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Levantamento da avifauna aquática no reservatório

Interlagos do município de Montes Claros, MG

Estudio de la avifauna acuática en el embalse Interlagos del municipio de Montes Claros, MG

 

*Biólogo, Faculdade de Saúde Ibituruna/FASI, Montes Claros (MG)

**Biólogo, Professor Doutor em Ciências Biológicas (Biologia Genética)

Departamento de Biologia da Universidade Estadual de Montes Claros/UNIMONTES

e Faculdade de Saúde Ibituruna/FASI, Montes Claros (MG)

***Enfermeiro, Especialista em Saúde da Família, Universidade Estadual

de Montes Claros/UNIMONTES, Montes Claros (MG)

(Brasil)

Rafael Majuste*

majuste@gmail.com

Cleber Antunes Cruz**

cleberesp@yahoo.com.br

Rodrigo Oliveira Pessoa**

rodrigo.nescau@gmail.com

Patrick Leonardo Nogueira da Silva***

patrick_mocesp70@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          As aves são animais bem conhecidos e facilmente detectados em ambiente natural. A presença ou ausência de certas espécies, bem como as tendências populacionais, podem ser usadas como indicadores de qualidade ambiental. Sendo assim, objetivou-se identificar a riqueza da avifauna no reservatório Interlagos, em Montes Claros/MG, por meio de observações de forma a verificar a variação na quantidade de indivíduos e das espécies no período de junho/2008 a novembro/2008. Trata-se de um estudo descritivo-exploratório, observacional, por meio de contagem das aves aquáticas. Foram feitos através de pontos fixos. As espécies observadas foram distribuídas em quatro ordens, cinco famílias e seis espécies, resultando em 4.167 indivíduos registrados. A preservação do reservatório Interlagos é relevante para a preservação da avifauna aquática da cidade de Montes Claros/MG. Portanto, a área encontra-se intensamente impactada pela ação antrópica de forma que se faz necessário o desenvolvimento de projetos de reflorestamento, baseados no conhecimento da avifauna local.

          Unitermos: Aves. Fauna aquática. Meio ambiente.

 

Recepção: 05/08/2014 - Aceitação: 30/09/2014.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 197, Octubre de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O cerrado está localizado na porção centro-ocidental e ocupa, aproximadamente, 57% da extensão do estado de Minas Gerais. A Mata Atlântica localiza-se na porção oriental e ocupa uma extensão territorial aproximada de 41% da área do Estado (BRASIL, 2013). A classe Aves inclui vertebrados endotérmicos, encontrados em quase todos os ecossistemas do planeta (FRENCH; PICOZZI, 2002). Apresentam diversas adaptações quanto ao modo de vida e hábito alimentar, de maneira que podem ser subdivididos em grupos funcionais, ou seja, conjuntos de animais que utilizam recursos ambientais para alimentação, reprodução, empoleiramento (repouso) e abrigo de maneira similar (FRENCH; PICOZZI, 2002).

    As aves apresentam um padrão diversificado de coloração, sendo de extrema importância no controle biológico e na dispersão de sementes (POUGH et al., 1999), são bons indicadores de qualidade do ambiente em unidades de conservação, podendo desempenhar papel ecológico fundamental, uma vez que elas estão entre os vertebrados com maior número de informações sobre, taxonomia e distribuição geográfica (POUGH et al., 1999). A América do Sul é o continente das aves, sendo o número de espécies residentes aproximadamente da ordem de 3.200 (SIBLEY; MONROE, 1990; SICK, 1997). O Brasil é um país privilegiado com uma das maiores biodiversidades em aves no mundo (SICK, 1997). São 1.901 espécies consideradas pertencentes à avifauna brasileira e anualmente são realizados novos registros e até mesmo descritas novas espécies (COMITÊ BRASILEIRO DE REGISTROS ORNITOLÓGICOS [CBRO], 2014).

    Parte da avifauna brasileira possui hábitos aquáticos e utilizam de maneiras diversas os recursos, interagindo com os ecossistemas (BRANCO, 2003). Lagos, lagoas e reservatórios são importantes para muitas espécies de aves, por oferecerem alimento e sítios de reprodução (BRANCO, 2003). As aves aquáticas, devido a sua dinâmica populacional, diferem no quesito adaptação, migração e estruturas morfofuncionais de forma considerável daquelas apresentadas por representantes de outros grupos. As aves são um dos grupos animais mais pesquisados em ambientes urbanos (TURNER, 2003), e vários estudos mostram que a estrutura desse ambiente pode influenciar a distribuição e a composição da avifauna (RUSZCZYK et al., 1987; WILLIS; ONIKI, 1987; ARGEL-DE-OLIVEIRA, 1995; MATARAZZO-NEUBERGER, 1995; VILLANUEVA; SILVA, 1996). Alterações provenientes dos processos de urbanização tendem a favorecer as espécies generalistas e/ou exóticas, que se constituem como as predominantes em ambientes com amplas modificações antrópicas (TILGHMAN, 1987), representadas principalmente por grupos que apresentam baixa vulnerabilidade a perturbações ambientais (PETIT; PETIT, 2003).

    Diversos fatores interferem na sobrevivência das aves em ambientes urbanos, tais como: mudanças na composição florística, fragmentação da vegetação nativa, alteração na fecundidade, risco de colisão com objetos não encontrados em ambientes naturais, mudanças na assembléia de predadores, disponibilidade de alimentos e doenças (CHACE; WALSH, 2004). As aves aquáticas não são afetadas somente pela expansão física das cidades e pela poluição, mas também pelo aumento exponencial de atividades de lazer em ambientes aquáticos, em praticamente todo o mundo (MADSEN, 1998). O grau de ameaça sofrida por determinadas espécies já é há tempos estabelecido pelos ornitólogos e a presença de uma ou várias espécies ameaçadas em determinado local ajuda a estabelecer o grau de preservação do mesmo e a importância de se preservá-lo (MADSEN, 1998).

    Portanto, objetivou-se identificar a riqueza da avifauna no reservatório Interlagos, em Montes Claros/MG, por meio de observações de forma a verificar a variação na quantidade de indivíduos e das espécies no período de junho/2008 a novembro/2008.

Material e métodos

    Localizado no bairro Esplanada, na região norte de Montes Claros/MG, o reservatório Interlagos foi criado em 1970 a partir do alargamento de parte do leito do córrego Melancias. A área conta com 2.223,61 metros de comprimento. O reservatório está situado à 16º42’33.36’’S; 43º50’6.94’’O, e mantêm uma pequena área de taboa (Typha domingensis). O reservatório apresenta um curso d'água, aparentemente com parte de esgoto, reservando uma parte limpa da água para algumas espécies de aves. O reservatório Interlagos de Montes Claros/MG sofre profundas alterações no volume de água, em períodos de seca, entre os meses de agosto e setembro, não se sobrepondo ao levantamento da avifauna pesquisada. Com o aumento dos índices pluviométricos na estação chuvosa, o reservatório se restabelece.

    Montes Claros situa-se na Área Mineira da SUDENE (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste) e ocupa a condição de capital dos municípios do polígono mineiro das secas, possui uma área de 3.582,82 km2, faz limites com as cidades de Bocaiúva, Claros dos Poções, São João da Lagoa, Coração de Jesus, Patis, São João da Ponte, Capitão Enéas, Francisco Sá, Juramento e Glaucilândia. Montes Claros possui uma população em torno de 361.915 habitantes (IBGE, 2010).

    A metodologia utilizada para a realização dos estudos de observação e contagem das aves aquáticas foi por pontos fixos. Foram escolhidos os locais que representam situações ambientais diferentes, tais como luminosidade favorável, distância da área de observação compatível, dentre outras situações, permitindo assim, a visualização de um maior número de espécies. As aves aquáticas deste estudo foram identificadas apenas pelo método de identificação visual de forma que não se utilizou o método de vocalização das aves para sua identificação, pois todas as espécies avistadas foram encontradas no guia de campo “Todas as aves do Brasil – guia de campo para identificação” utilizado como instrumento da pesquisa. Para o referido estudo, não foi estipulada distância entre o observador e a ave, todas as aves avistadas foram registradas.

    O estudo foi realizado no período de Junho a Novembro de 2008, com três visitas por semana no reservatório Interlagos em horários alternados entre manhã (06h00min às 09h00min horas) e tarde (16h30min às 18h30min). Todas as aves visualizadas foram registradas com auxílio de binóculo (10x35mm). Para identificação das aves foi utilizado o guia de campo supracitado, relógio, prancheta, ficha para anotação, lápis, caneta e maquina fotográfica digital.

    Foi determinada a presença das espécies registradas, podendo ser considerada: (1) residente (espécie registrada em pelo menos 90% das visitas, estando presente no reservatório em todos os meses de estudo); (2) ocasional (espécie com presença não determinada, ou seja, que foram pouco registradas apresenta percentual equivalente 10%).

    Nesse estudo, foi aplicado o teste de Lilliefors para verificar a normalidade do conjunto de dados coletados. A partir desse teste, foi utilizado o método de Kruskal-Wallis para verificar a existência ou não de diferenças na abundância das aves aquáticas entre os meses observados. Para a nomenclatura taxonômica das espécies observadas, utilizou-se a nova lista das espécies do Brasil, atualizada em 2014, pelo Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos (CBRO).

Resultados e discussões

    No período estudado foram registrados 4.167 indivíduos, pertencentes a seis espécies de aves associadas à ambientes aquáticos, distribuídas em seis gêneros, cinco famílias e quatro ordens. A família mais representativa foi a Ardeidae com duas espécies e as demais famílias com apenas uma espécie (Tabela 1).

Tabela 1. Espécies de aves aquáticas registradas no reservatório Interlagos durante junho a novembro de 2008. Montes Claros (MG), 2013

    Das seis espécies registradas durante o período do estudo, quatro foram consideradas residentes e duas ocasionais (Tabela 1). As espécies mais abundantes ao longo dos seis meses de estudo foram Gallinula galeata (Lichtenstein, 1818), seguida da Ardea alba (Linnaeus, 1758).

Tabela 2. Registros das aves aquáticas no período matutino e vespertino durante junho a novembro de 2008. Montes Claros (MG), 2013

    Durante o período observado, o mês que apresentou mais indivíduos foi em agosto (n=826, 19,8%) seguido do mês de setembro (n=736, 17,6%). Já a espécie que apresentou o maior número de observações durante os meses de estudo foi a Gallinula galeata (n=3377, 81%) seguida da Ardea alba (n=298, 7,1%) (Tabela 2).

Registros das aves observadas

    Biguá, Phalacrocorax brasilianus. Essa espécie apresentou diferença significativa no número de indivíduos observados entre os meses de estudo (p < 0,01), sendo mais registrada em junho e novembro de 2008 e menos observada em agosto e outubro do mesmo ano. Em agosto foi observada uma redução no número de indivíduos registrados. Entretanto, outubro mostra um pequeno aumento nos registros para essa espécie. A maior variação encontrada foi entre os meses de outubro e novembro.

    Garça-branca-grande, Ardea alba. Também foi encontrada diferença significativa entre o número de indivíduos observados dessa espécie durante o período de estudo (p < 0,01). Entretanto, diferente de Phalacrocorax brasilianus, a média de registros para Ardea alba apresentou um ligeiro aumento entre os meses de julho a setembro de forma a repercutir entre os meses de outubro e novembro.

    Socozinho, Butorides striata. Essa espécie, apesar de apresentar uma menor variação, também mostrou diferença significativa entre as médias de indivíduos observados durante o período de estudo. De modo semelhante à Phalacrocorax brasilianus, Butorides striata também apresentou uma pequena redução no número médio de indivíduos observados entre junho e agosto. Entretanto, diferente das espécies anteriores, não foi observado um aumento no número de registros no mês de novembro.

    Frango d’água-comum, Gallinula galeata. Também foi possível observar uma diferença significativa no número de registros entre os meses de estudo para essa espécie (p<0,01). Nesse caso, houve uma grande variação no número de indivíduos observados entre agosto e novembro de 2008. Além disso, de modo semelhante à B. striata, foi observada uma diminuição no número de registros de outubro para novembro. Os maiores números de registros para essa espécie foram em agosto e outubro de 2008.

    Lavadeira-mascarada, Fluvicola nengeta. A variação no número de indivíduos observados para essa espécie apresenta-se muito semelhante à de P. brasilianus. Da mesma forma, há uma diferença significativa entre o número de registros no período estudado (p < 0,01), sendo que a maior variação ocorreu entre outubro e novembro de 2008. Os maiores números de registros foram nos meses de setembro e novembro de 2008.

    Martim-pescador-grande, Megaceryle torquatus. Da mesma forma que todas as outras espécies anteriores, o número de indivíduos observados no período de estudo variou significativamente (p < 0,01). Entretanto, nesse caso há uma pequena diferença no padrão de variação apresentado, sendo verificada uma grande queda no número de registros entre os meses de julho e agosto de 2008. De agosto para setembro há um ligeiro aumento no número médio de observações, estabilizando-se em outubro. Em novembro há novamente um aumento na média do número de registros, porém não significativa (p > 0,05).

Figura 1. Variação do número de indivíduos das espécies observadas (A) Phalacrocorax brasilianus, (B) Ardea alba, (C) Butorides striata, 

(D) Gallinula chloropus, (E) Fluvicola nengeta, e (F) Ceryle torquatus entre os meses de junho a novembro de 2008. Montes Claros (MG), 2013

Fonte: Os autores. Montes Claros (MG), Brasil, 2013

Descrição das espécies avistadas

    O Biguá (Phalacrocorax brasilianus) apresenta 70 cm de comprimento, quando pousado ou nadando é impossível de ser confundido com qualquer outra espécie brasileira, mas quando em vôo lembra muito algumas espécies de patos, diferindo pelo bico mais alongado e um tanto curvo na ponta e pelo corpo ser menos volumoso que o dos patos (BRANCO, 2002). No Brasil esta espécie se faz presente em qualquer local onde haja água e peixes. Ocorre desde o sul do Chile até os Estados Unidos da América (EUA) e ao longo de sua distribuição vive tanto no mar quanto em estuários, rios e lagoas, sejam elas naturais ou artificiais (BRANCO, 2002; SANTIAGO, 2007).

    É famoso pela sua grande habilidade na pesca de grande velocidade (BRANCO, 2002). Quando submerso nada com o auxílio dos pés palmados, pés de pato e usa as asas para mudar de direção ou parar (SANTIAGO, 2007). Aparentemente confia mais no tato que na visão para encontrar suas presas, pois fuça a vegetação aquática a procura destes alimentos e nas pedras com seu bico a procura de peixes entocados, especialmente peixes de couro como cascudos e bagres, mas também consegue capturar peixes muito mais ágeis, como tilápias (OLMOS; SILVA; SILVA, 2001). Essa habilidade faz com que esta ave seja odiada por pescadores e piscicultores podendo trazer prejuízo na piscicultura por alimentar destes peixes. Muitas vezes forma grupos enormes, de centenas de indivíduos, que cercam grandes cardumes de peixes, empurrando-os para as margens e para as partes mais rasas dos lagos para que não tenham para onde fugir (SANTIAGO, 2007; OLMOS; SILVA; SILVA, 2001).

    Parte de sua capacidade de mergulhar vem do fato de, ao contrário da maioria das aves, suas penas não serem muito impermeáveis. A implicação negativa deste fato é que após cada mergulho o biguá precisa secar-se, abrindo suas asas enquanto toma sol (SANCHEZ-GUZMAN et al., 2007). Quando está com calor também abre as asas e costuma vibrar o papo para se refrescar com o ar que circula nesta região (SANTIAGO, 2007; BRANCO, 2002). Apesar de poder ser visto sozinho durante o dia, raramente dorme isolado, pois quase sempre formam grandes ninhais, mesmo fora da época de reprodução e é para estes ninhais que as aves voam todos os dias ao entardecer e depositarem suas fezes ricas em ácido úrico sobre as árvores nas quais se empoleiram acabam matando suas folhas, o que em grandes escalas pode acabar com boa parte da vegetação na região dos ninhais (SANTIAGO, 2007). Na época da reprodução o bico se torna mais claro e podem aparecer algumas penas brancas na base do bico e garganta (SANCHEZ-GUZMAN et al., 2007).

    A garça-branca-grande (Ardea alba) apresenta 90 cm, única por seu tamanho avantajado, corpo todo branco com exceção dos olhos, bico e pernas, que costumam ser amarelados (BRANCO, 2000; BRANCO, 2002; SANCHEZ-GUZMAN et al., 2007; SANTIAGO, 2007). Muitas pessoas pensam que a garça-branca-pequena (Egretta thula) é o filhote da garça-branca-grande, porém trata-se de uma espécie a parte que difere da última por apresentar a ponta do bico e as pernas escuras enquanto a base do bico e os pés são amarelados, sendo também menor. É seguramente a garça mais comum do planeta, ocorrendo em quase todos os continentes, exceto em regiões muito frias ou desérticas. Pode habitar rios e lagos muito poluídos (BRANCO, 2000; BRANCO, 2002). Alimenta-se principalmente de peixes, mas já foi vista comendo quase que tudo o que possa caber em seu bico. Pode consumir pequenos roedores, anfíbios, répteis, insetos e até lixo (SANCHEZ-GUZMAN et al., 2007). Em pesqueiros aproxima-se muito dos pescadores para pegar pequenos peixes por eles dispensados. É muito inteligente e pode usar pedaços de pão como isca para atrair os peixes dos quais se alimenta (SANTIAGO, 2007). Constroem o ninho grande e feito de gravetos, em ninhais que podem ter milhares de indivíduos de várias espécies de aves aquáticas (SANCHEZ-GUZMAN et al., 2007).

    Um dos menores socós do Brasil (40 cm) é o único do seu tamanho a apresentar tons azulados na plumagem (SANTIAGO, 2006; SANCHEZ-GUZMAN et al., 2007). O imaturo tem o padrão carijó, podendo ser confundido com outras espécies, como as do gênero Ixobrychus, das quais difere por não apresentar estriações nas asas e nas costas e pelo amarelo da região entre os olhos e o bico, presente desde muito cedo, ocorre em todo o Brasil e nas regiões de clima quente ao redor do planeta, na América, África, Ásia e outros.

    Esta espécie vive em lagos, rios, estuários, manguezais ou mesmo poças maiores. É abundante também em igarapés na várzea da região Amazônica. Espécie de distribuição geográfica muito ampla, ocorrendo em regiões tropicais e subtropicais do mundo todo (SANTIAGO, 2006). Seus grandes pés e seu corpo leve permitem que a ave ande com facilidade sobre a vegetação flutuante, de onde ficam à espreita de suas presas, que são quase sempre pequenos peixes como guarus (Phalloceros caudimaculatus) e carás (Geophagus brasiliensis) (SANCHEZ-GUZMAN et al., 2007).

    Quanto ao frango d’água (Gallinula galeata), seu tamanho é de aproximadamente 35 cm e é fácil confundi-lo com um marreco quando está nadando, mas seu bico é bem mais fino. A cor dominante é um azul escuro tendendo ao roxo, mas as asas são castanhas com algumas manchas brancas. Os dedos são extremamente longos e não possui membranas interdigitais. Os imaturos são amarronzados. O frango-d água-comum ocorre quase que no mundo inteiro, só estando ausente nos pólos. Costumam viver em casais ou pequenos grupos. Na época do acasalamento os machos disputam as fêmeas com uma série de vocalizações e com brigas nas quais se agarram pelos pés enquanto bicam uns aos outros. O ninho é geralmente construído sobre a vegetação flutuante (SANTIAGO, 2006).

    O casal divide o trabalho de construção, incubação e alimentação assim como os cuidados aos filhotes, que podem chegar a 10 cm. Apesar da pouca carne são caçados em vários locais, sendo que alguns países têm até temporadas de caça estabelecidas por lei. Mesmo sendo caçadas não parecem estar em declínio populacional, já que são resistentes até mesmo a altos níveis de poluição. São migratórias em altas latitudes (SANTIAGO et al., 2006).

    A Fluvicola nengeta é uma espécie que possui 16 cm de comprimento, sua coloração branca e preta é quase inconfundível. A única outra ave que ocupa os mesmos habitat e que possui cores semelhantes é a viuvinha-de-cabeça-branca (Arundinicola leucocephala), mas esta apresenta a maior parte do corpo negro com a cabeça branca e é também razoavelmente menor. A distribuição desta ave é curiosa, pois existem duas populações muito distantes, uma no leste brasileiro e outra no noroeste da América do Sul. A população brasileira, antigamente restrita a açudes e rios no Sertão e Agreste da região nordeste, está em expansão. A Mata Atlântica, que aparentemente representava uma barreira natural para esta espécie, foi perdendo espaço para pastagens e culturas que se assemelham mais ao semi-árido do que à Floresta Ombrófila, possibilitando assim a expansão desta espécie (SANTIAGO, 2006; WILLIS, 1991). Outras explicações envolvem o aumento no número de rios represados no sudeste e mudanças climáticas. Alimenta-se de pequenos artrópodes que captura na lama das margens de rios, brejos, pocilgas etc., de onde raramente se afasta. Seu ninho é feito de gravetos que são geralmente amontoados em árvores próximas a água. É comum ver estas aves em casais. O macho possui as costas levemente mais escuras que a fêmea (SANTIAGO et al., 2006).

    Das 84 espécies de martins-pescadores que existem no mundo, apenas cinco ocorrem no Brasil, sendo o martin-pescador-grande a espécie mais conhecida da família Alcedinidae, não só pelo seu tamanho já que é a maior espécie desta família no Brasil, como por se comum e muito barulhento (SANCHEZ-GUZMAN et al., 2007). As aves desta família (Alcedinidae) estão associadas a ambientes aquáticos, vivendo à beira de lagos, rios, lagoas e espelhos d’água, pois dependem deste ambiente para se alimentar, já que comem pequenos peixes, insetos aquáticos e outros tipos de alimentos (SOUZA, 1998). Costumam ficar pousados em galhos próximos a água observando possíveis presas, as quais alcançam em certeiro vôo rápido e muitas vezes vertical (SANCHEZ-GUZMAN et al., 2007). Também pairam no ar sobre o espelho d’água, para então cair sobre a presa na água, o que é mais comum no martim-pescador-grande (Ceryle torquata) (SOUZA, 1998). Todos eles nidificam em buracos que fazem em barrancos quase sempre à beira de um rio ou lago. O ninho é comprido e na cama incubadora são colocados os ovos e criados os filhotes sem muita limpeza (SANCHEZ-GUZMAN et al., 2007).

Conclusão

    O levantamento da avifauna aquática no reservatório Interlagos, área urbana de Montes Claros/MG foi representada por seis espécies de aves, distribuídas em seis gêneros, cinco famílias e quatro ordens. Esse resultado, somado ao pequeno número de espécies residentes e ocasionais, indica que o reservatório da cidade não está desempenhando papel para a manutenção da avifauna aquática. No entanto, outros fatores extrínsecos podem interferir na determinação dessa biodiversidade, de forma a exigir novas pesquisas para melhor entendimento da estrutura e composição da avifauna urbana em Montes Claros e região.

Referências

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