: pode ser diálogo-didático, radioconselho, ou consultório;

  • entrevista informativa;

  • entrevista;

  • radiojornal;

  • radiorrevista, miscelânea ou variedades;

  • mesa-redonda:divide-se em mesa-redonda propriamente dita , debate ou discussão;

  • radioreportagem: pode ser com base em documentos vivos, com base na reconstrução de fatos, relato com montagens;

  • dramatização: divide-se em unitária, seriada, novela.

    Barbosa Filho (2009, p. 89), com base na classificação de gêneros jornalísticos proposta por Melo (1992), apoiado no esquema funcional de Lasswell e Wright, propõe uma classificação para os gêneros radiofônicos vislumbrando a funcionalidade de cada deles a partir das expectativas do ouvinte. Desse modo, elenca-os em: jornalístico, educativo-cultural, de entretenimento, publicitário, propagandístico, de serviço e especial.

    O gênero jornalístico é “um instrumento que dispõe o rádio para atualizar seu público por meio da divulgação, do acompanhamento e da análise dos fatos. Os seus relatos podem possuir características subjetivas do ponto de vista dos conteúdos” (BARBOSA FILHO, 2009, p. 89), tendo a possibilidade de incluir opiniões individuais aos fatos expostos para o ouvinte.

    O gênero educativo-cultural corresponde a

    [...] uma das colunas de sustentação da programação radiofônica nos países desenvolvidos. No Brasil é quase totalmente encoberto no cenário de possibilidades do rádio nacional. A comercialização e conseqüente banalização dos conteúdos dos programas radiofônicos da atualidade não propiciam a criação de projetos que visem instruir e educar por meio do veículo de massa mais popular e de maior penetração na sociedade brasileira. (BARBOSA FILHO, 2009, p. 109)

    Esse tipo de gênero, quando usado adequadamente, é de grande utilidade para a população, uma vez que pode auxiliar as pessoas no exercício da sua cidadania numa nação onde possui um déficit no atendimento a demandas básicas, como a aquisição de um registro civil (cf. BARBOSA FILHO, 2009, p. 110). Nessa direção, Kaplun argumenta que

    A educação radiofônica não se restringe às emissões especializadas voltadas à alfabetização e à difusão de conhecimentos básicos, mas implica todas aquelas que procuram a transmissão de valores, a promoção humana, o desenvolvimento integral do homem e da comunidade, as que pretendem elevar o nível de consciência, a reflexão, e converter cada homem em agente ativo da transformação de seu meio natural e social. (KAPLUN, 1978, p. 129)

    O gênero de entretenimento, que durante um grande período foi considerado de pouca relevância por ter como característica principal a diversão, atualmente tem sido objeto de estudo de vários pesquisadores e despertado o interesse de muitos profissionais. Para Barbosa Filho

    As características deste gênero ligam-se ao universo do imaginário, cujos limites são intangíveis e causam proximidade e empatia entre a mensagem e o receptor que não podem ser desprezados, sob o preço cruel da perda de contundência na transmissão dos significados de uma determinada informação para o público. (BARBOSA FILHO, 2009, p. 113)

    Quando comparado com os outros gêneros radiofônicos, o gênero de entretenimento destaca-se por se capaz de contemplar mais profundamente a linguagem do rádio. É um gênero que apesar de fazer parte de uma mídia destinada a uma coletividade, consegue alcançar cada ouvinte individualmente. Além disso, permite uma aproximação entre a mensagem transmitida e o seu destinatário. Pois a mensagem é organizada e produzida conforme as especificidades e expectativas de audiência dos ouvintes. Nessa perspectiva, Barbosa Filho (2009) equipara o entretenimento à própria linguagem do rádio, evidenciando que suas contribuições vão desde o real ao ficcional.

    Já o gênero publicitário ou comercial caracteriza-se pela utilização do espaço radiofônico para a comercialização de produtos e serviços. Devido a isso, durante muito tempo, o rádio exerceu a importante função de “[...] cenário de experiências vitoriosas, por meio de peças radiofônicas publicitárias” (BARBOSA FILHO, 2009, p. 122).

    Quanto à veiculação do gênero propagandístico, o rádio se apresenta como um meio de comunicação que mais tem veiculado propagandas neste século. Porém, algumas vezes, as propagandas têm revelado um caráter perigoso.

    Outro gênero radiofônico apresentado por Barbosa Filho é o gênero de serviços ou produtos radiofônicos de serviço que correspondem a “[...] informativos de apoio às necessidades reais e imediatas de parte ou de toda a população ao alcance do sinal transmitido pela emissora de rádio” (BARBOSA FILHO, 2009, p. 134-135). Esse gênero se aproxima dos gêneros jornalísticos por ser o suporte da sua programação e ter uma vida curta, uma vez que busca acompanhar a transitoriedade e dinamicidade dos fatos.

    Para finalizar, o autor discorre sobre o gênero especial que, diferentemente dos outros gêneros, comporta diversas funções simultâneas. Com o objetivo de definir este gênero, o referido autor o classifica de especial

    [...] o formato que não possui [...] função específica como os dos outros gêneros, mas, sim, apresenta várias funções concomitantes. A este formato híbrido resolvemos atribuir para efeito classificatório a terminologia especial, incluindo-o num gênero multifuncional. (BARBOSA FILHO, 2009, p. 138, grifo do autor)

    Esses tipos de gêneros radiofônicos propostos por Barbosa Filho (2009) englobam alguns formatos presentes na programação radiofônica, como evidenciamos abaixo:

  • Jornalístico: nota, notícia, boletim, reportagem, entrevista, comentário, editorial, crônica, radiojornal, debate ou mesa-redonda, programa policial, programa esportivo, documentário jornalístico e divulgação tecnocientífica.

  • Educativo-cultural: programa instrucional, audiobiografia, documentário educativo-cultural, programa temático.

  • Entretenimento: programa musical, programação musical, programa ficcional.

  • Publicitário: espote, jingle, testemunhal, peça de promoção.

  • Propagandístico: peça radiofônica de ação pública, programas eleitorais, programa religioso.

  • De Serviço: notas de utilidade pública, programete de serviço, programa de serviço.

  • Especial: programa infantil, programa de variedades.

    Os gêneros radiofônicos representam a realidade dinâmica da programação do rádio e tem como funções primordiais, além de atualizar a população sobre os acontecimentos, distrair, ensinar, vender, mostrar ideias e prestar serviço à comunidade. Tem o jornalismo como uma das suas bases de apoio, a partir da veiculação de notícias, reportagens, notas, entre outros. Isso evidencia a relação de interação entre o rádio e o jornal que se dá “[...] de tal forma que há quem considere o rádio apenas como veículo de divulgação dos acontecimentos” (BARBOSA FILHO, 2009, p. 88).

    Como lembra Consani (2007), existem várias tipologias para os gêneros que circulam no rádio, havendo, na verdade, um consenso, apenas, para a nomenclatura gêneros radiofônicos. Para esse teórico, por exemplo, os gêneros radiofônicos são organizados nos seguintes subgêneros: jornalísticos, cultural e educativo, publicitários e de entretenimento. Tais subgêneros são “definidos, assim, por sua finalidade principal, sendo que cada um desses subgêneros comporta outros gêneros” (SILVA, 2009, p. 91-92). É importante ressaltar que os gêneros radiofônicos não devem ser vistos como fechados e estáticos, mas dinâmicos e flexíveis. Pois são construídos a partir das necessidades de comunicação dos seres humanos. Nessa perspectiva, os gêneros, não só os radiofônicos, devem ser considerados como “instituições vivas que evoluem para ajustarem-se às funções próprias das atividades a que servem. E não só evoluir, também desaparecem e surgem outros novos" (SANCHEZ LOPEZ e PAN, 1998, p. 18).

Considerações finais

    Hoje, as transmissões radiofônicas podem ser ouvidas desde um simples walkman a um sofisticado aparelho celular; até através da internet. Dentre tantos outros, é mais um instrumento de comunicação à disposição dos cidadãos.

    Como exposto neste trabalho, por apresentar um estilo “oral-auditivo”, o texto veiculado através das ondas do rádio se organiza de maneira bastante diferente dos textos impressos, por exemplo, pois é construído para ser falado e tem apenas uma chance de ser ouvido. Por isso, possui uma linguagem bem peculiar para alcançar o seu ouvinte.

    As programações do rádio apresentam uma organização bastante complexa por comportar uma diversidade de gêneros radiofônicos (textuais) ou textos radiofônicos. Mas, como lembramos neste trabalho, não existe apenas uma classificação para os gêneros radiofônicos, o que há de consenso entre os teóricos que apresentam classificações dos textos radiofônicos é apenas a denominação gêneros radiofônicos.

Nota

  1. Deriva da palavra latina locutare e significa “aquele que fala”. Porém, mais do que falar, o locutor informa, interpreta, convence, dá ritmo, movimento e sentido ao texto.

Referências

  • BAKHTIN, M. Os gêneros discursivos. In: Estética da Criação Verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1997, 2000.

  • BARBOSA FILHO, A. Gêneros radiofônicos: os formatos e os programas em áudio. São Paulo: Paulinas, 2009.

  • CABELLO, A. R. G. Construção do texto radiofônico: o estilo oral-auditivo. Alfa, São Paulo, v. 39, p. 145-152, 1995.

  • ______. Organização do texto radiofônico: coesão e coerência. Alfa, São Paulo, v. 38, p. 145-154, 1994.

  • ______. A expressão verbal na linguagem radiofônica. In: DEL BIANCO, N.; MOREIRA, S. V. (Orgs.). Rádio no Brasil: tendências e perspectivas. Rio de Janeiro: UFRJ, 1999, p. 15-39.

  • CONSANI, M. Como usar o Rádio na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2007.

  • FAUS BELAU, A. La Rádio: introducción a un medio desconocido. Madrid, Guadiana, 1973.

  • FERRARETO, L. A. Rádio: veículo, a história e a técnica. Porto Alegre: Sagra Suzzato, 2001.

  • GOMEZ, A. M. O rádio e a publicidade: modelos de negócio do rádio no Brasil. 2007. Dissertação (Mestrado). Universidade São Marcos, São Paulo.

  • KAPLUN, M. Producción de programas de radio: el guión – la realización. Quito: Ciespal, 1978.

  • KOCH, I. G. V. O texto e a construção dos sentidos. São Paulo: Contexto, 2010.

  • KOPPLIN, E.; FERRARETTO, L. A. Técnica de redação radiofônica. Porto Alegre: Sagra, DC Luzzatto, 1992.

  • MERAYO PÉREZ, A. Para entender la radio: estructura del proceso informativo radiofónico. Salamanca: UPSA, 1992.

  • MUNOZ, J. J.; GIL, C. La Radio: teoria y practica. La Habana, Cuba: Pablo de la Torriente, 1990.

  • OTRIWANO, G. S. A informação no rádio: os grupos no rádio: os grupos de poder e a determinação dos conteúdos. São Paulo: Summus: 1985.

  • PINHO, J. B. Propaganda institucional: usos e funções da propaganda em relações públicas. São Paulo: Summus, 1990.

  • SALINAS, F. O som na telenovela: articulações som e receptor. Tese (Doutorado). 1940. Universidade de São Paulo, São Paulo.

  • SÁNCHEZ, J. F.; LÓPEZ PAN, F. Tipologías de géneros periodísticos en España. Hacia un nuevo paradigma. Comunicación y estudios universitarios, n. 8, p. 15-35, 1998.

  • SILVA, C. M. R. da. O modelo didático do gênero comentário jornalístico radiofônico: uma necessária etapa para a intervenção didática. Dissertação (Mestrado). 2009. PUC-SP, São Paulo.

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 19 · N° 198 | Buenos Aires, Noviembre de 2014
© 1997-2014 Derechos reservados