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Exposição ocupacional em trabalhadores de 

um banco de sangue: um estudo transversal

La exposición ocupacional en trabajadores de un banco de sangre: un estudio transversal

Exposure of workers in a bank of blood: a study cross

 

*Faculdade Vale do Jaguaribe

** FANOR/FGF

*** Universidade Federal do Ceará

****Faculdade Integrada da Bahia

*****Professora Assistente da Universidade Federal de Alagoas

******Faculdade de Medicina Nova Esperança

(Brasil)

Eriselma Alves Correia*

Alessandra Figueiredo de Sousa* | Carlos Murilo Lopes*****

Sussane dos Santos Rocha***** | Amuzza Aylla Pereira dos Santos*****

Ana Paula Fragoso de Freitas** | Gilberto Santos Cerqueira**

Roberta Santos Cerqueira**** | Alceu Machado de Sousa***

José Joceilson Cruz de Assis Silva****** | Geraldo Carlos Soares Alves******

paulinhaff2@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Os riscos ocupacionais podem gerar efeitos a saúde de curto, médio e longo prazo, como no caso dos acidentes e das doenças relacionadas ao trabalho. O objetivo desse trabalho foi identificar os riscos ocupacionais a que os trabalhadores de um Banco de Sangue estão expostos. Realizou-se estudo quantitativo, descritivo observacional, realizado num Centro de Hemoterapia e Hematologia em Fortaleza-Ce. Foram analisados 26 trabalhadores, 54% do sexo feminino, 62% possuíam ensino médio/técnico, 65% com até 7 anos de trabalho na empresa. Carga horária semanal de 44 horas. Constatado 12% de acidentes de trabalho, 8% com sangue como material biológico e agulha como dispositivo perfurocortante. Identificou que os riscos com maiores exposições ocupacionais são os biológicos (77%), logo em seguida, ergonômicos (73%) e químicos (65%). Verificou-se a necessidade da avaliação constante desses riscos, para que se possam elaborar planos de controle e ações preventivas para proteção e promoção da saúde desses trabalhadores.

          Unitermos: Banco de sangue. Trabalhadores. Riscos ocupacionais.

 

Abstract

          Occupational hazards can cause health effects in the short, medium and long term, as in the case of accidents and work-related diseases. The purpose of this study was to identify occupational risks to workers of a Blood Bank who are exposed. We conducted quantitative, descriptive, and observational study conducted in Hemotherapy and Hematology Center in Fortaleza-Ce. We analyzed 26 employees with 54% of them being female, 62% of them have a high school our technical diploma, and 65% of them have been working for the company up to 7 years. All of the participants have a weekly workload of 44 hours a week. We observed 12% workplace accidents, and 8% with blood as biological material and needle like device cut and puncture wounds. It was identified that the risks with higher occupational exposures are biological (77%), followed by ergonomic (73%) and chemicals (65%). There was the need for constant review of these risks, so that they can develop control plans and preventive actions to protect and promote the health of these workers.

          Keywords: Blood bank. Workers. Occupational risks.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 195, Agosto de 2014. http://www.efdeportes.com

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Introdução

    Nas últimas duas décadas, os acidentes ocupacionais envolvendo material biológico e trabalhadores da área da saúde vêm sendo foco crescente de pesquisas, uma vez que este tipo de exposição pode levá-los a contrair infecções, e consequentemente, sérios agravos à sua saúde (BONINI et al., 2009).

    Segundo a OIT (Organização Mundial do Trabalho), ocorrem por ano, cerca de 270 milhões de acidentes de trabalho, e cerca de dois milhões de mortes em todo o mundo derivadas desse tipo de acidente. No Brasil esse número é em média de 700.000 todos os anos, o que faz com que o país gaste por ano, um total de 70 bilhões com esse tipo de acidente. É importante ressaltar que um dos grandes desafios, ainda é a notificação desses acidentes, que em sua grande parte, não são notificados pelas empresas ou pelos profissionais, o que acaba por prejudicar na elaboração de medidas preventivas mais eficazes, pelos sistemas de informações de saúde (BRASIL, 2012).

    Dentre os trabalhadores mais expostos a determinados riscos, estão os profissionais de saúde, em especial, os profissionais atuantes em bancos de sangue, já que estão expostos a um alto risco de contaminação ocupacional, pois muitos dos agentes patogênicos presentes nesse ambiente de trabalho, são muitas vezes invisíveis aos olhos humanos. Nesse ambiente também há um grande número de vidrarias, materiais perfurocortantes, uma carga horária de trabalho bastante excessiva, produtos químicos altamente tóxicos, substancias corrosivas, etc, o que acaba por contribuir para uma probabilidade maior de acometimentos de acidentes de trabalho.

    O problema dos acidentes de trabalho e doenças ocupacionais, não são somente para especialistas, e diante desse contexto mais amplo de avaliação, os riscos nos locais de trabalho necessariamente incorporam a vivencia, o conhecimento e a participação dos trabalhadores, já que eles realizam o trabalho cotidiano, sofrem seus efeitos e, portanto, possuem um papel fundamental na identificação, eliminação e controle dos mesmos (INST, 2000).

    No intuito de conhecer e identificar os riscos de cada ambiente a que os trabalhadores de um banco de sangue estão expostos e suas possíveis conseqüências, é que surgiu a necessidade de um estudo minucioso, que relacione a exposição ocupacional presente no banco de sangue, o perfil sociodemográfico dos trabalhadores para analisar a propensão dos mesmos aos riscos, uma abordagem da empresa com relação às normas de biossegurança, para que assim, possa-se otimizar o planejamento de medidas que visem a intervenção dos riscos e a criação de ações de proteção e prevenção para a saúde desses trabalhadores.

Metodologia

    Estudo do tipo transversal descritivo, e observação sistemática, com abordagem quantitativa, desenvolvido num Centro de Hematologia e Hemoterapia, situado no Município de Fortaleza – CE. O centro possui 40 anos de existência, funcionando de segunda a domingo, nos turnos da manhâ, tarde e noite. Quanto ao tipo de estudo Rouquayrol (1994), define a pesquisa transversal como o estudo epidemiológico no qual fator e efeito são observados num mesmo momento histórico.

    Os sujeitos da amostra para pesquisa foram 26 trabalhadores de um banco de sangue da cidade de Fortaleza. A pesquisa foi realizada entre os meses de outubro e novembro de 2013, através de um questionário.

    A pesquisa obedeceu as Normas e Diretrizes da Resolução nº 466 de 10 de outubro de 2012, do Conselho Nacional de Saúde, que se refere aos aspectos éticos da pesquisa envolvendo seres humanos. É importante salientar que foi realizado pedido de autorização para realização da pesquisa ao diretor do Centro de Hematologia e Hemoterapia, como também aos entrevistados, que assinaram o termo de consentimento e aceitaram participar da pesquisa.

    A análise dos dados foi do tipo descritivo, tendo por base a identificação dos riscos ocupacionais, o perfil sociodemográfico dos trabalhadores estudados, análise da exposição dos mesmos aos riscos ocupacionais no seu ambiente de trabalho e as condutas realizadas pré e pós acidentes de trabalhos. Os dados foram analisados estatisticamente tomando por base as variáveis de interesse para o estudo, e tabulados utilizando o Software Excel, organizados em tabelas.

Resultados

    A pesquisa evidenciou que a idade dos participantes variou de 18 a 56 anos, sendo que a faixa etária com maior índice estava entre os participantes com mais de 33 anos (58%), 14 (54%) eram do gênero feminino, sendo que 12 (46%) dos entrevistados eram solteiros. Quanto ao nível de escolaridade foi evidenciado que 16 (62%) possuíam o ensino médio, que 17 (65%) dos questionados trabalhavam na empresa há menos de 7 anos, e 77% possuíam renda mensal de 0 até 02 salários mínimos.

Tabela 1. Perfil sociodemográfico dos trabalhadores de um Banco de Sangue

Fonte: Questionário realizado num Centro de Hemoterapia e Hematologia do Município de Fortaleza – CE, no ano de 2013.

    Em relação ao gênero, observou-se que a maior parte dos profissionais de enfermagem que atuam no banco de sangue é do sexo feminino (54%), quando comparados ao número total de homens. A idade média de ambos os gêneros foi de 33, 57 ± 2.31anos, sendo de 37,28 ± 2,40 anos para as mulheres e 29,25 ± 2,22 anos para os homens, não sendo encontrado diferença estatisticamente significante entre as idades (p=0,096) (Tabela 2).

Tabela 2. Distribuição dos trabalhadores de um banco de sangue com relação ao gênero e idade, em Fortaleza-CE, 2013

Valores representam a média ± erro padrão da média; Não houve diferença estaticamente significativa entre as idades dos trabalhadores

    Verificou-se que 85% dos entrevistados utilizaram luva e sapato fechado, 62% utilizaram jaleco, 35% utilizaram gorro, mascara e óculos, 19% usaram avental e apenas 4% usaram botas. Quanto ao uso dos EPIs (Equipamentos de Proteção Individual), constatou-se que 100% dos entrevistados usavam EPIs corretos ao seu ambiente de trabalho.

Tabela 3. EPIs utilizados por trabalhadores de um Banco de Sangue

Fonte: Questionário realizado num Centro de Hemoterapia e Hematologia do Município de Fortaleza – CE, no ano de 2013

    Quanto aos acidentes de trabalho, apenas 03 dos entrevistados sofreram acidentes de trabalho, 01 com lâmpada ultra-violeta, onde logo após, foi realizado o procedimento envolvendo exames oftalmológicos, sem nenhuma complicação. Os outros 02 acidentes foram com perfurocortantes, e ocorreram com agulhas contaminadas, o material biológico foi o sangue, e o procedimento realizado após o acidente foi a lavagem do local do corpo acidentado com água corrente. Os acidentes aconteceram no final do expediente de trabalho. Para 31% dos entrevistados a pressão e o stress são os principais fatores que contribuíram para a ocorrência dos acidentes, logo após, está a falta de atenção com 27% e o não uso dos EPIs com 23%.

    Nos dois acidentes que envolveram material contaminado, foi realizado sorologia para os exames de Anti-HVC, Anti-HBC, HbsAg, HTLV, HIV, Doença de Chagas e Sífilis, de acordo com protocolo de acidentes do Banco de Sangue e da NR 32 (Norma Regulamentadora 32) que versa sobre a segurança e saúde no trabalho em estabelecimentos de saúde.

    Com relação às condições ambientais do trabalho e do uso dos equipamentos, 92% consideraram os EPIs ótimos e seguros para o trabalho, 81% consideraram os equipamentos/máquinas ótimos para trabalhar, 73% consideram a iluminação adequada para o setor, e 65% consideram o piso do ambiente de trabalho ótimo para a sua atuação profissional.

Tabela 4. Riscos Ocupacionais e fatores de riscos presentes num Centro de Hematologia e Hemoterapia

Fonte: Questionário realizado num Centro de Hemoterapia e Hematologia do Município de Fortaleza – CE, no ano de 2013

    Observou-se que os trabalhadores atuantes em um banco de sangue estão expostos a muitos riscos ocupacionais. Entre os riscos, constatou-se uma maior prevalência dos riscos biológicos (77%), químicos (73%) e ergonômicos (65%), e os demais riscos, uma porcentagem bem menor de exposição oferecidos a esses trabalhadores, como mecânico/acidente (35%) e físico (19%).

Discussão

    Observou-se que a exposição ocupacional, que os trabalhadores de Banco do Sangue, estão expostos a uma grande quantidade de riscos, sendo o risco biológico o mais característico com 77%, e mesmo com a qualificação profissional técnica, quanto aos técnicos de enfermagem e auxiliares de laboratórios são os mais propensos aos acidentes de trabalho com 12% dos casos, podendo ser correlacionado pela pressão e stress (31%), pelo tempo de exposição aos agentes biológicos, manipulando materiais perfurocortantes. Em relação aos acidentes evidenciados obteve - se 12%, destes 8% ocorreram com mulheres, podendo estar relacionado à ascensão do gênero no mercado de trabalho e pela tripla jornada de trabalho que as mulheres exercem no mundo moderno, fazendo com as mesmas fiquem mais propensas ao cansaço. As agulhas de lúmem foram os dispositivos responsáveis no estudo por 8% dos acidentes, além do estudo evidenciar que dos 12% dos acidentes, 8% ocorreram com indivíduos com mais tempo de trabalho na empresa (8%), com idade maior que 33 anos (58%), e que já possuíam grande experiência na área.

    Esse estudo esta coerente com o realizado por Dias (2012), com relação à exposição com materiais perfurocortantes, que evidenciou que dos 273 acidentes notificados, 78,4 aconteceram com pessoas do sexo feminino, 69,6 com indivíduos entre 20 e 40 anos, a categoria mais exposta são auxiliares com 48,4%, a exposição mais freqüente foi a percutânea com 86,8 dos casos, o sangue o material biológico de maior contato com 98,5 %, e agulha com lúmem a que mais provocou acidentes com 72, 1%, dos acidentados 87,5 % eram vacinados contra o HBV.

    Estudo semelhante também foi realizado por Silva (2009), evidenciando que os profissionais mais expostos aos riscos biológicos são os auxiliares e técnicos de enfermagem, com 54,1 % e a manipulação com materiais perfuro cortantes, principalmente agulhas, uma maior incidência de acidentes.

    Resultados semelhantes aos de Fortaleza, também foram encontrados por Gonçalves ( 2010) em São Paulo, com relação aos acidentes ocupacionais envolvendo materiais perfuro cortantes entre os profissionais de saúde, evidenciando que dentre os 23,6% dos acidentes, 73,3% ocorreram com envolvimento de agulhas, sendo que entre os fatores contribuintes, 36,7% estava relacionado a falta de atenção, 13,3% descuido e 10% pressa.

    Ainda sobre acidentes com perfurocortantes, envolvendo profissionais de enfermagem, Bezerra (2010) constatou que dos 69,9% dos entrevistados que sofreram acidentes 63,9% ocorreram de forma inesperada, 21% ocorreram devido a pressa no atendimento e estresse e dentre os fatores que contribuíram 5,3% ocorreu devido a falta de equipamento de segurança.

    Dos riscos em estudo, o ergonômico é o mais recente, e também é capaz de causar doenças ocupacionais, como LER E DORT. A LER (Lesão por Esforço Repetitivo) e a DORT (Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho) representam 80% dos afastamentos dos trabalhadores (MORAES, 2010).

    A grande diversidade de atividades realizadas em unidade de saúde pública, como também em qualquer ambiente em que a responsabilidade e atenção sejam prioridades para condutas saudáveis, revela-se uma alta sobrecarga para os trabalhadores, além da adoção de posição incômoda no desenvolvimento de tarefas (FARIAS e ZEITOUNE, 2005).

    Observou-se que a maior preocupação dos entrevistados está relacionada ao contato com agentes patogênicos, relacionados às doenças de Hepatite B, Hepatite C e HIV. No entanto, após analise crítica verificou-se que além destas, a exposição ocupacional com relação aos riscos biológicos, podem também estar presentes em menor grau de contaminação em um banco de sangue, como é o caso da Herpes Simples, Doença de Jakob Creutzfeudt, Micubecterium Turberculosis, vírus das Hepatites não A e Hepatite não B, etc (MAIA, 2002).

    Pesquisas mostram ainda que o vírus da hepatite B responde por 30% do risco associado à exposição transcutânea ao sangue de pacientes infectados, seguido pelo Vírus da Hepatite C (5%) e pelo Vírus HIV (0,3%) (MMWR, 2001).

    Em estudo realizado no Brasil, com trabalhadores da saúde, visando à identificação do risco ocupacional de infecção pelo vírus da imunodeficiência humana, foi constatado que 88,8% dos acidentes de trabalho notificados acometeram o pessoal da enfermagem (MACHADO, 1992).

    De acordo com pesquisa, o uso dos EPIs, verificado em 100% dos trabalhadores, Nosso resultados corroboram com estudos realizados no estado de Pernambuco, Brasil observou-se que havia um uso de luvas uso de luvas em torno de 95,74%), máscaras 35 (74,46%) seguidos de batas 38 (80,85%) (SILVA et al. 2013).

    Evidencias mostram que o custo com EPIs e EPCs (Equipamentos de Proteção Coletiva) são infinitamente menores se comparados com os custos que a empresa terá se provado que houve por parte dela negligência ao fornecimento de EPIs e EPCs.

    Todas as situações de trabalho que podem comprometer o equilíbrio físico, mental e social das pessoas são considerados riscos ocupacionais, e não somente necessariamente somente as situações que costumam provocar doenças e acidentes (BRASIL, 2012).

Considerações finais

    Os dados apresentados comprovam a importância de se conhecer os riscos ocupacionais, principalmente o risco biológico, risco ergonômico, risco químico, e os agentes de risco a que estão expostos os trabalhadores de um banco de sangue, no seu setor/ambiente de trabalho, onde a exposição ocorre de forma mais acentuada, por um maior espaço de tempo.

    Constatou-se a importância do treinamento de qualificação da empresa com relação às normas de biossegurança, minimizando a incidência de riscos acidentais de trabalho, como também o uso correto dos EPis, favorecendo uma menor incidência de acidentes.

    Contudo, faz - se necessário a realização de semanas educativas, em períodos consecutivos, no intuito de reforçar as orientações dos riscos aos trabalhadores, como também a presença de cartazes educativos no ambiente de trabalho, com nível de compreensão de acordo com a escolaridade do funcionário.

    Constata- se ainda a necessidade de mais estudos nessa área, para que dessa forma, possa tornar-se possível a criação de planos para implantação de medidas que minimizem a ocorrência desses acidentes.

Referências

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 19 · N° 195 | Buenos Aires, Agosto de 2014  
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