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Efeitos do uso indiscriminado de esteróides 

anabolizantes: uma revisão da literatura

Efectos del uso indiscriminado de esteroides anabólicos: una revisión de la literatura

 

*Licenciada em Biologia (UNEB/BA)

**Licenciado em Educação Física (UNEB/BA). Especialista em Fisiologia

Aplicada a Saúde e a Performance (FUNORTE/MG). Professor

do Colégio Estadual Pedro Atanásio Garcia. GEPEECS/CNPq

***Licenciado em Educação Física (UNEB/BA). Especialista em Fisiologia

do Exercício (UVA/RJ); Mestre em Saúde Coletiva (UEFS/BA). Professor

UNEB/Campus IV. Líder do Grupo de Estudos, Pesquisa e Extensão

em Educação, Cultura e Saúde (GEPEECS/Cnpq)

****Licenciado em Educação Física (UCSAL/BA). Especialista em Saúde Pública (FG/BA)

Mestre em Educação Física. Professor UNEB/Campus XII. Pesquisador da Linha

de Estudo, Pesquisa e Extensão em Atividade Física (LEPEAF/Cnpq)

Edimara Cássia Morais Barros*

Deyvis Nascimento Rodrigues**

Ricardo Franklin de Freitas Mussi***

Cláudio Bispo de Almeida****

rimussi@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Os Esteróides Anabólicos Androgênicos (EAA), substâncias sintéticas semelhantes à testosterona, aumentam a síntese protéica, com pouco efeito virilizante. É importante debater, a partir de revisão da literatura, questões dos efeitos colaterais, motivação e o uso indiscriminado de EAA. Sendo indicada a recorrente discussão da nocividade associada ao consumo de EAA, tais como: problemas cardiovasculares, hormonais, hepático e psicológico. Cabe ressaltar que seu uso é mais recorrente em jovens, para concretização de padrões estéticos (hipertrofia muscular). Conclusivamente, apesar do uso de EAA representar problema de saúde pública, estudos com diversos tipos de desenho ainda são escassos, indicando a importância de novos estudos.

          Unitermos: Anabolizantes. Efeitos colaterais. Risco sanitário.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 19 - Nº 194 - Julio de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Os Esteroides Anabólicos Androgênicos (EAA) são substâncias semelhantes à testosterona (hormônio sexual masculino) e seus derivados (WEINECK, 2000), fármacos que aumentam a síntese proteica (anabolismo) com baixo grau de virilização (androgenia) (SILVA; DANIELSKI; CZEPIELEWSKI, 2002; SILVA; MOREAU, 2003). Os efeitos anabólicos dos esteroides representam importante papel nos organismos.

    Na falta sua reposição regula o funcionamento metabólico, indicando ação orgânica positiva. Na medicina terapêutica os EAA são administrados no tratamento de distúrbios hormonais, HIV, Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), distúrbios do crescimento (REDONDO, 2007; SILVA; DANIELSKI; CZEPIELEWSKI, 2002; PALACIOS, 2010), deficiência de estrogênio e doenças degenerativa muscular (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2008).

    É importante alertar o risco do uso indevido (abusivo) dos EAA por pessoas não doentes, um grupo de fármacos que interferem diretamente no funcionamento metabólico do organismo humano. Visto que importante quantidade de fármacos os efeitos deletérios podem sobrepor aos benefícios sugeridos, principalmente quando administrado inadequadamente.

    Suas propriedades anabólicas motivam seu uso para fins meramente estéticos, atendendo a suposta “melhoria corporal” em atendimento ao culto do corpo social e midiático (MACHADO; RIBEIRO, 2004; IRIART; CHAVES; ORLEANS, 2009). Neste sentido as pressões psicológicas são contrárias aos indivíduos “fracos” e/ou “pequenos”, que devem procurar meios para ampliar sua estrutura física, inclusive pelo uso de substâncias como os EAA, apesar dos riscos (FRIZON; MACEDO; YONIMINE, 2005; CAMARGO et al., 2008).

    Os EAA foram desenvolvidos para fins terapêuticos, ainda são usados para incremento da performance esportiva, devido ao ganho de força, volume e forma muscular, especialmente entre jovens (IRIART; CHAVES; ORLEANS, 2009).

    Como intercorrências adversas do uso destas substâncias são relatados ginecomastia, além de efeitos hepáticos, cardiovascular e reprodutivo (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2008), aumento da secreção de glândulas sebáceas, formação acnes, alopecia e dermatite seborreica (BOLDING; SHERR; ELFORD, 2002; SILVA; YONAMINE, 2004; FRIZON; MACEDO; YONAMINE, 2005) e reforço do comportamento agressivo.

    Este estudo de revisão não sistemática, valendo-se seleção de artigos, livros, trabalhos acadêmicos e documentos legais que permitam historicizar o surgimento e desenvolvimento dos EAA, motivações para sua utilização não terapêutica, seus efeitos colaterais e riscos para manutenção da saúde. Texto que representa recorte da pesquisa “Concepções sobre o uso de Esteróides Anabolizantes por Frequentadores de uma Academia de Caetité/Ba” autorizado pelo CEP da UESB/BA protocolo no 176/2010.

Questões históricas referentes ao EAA

    Na antiguidade os órgãos sexuais e suas secreções eram administrados para o tratamento de impotência e como afrodisíacos (HOBERMAN; YESALIS, 1995).

    No final do século XIX, o fisiologista Charles Eduard Brow-Séquard experimentou terapia de rejuvenescimento, auto-administrando, injeções de extrato líquido derivado de testículos de cães e porcos da Índia, relatando o aumento da energia intelectual e força física (HOBERMAN; YESALIS, 1995; SILVA; DANIELSKI; CZEPIELEWSKI, 2002; FORTUNATO; ROSENTHAL; CARVALHO, 2007). Em 1986 contemporâneo de Brow-Séquard relatou ganho de força muscular após iniciar terapia de auto-aplicação de extrato testicular (CUNHA et al., 2004).

    Na década de 1920, consequência da “organoterapia”, atletas, buscando melhoria nos níveis de testosterona, faziam enxertos com tecidos testiculares de macacos (AQUINO NETO, 2001).

    Em 1935 a testosterona foi sintetizada, inicialmente usada para tratamento de indivíduos vitimas de queimadura, deprimidos ou integrando tratamento pós-cirúrgico. Os conflitos que culminaram na 2a Guerra Mundial motivou sua utilização para restaurar o balanço positivo de nitrogênio entre soldados em restrição alimentar prolongada, também utilizada para aumentar a agressividade entre os alemães (LIZE et al., 1999; CUNHA et al., 2004).

    No início da década de 1950 os EAA ganham destaque no uso terapêutico, oral ou injetável, passam a ser utilizados no tratamento de algumas anemias, de doenças com perda muscular e para redução da atrofia muscular secundária pós-operatória (LISE et al., 1999).

    No mesmo período é reconhecida a utilização associada à prática atlética de sessões de treino árduo, pretendendo suportar exercícios ainda mais intensos, maior desempenho e força física, ou seja, vantagem competitiva (ALVES et al, 2011). Desde 1939 existem relatos que sugerem a administração de hormônios sexuais capazes de melhorar o desempenho físico dos atletas (LIZE et al., 1999; CUNHA et al., 2004).

    Mas, a primeira comprovação da utilização de EAA por atletas, para melhoria da performance, ocorre em 1954, entre atletas russos com resultados altamente satisfatórios em campeonato de levantamento de peso em Viena (LIZE et al., 1999; CASTILHO; NASCIMENTO, 2003; CUNHA et al., 2004).

    Nos anos de 1960, a utilização dos EAA, para incremento do desempenho, difundiu-se entre os esportistas (LIZE et al., 1999; CASTILHO; NASCIMENTO, 2003), com as Olimpíadas de Tóquio marcada por atletas com musculaturas significativamente hipertrofiadas (AQUINO NETO, 2001).

    Na mesma década, a República Democrata Alemã, utilizando-se do esporte para reconhecimento internacional, passa a incentivar pesquisas ligadas ao aprimoramento e entendimento dos efeitos dos EAA. Nesta perspectiva, pesquisadores induziam atletas a ingerirem “pílulas de vitaminas” (Turinabol-Oral®) e a receberem “injeções profiláticas” (ésteres de testosterona e de nandrolona). Em 1968, oficiais alemães passaram a administrar hormônios androgênicos em esportistas femininas. Estas práticas contribuíram para que o país figurasse entre os lideres no quadro de medalhas dos Jogos Olímpicos de Munique (CUNHA et al., 2004).

    O controle de dopagem esportiva foi introduzido na Olimpíada de Montreal, contando com política punitiva quanto ao uso de substâncias químicas promotoras de vantagem competitiva (AQUINO NETO, 2001; CAMPOS et al., 2005; MCARDLE; KATCH; KATCH, 2008). No Brasil, os EAA, passam a ser considerados “doping” com a Portaria MEC/531, de 10 de julho de 1985 (LIZE et al. 1999).

    Cerca de 175.000 adolescentes femininas e 325.000 do sexo masculino, utilizaram EAA ao menos uma vez (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2008). Entre 4 e 6% dos estudantes estadunidense do sexo masculino consomem (FRIZON; MACEDO; YONAMINE, 2005).

    Pretendendo obter vantagem competitiva ou aceleração nos ganhos em aptidão física o quantitativo de jovens que usam EAA atinge dimensão preocupante, pois, nestes casos o acompanhamento do usuário para verificação de efeitos colaterais é restrito, diferente da sua administração clínica.

    No Brasil, esses levantamentos são imprecisos e escassos, contando com poucas ações preventivas ao seu consumo entre jovens (IRIART; CHAVES; ORLEANS, 2009).

    No entanto, é reconhecida, a partir do final do século XX e início do XXI, a crescente glorificação do corpo no Brasil, contando com amplificação da exibição pública corporal (GOLDENBERG; RAMOS, 2002). Ressaltando-se que as mudanças artificiais na forma, no tamanho e na superfície do corpo, praticadas em todo o mundo, podem ter uma função social (HELMAN, 2007).

    Então, o uso dos EAA atendem ao novo tempo do corpo, em fuga da capacidade biológica nata, com prazos mais curtos para obtenção dos resultados de performance e adequação estética exigidos ou esperados. Ao cumprir estes novos prazos de anabolização muscular, do contemporâneo contexto atlético e estético-social, os EAA permitiriam aquisição rápida da ‘normalidade’.

Motivações sociais para uso de EAA

    Os modelos ou padrões estéticos variam segundo os momentos históricos da humanidade, motivando pessoas a utilizarem meios para atingirem o modelo corporal vigente. Isto pode refletir na administração ou em motivação para a utilização de substâncias, aumentada ou diminuída, independente de suas consequências (BOTELHO, 2009; IRIART; CHAVES; ORLEANS, 2009).

    O consumo de EAA está vinculado à busca da perfeição física, “corpo ideal”, sob influência de fatores emocionais e midiática, com o mais “forte” sendo mais respeitado (IRIART; ANDRADE, 2002), esta atitude é mais marcante na juventude, marcada pelas descobertas e cobranças, podendo resultar na dependência de drogas psicotrópicas (alguns EAA) (RIBEIRO, 2001; VENÂNCIO; NÓBREGA; MELLO, 2010).

    O uso para fins estéticos figuram dentre as principais motivações ao consumo não terapêutico dos EAA (SABINO, 2005; SILVA JÚNIOR et al., 2008; OLIVEIRA, 2005), com jovens tendo ingerido suplementos veterinários para potencializar o emagrecimento e ganho muscular (CROWLEY; ALKIMIN; BUSSADE, 2009). Esta situação sinaliza o provável desvinculamento do consumidor com os riscos (agudos e crônicos) da utilização de substâncias químicas para mera adequação aos padrões estéticos vigentes.

    A sociedade toma conta do corpo, concebido como inacabado e incompleto, um rascunho da identidade pessoal (MALYSSE, 2000). A subserviência social ao padrão de beleza midiático e a “corpolatria” têm direcionado jovens para o consumo de EAA, por crerem que conquistarão seus anseios (FRIZON; MACEDO; YONAMINE, 2005).

    Cabe relembrar que os EAA são medicamentos, devendo integrar tratamento de doenças e anomalias (hipogonadismo, osteoporose, alguns cânceres, debilidade crônica, traumatismo, queimaduras, recuperação cirúrgica, crescimento em estatura inadequado, infecção por HIV, entre outras) (SILVA; DANIELSKI; CZEPIELEWSKI, 2002).

    Suas apresentações, injetável ou oral, facilitam seu uso abusivo, ilícito, em doses acima das recomendadas, fundamentalmente para aceleração dos seus efeitos (PELUSO et al., 2000; GUIMARÃES NETO, 1997) sendo comum a combinação entre substâncias anabolizantes para ampliação de suas efetividades.

    Apesar dos perigos biopsicossociais, os EAA são comercializados ilegalmente, no mercado paralelo, e misturadas a outras drogas (COSTA; SILVA; ALVIM, 2007; COWLEY; ALKIMIN; BUSSADE, 2009).

    O uso clínico prescrito dos EAA é legal nos Estados Unidos da América, cabendo punição para venda e posse sem orientação médica, criminalizando a compra de esteroide sabidamente modificado ou sem aprovação legal (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2008).

    No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária editou a lei 9.965 (de 27/04/2000) que restringi a venda de andrógenos e peptídeos anabólicos no território Nacional (FRIZON; MACEDO; YONIMINE, 2005). Aquele que comercializar e aplicar ilegalmente EAA infringe os artigos 278 (venda de substâncias nocivas à saúde) e 282 (falso exercício da medicina) do Código Penal Brasileiro (BRASIL, 2000).

    No entanto, a venda de EAA sem prescrição médica equivale à 25,92% do total comercializado (FRIZON; MACEDO; YONIMINE, 2005) expondo a fragilidade na fiscalização sanitária e a pouca conduta ética entre os profissionais que atuam no comércio de substâncias controladas.

    Estudos identificam o uso indevido dos EAA apenas para desenvolvimento da estética corporal (TOLEDO, 2005; CANCELLIER, 2007; FRIZON; MACEDO; YONIMINE, 2005; LIMA; LIMA; CAVALCANTE, 2009; CRUZ et al., 2005), sustentam a ideia situacional, criminosa, revela grave risco à saúde individual e pública.

    Frente ao exposto é possível afirmar que “corpo” passou a ser mercadoria, atendendo a sociedade de consumo, estimuladora da busca incessante dos padrões corporais, independente da classe social. Esta situação torna emergente o desenvolvimento de medidas preventivas e educativas relacionadas à corporeidade (SANTOS et al., 2006; SILVA et al., 2007).

Efeitos adversos do uso inadequado de EAA

    Na última década, devido aos seus efeitos positivos, foi verificado aumento no uso dos EAA. Nos EUA a estimativa aproxima-se de 3,5 milhões de usuários, com 3% dos jovens já o tendo consumido (VENÂNCIO; NÓBREGA; MELLO, 2010).

    Sua utilização não medicinal e abusiva esta disseminada na sociedade, sugerindo-se que os usuários desenvolvam diversos efeitos colaterais, visto que a maioria das informações científicas é fruto de estudos de caso em doentes tratados com EAA. São raros experimentos que investiguem os efeitos decorrentes do seu uso abusivo, porém evidencias frente ao acúmulo de informações e relatos científicos demonstram implicações negativamente moderadas ou leves frente ao emprego de anabolizantes (CANCELLIER, 2007).

    Os efeitos colaterais do uso dos EAA vãos desde alterações orgânicas devido as suas características farmacológicas, frente à dosagem elevada dificultadora do processamento orgânico, passando por infecções, fruto do manuseio de equipamentos não esterilizados, traumas locais, pela aplicação inadequada, até o desenvolvimento de doenças (IRIART; ANDRADE, 2002).

    A terapia com hormônio sexual masculino reduz a função testicular, diminui a formação espermática e da secreção de testosterona, com efeitos residuais indefinidos (GUYTON; HALL, 2002). O excesso de testosterona no organismo bloqueia sua produção orgânica gerando as consequências descritas.

    Como consequência do uso indiscriminado de EAA ainda são reconhecidas complicações cardíacas (insuficiência cardíaca, fibrilação ventricular, doença isquêmica, infarto agudo do miocárdio), diminuição dos níveis de Lipoproteína de Alta Densidade (HDL) e um possível aumento Lipoproteína de Baixa Densidade (LDL) (ROCHA; ROQUE; OLIVEIRA, 2007)

    Seus efeitos indesejados independem do sexo. Homens desenvolvem hipertrofia prostática, ginecomastia, impotência sexual (apesar do aumento da libido inicial); Mulheres apresentam excesso de pelos, engrossamento da voz, hipertrofia do clitóris e alterações menstruais (SANTOS et al., 2006; LISE et al., 1999; TOLEDO, 2005).

    Para redução destes, os usuários associam administração de outras substâncias aos EAA. No entanto, estudos relatarem que esta concomitância pode agravar o quadro (SILVA; YONAMINE, 2004), representando estratégias “protetoras” com frágil embasamento científico ou uso incorreto (IRIART; ANDRADE, 2002).

    EAA somente devem ser utilizados quando estritamente necessários para tratamento de anormalidades orgânicas. Não parece existir dosagem segura para evitar os efeitos negativos dos EAA, apesar do reconhecimento dos seus efeitos positivos. Além disso, o consumo de substâncias associadas aos EAA pode agravar o mau funcionamento de órgãos e sistemas, intensificando seus efeitos maléficos.

    Além das questões fisiológicas, a ingestão de EAA atua psicologicamente, associando-se ao aumento da agressividade, comportamento compulsivo e piora na qualidade do sono (MARTINS et al., 2005), mudanças súbitas de temperamento (LISE et al., 1999, PHILIPPI, 2004; MELLO et al., 2005) e associação de quadros depressivos associados com a suspensão do uso (LISE et al, 1999).

    Então, se aceita que o uso indiscriminado ou incorreto dos EAA podem ou parecem ocasionar inúmeros efeitos deletérios na dimensão orgânica e psicológica.

Questões do uso indiscriminado dos EAA

    Apesar das divergências e questões éticas intervenientes, pesquisadores têm desenvolvido estudos voltados à discussão e compreensão da utilização não terapêutica dos EAA.

    Usuários soteropolitanos com alta dosagem de EAA apresentaram desequilíbrio hormonal, danos cardiovasculares, hepáticos e psicológicos, infecções recorrentes pelo uso de equipamentos não esterilizados, traumas locais pela aplicação incorreta desses produtos, até a transmissão doenças (IRIART; ANDRADE, 2002).

    Foram descritos em jovens fisiculturistas, usuários de EAA, problemas cardíacos, alterações no sistema reprodutor masculino, hepatoxidade, aparecimento de acne, ginecomastia, desequilíbrio hormonal, aumento da pressão arterial quando da redução do HDL, distúrbios psiquiátricos e comportamentais (SANTOS et al., 2006; ROCHA; ROQUE; OLIVEIRA, 2007; IRIART; CHAVES; ORLEANS, 2009; KAM; YARROW, 2005).

    Os efeitos pós-interrupção do uso de EAA figuram como principal fator para a continuidade do consumo, tais como, dificuldade para normalização dos níveis hormonais, sugerindo-se tratamento psiquiátrico para diminuição dos seus efeitos maléficos (SANTOS, 2007).

    Dentre os riscos da administração de EAA associados à treinamentos físicos são reconhecidas as lesões do tecido conjuntivo (com perda da força tensional e compliância elástica dos tendões), estimulação crônica da próstata (podendo hipertrofiá-la), lesões e alterações funcionais cardiovasculares e nas culturas das células miocárdicas, hipertonia diastólica e hipertrofia cardíaca aumentada com treinamento de resistência, maior agregação plaquetária (elevando o risco de acidente vascular cerebral e infarto agudo do miocárdio), além do aumento clitoriano (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2008); GUIMARÃES NETO, 1997).

Considerações finais

    As informações acumuladas a partir dos textos consultados demonstraram que a motivação, o uso indiscriminado e a recorrência dos efeitos colaterais decorrentes da utilização de EAA representam importante preocupação para a saúde pública.

    A investigação indica que a submissão ao enquadramento dos padrões estéticos é o principal motivo, independente do sexo, fundamentalmente entre jovens, para o consumo dos EAA, de maneira consciente ou não frente aos os efeitos negativos, orgânicos e psicológicos, advindos do seu consumo.

    Ainda foi percebida a restrita produção cientifica sobre a temática e questões relacionadas, quanto ao seu uso como medicamento ou administrado em doses elevadas. Esta situação demanda formação de profissionais aptos a atuar com a temática, ampliando o acesso a informações concretas e corretas para a população, com reflexos positivos na conscientização dos usuários de EAA para fins não terapêuticos, ou seja, para obtenção dos padrões estéticos ou vantagens atléticas competitivas.

    Por tanto, é verificada a necessidade de mais e melhores pesquisas, ampliando as informações que fundamentarão o desenvolvimento e implantação de medidas educativas quanto ao uso dos EAA. Pois, sem o exercício da reflexão quanto às opções e atitudes, considerando seus benefícios e riscos (agudos e crônicos), o ser humano se torna refém da ignorância e da inconsciência.

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 19 · N° 194 | Buenos Aires, Julio de 2014  
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