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Perspectivas da Educação Física na educação

infantil no Járdin del Éden, Santiago, Chile

Perspectivas de la Educación Física en el nivel inicial en el Jardín del Edén, Santiago, Chile

 

*Graduada em Licenciatura em Educação Física na Universidade Federal de Santa Catarina

atualmente é professora substituta na Rede Municipal de Florianópolis

**Doutor em Ciências Humanas e Sociais (Dr. Phil.) pelo Gottfried Wilhelm Leibniz

Universität Hannover, Alemanha (2002) e Professor Associado

da Universidade Federal de Santa Catarina

Luiza Oliveira de Liz*

luizaalizz@gmail.com

Alexandre Fernandez Vaz**

alexfvaz@uol.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          A Educação Física na Educação Infantil no Brasil vem conquistando seu espaço principalmente depois dos anos 1990. O professor dessa área ainda busca uma identidade e reconhecimento do seu papel. A legitimidade deste profissional encontra-se em período de grandes avanços, principalmente no contexto educacional na cidade de Florianópolis. Ao nos depararmos com uma realidade diferente, em outro país da América latina, no caso deste trabalho o Chile - no qual a Educação Física experimenta seus primeiros avanços, no campo da Educação de 0 a 6 anos - buscamos primar a partir da imersão em um Jardín Infantil, como a Educação Física a comparece na formação das pedagogas desta instituição.

          Unitermos: Educação Física. Educação Infantil. Chile.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 196, Septiembre de 2014. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    O presente texto vem apresentar o recorte de um estudo realizado em uma instituição de Educação Infantil no segundo semestre do ano de 2012, em Santiago, Chile. A partir do trabalho como estagiária de Educação Física neste Jardín, algumas perguntas/problemas apareceram como: 1. Como a Educação Física é reconhecida/concebida/percebida pelos atores sociais (diretora, professoras, pais e responsáveis pela política pública) na Educação Infantil no Chile? 2. As pedagogas se sentem preparadas para desenvolver a Educação Física em um Jardín Infantil? 3. Qual a apreciação das pedagogas, diretora e responsáveis pela política pública sobre a incorporação de um professor de Educação Física em uma instituição de Educação Infantil? Para responder a essas perguntas, um caminho foi trilhado, e no presente trabalho iremos enfocar sobre a formação das professoras investigadas.

    Essas dúvidas surgiram com experiências e leituras anteriores, com oportunidades de conhecer e trabalhar a Educação Física na Educação Infantil e perceber seu valor e contribuição para educação da criança, quando esta busca o desenvolvimento integral dos pequenos.

    Segundo Sayão (2000) a Educação Física por muito tempo teve sua atenção voltada para essa disciplina na escola, principalmente, a partir da 5ª série do ensino fundamental, com ensino esportivo. Ainda está muito recente os estudos circunscritos no espaço da Educação Infantil, as primeiras experiências realizadas no estado de Santa Catarina foram na Rede Municipal de Educação Infantil de Florianópolis e no Núcleo de Desenvolvimento Infantil da Universidade Federal de Santa Catarina.

    Sayão deixa claro que a Educação Física na Educação Infantil, não pode se basear no modelo “escolarizante”, que tem o caráter disciplinar como eixo. Esta quando presente nas instituições infantis, precisa constituir-se para além de uma disciplina que possua um conteúdo previamente definido com tempo e espaços previamente definidos.

    (...) A Educação Física organizada como a “hora de...”, assim como as disciplinas escolares se organizam, não tem sentido para as crianças pequenas que pensam, agem e sentem em uma totalidade complexa. A disciplina como organização racional de conteúdos fragmenta tanto o conhecimento quanto o “sujeito-criança”. (SAYÃO, 2000, p. 51)

    Dessa forma, compreendemos que a Educação Física deve contribuir para ampliação da linguagem das crianças, respeitando seu tempo e espaço; quando atuar de acordo com as características de 0 a 6 anos, que são singulares quando comparadas a crianças de outras faixas etárias.

    Segundo Basei (2008), a Educação Física possui um papel fundamental na Educação Infantil, pela possibilidade de proporcionar às crianças uma diversidade de experiências através de situações nas quais elas possam criar, inventar, descobrir movimentos novos, reelaborarem conceitos e idéias sobre o movimento e suas ações. Além disso, é um espaço para que, através de situações de experiências com o corpo, com objetos e de interação social as crianças descubram seus próprios limites, enfrentem desafios expandindo suas percepções.

    A Educação Infantil é diferenciada ainda da realidade escolar, por conter apenas a(o) professora(r) de sala e a(o) professora(r) de educação física como docentes, sendo a professora de sala a referência do grupo. Neste caso entende-se necessário conhecer esse importante papel. Por isso concordamos com Vaz (2003) quando cita: quando os alunos estão com a “professora de sala” não se alheiam de seus corpos, que são alvo, no entanto, de processos de disciplinamento e contenção das crianças. Esse modelo de repressão do movimento, não isenta a Educação Física, que se fundamentou em um modelo dualista e racional, que se sustentaram na concepção positivista e acabaram fundamentando todo o pensamento moderno (BASEI, 2008).

    Para tanto buscamos apresentar apontamentos sobre a formação ligada a Educação Física das professoras do Jardín de um bairro da periferia de Santiago, acreditando ser esse um ponto importante para orientar e nortear as práticas de Educação Física na Educação Infantil.

2.     Abordagens metodológicas

    O estudo deu-se por observação participante, análise documental e entrevistas com atores sociais que se supôs mais influenciam na educação das crianças: pedagogas, diretoras, pais e agentes do Ministério da Educação responsáveis pela política pública na Educação Infantil do Chile. Com as primeiras análises desses dados, podemos observar que a Educação Física na Educação Infantil no Chile experimenta seus primeiros avanços. Percebe-se que a formação inicial em Educação Física no Chile necessita mais espaço nessa área que é a Educação Infantil.

    Foram realizadas entrevistas com: 6 professoras, 6 auxiliares, 1 diretora, 6 pais e 2 responsáveis públicas pela Educação Infantil no Chile, porém neste presente trabalho, foram consideradas as entrevistas com as professoras.

    A pesquisa realizada teve como sujeitos participantes os atores sociais de uma instituição pertencente à Junta Nacional de Jardines Infantiles - JUNJI, situado no bairro Villa Francia, da comuna Estación Central da região Metropolitana do município de Santiago – Chile. Esta instituição atende todos os ciclos de Educação Infantil (Educación Parvularia1), especificamente os níveis de sala cuna, médio menor e médio mayor, que compreendem as crianças de 0 a 6 anos. Tal divisão corresponde, no Brasil, a creches ou entidades equivalentes para crianças de até três anos de idade; e pré-escolas, com atendem a crianças de quatro a seis anos (Art. 30º da Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional).

    O Jardín investigado recebe uma quantidade importante de meninas e meninos do bairro Villa Francia, atualmente atende um total de 190 crianças de 0 a 6 anos. As 25 funcionárias da instituição passam por uma seleção da JUNJI e são encarregadas a cumprir diferentes funções e responsabilidades (PEI, 2012, p. 5).

3.     Educação Infantil e o rol da(o) Educadora(or) de crianças no Chile

    Neste tópico procurarei apresentar alguns documentos institucionais chilenos que falam sobre a Educação Infantil, para sabermos brevemente como eles concebem a Educação Infantil naquele país.

    De acordo com as Bases Curriculares de la Educación Parvulária – BCEP 2005, a Educação Infantil constitui o primeiro nível educativo que, colaborando com a família, favorece à criança aprendizagens oportunas e pertinentes a suas características, necessidades e interesses, fortalecendo suas potencialidades para um desenvolvimento pleno e harmônico.

    A relação da professora de Educação Infantil é mediar, facilitar, planificar, executar e modificar as aprendizagens das crianças que freqüentam os jardins infantis da Junta Nacional de Jardines Infantiles, JUNJI (BCEP, 2005).

Primeiro Ciclo

    O primeiro ciclo começa a partir de 6 meses a 3 anos de idade, que se observa:

    As crianças nesta fase estão com necessidade de atenção individual devido a sua vulnerabilidade e sua dependência dos adultos. Com cerca dos dois anos começam a mostrar mudanças significativas no desenvolvimento, como por exemplo os processos de simbolização, entre os quais se destaca a linguagem. Maiores habilidades, além de coordenações motoras grossas e finas, desenvolve-se ao redor de três anos, é ao redor dos três anos que estes processos alcançam consolidar-se em uma primeira fase. (BCEP, 2002, p. 31).

Segundo ciclo

    Neste ciclo são enfatizados outros aspectos do que aqueles alcançados no ciclo anterior:

    "Considerar o período desde cerca de três a seis anos. Estima-se que ao redor de três anos as crianças chegaram a um desenvolvimento evolutivo que lhes permite participar mais independente e ativamente de uma maior quantidade e variedade de experiências educacionais, integrando-se a grupos maiores e/ou crianças mais velhas, que promovam a realização de novas e mais ambiciosas Aprendizagens." (BCEP, 2005, p. 31).

    Objetivos gerais para trabalhar com crianças (PEI, 2012, p. 15):

  • Formar crianças felizes que logrem atuar respeitando os outros com atitudes positivas em relação aos desafios em diferentes contextos que lhes correspondem;

  • Adquirir autonomia que lhes permitam valer-se adequada e integralmente por si mesmo dentro de seu entorno;

  • Desenvolver valorização de si mesmo e dos demais baseada no fortalecimento dos vínculos e relações afetivas com o outro;

  • Comunicar interesses e necessidades através do adequado uso da linguagem verbal e não verbal;

  • Descobrir e conhecer de forma direta o ambiente natural que o rodeia;

  • Desenvolver habilidades criativas através dos vários meios de expressão;

  • Estabelecer relações de confiança e afeto com base no respeito pelas pessoas a partir de sua interrelação com outros pares e adultos.

    Em relação ao currículo pedagógico, o PEI afirma:

    Refere-se ao trabalho educativo e como ele é desenvolvido para atingir aprendizagem em crianças. Inclui atividades planejadas, materiais ensino, organização da sala de aula, visitas educacionais, cronogramas de atividades, hábitos alimentares para uma aprendizagem significativa em meninos e meninas. (PEI, 2012, p. 14).

    Por meio do Programa de Governo da presidenta Michelle Bachelett (2005), no qual foram realizados 36 ações em 100 dias “Plan 100 días 36 compromisos”, 2 dessas 36 medidas foram para a Educação Infantil, em que foi destinado um subsídio para financiar a atenção de crianças de 0 a 3 anos, pertencentes a 40% da população mais pobre do país, 20 mil novas quotas para prékinder (pré-escolares) e a habilitação de 800 salas cunas (berçários).

    Mesmo com essas medidas, há outra interrogante necessária para a qualidade da Educação Infantil, a formação de Educadoras e, ao buscar literaturas sobre esse tema em Chile, percebemos demasiada escassez. Em textos expressivos das políticas de educação, como o Informe Brunner2 ou o Informe de OECD3 não há nenhuma menção especial às educadoras de Educação Infantil.

    Ao analisar as grades curriculares dos cursos realizados pelas professoras entrevistadas, percebe-se que há diferentes terminologias utilizadas para as disciplinas referentes ao movimento humano e em nenhuma das universidades há mais de dois semestres destinados a disciplinas vinculadas a Educação Física:

  • E2: Instituto Profesional Los Leones: Psicomotricidade e Vida Saudável I e II (IV e V semestre);

  • E3: Universidade Católica Blascañas: Educação de e pelo o movimento da criança (II semestre);

  • E4: Universidad Técnica 27: Educação do Movimento (I e II semestre);

  • E5: Universidad de Acis: Neurofisiologia e Neurociência (IV semestre).

    Segundo Huidobro (2006), há dois insuficientes que convém consignar. A primeira se refere ao baixo peso que os aspectos ligados as ciências biológicas tem nos currículos. Por exemplo, somente três cursos tem um ramo de “neurofisiología del desarrollo” e somente uma imparte “neurociencia y educación de párvulos”. Se considera que este é um campo de muito rápido incremento é importante que se introduzam as categorias de base e a linguagem que permitirão as educadoras(es) seguir estes desenvolvimentos. Os ramos ligados ao cuidado da saúde também são escassos.

    Concordamos com o autor que há pouca formação biológica e sobre o desenvolvimento humano, porém discordamos ao pensar que a Educação Física na Educação Infantil possa se resumir apenas a esses elementos. Encontramos nos dados uma visão naturalista de infância: a professora E3 cita ser da natureza das crianças mover-se; ainda E3: “por meio da Educação Física, a criança canaliza essa energia que a movimenta.”

    Esta escassez de conteúdos ligados a Educação Física na formação das professoras, pode influenciar a comunicação entre as professoras de sala e os professores de Educação Física, dificultando a presença do trabalho da Educação Física nas instituições e sobretudo o entendimento sobre a importância do conhecimento dessa área no cotidiano da Educação Infantil:

    (...) a relação das “professoras de sala” com os professores/as de Educação Física. Muitas “professoras de sala” das séries iniciais apontam para a necessidade de a Educação Física “ajudar nos conteúdos de sala de aula”, seja pelos exercícios psicomotores, seja por uma série de outras possíveis atividades vinculadas aos conhecimentos de Matemática, Língua Portuguesa e Ciências, entre outros. Dificilmente se pergunta, no entanto, como os conteúdos dessas áreas de conhecimento podem auxiliar na elaboração e avanço dos conhecimentos de Educação Física.(...) (VAZ,2003)

    Percebemos que a escassez da presença da Educação Física não é único problema relacionado a área, AYOUB (2005) nos salienta que temas relacionados à área da Educação Física raramente são estudados nos cursos de formação de professores, ou, quando são, acabam sendo abordados equivocadamente de forma reducionista: a Educação Física é vista como o “momento da brincadeira” (sinônimo de “parque”) ou como o “momento do corpo”, reforçando dicotomias clássicas da tradição racionalista ocidental que separa, confortavelmente, corpo de um lado e intelecto de outro, proclamando, ainda, a superioridade da esfera mental ou intelectual.

4.     Considerações finais

    Considera-se que a Educação Física na Educação Infantil no Jardín del Edén, Santiago – Chile, necessita avançar em termos de teoria e prática pedagógica. Há limitações em questões da formação profissional, tratando-se de alguns pontos da formação das educadoras e ainda mais em relação à Educação Física na Educação Infantil. A vista disso, concluímos que há ausência de um papel/identidade do professor de Educação Física que abarque o se movimentar infantil.

Notas

  1. Educación Parvulária: Lugar onde se cuida e educa crianças pequenas. ‘Párvulo’ em espanhol: inocente ou ignorante. E em português: s.m. criança, menino, adj. Dimin. de parvo; pequenino. Fonte: http://www.wordreference.com

  2. O Informe de Brunner proporciona um estado da situação do capital Humano no Chile.

  3. O Informe de la OCDE (2004) dedica um capítulo completo à “carrera docente y la formación de los profesores”, mas não se refere à formação das(os) educadoras(es) de Educação Infantil. A missão da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) é promover políticas que melhorem o bem-estar econômico e social em todo o mundo. A OCDE é um fórum no qual os governos podem trabalhar juntos, trocar experiências e buscar soluções para problemas comuns. Nós trabalhamos com os governos para entender o que impulsiona a mudança econômica, social e ambiental. Medimos a produtividade e os fluxos globais de comércio e investimento. Os representantes dos 34 países membros reúnem-se em comissões especializadas para discutir suas idéias e avaliar os progressos em áreas específicas de ordem pública, tais como a economia, comércio, ciência, emprego, a educação ou os mercados financeiros.

Referências

  • AYOUB, E. Narrando experiências com a Educação física na Educação Infantil. Revista Bras. Cienc. Esporte, Campinas, v. 26, n. 3, p. 143-158, maio 2005.

  • BASEI, A, P. A Educação Física na Educação Infantil: a importância do movimentar-se e suas contribuições no desenvolvimento da criança. Revista Iberoamericana de Educación, Santa Maria, v. 3, n. 47, p. 1-12, 25 out. 2008.

  • Brasil. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, v. 134, n. 248, 23 dez. 1996. seção 1, p. 27834-27841. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/l9394.htm. Acesso em março de 2013.

  • Huidobro, J, E, G, Formación inicial de educadoras(es) de párvulos en Chile, Chile, 2006.

  • JUNJI. Consejos para elegir bien un jardín. http://www.junji.gob.cl/portal/index.php. Acesso em: 05 mai 2013.

  • Junta Nacional de Jardines Infantiles (2010-2011) Referente Curricular, Santiago, Chile.

  • SAYÃO, D. Infância, Educação Física e Educação Infantil, 2000. Disponível em: www.ced.ufsc.br/~nee0a6/dborahfln.rt, acessado 02 de julho de 2013.

  • VAZ, A. F. Aspectos, Contradições e Mal Entendidos na Educação do Corpo e a Infância. Florianópolis: Motrivivência, 2003.

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