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Agradecimento ao futebol: obrigado Carrossel Holandês

Reconocimiento al fútbol: gracias Carrusel Holandés

 

*UFC/IEFES/NEPE

Ítalo Nunes Braga**

**Colaboradores

UFC/ IEFES/NEPE

Prof. Ms Otávio Nogueira Balzano*

Pedro Henrique Nascimento Morais**

otaviobalzano@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Este artigo é uma revisão de literatura, a respeito de uma das melhores equipes de futebol que este autor pode observar. Também foi a seleção que despertou no autor, o gosto pelo futebol, “A Seleção Holandesa de 1974”. Seleção esta, que mesmo depois de quarenta anos, ainda é referência para muitos treinadores e pesquisadores do futebol. Este trabalho faz uma retrospectiva, desde a fase de classificação na Copa de 1974 até a final contra a seleção alemã. Passando pelo técnico Rinus Michels e seus jogadores, com destaque para Johan Cruyff. Também tem a pretensão de descrever a concepção tática do “Carrossel Holandês” e sugere exemplos de treinamentos para trabalhar tal concepção.

          Unitermos: A Seleção Holandesa de 1974. Rinus Michels. Johan Cruyff.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 195, Agosto de 2014. http://www.efdeportes.com

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1.     Introdução

    Minha primeira experiência com o futebol foi na Copa de 1974 na Alemanha. Tinha 7 anos de idade quando meu pai, comprou nossa primeira televisão a cores. Eram aquelas de “tubo”, as válvulas ainda tinham que aquecer. Coisa de outro mundo para os mais jovens, que conhecem TVs de plasma e imagens em HD. Foi naquelas imagens e colecionando o álbum de figurinhas da época que conheci meus primeiros ídolos no futebol. Meus ídolos eram cabeludos e vinham de um pequeno país sem tradição no mundo seleto e exigente do esporte – a Holanda. Tão bom era o time que, mesmo sem conquistar o título da Copa de 1974, na Alemanha Ocidental, entrou para a história como o Carrossel Holandês, que mudou muitas das concepções do jogo até aquela data e abriu novos caminhos para o espetáculo do futebol. A partir da seleção holandesa de futebol, também conheci e sofri (pois sou gremista) com um time fabuloso nos anos 75 e 76, o Internacional de Rubens Minelli. Equipe que lembrava muito de perto o carrossel holandês. Na verdade, não foi a seleção da Holanda que começou a chamar a atenção de todos, mas o time do Ajax, que na época já era tricampeão de clubes, sendo que no último título com uma grande goleada sobre o Bayern Münich. O Ajax era a base da seleção holandesa; o Bayern era a base da seleção alemã. O Ajax tinha um jogador que era unânime diante dos cronistas da época, considerando o novo fenômeno do futebol – Johan Cruyff. Sabia fazer de tudo, era uma espécie de homem-equipe. Aquela equipe tinha, também, um treinador chamado Rinus Michels, inteligente, sofisticado e ambicioso, que sonhava em revolucionar o futebol. Michels tinha em mãos, na seleção, um material capaz de ajudá-lo a realizar seus desígnios: Jongbloed, goleiro enorme, de meter medo nos atacantes; Suurbier, na época o melhor lateral-direito da Europa; Krol, zagueiro admirável em qualquer época; Van Hanegen e Neeskens, incansáveis no trabalho de ligação entre a defesa e ataque; na frente, dois pontas velozes e hábeis, Rep e Resenbrink; e no meio deles, Cruyff. O Feyenoord ganhou o Campeonato Mundial Interclubes e a Copa Europeia dos Clubes Campeões em 1970. O Ajax ganhou o Mundial Interclubes em 1974, e a Copa Europeia dos Clubes Campeões em 1971, 1972 e 1973. E, para manter a tradição, mais um campeonato para o Feyenoord em 1974: a Copa da UEFA. Cruyff, cérebro e capitão do Ajax, jogou oito anos nesse clube e merecidamente eleito o melhor jogador do mundo nos anos 1971 e 1973. A base do “dream team” da Holanda 1974 eram jogadores do Ajax e Feyenoord, como um “combinado” (Zagalo o treinador brasileiro da época, não os conhecia). A partir desta seleção despertei para o futebol, e toda minha trajetória profissional foi voltada para este esporte. Pretendo neste trabalho, fazer uma referência a este selecionado, através de uma revisão bibliográfica e atrever-me e posicionar-me a respeito desta excelente equipe.

2.     O surgimento do futebol total “O carrossel holandês”

    O Futebol Total foi conhecido por todo planeta na década de 70. Rinus Michels, que foi jogador do Ajax e foi treinado por Reynolds, aprendeu com seu mestre a arte da rotatividade em campo. Com ampla bagagem e já treinador, Michels decidiu logo em seu primeiro ano de Ajax, em 1965, fazer seu time jogar naquele método. Beneficiado pela brilhante safra de bons jogadores que despontava no clube, principalmente por Cruyff, o Ajax venceu três Campeonatos Holandeses consecutivos de 1966 a 1968, além de uma Copa da Holanda em 1967. Com um futebol envolvente e inovador, aquele time começou um domínio absoluto na Holanda e, principalmente, na Europa, com a conquista de três Ligas dos Campeões da UEFA consecutivas (1971, 1972 e 1973) e ainda um Mundial Interclubes em 1972. Ali, no Ajax, nascia a base da seleção da Holanda, que começava a despontar como uma das favoritas ao título da Copa do Mundo de 1974.

Rinus Michel

A equipe Holandesa

    Time base: Jan Jongbloed; Ruud Krol, Arie Haan, Wim Rijsbergen e Wim Suurbier; Van Hanegem, Johan Neeskens e Wim Jansen; Rob Resenbrink, Johan Cruyff e Johnny Rep. Técnico: Rinus Michels.

Holanda 74

Os personagens

Jan Jongbloed: muitos brincavam que o goleiro da Holanda era o “líbero” do time, pelo fato do Carrossel não parar um minuto. Mas Jongbloed cumpriu bem o seu papel como goleiro na Copa, com experiência (tinha 33 anos) e seriedade. Ficou marcado por usar camisas amarelas com o numero 8 e jogar sem luvas.

Ruud Krol: revelado pelo Ajax, Ruud Krol foi um dos maiores jogadores da história do futebol holandês, perfeito em quase todas as posições do campo, principalmente como zagueiro, lateral e volante. Foi peça chave na era de ouro do Ajax, e permaneceu no clube até 1980, mesmo após a saída de Cruyff, em 1973. Na seleção, é um dos recordistas em partidas disputadas. Foi soberano no time durante toda década de 70.

Arie Haan: outra cria genial do Ajax, Haan foi uma das estrelas do timaço holandês. Brilhou muito na zaga da equipe, mesmo jogando no meio de campo do Ajax. Jogava com muita categoria, liderança e ampla visão de jogo. Um craque.

Wim Rijsbergen: da zaga, era o que tinha menos habilidade e categoria, e dava um leve toque de raça naquele time. Jogou grande parte da carreira no Feyenoord.

Wim Suurbier: letal, rápido, absurdamente ofensivo, habilidoso, técnico, driblador. Qualidades não faltavam para o lateral direito Suurbier. Tantas qualidades explicavam o motivo de a Holanda jogar tanto pelo seu lado. Desfilou e jogou muito naquela Copa. Craque notável do futebol holandês e mundial, jogava no Ajax.

Van Hanegem: era um meio campista elegante, com uma perna esquerda poderosa. Jogava sempre junto a Neeskens, e dava o auxílio e proteção para os meios do time causarem estragos nas zagas adversárias.

Johan Neeskens: um dos maiores nomes da Holanda, Neeskens era sinônimo de passes e desarmes precisos aliados a muita velocidade. Foi estrela no Ajax campeão de tudo e virou um dos grandes ídolos da torcida alvirrubra. Em 1974, partiu para o Barcelona para jogar ao lado do compatriota Cruyff. Foi peça chave para a Holanda na Copa de 1974, marcando, inclusive, um dos gols que eliminaram o Brasil. invertia constantemente de posição com Cruyff.

Wim Jansen: notável marcador, perfeito no posicionamento e em deixar os adversários impedidos. Jansen foi o senhor do meio de campo da Holanda na Copa de 1974. Um dos grandes de seu tempo.

Rob Resenbrink: tinha uma habilidade monstruosa pela esquerda, faro de gol apurado e muito talento. Brilhou mais na Copa de 1978, quando Cruyff não estava mais na seleção.

Johan Cruyff: o maior jogador holandês de todos os tempos começou a mostrar ao mundo seu poderio ofensivo, tático e técnico no Ajax. Cruyff assombrou o mundo nas décadas de 60 e 70 com extrema habilidade, visão de jogo e muitos gols. Seu talento arrebatou os corações de torcedores do Ajax e também dos rivais. Sua presença no clube foi tão marcante que após sua saída, em 1973, apenas em 1995 o Ajax voltaria a brilhar na Europa. Foi capitão da Holanda na Copa de 1974. É um ícone no país e no mundo como um dos maiores gênios da história do futebol. Foi a personificação do Futebol Total, sendo atacante, centroavante e meia no primeiro tempo, passando como lateral, volante e se precisasse até zagueiro no segundo. Um fenômeno.

Johnny Rep: meia-atacante/centroavante muito oportunista, Johnny Rep causava estragos nas defesas rivais e brilhou no auge do Ajax. Tanto no clube quanto na seleção, marcou gols decisivos e foi um dos grandes de ambas as equipes.

Rinus Michels (Técnico): encantou o mundo para sempre na Copa de 74, fez história no Ajax, embrião da Laranja Mecânica, e foi um dos maiores técnicos de futebol de todos os tempos. Inteligente, impecável em armar esquemas táticos, e privilegiado por ter tido como mestre ninguém mais ninguém menos que Jack Reynolds, Michels e o futebol holandês se confundem, se juntam e parecem ser um só. O treinador pagou sua dívida com a torcida em 1988, de volta à seleção, quando conquistou a Eurocopa de 1988, única título do futebol holandês. Um mito do esporte.

3.     O Carrossel Holandês na Copa do Mundo de 1974

As Eliminatórias

    Nas eliminatórias para a Copa, os holandeses avançaram com quatro vitórias e dois empates em seis jogos, com 24 gols marcados e apenas dois sofridos. O time já dava shows, mas o grande objetivo da KNVB, a federação de futebol do país, era Rinus Michels. Depois de muita conversa, o treinador, enfim, assumiu o comando da seleção justamente em 1974, na Copa do Mundo.

    A Copa do Mundo de 1974 entrou para a história por ser, talvez, uma das únicas em que o vice-campeão teve mais fama, histórias e façanhas que o próprio campeão. A culpada desse fato inusitado foi a seleção da Holanda, um time fantástico, irresistível e formidável que simplesmente massacrou os rivais durante sua campanha no Mundial. Por ironia do destino, os holandeses sucumbiram diante dos frios donos da casa, os alemães, peritos em acabar com seleções mágicas (como já haviam feito na Copa de 1954, ao vencer a Hungria de Púskas). 

Campanha da Holanda nas eliminatórias para 1974

  • 01 de novembro de 1972 – Rotterdam - Holanda 9 X 0 Noruega

  • 19 de novembro de 1972 – Antuérpia - Bélgica 0 X 0 Holanda

  • 22 de agosto de1973 – Amsterdã - Holanda 5 X 0 Islândia

  • 29 de agosto de 1973 – Deventer - Islândia 1 X 8 Holanda

  • 12 de setembro de 1973 – Oslo - Noruega 1 X 2 Holanda

  • 18 de novembro de 1973 – Amsterdã - Holanda 0 X 0 Bélgica

    De 1970 a 1973 a Holanda jogou 23 vezes. Teve 14 vitórias, 6 empates e 4 derrotas. Marcou 61 gols e sofreu 15. Suas derrotas foram para as seleções da Alemanha Oriental por 1 x 0 em 1970, Iugoslávia por 2 x 0 em 1971 e seleções da Áustria e Finlândia ambas por 1 x 0, atuando com jogadores reservas. Essa foi a temporada de preparação para a disputa da Copa de 1974.

A fase classificatória

    Já com um padrão de jogo estabelecido e com o reforço de Rinus Michels, a Holanda estava pronta para arrasar na Copa do Mundo de 1974, na Alemanha. Se Michels liderava o time do banco, em campo o grande craque do planeta na época, Johan Cruyff, era o responsável por comandar o time. Rápido, inteligentíssimo e com noções táticas que beiravam a perfeição, Cruyff era a referência máxima dos laranjas. A bola sempre passava por ele, as jogadas sempre tinham sua assinatura e o time se baseava, demais, em seu talento. Claro, não era apenas Cruyff quem dava show. O esquadrão laranja ainda tinha Haan, Suurbier e Krol na zaga, Neeskens e Jansen no meio de campo e os infernais Resembrink e Rep no ataque. As funções da equipe em campo eram múltiplas, sempre que um rival tinha a bola, dois, três laranjinhas chegavam e lhe tiravam a bola. Os jogadores pareciam dançar em campo, ocupando várias posições. Apenas o goleiro Jongbloed escapava da “dança”, que começou logo na estreia da equipe no Mundial, contra o Uruguai de Mazurkiewicz, Forlán, Espárrago e Pedro Rocha. Quem esperava um jogo equilibrado, viu um dos maiores bailes da história dos Mundiais. A Holanda só não goleou a Celeste pela falta de pontaria e pela atuação magistral do goleiro uruguaio, que evitou um vexame. A Laranja venceu por 2 a 0, com dois gols de Rep. O volume de jogo dos holandeses, a posse de bola e a quantidade de chutes a gol impressionaram a todos. A Holanda mostrou ali que era uma das melhores seleções do planeta e uma das mais encantadoras desde o Brasil de 1970. Na partida seguinte, um empate sem gols com a Suécia foi apenas um susto. Contra a Bulgária, goleada por 4 a 1, gols de Neeskens (2), Rep e De Jong. A equipe estava classificada para a segunda fase.

Johan Cruyff

As semifinais

    Na fase seguinte, oito seleções se dividiram em dois grupos de quatro equipes. Os líderes iriam para a final. A Holanda começou a fase decisiva contra a Argentina e deu mais um baile: 4 a 0, gols de Cruyff (2), Krol e Rep. No jogo seguinte, vitória por 2 a 0 contra a Alemanha Oriental, gols de Neeskens e Resenbrink. A equipe estava a um passo da final. Faltava encarar o então tricampeão mundial: o Brasil. O técnico do Brasil, Zagallo, estava confiante antes do jogo contra a Holanda. Para ele, não passava pela cabeça ser eliminado pelos europeus, afinal, o Brasil era tricampeão mundial e tinha o ótimo goleiro Leão, o zagueiraço Luís Pereira, o craque Rivellino no meio de campo e Jairzinho na frente. Porém, camisa não ganha jogo. Muito menos se o adversário tiver Cruyff e Neeskens, os autores dos gols da vitória Laranja por 2 a 0, que mandaram o Brasil para a disputa do 3º lugar (perdida para a Polônia por 1 a 0). O Brasil ficou perdido em campo, não conseguiu neutralizar a Holanda e apelou para a pancadaria, com Luís Pereira expulso já perto do final do jogo. Não fosse Leão, o Brasil teria levado uma goleada.

A final

    Os deuses do futebol colocaram frente a frente os donos da casa, a Alemanha Ocidental, e os “donos da bola”, a Holanda, na grande final da Copa do Mundo de 1974. A Alemanha tinha uma seleção formidável, então campeã da Europa e com craques natos como Sepp Maier, Vogts, Paul Breitner, Gerd Müller e, claro, o mito e capitão Beckenbauer. Já a Holanda era a grande sensação da Copa, invicta, colecionando apenas vitórias, golaços, shows e adversários atordoados que nem viram a cor da bola, inclusive o Brasil, que nem na pancada conseguiu brecar Cruyff e Cia. O Olympiastadion, em Munique, seria palco de uma final histórica, que colocaria frente a frente os melhores jogadores do mundo na época: Franz Beckenbauer, da Alemanha, e Johan Cruyff, da Holanda. O jogo começou e com apenas um minuto de jogo, sem a Alemanha ter tocado na bola, o juiz marcou pênalti para os holandeses. Neeskens cobrou e abriu o placar. O estádio ficou mudo. Mas os alemães, muito frios, trataram de ficar calmos, afinal, o jogo estava apenas começando. Aos 25 minutos, pênalti, dessa vez para os donos da casa. Paul Breitner bateu e fez o gol de empate. Aos 43´, foi a vez do goleador Gerd Müller deixar o dele, virando o jogo ainda no primeiro tempo: 2 a 1. No segundo tempo, ambas as equipes tiveram chances, mas nada do gol sair. Os holandeses não conseguiam encaixar o jogo fácil e mortal que haviam feito durante toda a Copa, e esbarravam na eficiência e precisão cirúrgica dos alemães, principalmente do mito Beckenbauer. O tempo passava, e a Holanda não conseguia marcar o gol de empate. Cruyff, o grande talento do time, era marcado de maneira impiedosa por Vogts, e o goleiro alemão Sepp Maier fazia defesas fabulosas. Depois de muitos gols desperdiçados, o juiz inglês Jack Taylor apitou o final de jogo. A Alemanha, depois de 20 anos, era campeã mundial de futebol. Bicampeã. O time conseguia, mais uma vez, acabar com um adversário amplamente favorito. O carrossel estava derrotado. Cruyff levou o prêmio de Melhor Jogador do Mundial, mas era pouco. Aquele time merecia, de fato, a Copa. Os holandeses não conseguiam acreditar, mas o mundo não era deles. Mas o Futebol Total mostrado nessa Copa do Mundo foi, sem dúvida, apresentado pela fantástica Laranja Mecânica, ou Carrossel Holandês, como preferirem definir a seleção holandesa, a última das grandes seleções reveladas num Mundial.
Restaram para a Holanda dois consolos: o primeiro, de ter perdido para uma grande equipe, que atuava em sua própria casa, com o calor de sua torcida; o segundo, de ter entrado para a história do futebol como um alegre carrossel de colegiais, que tinham o prazer de jogar futebol.”

4.     A concepção tática holandesa

    A grande revolução do futebol mundial. A laranja mecânica ou carrossel holandês. A Copa de 1974 apresentou para o mundo uma nova maneira de se jogar futebol. A seleção da Holanda, dirigida por Rinus Michels e tendo Cruyff como principal estrela, espantou a todos pela insistente marcação no campo adversário (pressing) e a multiplicidade de funções apresentada pelos jogadores. Mas a principal novidade tática eram as trocas de posições verticais. Princípio diferente da desordem organizada dos russos, que primavam pelas inversões de posicionamento horizontais - setorizadas, portanto: atacantes saindo da direita para a esquerda, meias fazendo o mesmo. Inversões de lado a outro, sem modificar a formação dos setores (defesa, meio e ataque). Na Holanda - primeiro com o Ajax depois com a Seleção Nacional - o técnico Rinus Michels instituiu as trocas verticais. Dividido o campo em esquerda, direita e centro, eram nestas faixas que os jogadores invertiam posicionamento. Uma estratégia muito mais difícil de ser diagnosticada pelo adversário. O básico, ainda utilizado até hoje, é passar o ponta-direita para a esquerda, e o canhoto para a destra - por exemplo. Movimento que não desorganiza o adversário. Agora, se o lateral se torna ponta, se o ponteiro recua para a linha defensiva, se o meia vira líbero, e o líbero aparece na área, aí a marcação adversária - principalmente se houver perseguição individual - naufraga. O sistema tático era o 4-3-3, mas com um desenho que poderia ser desdobrado em 1-3-3-3: um líbero, três defensores, três meio-campistas, e três atacantes. As inversões de posicionamento se davam, portanto, entre os três jogadores da esquerda, os três da direita, e os quatro do meio-campo. As mais características aconteciam na faixa central, com Cruyff recuando e abrindo espaço para Neeskens, ou com o líbero Hulshoff avançando de surpresa. No 4-3-3, com líbero, linhas adiantadas, marcação sob pressão alta, uso da linha de impedimento, inversões de posicionamento verticais, estes eram os princípios básicos do futebol total holandês. Acrescidos, é evidente, pela inteligência de Rinus Michels e de seus jogadores: o primeiro, capaz de planejar tal organização complexa; e os demais, de compreender e executar.

    O sistema defensivo holandês mostrou um grande dinamismo. Wim Suurbier (lateral/ala pela direita), Arie Haan (zagueiro pelos dois lados), Wim Rijsbergen (também zagueiro pelos dois lados), Ruud Krol (lateral-esquerdo) formaram a defesa. Lembrando que Suurbier era mais ala que lateral. A movimentação dos defensores foi intensa, com os jogadores trocando de posição de acordo com a necessidade e com as oportunidades. Haan (originalmente volante) aparecia algumas vezes no meio-campo, trocando de posição com van Hanegen. Rijsbergen também subia ao meio-campo, com menos frequência, mas ocupava várias vezes a lateral direita. Krol ficava a maior parte do tempo na lateral esquerda, mas também jogava como lateral-direito. As duas premissas principais: linha de impedimento e marcação sob pressão alta. A estratégia era adiantar o posicionamento inicial de todos os jogadores, sufocando o adversário, ocupando espaços e diminuindo o tempo necessário para o time rival pensar o jogo. Para treinar esta estratégica tática, as atividades devem ser setoriais (em campo reduzido), utilizar ½ campo ou ¼ do campo, com no máximo de 7 jogadores em cada time.

    No meio-campo é que a Holanda mostrou sua maior força. Com um sistema tático baseado na posse de bola, o passe é um elemento fundamental. E todos os jogadores mostraram grande qualidade nesse quesito, principalmente os meios. Van Hanegen, Jansen e Neeskens não eram volantes marcadores. A função era de volante/meia, segundo volante ou volante box-to-box, como se diz na Europa. Todo o meio-campo ajudava a marcar, incluindo Cruyff e os atacantes Rep e Rensenbrink. Jansen e Van Hanegen ficavam mais recuados relativamente a Neeskens, mas os três atuavam muito avançados, desarmando no campo adversário, tocando bem a bola e armando o jogo. Cruyff é um capítulo à parte. Foi meia-atacante, meia-armador e atacante nas três posições (ponta esquerda, ponta direita e no centro). A incrível qualidade no passe de Cruyff impressiona. Ele jogava com passes curtos, fazia lançamentos e inversões de jogo com grande precisão. Seu posicionamento, na maior parte dos jogos, foi atrás dos atacantes, transitando por todo o meio-campo e ataque.

    Para treinar esta estratégica tática, as atividades devem ser setoriais (em campo reduzido), utilizar ¼ do campo, com no máximo de 5 jogadores em cada time.

    O ataque formado por Rep (direita) e Rensenbrink (esquerda) abertos pelos lados, contava com apoio intenso dos meias, do ala/lateral Suurbier e, principalmente, de Cruyff. Rep e Rensenbrink trocavam de lado durante os jogos e Rep aparecia muitas vezes como centroavante. As tabelas entre Rep e Suurbier pela direita e as subidas ao ataque de Krol fixaram os laterais adversários na defesa. Rensenbrink ficava mais preso à esquerda e era menos intenso que Rep, talvez porque não contasse com o auxílio de ala por aquele lado. Para treinar esta estratégica tática, as atividades devem ser setoriais (em campo reduzido), utilizar 1/2 campo, com no máximo de 9 jogadores em cada time.

    A definição para a tática usada pela seleção holandesa na Copa FIFA de 1974 é somente uma: PERFEITA.

5.     Considerações finais

    A Laranja Mecânica ensinou o belo de não se guardar posição. Ensinou a liberdade, a velocidade, o toque de bola. Ensinou como envolver o adversário e não deixá-lo jogar. Ensinou como ser persistente em campo. Ensinou como roubar uma bola com categoria. E ensinou como se tornar imortal, ser lembrado sempre e aguçar a nostalgia de todos mesmo sem um título. E principalmente ensinou-me a gostar do bom futebol.

Referências

  • BALZANO, O.N..; OLIVEIRA, ABREU, C. A. de; LOPES, I. E; PEREIRA FILHO, J. M. “Proposta de treinamento integrado de futsal e futebol, na formação desportiva do atleta de futebol de campo na categoria sub 17 anos”. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 164, Enero de 2012. http://www.efdeportes.com/efd164/treinamento-integrado-de-futsal-e-futebol-sub-17.htm. Acessado em 14/05/2014.

  • CRUYFF, Johan Futebol Total. (tradução: Marcos de Castro e J. Campelo) Ed: Nova Fronteira S/A. Rio de Janeiro, 1974.

  • http://canelada.com.br/caneladas-taticas/carrossel-holandes/

  • http://imortaisdofutebol.com/2012/08/03/selecoes-imortais-holanda-1974/

  • http://wp.clicrbs.com.br/prelecao/2010/03/02/o-futebol-total-do-carrossel-holandes/?topo=77,1,,,,77&status=encerrado

  • http://www.esquemastaticos.com.br/2009/08/classicos-holanda-x-uruguai-copa-74.html

  • KOVACS, S. Futbol Total. Gráficas Casulleras. (tradução Migue Vidal). Ed. DOPESA. Barcelona, 1976.

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