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E a ginástica professor? Elementos teórico-metodológicos 

para a inserção da ginástica na Educação Física escolar

¿Y la gimnasia profesor? Elementos teórico-metodológicos para la inserción de la gimnasia en la Educación Física escolar

 

*Acadêmica do Curso de Educação Física do Grupo Uniasselvi/Fameblu

**Professora Mestre de Educação Física. Docente Grupo Uniasselvi/Fameblu

(Brasil)

Regiane de Cássia Weiers*

regicw@gmail.com

Veridiane Muller*

veri_muller@hotmail.com

Andrize Ramires Costa**

andrizedago@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Ginástica uma prática corporal que inicialmente foi sinônimo de Educação Física, num segundo momento considerada conteúdo da Educação Física e atualmente está ausente nas aulas escolares. O objetivo é de aprofundar estudos sobre Educação Física Escolar, para a busca de elementos teórico-metodológicos que justifiquem a Ginástica no contexto escolar; e identificar porque vem sendo esquecida enquanto conteúdo pedagógico. Pesquisa exploratória, abordagem método qualitativo, procedimento técnico estudos de casos. Os estudos foram realizados com quatorze professores de Educação Física de sete escolas municipais de Blumenau, entrevista semi-estruturada e observação sistemática foram instrumentos de coleta de dados. Verificamos que muitos podem ser os motivos da ausência da Ginástica na escola, todavia é um conhecimento que precisa estar presente na Educação Física Escolar, pois é de grande valia para o desenvolvimento pleno da criança.

          Unitermos: Conteúdo Pedagógico. Educação Física Escolar. Ginástica.

 

Recepção: 24/07/2014 - Aceitação: 30/09/2014.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 197, Octubre de 2014. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    Entende-se Educação Física como “uma prática pedagógica que, no âmbito escolar, tematiza formas de atividades expressivas corporais como: jogo, esporte, dança, ginástica, formas estas que configuram uma área de conhecimento que podemos chamar de cultura corporal” (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 50).

    A Educação Física é um meio educativo privilegiado que abrange o ser humano em sua totalidade, beneficia corpo e mente; é uma manifestação cultural humana ajudando a formar cidadãos de bem e com qualidade de vida desenvolvendo o seu aspecto cognitivo, psicomotor, afetivo e social.

    Ainda hoje, acredita-se que aula de Educação Física Escolar é apenas um momento de lazer nas escolas. Entretanto, tem a função de promover uma aprendizagem significativa para os alunos; contribuindo para que compreendam a sua importância, tornando-se cidadãos autônomos, participativos e críticos.

    Conforme os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998), Educação Física é a área do conhecimento que introduz e integra os alunos na cultura corporal do movimento. Com finalidades de lazer, de expressão de sentimentos, afetos e emoções, de manutenção e melhoria da saúde. Adota o princípio da inclusão, a metodologia de ensino e aprendizagem, aponta para o desenvolvimento da autonomia, da cooperação, da participação social, da emancipação e da afirmação de valores e princípios democráticos.

    Entretanto, o que presenciamos atualmente, é uma Educação Física escolar voltada à competição, obedecendo a regras, adestrando o movimento corporal, valorizando a vitória e gerando frustrações. Uma Educação Física que muitas vezes se esquece da sua função educativa, como afirma Gaio, Góis e Batista (2010, p. 78) “As aulas de Educação Física nas escolas são estimuladas pela competição, seguindo regras determinadas pelo esporte de alto nível, valorizando a vitória e, muitas vezes, oprimindo o mais fraco”.

    Não queremos ser entendidas como contra o esporte nas aulas de Educação Física Escolar, pelo contrário, compreendemos que o esporte é culturalmente valorizado em todo o mundo. Na escola há também a cobrança por parte da diretoria com os professores de Educação Física em ter bons resultados em competições interescolares.

    Acreditamos que o esporte trabalhado com fins recreativos, desenvolva no ser humano cooperação, participação e a concepção de valores. De acordo com Kunz (2006), ensinar esportes na Educação Física Escolar não é simplesmente desenvolver habilidades e técnicas do esporte, mas permitir que seja experimentando por todos os alunos, com prazer e espontaneidade, dentro de suas possibilidades e necessidades.

    Enfim, queremos chegar ao sentido que a Educação Física Escolar não é limitada aos esportes, que não é menos importante do que outras disciplinas; que pode vir a proporcionar conhecimento nos diferentes temas da cultura corporal.

    Diante do exposto, vimos na Ginástica, independentemente da modalidade, uma prática diversificada, lúdica, desafiadora e segura. Capacitada para desenvolver integralmente as crianças e jovens, promovendo não apenas, à aprendizagem de habilidades específicas; mas uma manifestação da cultura corporal, que proporciona inserção social, criatividade, prazer pelo movimento e permiti-lhes de forma crítica intervir no seu bem-estar.

    Entende-se Ginástica “como uma forma particular de exercitação onde, com ou sem uso de aparelhos, abre-se a possibilidade de atividades que provocam valiosas experiências corporais, enriquecedoras da cultura corporal das crianças, em particular, e do homem, em geral”. (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 77).

    Alguns estudos (AYOUB, 2007; BETTI, 1999; PAOLIELLO, 2008; SCHIAVON; NISTA-PICCOLO, 2007) têm apontado que a Ginástica como conteúdo (elemento da cultura corporal), e não apenas aplicada como simples aquecimento ou alongamento em algumas aulas; não está sendo difundida na escola. Ayoub (2007, p. 81) afirma que “Atualmente, a ginástica, como conteúdo de ensino, praticamente não existe mais na escola brasileira. Aula de educação física na escola tem sido sinônimo de aula de esporte”.

    Assim temos como objetivo de pesquisa aprofundar os estudos sobre a Educação Física Escolar, para a busca de elementos teórico-metodológicos que justifiquem a Ginástica no contexto escolar; e identificar porque vem sendo esquecida enquanto conteúdo pedagógico.

    Um conteúdo que traga inúmeros benefícios para o desenvolvimento integral do ser humano, não pode ser desconsiderado ou mal aplicado. Muitos podem ser os motivos, porém precisamos encontrar caminhos que possam amenizar essa situação. Diante dos fatos, surge o problema de pesquisa: Por que os professores de Educação Física Escolar não estão trabalhando mais o conteúdo da ginástica nas aulas?

2.     Revisão da literatura

2.1.     Breve história da ginástica no ambiente escolar

    No âmbito escolar, o início da Ginástica relaciona-se com o início da Educação Física, surgindo entre os séculos XVIII e XIX no chamado Movimento Ginástico Europeu; evidenciada pelas escolas de ginástica alemã, sueca e francesa. Para desenvolver saúde, beleza e força nos indivíduos da sociedade, com características higienistas e militares – corpos produtivos e disciplinados (SOARES, 2005, 2007). Com o passar dos tempos, a inclusão da ginástica, considerada como Educação Física, foi adaptada e com novas propostas incorporadas no sistema educacional.

    No Brasil, a Ginástica também teve grande influência das escolas alemã, sueca e francesa. “A Educação Física no Brasil, em suas primeiras tentativas para compor o universo escolar, surge como promotora da saúde física, da higiene física e mental, da educação moral e da regeneração ou reconstituição das raças”. (SOARES, 2007, p. 91).

    Ayoub (2007, p. 79) afirma que os exercícios ginásticos foram os meios mais apontados para desenvolvimento da Educação Física nas escolas, e “que, durante muito tempo, aula de educação física na escola foi sinônimo de aula de ginástica”.

    Com a chegada da Educação Física desportiva no Brasil, em meados de 1940, a ginástica, foi gradativamente sendo esquecida e substituída por jogos e esportes. Atualmente a Ginástica é um elemento da cultura corporal, um conteúdo pedagógico que está ausente nas aulas escolares.

2.2.     Por onde anda a ginástica na escola

    Como mencionado anteriormente, a Ginástica como conteúdo pedagógico está ausente nas escolas. Podemos dizer que a Ginástica está cada vez mais presente em clubes, academias, centros de treinamento desportivo, entre outros. Nesse sentido, esclarecemos que muitos professores aplicam atividades referentes à ginástica apenas como uma alternativa de aquecimento, com exercícios ginásticos simples e/ou alongamentos suaves, no modelo e ritmo do professor, no início ou término das aulas, não a considerando como um conteúdo a ser planejado e trabalhado de forma efetiva e regular. (AYOUB, 2007; NISTA-PICCOLO, 1995).

2.3.     Ginástica na escola: possibilidades

    De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998), as aulas de Educação Física Escolar devem compreender os três blocos de conteúdo: os esportes, jogos, lutas e ginásticas; atividades rítmicas e expressivas e conhecimento sobre o corpo. Acreditamos que na Ginástica é possível encontrar tudo isso, pois instrui com diversos materiais e de diversas formas; podem-se adotar regras de caráter oficial e competitivo; ou utilizar-se de diferentes ritmos e expressividade; perceber o relaxamento e tensão dos músculos, além de trabalhar a pluralidade sociocultural também citada nos PCNs.

    A Ginástica na Educação Física Escolar é um conteúdo de caráter formativo. Um conteúdo onde todos os alunos podem experimentar e aprender algo novo, alcançando inúmeros resultados físicos, morais e intelectuais.

    A partir de movimentos naturais básicos; podemos introduzir o universo dos movimentos gímnicos no âmbito escolar. É através dessas vivências da Ginástica natural que as crianças desenvolveram naturalmente as chamadas qualidades físicas, além da criatividade, consciência corporal e autoestima. Segundo Paoliello (2008, p. 68) a ginástica natural é considerada “todas as habilidades que fazem parte do repertório motor do ser humano e que permitem a ele interagir com seu meio ambiente”.

    Nista-Piccolo (1988) já destacava que os elementos característicos da Ginástica Artística e da Ginástica Rítmica Desportiva deveriam fazer parte do conteúdo da Educação Física Escolar, não de forma competitiva, mas com formas naturais de movimento. A própria confecção dos materiais a serem utilizados nas aulas de Educação Física Escolar é uma possibilidade de introduzir o conteúdo Ginástica no âmbito escolar, incentivando a criatividade dos alunos, sendo atrativo para as crianças.

    Ayoub (2007) traz a Ginástica Geral como uma possibilidade de desenvolvimento do conteúdo Ginástica na escola. Permitindo a participação de todos, acessível para todas as idades, gênero; respeitando os limites de cada um. Ela cria um ambiente de criatividade, de liberdade de expressão, diversão, prazeroso, lúdico. A Ginástica Geral constitui-se uma esfera viável e privilegiada para a vivência do componente lúdico da cultura corporal (AYOUB, 2007).

    Abrangendo o conhecimento e a prática da Ginástica no âmbito escolar, podemos verificar diversos objetivos que podem ser desenvolvidos nos alunos; além de contribuir para a formação de adultos mais conscientes com seu corpo, tendo um melhor estilo de vida.

3.     Método

    Trata-se de uma pesquisa exploratória, utilizando a abordagem do método qualitativo e procedimento técnico os estudos de casos: o investigador identifica e analisa uma situação de um determinado grupo de indivíduos, para tomar decisões a seu respeito ou identificar meios de resolução (CHIZZOTTI, 2001).

    Os estudos foram realizados com quatorze professores de Educação Física, escolhidos aleatoriamente, de sete escolas municipais da região oeste de Blumenau – SC; formada pelos bairros: Água Verde, Escola Agrícola, Passo Manso, Salto Weissbach, Velha Central, Velha e Velha Grande. O critério adotado para a inclusão dos participantes neste estudo foi à assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

    A entrevista semi-estruturada e a observação sistemática foram adotadas como instrumentos de coleta de dados e realizadas durante o mês de Abril/2014. A entrevista semi-estruturada, compreendia temas em relação aos conteúdos aplicados nas aulas, à aplicação da ginástica como conteúdo, dificuldades encontradas na aplicação desse conteúdo, formação inicial dos professores, entre outras perguntas que foram reformuladas para esclarecer as respostas e garantir resultados mais válidos. Foi observado uma ou duas aulas com diferentes turmas de cada professor entrevistado, tudo que foi visto foi registrado em nota no diário de campo.

    Paralelamente houve uma pesquisa bibliográfica que envolveu a temática Educação Física Escolar, Ginástica Escolar, Ginástica Geral, Ginástica como conteúdo nas aulas de Educação Física Escolar, e dificuldades na aplicação desse conteúdo. A pesquisa bibliográfica permitiu a construção de um conjunto de referências que fomentou a discussão da realidade encontrada.

    Ao término da coleta de dados, as entrevistas e observações foram reunidas e analisadas. A análise de dados realizou-se através da análise de conteúdo, proposta por Bardin (1979) que compreende análise de conteúdo como um conjunto de instrumentos metodológicos que permitem a interpretação das palavras, textos, de forma controlada, baseada na dedução. Primeiramente realizou-se uma pré-análise, separando as entrevistas e observações dos professores que não aplicavam a Ginástica como conteúdo em suas aulas, das, dos professores que aplicavam. Ao fim dessa organização, realizou-se uma análise teórica das referidas entrevistas e observações e os resultados foram discutidos tendo como referências estudos já realizados sobre o tema.

4.     Resultados e discussões

4.1.     Conceito de ginástica escolar

    Em relação à Ginástica Escolar percebemos que, os professores entrevistados acreditam que possuem conhecimento para conceituá-la. Entretanto, ao analisar esse dado, a maioria dos conceitos evidenciados sobre Ginástica não contemplam a totalidade desta prática corporal, ficando a mercê de respostas.

    “A Ginástica é um conjunto de vários exercícios coordenados, de coordenação motora”. (PROF. A. G., 2014).

    “A Ginástica tem várias ramificações voltada para a saúde, toda atividade física é uma ginástica”. (PROF. G. S., 2014).

    “A Ginástica é uma forma de exercitar o corpo e a mente; é um estímulo para a criança levar para a vida como saúde, qualidade de vida”. (PROF. I. W., 2014).

    “Ginástica é um tipo de rolamento”. (PROF. R. G., 2014).

    Estes são alguns dos conceitos expostos pelos professores entrevistados, todavia são dados que mesmo em conjunto ainda não contemplam a concepção de Ginástica.

    Para Gaio, Góis e Batista (2010, p. 214) a Ginástica Escolar:

    Apresenta-se como um conteúdo de caráter formativo que propicia a vivência de atividades de movimentos de locomoção (correr, saltar, saltitar, rolar etc.), manipulação (lançar, pegar, quicar etc.), equilíbrio (girar, balançar, agachar etc.) e utiliza como procedimento metodológico vivências de formas variadas de movimentos (com e sem deslocamentos, em diferentes posições corporais, em direções diversas etc.), com ou sem uso de materiais auxiliares.

    Não queremos aqui, julgar as concepções dadas pelos professores entrevistados, porque sabemos que nem todos naquele momento lembraram-se das ramificações da Ginástica. Queremos apenas deixar claro que o desconhecimento da concepção da Ginástica neste estudo influenciou na aplicação deste conteúdo nas aulas de Educação Física Escolar.

4.2.     O conteúdo ginástica na educação física escolar

    Dos quatorzes professores entrevistados, onze professores declararam que não trabalham a Ginástica como conteúdo em suas aulas. Destes, um dos entrevistados afirmou que em nenhum momento trabalha a Ginástica em suas aulas e os outros dez entrevistados, aplicam a Ginástica apenas no contexto das aulas, no início como um aquecimento, no decorrer da aula numa atividade de estafeta, dentro de brincadeiras ou das modalidades desportivas e no final como alongamento. Ayoub (2007) reforça essa ideia, afirmando que a Ginástica é vista como sinônimo de exercícios físicos preparatórios, alongamento e/ou aquecimento no ambiente escolar.

    Os três professores entrevistados remanescentes afirmaram que trabalham a Ginástica como conteúdo em suas aulas. Questionados qual a forma que aplicam a Ginástica em suas aulas escolares, tivemos as seguintes respostas:

    “Trabalho 90% das minhas aulas com ginástica: alongamento, correção postural, voltado à saúde, e ginástica geral com os materiais que a escola oferece (arcos, maças, colchão, trave)” (PROF. A. G., 2014).

    “Trabalho como conteúdo um trimestre, logo após o conteúdo da psicomotricidade, monto materiais com os alunos para utilizar nas aulas, uso a ginástica para o reconhecimento corporal; de forma lúdica, circuitos, movimentos naturais” (PROF. G. S., 2014).

    “Uso a ginástica imitativa, alongamentos, circuitos com rolamento, acrobática no colchão, atividades de relaxamento” (PROF. M. B., 2014).

    Contudo, as aulas escolares desses três professores entrevistados que observamos (notas de campo), não abrangeu manifestações gímnicas, deixando uma dúvida: Quais são as dificuldades encontradas por esses professores ao trabalharem o conteúdo da Ginástica na escola?

    Durante as entrevistas, esses três professores de Educação Física foram unânimes em relatar a dificuldade de trabalhar o conteúdo da Ginástica com os alunos, especialmente com os anos finais do Ensino Fundamental, alegando que a falta de respeito dos alunos, o sedentarismo e o desinteresse pela atividade física são as principais dificuldades encontradas.

    Contudo, acreditamos que o processo apontado por Coletivo de Autores (1992, p. 90), seja viável para amenizar essa situação. Primeiramente apresentando os conteúdos e objetivos que serão trabalhados nas aulas de Ginástica para os alunos, para que possam juntos buscar melhores formas de se organizarem para a execução das atividades propostas, ou seja, “descobrir as possibilidades que cada um tem de executar movimentos artísticos/acrobáticos”. Em seguida, propor aos alunos a construção dos materiais que serão utilizados nas referidas atividades e os mesmos buscarem as possibilidades de exercitação com esses materiais. Finalizando com a interação em duplas, os alunos demonstram os movimentos (com e sem materiais) que podem ser realizados com seus colegas de turma. Assim, confiamos que possibilitando aos alunos liberdade para vivenciarem suas próprias ações corporais, elaborar/praticar formas de ação comuns, desenvolveram relações sociais saudáveis, vivência motora variada e sentiram que é algo importante para suas vidas; serão capazes de praticar os movimentos após a aula de maneira autônoma e com conhecimento.

    É propício que o professor desenvolva um ensino aprendizagem bastante prático e dinâmico, tornando a aula atrativa e motivadora, facilitando a aprendizagem das partes envolvidas. Além disso, deve estar preparado para as mudanças que poderão ocorrer no seu planejamento, conscientizando os alunos de que a aula é um espaço para aprendizagem, que esta é relevante e a participação nas aulas deve ser efetiva.

4.2.1.    Por que a Ginástica vem sendo esquecida como conteúdo nas aulas de Educação Física?

    Em relação aos onze professores entrevistados que declararam que não trabalham a Ginástica como conteúdo em suas aulas, o principal motivo destacado pelo estudo é a inadequada ou insuficiente capacitação dos professores para ensinar este conteúdo. Os cursos de graduação não os prepararam para a realidade que estava esperando-os.

    “O que aprendi na faculdade, não teve nada a ver com que se aplica na escola, aprendi muito pouco, tive que buscar conhecimento para trabalhar na escola” (PROF. N. R., 2014).

    “Foi apenas uma base, tive que buscar mais conhecimento. Fugiu um pouco da realidade que encontrei. Acabei adquirindo conhecimento com a prática e com os alunos” (PROF. M. L., 2014).

    Paoliello (2008, p. 20) afirma que “a Ginástica é um dos saberes que o professor de Educação Física deveria dominar. Para tanto, é preciso centrar esforços a fim de intervir na formação inicial em licenciatura, especialmente no que tange às manifestações gímnicas”.

    É responsabilidade dos cursos de formação de professores de Educação Física, uma efetiva preparação, proporcionando um desenvolvimento contínuo pedagógico e educacional aos envolvidos; mantendo-os conscientes da reflexão constante de sua prática, e com o intuito de modificá-la quando necessário. É decisiva a compreensão da Ginástica como elemento da cultura corporal e que necessita ser estudada profundamente para que o professor de Educação Física possa enfrentar os desafios impostos pela atualidade (AYOUB, 2007; PAOLIELLO, 2008). Lógico que não podemos generalizar essa situação, todavia esse estudo apontou para tal, sabemos que muitos profissionais sempre estiveram comprometidos, conquistando o devido valor e respeito nessa área.

    Outro motivo exposto pelos professores entrevistados é a falta de espaço e materiais nas escolas, muitas vezes comprometendo a segurança dos alunos. Eles declararam que a quadra muitas vezes é dividida com mais professores/turmas, e o pior, as turmas tem um grande número de alunos, comprometendo a segurança deles.

    Entretanto, Betti (1999, p. 29) contradiz essa situação “poucos são os professores que procuram utilizar outros materiais, diferentes dos convencionais nas aulas. Isto define, inclusive, o tipo de conteúdo a ser desenvolvido.” A mesma autora novamente afirma que “espaços naturais e materiais não convencionais são esquecidos”.

    Propomos que sejam realizados aulas de confecção dos materiais a serem utilizados nas referidas aulas de Ginástica, favorecendo a criatividade dos alunos, enriquecendo o contexto educativo. Explorar aparelhos tradicionais, como também os nãos tradicionais da Ginástica, originaram novas possibilidades de ação (AYOUB, 2007). Transformar um banco em trave de equilíbrio, um mini-trampolim em cama elástica, uma porção de retalhos e meia em bola, são algumas das propostas para um ensino mais apropriado no ambiente escolar.

    Em relação ao espaço disponível para a efetiva aula de Educação Física, sabemos que muitas escolas ainda não possuem um espaço apropriado, ou o espaço é precário. O que defrontamos nesse estudo é que os professores entrevistados acreditam que aulas de Educação Física são apenas em ginásios desportivos. Ambientes como gramado, campo de areia não há como trabalhar o conteúdo Ginástica, ficando novamente constatado que o inadequado conhecimento sobre Ginástica influencia na aplicação deste conteúdo.

4.3.     A ginástica escolar “esportivizada”

    Outro fator relevante para a ausência da Ginástica no ambiente escolar; é dos professores visualizarem a Ginástica apenas como modalidade de alto rendimento. Segundo Coletivo de Autores (1992, p. 77) “a falta de instalações e aparelhos no estilo ‘olímpico’ desestimula o professor a ensinar ginástica”, porém “quando existem esses meios, sobressai a tendência a ‘esportivização’ que fixa normas de movimento e determina o ‘sexismo’ das provas”.

    Explicações como: “Não trabalho a ginástica como conteúdo por ser uma modalidade com movimentos específicos” (PROF. C. L., 2014) ou “A ginástica é muito desafiadora, não respeita a diversidade dos alunos” (PROF. M. L., 2014), apontam que a Ginástica Escolar é vista como uma modalidade determinada por regulamentos e competitividade entre opostos.

    Kunz (2006, p. 83) afirma que os professores de Educação Física Escolar são leigos na profissão, porque nos cursos universitários predomina a formação de especialistas do esporte. Muitas universidades, através de convênios com instituições estrangeiras, têm conseguido construir instalações esportivas da melhor qualidade, com materiais de alto nível, confrontando a realidade escolar brasileira. O professor de Educação Física acaba seguindo uma padronização do uso dos materiais e locais.

    Schiavon e Nista-Piccolo (2007, p. 132) reforçam esse argumento: “É provável que os conteúdos gímnicos desenvolvidos na graduação desses professores não consigam traduzir a realidade das escolas, deixando de preparar os futuros profissionais para solucionarem os problemas que possam encontrar no trato da Ginástica na escola”.

    Ressaltamos que o professor de Educação Física carece aprender as inúmeras interpretações da Ginástica e seus significados, para poder criar novas possibilidades de expressão gímnica em suas aulas escolares.

5.     Considerações finais

    Pretendemos com esse estudo ampliar o interesse por parte dos professores de Educação Física Escolar, em transformar a “Ginástica” do aquecimento, do alongamento, dos exercícios específicos em conteúdo que contribua na formação integral dos alunos, auxiliando-os na expansão de novas formas de exercitação.

    Cabe salientar, que os resultados desta pesquisa não devem ser generalizados e vistos como conclusivos. Esperamos que abram caminhos para que os professores de Educação Física Escolar compreendam as limitações pedagógicas nesta área de ensino, abrindo possibilidades em relação ao conteúdo da Ginástica, na qual o professor pode, sem se preocupar com materiais e espaços, aplicar esse conteúdo de forma prazerosa, lúdica, criativa, possibilitando aos alunos a aprendizagem de todos os elementos da cultura corporal e desenvolvendo o interesse pela prática da ginástica.

    Também é preciso pensar na concepção de que a Ginástica é apenas uma modalidade de alto rendimento, com movimentos complexos e regrados, mas, que promove à saúde, o bem-estar físico e mental, a interação social, entre tantos outros benefícios.

Referências

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